Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A grande homenagem !

Ainda estou emocionada, em estado de graça.
Desde segunda-feira acontece, em Brasília, mais um encontro (creio que o quarto ou quinto) de profissionais de Comunicação de toda a Embrapa. Particiei de todos ! Este, infelizmente, não pude comparecer. E ontem à noite, um telefonema me levou para perto daquele grupo barulhento, brigão, mas cheio de boas intenções, amizades sinceras e muito profissionalismo. Primeiro o Robinson. Voz calma, serena do amigo que tem torcido, ajudado e se preocupado com a minha saúde com muita sinceridade e carinho. Depois o Dalmo, Guilherme, Ruy, Siglya, João... todos de Unidades da Empresa distantes do Pará. Paraíba, Minas, Rio Grande do Sul, Roraima, Rio de Janeiro. Não importa ! A voz deles me encheu o coração, me deu uma enorme felicidade e a certeza de que de fato contribuí de alguma forma com a Comunicação da Embrapa. Palavras carinhosas, admiração, votos de muita saúde, de retorno imediato. Tudo o que precisava ouvir. Um telefonema de quase uma hora. Um passando o aparelho para o outro e me emocionando a cada novo timbre.
Finalmente a Célia Libardi e a Renata Baía, ambas da Embrapa de Belém para encerrar o papo. A primeira já marcando um almoço para o domingo e a outra, minha atual chefinha, com a voz meiga de sempre comentando o quanto fiz falta.
Gosto desse gostinho de dever cumprido.
Fui, durante 18 anos, a única profissional dessa Unidade de Belém. Errei e acertei muitas vezes, mas acima de tudo tentei ser justa, ética, profissional, comprometida com a empresa, coerente com os meus princípios. Fiz muitos amigos, mas não cedi a pressões.
Queria estar lá...
Mas estou aqui, ansiosa pela consulta de amanhã que finalmente deve fechar um ciclo e ratificar o dia da cirurgia.
Estou lá e aqui ...

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Organizando-me

Agora que a cirurgia parece ser inadiável é hora de começar a me organizar para parar. Há muito ainda for fazer e preciso me planejar. Pretendo deixar as turmas da FAZ só dependendo das avaliações finais. Felizmente tenho contado com a colaboração da direção, coordenação e de outros professores que têm me cedido horários para adiantar o conteúdo. Quinta-feira deverá ser a última aula desse semestre. Há avaliações ainda a elaborar, passar e ainda corrigir.
Só espero não me emocionar demais nesta despedida.
Preciso ainda acelerar o curso de pós na Unama. Ainda não entreguei o trabalho final do último módulo e também definir um cronograma para a monografia. Se tudo correr bem, até maio terei o título de especialista. Nada demais, mas para mim muito importante.
Tem ainda a casa, os detalhes das contas a pagar e os filhos. Sei que vou alugá-los intensamente nos dias que antecederem à cirurgia. De novo vou querer colo. Afagos para não pensar demais. Senti-los juntinhos de mim e ao mesmo tempo em que receber força, passar a eles que este é um momento especial, de superação, de aprendizagem, de amadurecimento. Estão reagindo bem. Não escondemos nada deles. Até ao médico o Raul me acompanha. A Anaterra certamente vai querer de novo ir para o hospital comigo. Verdade, transparência, carinho e segurança é que tento passar a eles. Mesmo quando choro, mesmo quando fico pensativa ou fraquejo.
Hoje tenho plena consciência do quanto o câncer é ingrato. Uma doença que surpreende a todos e que ainda carrega um enorme impacto só no nome. É claro que as mudanças foram radicais nas últimas décadas. Os cientistas têm sido incansáveis. Mas cada câncer é um câncer. Cada diagnóstico traz consigo um carimbo individualizado. Pelo que tenho lido, conversado, pesquisado, o meu diagnosticado nesse estágio tem tudo para dar certo. Mas ele será eterno. Nunca mais esse fantasma deixará de me rondar. A cada seis meses nova apreensão. Não farei uma cirurgia para estipar um apêndice inflamado ou uma vesícula comprometida. Estarei começando uma nova etapa.
Não sei se cairá meu cabelo nem quantas quimioterapias, radioterapias farei. Quais as medicações que terei que tomar, os cuidados e limitações. Sei apenas que já estou tentando mudar minha vida : nada de álcool, quase nada de carne vermelha, muito peixe (sou uma privilegiada por dispor de uma variedade enorme no Ver-o-Peso), frutas, verduras, sucos, chás. Alguém há de dizer : se sabia que tudo isso era sinônimo de saúde por que não agiu antes assim ? Simplesmente porque tinha o direito de experimentar o outro lado também. Aquele de muitas noitadas, com cervejas sem limites e papos deliciosamente molhados. Uma picanha no fogo ou uma maniçoba no prato.
E muitas, muitas histórias ...
Vivi isso, experimentei, gostei e talvez tenha chegado a hora de me frear.
Sem lamentos, saudosismos ou tristezas. Quero viver esse outro momento com o mesmo entusiasmo, intensidade e alegria. Com ou sem cabelo, provavelmente com vários quilos a menos e brindando com um suco de bacuri e no prato uma bela salada de grão-de-bico. Não importa ! O fundamental é estar feliz, rodeada dos filhos - mais do que nunca presentes, mais carinhosos, mais preocupados - da mãe, marido, irmãos, sobrinhos, amigos e curtindo a vida !
Preciso correr para elaborar as provas ..

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A semana decisiva

Acredito que nesta semana tudo tende a se resolver. Acabo de chegar do mastologista-oncologista que marcou inicialmente a cirurgia para o dia 7 de novembro. Dependo agora só do laudo do hepatologista/clínico geral, que é especial para todos pela sensibilidade, profissionalismo, competência e empatia com os pacientes.
Saí confiante. Até o fígado, tão combalido pelas cervejas, picanhas e maminhas parece estar bem. Nada de preocupante com ele. Deve ter sido um aviso mesmo ou um tempo que precisava para me acalmar, conviver com essa informação, com este novo cenário que viverei daqui pra frente.
Sem chopes, maniçobas ou vatapás. No máximo um tacacá vez ou outra. Mas conseguirei. Deixei de fumar há 15 anos por livre e espontânea vontade, sem tratamentos e muitas nóias. Apenas muita força de vontade. Terei que agir assim agora novamente. Quero viver mais alguns anos.
Estou querendo que a cirurgia aconteça logo, que eu fique sabendo definitivamente o que terei que fazer nos próximos meses. Essa expectativa e vida suspensa me angustia muito. Não fui feita para esperar.
Hoje deveria estar em Brasília junto com os profissionais de Comunicação da Embrapa. Acordei pensando neles, na programação, no que deixarei de aprender. Não abraçarei pessoas queridas que vejo tão pouco, mas que convivo muito. Bateu uma tristeza profunda, uma vontade de estar lá, de discutir, de tratar de nossas conquistas e desafios e ao final, exaustos, sair pra tomar um chope em uma quadra qualquer da capital federal.
Sei, contudo, que este momento é de eu me cuidar. Preciso ainda voltar com a cirurgiã plástica, ter consulta com o anestesista, ir ao Hospital tratar da internação e passar na analista para que a minha cabeça entre bem na sala de cirurgia. Junto com a retirada de material que ainda deve ter células cangerígenas e a pesquisa dos lifonodos sentinelas (que se Deus quiser serão todos negativados !), farei a reconstrução da mama. A cirurgia mais delicada e demorada. Mas necessária. No mínimo sairei com seios mais sedutores e livres do câncer.

domingo, 28 de outubro de 2007

Minha religiosidade

Eu sempre fui católica. Minha família assim decidiu. Recebi como segundo nome Fátima, em homenagem à Nossa Senhora de Fátima, já que nasci no mês de maio. Fui batizada, crismada, fiz primeira comunhão e já adolescente participei de encontros religiosos, fui da Cruzada e Movimento Jovem da Paróquia dos Capuchinhos. Casei na Igreja (na pequena capela da ilha de Mosqueiro), mas muitos procedimentos arcaicos e incompatíveis com o mundo atual, me afastaram da Igreja. Não de Deus, Jesus Cristo, dos santos que sou devota ou das orações. Sobretudo as de agradecimento.
Sim, minha religiosidade é real e presente, mas hoje, em função dessa prova, está latente.
Sinto necessidade de conversar com outros seres, além do humanos. Os que estão acima de mim. Que possam interceder pela minha cura. Converso mais do que rezo aquelas orações tradicionais. Falo de meus medos, rogo que me proteja para não sofrer e para os que me amam também não sofram demais.
Há muito não ia a uma Missa pelo simples prazer de ficar naquele ambiente carregado de energia. Fui hoje pela manhã na Basílica Santuário de Nazaré. Uma cerimônia que durou cerca de 1:30h. Cheia de cânticos, louvores, lágrimas e muita fé. Novamente conversei com a pequena imagem. Nem mesmo o templo lotado foi impeditivo.
Pedi por todos que sofrem, pelos que ainda não aceitaram suas enfermidades, os que estão hospitalizados e principalmente pelos que têm menos sorte do que eu. Sim, independente da doença, tenho muita sorte. Sorte de ter um plano de saúde, de ter descoberto o câncer em um estágio tão inicial, de estar pesquisando um órgão como o fígado, de ter amigos, marido, filhos, mãe, irmãos, sobrinhos, alunos, colegas... todos juntos na torcida.
Sorte por ter informação e poder assim entender o que acontece comigo. Compreender a extensão do meu drama. Nem maior nem menor do que o dos outros, apenas diferente porque é meu.
Agradeci mais do que pedi. Peço apenas muita força para não me desesperar, para não fraquejar e muita disposição para ir em frente.
Pedi, com toda a fé que possuo, que Nossa Senhora de Nazaré, como mãe que foi de Jesus, proteja também meus filhos. Eles, sim, são o que mais eu quero preservar, evitar que sofram.
Saí serena da Basílica.
Depois, o almoço em família que contou com a presença até da tia Jorgete, o falatório, as novidades, Thomaz e Leonardo brincando, caindo, derrubando suco. Hora da bagunça.
Aí não dá para pensar em nada mais...
Que bom !!

sábado, 27 de outubro de 2007

Nada é por acaso

Tenho certeza de que estou tendo uma nova oportunidade de vida. Uma pausa necessária e providencial. Que chegou encoberta de medo, com informações tumultuadas e muita apreensão. É a hora de rever conceitos, mudar rotinas, alterar valores. Uma nova perspectiva de encarar os próximos anos.
Nada é por acaso... Agora preparo-me para ir ver minha filha, de 11 anos, dançar em Castanhal. Uma viagem de uma pouco mais de uma hora. Aparentemente nada tenho de diferente. Quinta e sextas-feiras dei aula durante quase quatro horas seguidas. Momentos de total levitação e de reflexões enquanto os alunos se envolvem nas atividades e fazem um silêncio raro. Fisicamente continuo quase a mesma e isso surpreende as pessoas que já se preparam para um encontro com alguém visivelmente doente. Nada mudou. Por fora !!
Fico me enchendo de perguntas para as quais não tenho resposta. Afirmo, contudo, com firmeza e certeza de que o susto terá um saldo positivo. Se por um lado estou sem programação para os próximos meses (como será o meu Natal ?), por outro sei que tenho que me cuidar seriamente para poder viver um pouco mais e com qualidade.
Nada é por acaso ... o câncer detectado na mama está me dando a oportunidade de pesquisar outros órgãos, de me virar do avesso e constatar que de fato beber e comer irresponsavelmente como eu vinha fazendo, era um suicídio homeopático. Principalmente aos 50 anos !
É claro que tenho vontade de me debruçar sobre alguns caranguejos com um pirão de feijão temperado pela Dona Lúcia ou de tomar duas, três, quatro, cinco cerpinhas ouvindo o Chico. Mas tenho que escolher : viver menos ou me limitar às sopas, carnes grelhadas, folhas e mais folhas, um sorvete vez ou outra e sucos variados. Felizmente vivo em Belém e aqui, além dos tradicionais laranja, maracujá e acerola temos ainda o bacuri, cupuaçu, taperebá, muruci que nos permite variar.
Hoje eu me testei. Na casa do meu irmão Rulton, vi o filho dele Rultinho e a enteada, Marcela, em companhia do meu marido Manoel, saboreando caranguejo com feijão. É claro que senti vontade de fazer parte daquela farra. Mas me contive. Um grande copo de suco de maracujá acalmou minha fome e minha ansiedade.
Bem, pelo menos já perdi alguns quilinhos.
Nada é por acaso ...Nem de todo ruim...

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Buscando prazeres adormecidos

Enquanto espero, resgato prazeres antes adormecidos. A vida corrida me afastou dos livros mais prazerosos, dos papos informais com os amigos (mesmo pela Net), passeios mais demorados e do convívio mais próximo com a família. A minha rotina até 24 de dezembro era intensa demais : assessoria de comunicação na Embrapa, aulas (como professora) na FAZ, aulas na Unama (como aluna de pós) e ainda um monte de outras atribuições ligadas à profissão em associações, grupos de estudo etc.. Às vezes um dia de mais de 14 horas de atividade intensa.
Como nunca gostei de exercícios físicos - mas durante um bom tempo me dediquei entusiasticamente a eles - tinha uma boa desculpa para fugir deles : a falta de tempo.
Além do trabalho outros prazeres no final de semana: a cozinha (fazendo e comendo) e as cervejas (servindo e bebendo).
Agora, como diz novamente o Elias Pinto Júnior (ou pra os mais íntimos Eliaszinho), está na hora de prestar contas com os nossos órgãos. Um tema para outro texto mais adiante ...
Redescubro que posso substituir a corrida diária pela leitura, pela administração da casa ou pela melhor elaboração das aulas (isso não deixei de fazer. Continuo firme como professora !).
Sair com os filhos já não tem inserido no programa um bom bar ou restaurante. Podemos ir apenas passear, tomar um sorvete, ver o pôr-do-sol na Estação.
Amanhã será assim. À noite vamos todos assistir a Anaterra dançar em Castanhal. Um programa que talvez não tivesse tempo antes. Neste momento tenho esse tempo. Estou me dando de presente esses prazeres adormecidos.
Reencontrei o meu tempo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O tempo necessário

Enquanto os resultados dos exames não chegam e as novas consultas não acontecem, sobra tempo para (re)pensar, (re)ver, re(arrumar), (re)estruturar, (re)nascer... E eu nunca tive muito tempo pra isso. Ócio é coisa rara na minha vida. Mas hoje vejo como é imprescindível esse tempo. O impacto da informação foi intensamente ruminado e já digerido, a perspectiva do tratamento é real e as dúvidas, sei agora, serão eternas. Mas como não tê-las sempre e diante de tudo ? Nascer é duvidar do dia seguinte, mesmo quando não se tem consciência disso. Uma incerteza constante repleta de bons e maus momentos. Felizmente meu saldo é altamente positivo. Sempre bons à frente e de goleada.
Agora tenho tempo para mim, para meus medos e angústias, para escrever não só profissionalmente.
Para (re)aprender !
Estou aprendendo e reaprendendo muito. Até a rezar, conversar com Deus, com Nossa Senhora de Nazaré com intimidade sem a formalidade das orações convencionais. Rezar para ser ouvida.
Estou reaprendendo a não correr, a caminhar em passos firmes, mas lentos e a ser mais paciente. Minha ansiedade, em parte controlada com o Zoloft, tem me permitido até não surtar diante da cirurgia que não acontece, os diagnósticos que não fecham, os exames que não acabam nunca. Uns em jejum, outros com uma hora após o almoço, outros que saem daqui daqui a uma hora, outros daqui a uma semana. Aflição que oprime.
Reaprendi a ver a minha casa como um lugar que não serve apenas para eu dormir e fazer algumas refeições. A esperar os filhos, mesmo que seja para ganhar um beijo rápido entre uma saída e outra. A ler livros por deleite e não para resenhá-los ou para dar aula mais adiante.
Sim, estou reaprendendo a conviver comigo.
Trabalhando mais lentamente, na medida do possível, por necessidade e por prazer, sem pressa demasiada. Dando-me o tempo que necessito para prosseguir encarando o que ainda está por vir e, acima de tudo, reaprendendo a enfrentar cada etapa com ou sem susto, com ou sem medo. Mas sempre confiante !

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Meu trem fantasma

Acabo de chegar de mais um exame. Nomes complicados, desconhecidos, mundo a ser desvendado. Sinto-me a cada nova exploração de minhas entranhas como se estivesse em um trem fantasma. Desses que encontramos nos parques de diversão.
Uma cadeirinha aparentemente segura e de repente a escuridão e logo em seguida uma caveira que ri da sua falta de sorte. Medo.
Mais adiante a claridade. Otimismo, renovação, esperança. Mas as trevas retornam, a velocidade aumenta e uma bruxa com um caldeirão quase cai em meu colo. De novo risos histéricos de sadismo.
Mais fantasmas, monstros, mula sem cabeça e entre eles, a luz, que vai e volta. Minutos de paz.
Meu trem fantasma particular oscila entre médicos, exames, exames e médicos.
Mais sangue, mais equipamentos sofisticados, mais medo, mais esperança, mais monstros, mais serenidade.
O fígado agora é o da vez. É ele quem preocupa, quem me conduz na escuridão das surpresas. Silencioso e combalido. Pede atenção, me assusta, dá risadas histéricas.
Mais exames, mais dúvidas e a angústia do diagnóstico final.
Ainda estou no trem fantasma. Procuro não fechar os olhos e de frente encarar as bruxas, as caveiras, os monstros, as mulas sem cabeça e esperar, pacientemente, pelo fim da viagem.
Ahh ...como desejo sorrir de alívio. Como aquela criança ainda amedrontada que saiu do Trem Fantasma do arraial de Nazaré.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Otimismo renovado

- Mas você tem muita sorte ! A frase do médico (o clínico geral que só atende particular e que é encarado como um grande pesquisador, antenado, visão holística e tudo mais) resume o que foi a nossa conversa. A sorte, na avaliação dele é ter descoberto um câncer em um preventivo e do tamanho do nódulo "que eu tinha".
Isso mesmo: tinha ! pois tudo o que virá a partir de agora será prevenção.
Bem.. quanto ao fígado, novos exames, novas pesquisas, mas ele acredita ser tudo superável. Provavelmente uma hepatite gordurosa.
Há alguns dias sonhei com o Elias Pinto Filho (O Eliaszinho), um jornalista/escritor dos bons e amigo de muitas décadas (tem depoimento dele aqui) que, tentando me consolar, dizia que eu deveria avaliar de outra forma esse problema no fígado detectado antes da cirurgia. A interpretação dele é que este momento está me servindo para pesquisar um órgão que dificilmente seria avaliado com muita profundidade se o câncer não tivesse aparecido.
Acho que ele tem razão ! Mesmo em sonho, ele é sábio demais !
Esta deve estar sendo a minha segunda chance. Uma nova oportunidade para rever quase tudo. Renascer. Da alimentação às amizades, do trabalho exagerado à fé, da prática de esportes à família, dos filhos à obesidade.
Tudo de cabeça pra baixo esperando ser rearrumado. Uma oportunidade única.
A Rosaly Brito, professora da UFPA e que, embora não tão próxima fisicamente, está na minha vida há muitos anos, tem sido uma conselheira que me conforta. O que ela viveu há seis anos lhe dá essa permissão. Hoje, ela e o médico, me fizeram achar que de fato isso tudo é só uma fase. Um momento para perceber que o mundo é maior do que eu imaginava e que a vida é mais longa do que eu pensava.
Mais tarde vou à analista e depois tomar um suco de bacuri com a Ieda Jucá na Estação das Docas.
Tim-tim !
Em tempo : amanhã tem mais exames....
Que venhakm !!!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Quase uma rotina

Sinto-me como se estivesse suspensa no ar. Como se minha vida estivesse estagnada no tempo esperando o apito pra reiniciar o jogo.
Hoje fui à Embrapa. Trabalhei normalmente (ou tentei!). Preciso concluir uma edição do jornal que edito há mais de 18 anos. Não quero sair de cena e deixá-lo inacabado. Falar sobre a doença é inevitável. Alguns colegas agem naturalmente, têm curiosidade sobre como estou, quais serão os próximos passos. Outros, leio nos olhos ou nos afagos mais demorados, sentem mais, parecem sofrer. Não quero me impressionar. Pretendo voltar depois, não penso em me afastar por aposentadoria ou outro motivo. Por isso minha sala continua do mesmo jeito. Tudo no seu devido lugar.
Selecionar e legendar fotos; dar títulos às matérias, revisá-las, adequá-las aos caracteres disponíveis ocupou minha cabeça. Mas o sentimento de que há algo preocupando demais não me deixa. Fica só adormecido, meio sonolento dentro de mim, mas não me abandona.
Amanhã vou ao clínico geral. Quero uma avaliação completa, holística. Não quero que me vejam só o seio ou só o fígado. Quero que me olhem inteira com o que há de bom e o que há de ruim e ao final me mostrem um caminho.
Sinto-me confusa com diagnósticos precoces e sem embasamentos, com decisões que não consigo entender. Não quero fazer nada que eu não saiba exatamente o que é. Sei que os médicos são eles. Mas eu, como paciente, tenho todo o direito de decicir, de avaliar, de dizer o que quero que façam com meu corpo. Ele me pertence !
Estou nervosa com o encontro (o cara é bom. Eu sei disso !), mas também acreditando que finalmente vou ter uma noção mais exata do que me espera e assim deixar minha vida seguir, me planejar, poder enxergar os próximos meses, reiniciar o jogo interrompido há quase um mês.

domingo, 21 de outubro de 2007

Hoje, mais um Círio

Para os que não são paraenses é muito difícil compreender tantas demonstrações de fé a Nossa Senhora de Nazaré. Uma peregrinação que parece não acabar nunca e é verdade ! E hoje pela manhã aconteceu uma das mais belas, uma das mais emocionantes : o Círio das Crianças. Sai cedo do Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN) e percorre alguns poucos quilômetros. São pais, avós, tios, padrinhos conduzinho os bebês ainda de colo ou maiores que já exercitam sua fé cantando, batendo palmas ou gritando viva Há centenas vestidos de anjos, em pagamento a uma graça alcançada (normalmente alguma doença que acometeu a criança). Tem o carro dos anjos, o de milagres (onde são depositados os votos de cera) e a berlinda linda como sempre, cheia de flores embelezando ainda mais a pequena imagem.
Fui de novo este ano. Eu, Anaterra, Manoel e Leonardo (este pela primeira vez). Já estive lá em um momento igualmente difícil. Mais uma superação. Meu filho Raul, àquela época com 11 anos, estava em uma cadeira de rodas, recuperando-se de uma delicada cirurgia no quadril. Hoje quase nem lembramos disso... Só se for para agradecer por mais essa vitória.
O novo encontro com a Santinha me traz à tona a doença, o medo do tratamento, as pesquisas que serão constantes. Mas também me dá uma força incrível, uma fé renovada, uma esperança inesgotável.
A vi de pertinho, tirei fotos, comprei cata-vento de papel para o pequeno sobrinho e ao final um passeio na praça da República.
Um domingo quase comum, não fosse a agende e médicos e exames que me aguarda na semana que começa.
Mas sei que ELA estará ao meu lado, protegendo-me com o seu manto.

sábado, 20 de outubro de 2007

As melhores terapias

Voltei à terapia. Preciso falar, ouvir especialista, entender minhas reações, me conhecer também neste momento. Sinto-me bem, saio mais leve, falo para alguém que está ali só para me escutar e que a partir de seus conhecimentos profissionais ajuda-me a dar um rumo aos pensamentos.
Mas nesses últimos dias, as duas melhores terapias têm sido o Leonardo (o filho do meu irmão Rulton, de apenas dois anos) e os meus alunos.
O Leonardo é falante, brincalhão, curioso e adora passear no "kaodotiumanel". Tenho alugado a criança. Vou como uma avó faceira, ao Bosque, Museu, parque de Nazaré (o arraial), à praça da República, a de Batista Campos, Ver-0-Peso, supermercados, shopping ou simplesmente ficamos em casa. Hoje é dia de passar o dia com ele.
Dia de ser mais feliz.
A terapia com alunos é diferente. São mais de 50 pessoas em uma sala, barulho e que muitas vezes me obriga a gritar. Aulas de Assessoria de Imprensa e Imagem Organizacional. Disciplinas que permitem viajar, levar exemplos, pedir experiências e tornar as aulas participativas, dinâmicas.
Fiz um acordo com a faculdade para correr com o conteúdo programático e ministrar o máximo de aulas possíveis. Não criar problemas sobretudo para eles que precisam se formar. Às quintas e sextas-feiras fico com eles das 18:40 às 22:30h, ininterruptamente. Saio cansada, mas sem pensar no câncer, no fígado, nos exames e tudo mais que se relaciona com o meu futuro próximo.
Na última quinta-feira, no momento do pequeno intervalo, eles se deram as mãos e rezaram um Pai Nosso e uma Ave Maria pedindo pela minha cura.
Segurei as lágrimas, mas fiquei agradecida, emocionada, confiante.
Feliz !
Doces terapias que não incluem divã, mas que me fazem a ver a vida com mais beleza e certezas.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Buscando explicações

O hepatologista que procurei não me convenceu. Meu marido diz que não faça consulta. Que entrevisto o médico. Pode ser ! Quero entender, quero saber os porquês, sair convencida e se isso não acontece me decepciono e automaticamente fico descrente ou no mínimo desconfiada. Assim como estou entrevistando para produzir uma matéria. Como ser convincente com o leitor se eu própria não acredito ?
E neste cenário entram os amigos de plantão. Como a Ieda Jucá. Velha (não de idade!) colega de faculdade que o tempo transformou em uma grande amiga. Dessas que não falta um aniversário, que acompanha tudo de perto e está sempre por perto. Depois de ler o blog ontem me telefonou e deu O CONSELHO : procure um clínico geral do bom, aquele que te vê inteira, respeitado, antenado, com relacionamentos em Belém e fora. Sabemos quem...
Tudo o que precisava fazer. Deu um novo gás. Na terça-feira irei ouvir a opinião de um dos maiores clínicos de Belém. Entulhada de exames recentes e uma longa história a contar, sei que ele me dará um rumo, mostrará as opções, me convencerá de como tenho que agir. Hepatite crônica, cirrose ? Seja o for, tratarei. Aqui, em SP, nos EUA, mas vou à luta. Preciso apenas estar consciente das prioridades, dos tratamentos (primeiro a mama e depois o fígado ou vice-versa ?, quais as implicações de transferir a reconstrução mamária ? Que tipo de anestesia é menos agressiva ao fígado? Quanto tempo eu posso esperar ? Dúvidas que espero logo logo dirimir.
Por enquanto fico como o Pedro Pedreito do Chico Buarque: "esperando... esperando... esperando ..."
Ainda bem que com muitos amigos de plantão. Bem juntinhos a mim.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O ser intenso demais

Há cerca de 20 dias minha vida virou de cabeça pra baixo. Viagens foram canceladas (só nesse próximo mês tinha RS, duas para Brasília e uma para SP), trabalhos adiados, sonhos interrompidos (como o de começar a programar a nossa viagem em família de férias em janeiro). A agenda prevê basicamente consultas, exames e remédios. Uma rotina que nunca tive e que muitas vezes me aborrece e me apavora.
Agora é o fígado que preocupa. Pelo que pude deduzir, o hepatologista está suspeitando de uma hepatite crônica. Mais exames, mais dúvidas, mais ansiedade, mais medo.
Tento me entender e me aceitar por ser tão alarmista, às vezes pessimista, outras exageradamente otimista. A única explicação convincente que encontro (referendada pelos anos de terapia), é que sou do tipo intensa demais. Nem sempre bom. Nem sempre de todo ruim.
Sempre fui assim : exagerada !
Namorei muito (um de cada vez rss) e amei intensamente a todos. Chorei, me dei, sofri, fui feliz em todos os momentos. Nunca fiquei com alguém por outro motivo que não fosse paixão sincera. Mesmo que durasse uma noite.
Nas amizades a mesma doação. Nunca estive ocupada para um amigo. Minha casa foi, durante muito tempo, extensão da de muitos amigos. Nunca destratei algum, mesmo os que me magoaram, me decepcionaram. Tenho amigos de mais de 30 anos...
No trabalho a doação sempre foi completa. Ansiedade, insônia, doação, responsabilidade, a busca da perfeição e muito tesão pelas conquistas. Seja na minha longa jornada na Embrapa ou mais recentemente como professora ou nas dezenas de frila que já fiz por aí.
Os filhos sabem desse meu jeito intenso de ser. Preocupada demais, sargentona demais, nervosa demais, mas amorosa demais também. Sempre à disposição, mesmo que estivesse a 3 mil km de distância. Uma dor de cabeça no Raul ou Anaterra é motivo pra me tirar do sério, para não querer mais me separar deles. Sempre ao lado. Sempre !!
Não consigo ir almoçar ou jantar em qualquer lugar, comer ou beber qualquer coisa em companhia de qualquer pessoa ! Quero estar em lugares agradáveis, comer bem, tomar um chope bom e no ponto e em companhia de pessoas especiais.
Quando viajo não vou apenas trabalhar. Quero saber como as pessoas vivem, como é a cidade, o que a torna diferente das que já conheço. O jeito de falar me encanta, o de vestir é observado, a culinária é sempre testada. Não vou só a Ouro Preto ou a Rio Branco. Procuro entrar na vida dessas cidades, desses povos.
Sim, a minha intensidade é que me maltrada.
Talvez por isso esteja assim agora...
Até mesmo esta doença que chegou para balançar minha vida, tem sido tratada intensamente. Não tenho um câncer e ponto. Ele é meu e quero entendê-lo e talvez por assim sofrer mais do que se apenas encarasse como uma acidente de percurso, como algo banal que acomete milhões de mulheres no mundo.
"Tudo vai passar", "é só uma fase", "não se preocupe demais", "não encuque demais", queria tanto acreditar e exercitar essas ponderações.
Mas não consigo !
Intensamente vou ao fundo do poço e intensamente saio dele em direção à vida.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Os medos que vão e voltam

Hoje, início da noite, terei a primeira consulta com o hepatologista. Esta noite foi de pensamentos antagônicos. Fantasmas e monstros que vão e voltam e que se misturam a fadas, duendes e deuses porta-vozes de boas novas. Não estou muito bem. O medo volta diante do desconhecido. TGO, TGP e GAma GT podem ser indicativos de algo mais e recomeçar as pesquisas, mais exames, mais dúvidas me apavoram. Preciso aceitar que a minha vida será sempre assim daqui pra frente e que o futuro é hoje, mas penso demais, racionalizo demais, quero entender demais, quando sei que devia apenas relaxar, deixar que cada dia siga atrás do outro, naturalmente, sem antecipações. Mas é muito difícil para mim. Sempre fui assim : no trabalho, em casa, com os filhos, com o marido, nas viagens.
Considero-me a mais organizada das desarrumadas. Sim, sou desarrumada (gavetas entulhadas, papéis uns encima do outro, livros e jornais misturados), mas sou exageradamente (quase patologicamente) organizada mentalmente. Quando bem jovem poderia ser chamada de impulsiva, aquela que topava qualquer coisa a qualquer hora. Hoje não. Organizo-me sempre ! Até o freezer é organizado, mesmo que as vasilhas não estejam em ordem por cores ou tamanhos !
Sei que agora a minha vida será sempre de pequenos (e oxalá nunca grandes) novos sustos. Mais rigor com a saúde, mais disciplina na alimentação, mais exercício físico.
Mudanças... mudanças... mudanças...
Enquanto o homeopata não vem, os inúmeros lobos maus e as boazinhas chapeuzinhos enchem minha mente.
- Não será nada demais. Uma rigorosa dieta e quem sabe algum medicamento resolverá, tenta me convencer o anjinho.
- Nada disso !! Pode ser indicação de mais um tumor, mais um a ser tratado e no fígado?!!!, rebate o diabinho.
Ufa ! queria apenas dormir tranqüilamente ....

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Os cogumelos

Desde que a informação bombástica tirou o meu chão, que ocupo meu tempo principalmente alimentando-me das pessoas que mais eu amo. Os filhos, do jeito peculiar de cada um, têm sido o meu alicerce, com quem tenho saído bastante. Tento não imaginar que estou me abastecendo dessa companhia indo aos shoppings, arraial, pizzarias, shows, manifestações do Círio etc.., mas acho que no fundo estou buscando saciar-me (impossível!) para quando os momentos de reclusão chegarem, não sentir demais.
Outra ocupação é compreender a doença, não ser pega de surpresa. Entre as diversas recomendações de auxílio à cura que tenho recebido quase diariamente dos amigos, parentes, alunos e ex-alunos (que variam de imagens, passando por orações, terços, fitinhas bentas, livros, CDs a receitas milagrosas) uma mereceu minha atenção especial : o tratamento à base de cogumelos indicado pelos colegas de Comunicação da Embrapa de Brasília. Conversei pelo telefone com a pesquisadora Arailde Urben, que há muito pesquisa o assunto e que recomendou-me o cientificamente chamado Agaricus blazei murril. Nove cápsulas por dia e muitos resultados exitosos já catalogados. Pelas informações que me enviou (até uma publicação com artigos de sua autoria eu recebi!) também age nos transtornos hepáticos. O que mais me preocupa agora e que tenho que reagir de imediato para enfrentar a cirurgia no início de novembro.
Estou otimista com o tratamento. Não estou tomando nenhum outro medicamento, procurando ter uma alimentação mais saudável (às vezes é preciso um susto assim pra deixar as picanhas e maniçobas e cerpinhas de lado) e me preprando para o próximo exame de sangue quando saberei como estão os meus TGO, TGP e Gama GT.
Oxalá normalíssimos !!
Torçam daí !

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Os amigos virtuais

Sempre gostei da NET.Dependo dela profissionalmente e a uso com prazer para reencontrar, conversar e fazer amigos. Muitos, distantes tanto tempo, foram "reconquistados graças à tecnologia : Francisco Carlos, Levy, Freitas ... a galera do Souza Franco", do curso de Comunicação da UFPa (Xanda, Adelaide, Lili, Noelina, Bertha ...), amigos de Belém ou que moram em outros lugares e aqueles que nunca vi (e talvez nunca venha a conhecer pessoalmente!). Pessoas queridas, amigas, algumas sem rosto, mas que estão na minha vida e que mais do que nunca têm sido reais e presentes.
Um grupo virtual, entretanto, se destaca nesta fase da minha vida.
Procurando entender o que de fato está acontecendo comigo, essa busca incessante de ir fundo nas explicações para que o fato torne-se compreensível, usei e abusei do Google com um só tema : câncer de mama. O que é afinal? por que acontece ? quais as diferenças e similaridades ? Os tratamentos , o que me espera, os riscos ...
Foi no estereotipado Orkut que encontrei o que buscava : uma comunidade, que possui inclusive moderadora, a Marisa Speranza, reúne mulheres guerreiras (ou de peito!) que passam ou já passaram pelo que eu estou vivendo. Há também filhos que, tentando compreender a doença das mães, participam da comunidade.
É ali que, diariamente, tenho conversado com pessoas que por serem mais antiga no assunto usam terminologias ainda desconhecidas para mim e que ao pouco vão entrando no meu vocabulário. São mulheres que já estão clinicamente curadas, outras que, como eu, acabam de descobrir, as que passam mal na quimioterapia, as que retiraram todo o seio e ainda farão a reconstrução, outras que já fizeram. Mas há muito mais : há solidariedade. Ali ninguém sofre mais do que a outra, ninguém é mais forte ou mais fraco que a outra. Somos apenas seres humanos, cheias de medo, mas com muita esperança, muita fé e falando de temas que todas sabem o que significa, afinal, é preciso estar no terremoto pra sentir a terra tremer.
A participação é efetiva e diária : a que fará a cirurgia amanhã, a que acabou de chegar do hospital, a que já terminou a quimio e vai viajar, a que está apavorada com a proximidade de mais uma intervenção, a que já está linda e maravilhosa depois de anos de tratamento.
Ahh... como está sendo gratificante e reconfortante saber que não sou única. Que meu medo é normal, que minha energia é real, que viver, assim como todas as outras, é meu maior objetivo.
Chegou a hora de renascer. E renascer melhor !

domingo, 14 de outubro de 2007

O Círio na TV

Ontem chegamos da Trasladação (que é o percurso do Círio ao contrário) à meia-noite. Eu, Manoel, Raul, Anaterra, Rulton, Marcela, Leonardo e Socorro assistimos a queima de fogos e rezamos com fervor. Eu, Manoel e os filhos fomos até à Igreja da Sé (que continua em obras) entregar simbolicamente meu seio doente. Deixei lá, nas mãos de missionárias, o meu câncer. Entreguei-me nas mãos de Nossa Senhora de Nazaré, a intercessora para que cheguemos mais próximos de Jesus. Foram cerca de 5 km de caminhada (fizemos uma vez e meia o percurso). Os pés doloridos, a costa também, mas só hoje o cansaço chegou e junto com ele um resfriado (a mamãe também). Optei por não piorar meu quadro respiratório. Tenho que estar bem para entrar na sala de cirurgia em breve. Apenas o Manoel foi vê-la novamente.
Acompanhei tudo pela TV . Naturalmente emocionada ao ver aquele rio de gente, de cores, escolaridades, naturalidades e idades tão diferentes que se mistura numa só multidão. Ali está a solidariedade viva, presente no copo de água que banha os rostos suados ou ameniza a sede; que carrega nas macas os que não resistem ou que apenas estendem a mão em busca da bênção.
Não é a mesma coisa, mesmo que os colegas jornalistas se esforcem. Eles, inclusive, reconhecem essa limitação. A emoção é diferente. A energia quando estamos presentes, que flui de cada um que está naquele sufoco, adentra as nossas entranhas. É como se estivéssemos levitando.
Hoje vi pela TV, mas no próximo ano irei acompanhar a procissão inteira. Já assumi esse compromisso com a NAZA. Vou agradecer a minha saúde e a de tantas pessoas que estão vivendo a mesma situação. Vou fazer uma paradinha no apartamento da família Bibas. No momento em que a berlinda passava na av. Nazarté, a Lilian telefonou-me e de novo me emocionou profundamente. Disse que ela, o Marcos e a Laís (minha afilhada de crisma) estavam emanados em rogar pela minha saúde à Santa, naquele momento em frente a eles. Quanta amizade, quanto conforto, quanto carinho.
Ano que vem estarei aí... estarei lá, entre os mais de dois milhões de fiéis que tomam contam de Belém a cada ano.
Uma festa que me acompanha desde a mais tenra idade e que agora passa a ter um sabor diferente...

sábado, 13 de outubro de 2007

A praça do Carmo

Entre as programações que fazem o atual grandioso calendário que antecede a festa do Círio, está o extra-oficial encontro na praça do Carmo. Não é um incentivo governamental, mas um grupo de pessoas que após a procissão fluvial se reúne e entardece em torno de um bar tosco e que durante o ano é pouco frequüentado. São jornalistas, artistas, fotógrafos, músicos, cientistas e outros seres meio estranhos que fizeram daquele ambiente histórico e mal cuidado seu "point". Para colocar pra ferver, depois do meio-dia, o "Arraial do Pavulagem" com seu Cordão do Círio, faz a sua grande apoteose. Uma loucura só sob um sol de mais de 40 graus.
Sempre freqüentei o cantinho sujo e quase abandonado, repleto de mesas espalhadas pelas calçadas esburacadas bem próximas da baía do Guajará. Hoje voltei lá. Revi o Walter Pinto, Sérgio Palmiquist, Ronaldo Brasiliente, Lilian Afonso, jornalistas da antiga e outros colegas. Mas meu clima não era de farra, não estava emocionalmente naquele lugar. Nem os camarões deliciosos com catupiry eu me permiti. No máximo água e a limonada que levei. Completamente destoante do ambiente, saí mais cedo.
Antes porém, vi, do alto da Casa das Onze Janelas o Círio Fluvial passar. Lindo ! Emocionante, deslumbrante, indescritível.
Minha fragilidade e impedimentos gastronômicos e etílicos me conduzem, este ano, para as cenas mais relihgiosoas. Ano que vem, quem sabe, volto a participar mais ativamente também da profana com cerpinhas, camarões, sol e muito carimbó.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Mais Círio

Enquanto no País inteiro se comemora o Dia de Nossa Senhora Aparecida, em Belém tudo gira em torno do Círio. São tantas as programações que fica difícil acompanhá-las. Hoje ela deixou a Basílica-Santuário e de carro, acompanhanda por muito fiéis motorizados, seguiu rumo aos municípios de Ananindeua e Marituba, na área metropolitana de Belém, onde passará a noite. Sempre que posso (nem sempre é feriado!), vejo a passagem de algum canto da cidade. E sempre me emociono.
Hoje não foi diferente. Fomos Anaterra, mamãe e Manoel(o Raul estava em aula de reforço para o vestibular) e ver de um local muito especial. A parada que é feita em frente ao Hospital Ophir Loyola, referência no tratamento de câncer. Talvez algo mórbido ou simplesmente o desejo de não fugir de uma realidade que agora se aproxima. Fui dividir minha angústia, medo e fé, mesmo que silenciosamente, com pessoas que estão mais doentes do que eu. Em um estágio mais avançado, quase todas oriundas do interior do Estado.
Chorei (tenho feito muito isso ultimamente...) ao ver crianças sem cabelos, pálidas, esquálidas. Algumas de tão frágeis nem perceberam a movimentação. Homens idosos, jovens, mulheres ainda quase crianças outras mais velhas. No rosto a dor, mas as lágrimas eram de esperança. A Imagem desceu da berlinda e o arcebispo, D. Orani, a conduziu bem próximo dos pacientes do Hospital. Eu chorei mais e depois abraçada ao Manoel. Rezei muito, pedi mais ainda (por mim e por todos eles) e sei que assim será a cada encontro que ainda terei nesses próximos dias com a NAZA.
Depois, lágrimas secas e coração sereno, nos encontramos com o Raul, fomos almoçar no restaurante do Parque da Residência. Filhote na chapa, saladas, suco e um brilho diferente no olhar.
Um brilho de alegria, esperança, fé ...

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Começou o Círio !!

Só os que já viveram a festa do Círio de Nazaré sabem de fato o que ele significa. As palavras são insuficientes para traduzir o que ele representa para Belém e seus moradores. É mais do que uma homenagem à Nossa Senhora de Nazaré. É emoção pura ! E se há alguns décadas ele se concentrava na Trasladação que acontece na véspera e na procissão maior no segundo domingo de outubro, hoje a cidade ferve pelo menos uma semana antes.
São os romeiros chegando. Muitos de barco (receberemos amigos que virão de Cametá), outros de ônibus, avião (há avião fretado vindo dos EUA) e até a pé (como um grupo que tradicionalmente percorre os 80 km que separam Belém de Castanhal).
Nas ruas do centro os camelôs se atropelam (e nos atropelam) vendendo camisetas com motivos da festa, fitinhas e objetos de cera que serão entregues a Ela em agradecimento a uma graça alcançada. São casas, barcos, carros e muitas, muitas partes do corpo humano. Eu entregarei um seio de cera que já está comprado.
A cidade fica diferente. Há exposições de brinquedos de miriti, uma tradição que marca a infância de todos nós; outra dos mantos da Santa; de fotografias, shows com artistas da terra ou de fora que aproveitam para engrossar o rio de gente que toma conta de Belém. O trânsito fica mais caótico ainda, mas poucos reclamam. É o Círio !!
Nas feiras livres ou no Ver-O-Peso muita maniva moída na hora à disposição. Jambu, tucupi e os patos (quase todos vindos do Maranhão).
Somos outro povo neste momento...
E hoje, especialmente para mim, ele começou. Há alguns anos a Embrapa de Belém realiza seu pequeno Círio. Uma missa e a rápida procissão que percorre as ruas do centro de pesquisa, marcam a fé dos católicos da Empresa. Estive lá junto com o Manoel (um dos organizadores), mamãe, Raul e Anaterra. Recebi o carinho explícito ou silencioso de muitos colegas, diversos amigos. Abraços, palavras para dizer que estão torcendo por mim. Uma imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, presente da Lucilda, para aumentar meu pequeno altar e ajudar na proteção.
Já perdemos muitos colegas acometidos por essa doença. Lembro agora da Nazaré (a revisora que me substituiu no cargo), o Luiz e mais recentemente a Socorro Kato. Mas também há muitos (e felizmente em número bem maior),de vitoriosos. Tiveram câncer e hoje estão melhor do que antes.
A missa foi bonita, emocionante. Na verdade eu ando sempre emocionada, sensível demais e não deu para segurar as lágrimas quando ouvi a música "Nossa Senhora" e em especial "cuida do meu destino. Cuida de mim".
Sei que Ela cuidará de mim. Seu manto, um de seus grandes símbolos, me cobrirá e me protegerá. Permitindo que tudo seja tranqüilo e exitoso.
E a festa do Círio está só começando....

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Forte ou fraca ?

A imagem é algo que nós, profissionais de Comunicação, estudamos minuciosamente. Um objetivo a ser perseguido, o mote de muitas campanhas, planos e projetos. Falo isso para ponderar sobre algumas observações que ouvi de amigos de que estou "muito fraca", "você sempre foi tão forte". Não.... eu criei essa imagem ou deixei que as pessoas me percebessem assim. Eu sou fraca, frágil, cheia de medos (de avião, de barco, de assalto, de barata)e que desaba também. Eu sei que a vida me obrigou, em alguns momentos, a ser um trator. A não considerar os tocos que estavam no meio do meu caminho e que, para sobreviver, fui derrubando, um a um. Lutei para estudar (studo até hoje !!) , para ter um bom emprego, para manter uma relação estável com um bom homem, para ter filhos saudáveis e amigos, para ter a mãe do meu lado, uma casa confortável. Mas fui privilegiada também, abençoada. Conquistei mais do que imaginava, muito mais do que na adolescência cheia de privações e quase sem sonhos, eu cheguei a cogitar. Como os amigos que me rodeiam e oram, mandam presentes, orações ou uma simples e carinhosa mensagem. Tenho os alunos e ex-alunos que não me deixam fraquejar. Os filhos que estão mais próximos, mais carinhosos, mais atentos a mim. Ontem a Anaterra perguntou : - mãe você já viu uma matéria que está na Isto É ? O título era simplesmente a vida depois do câncer. Certamente o que ela acredita que acontecerá comigo depois da fase mais dolorosa que está por vir. Minha mãe, sempre calada, mas pensativa que sei rezar com emoção todas as noites pela minha saúde. Meus irmãos, sobrinhos ...
Mas tudo isso não elimina meu medo, minha apreensão. TENHO MEDO SIM !!! Não sou tão corajosa como outras pessoas, não sou tão forte como alguns imaginavam. Quero colo, afago, sentir-me querida, amada. Acreditar que se tiver que partir mais cedo do que imaginava, deixarei saudades.
Desculpem se decepcionei algumas pessoas que acreditavam que eu encararia o câncer, os exames de metástase e tudo mais o que está me esperando como se estivesse com um resfriado.
Isso não significa, porém, que não lutarei, que não vou até os meus limites em busca da cura completa, que deixarei de viver porque algumas células rebelaram-se em meu corpo.
Estou com medo, ainda apavorada com a notícia, mas viva !!!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Meio perdida

Esta terça-feira era para ser de arrumar a malinha do hospital, providenciar os documentos para a internação e estar bastante aflita. Mas Deus não quis. Nossa Senhora de Nazaré interferiu, ouviu minhas preces e deixou-me livre para viver este momento único de Belém. Mergulhar no Natal dos paraenses. A cidade ferve. A cultura se mistura à devoção à Virgem. Tudo aqui é Círio. Nas fachadas da grande maioria das casas o cartaz deste ano; na rua o cheiro da maniçoba que ferve nas panelas; nos pontos turísticos muitos visitantes; na Basílica missa de hora em hora e muitos devotos. Todos se cumprimentam e como no Natal, desejam, mesmo aos desconhecidos : Feliz Círio !
Vou comprar daqui a pouco os seios de cera que entregarei a Ela na certeza da cura e procurar o hepatologista (dificílimo uma consulta urgente !. Em seguida fazer os exames necessários, certamente entrar numa rigorosa dieta (maiçoba, pato no tucupi, cerpinha ? Nem pensar !!). Mas confesso que estou meio perdida. Tinha outra programação para esses próximos dias. Felizmente esta é bem melhor.
Estou quase feliz.
Descobri em exames tão minuciosos que meus males não são tão grandes como imaginava (de novo a ansiedade antecipatória !). Para o oncologista, devo me preocupar de imediato com a artrose no joelho. “Essa sim lhe dará trabalho !”, falou meio profético.
Novas consultas, novos exames, mas muito mais otimismo e fé.
Estou diferente

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Cirurgia adiada

Acabo de retornar da consulta ao oncologista-cirurgião. Uns resultados que indicam alterações no funcionamento do fígado (TGO, TGP e Gama GT), que sempre foram alterados em mim em função de uma esteatose hepática (gordura), levaram ao adiamento da cirurgia. Ele quer um laudo de um hepatologista, uma segurança a mais e eu agradeci a ele e a Nossa Senhora de Nazaré pela cautela. Os índices não são alarmantes (já foram bem mais altos), mas sei dos riscos de uma anestesia com um fígado comprometido e como não haverá tempo hábil para uma consulta, para realizar os exames, uma provável medicação, aliada ao fato do tumor já ter sido retirado, a intervenção foi transferida.
Há ainda outro agravante que para mim é importante (para o médico talvez não) : ele viajará dia 12 e só retornará a Belém dia 22. A cirurgiã plástica também.Não me sinto segura com os dois,no meu pós-operatório, tão longe.
Por que tudo isso ? Como estou interpretando essas mudanças ?
Sempre achei que sou mística, espiritualista e muito, muito devota de Nossa Senhora de Nazaré e hoje antes de sair de casa, diante da Sua imagem (sei que é só uma imagem !!), pedi à Mãe de Jesus que fizesse o que achasse melhor, que norteasse os médicos, para que não errassem (são humanos e por isso erram). Rezei com fé e devoção pedindo força, coragem e que esses dias fossem de tranqüilidade. Que a minha cabeça criativa demais (para coisas boas e ruins) evitasse os fantasminhas e afastasse as informações acumuladas negativas. Pedi com muita crença, muita força, muita esperança.
Sei agora que ELA decidiu assim. Quer que eu vá vê-la na Transladação, que a encontre, no próximo domingo, rodeada de milhões de fiés pelas ruas de Belém para lhe entregar os seios de cera, já em agradecimento pela cura que virá em breve. Quer me ver chorar e agradecer bem de pertinho, no meio daquele rio de gente.
Só posso agradecer.
O tempo, que neste caso é insignificante, me permitirá ainda concluir o semestre como professora. Como aluna já finalizei os créditos.
Final de outubro ou início de novembro, com o TGO, TGP e Gama GT normalizados farei enfim a cirurgia.
Com a NAZA (como os íntimos a chamam, bem do meu lado. Como A sinto agora.

Nossos direitos

Embora o choque seja grande, o pensamento insista em ser quase único, há providências práticas a serem tomadas e que fazem relação com a doença. Ao tomar conhecimento que um dos benefícios concedidos aos portadores de câncer é a liberação do FGTS fui em busca desse direito. Um aluno da FAZ, o João Faustino, da Caixa Econômica foi muito especial neste momento. Relacionou os documentos necessários, o tipo de laudo que deveria obter do médico e tranqüilizou-me sobre a liberação em breve (a Caixa está em greve há alguns dias).
É preciso pensar nesses aspectos também. As despesas crescerão, a possibilidade de ter que fazer a radioterapia em outro Estado é grande (aqui no Pará a máquina está sempre com problema e a demanda é muito grande), remédios, procedimentos que o Plano não cobre, enfim, uma programação orçamentária nova que não fazia parte de nosso mundo doméstico.
Daqui a pouco terei a consulta com o médico. A cirurgia se aproxima.
Devo escrever um pouco mais, mais tarde.

domingo, 7 de outubro de 2007

Meu domingo

Agora começo a enxergar a cirurgia como um mal necessário. Sem medo, confiante. Provavelmente depositei na pesquisa de metástese todo o meu pânico e ele desapareceu como por encanto. Hoje consegui me esquecer, por diversos momentos, que tenho um câncer. Cedo fomos ao parque de brinquedos de Nazaré (ou no arraial como os mais tradicionais ou antigos chamam). Levamos o Leonardo, o sobrinho de dois anos para repetir tudo o que já vivenciamos quando crianças : carrosel, motinha, ilusão de dirigir um potente caminhão. Fui também na Basílica-Santuário de Nazaré. Agradeci à pequena imagem pela primeira vitória. Chorei ao constatar que tenho muita certeza na cura. Vou viver e viver melhor depois desse susto.
Depois fomos à praça da República. Calor e gente. Muita gente... Pessoas com caractéristas físicas diferentes da nossa, vermelhidão no rosto e muito mais suor, denunciavam que não viviam na região. Comprei uma saia e uma sandália. Já pensando na facilidade de me vestir dentro de alguns dias. Ri com o Léo, Manoel, Raul, Anaterra e o amigo inseparável do Raul, João Felipe. Tomei água de coco e vi o quanto a vida é bela e que ela me esperará.
Encarar o que me espera tornou-se mais leve...
Os amigos estão ajudando demais a carregar essa cruz... Como seria difícil ficar sem vocês, principalmente os que têm se manifestado quase diariamente, que têm orado, que têm torcido, que têm deixado recado neste blog ou no meu Orkut.
Um abraço apertado em cada um de vocês !!

sábado, 6 de outubro de 2007

A primeira vitória

Desde o momento em que o médico falou que precisava fazer a pesquisa de metástase fiquei em pânico. Achava que o câncer de mama já era por si só demais arrasador, mas descobrir em outros lugares ? Ahhh não ...
Fumei durante 20 anos, sempre tomei cerveja abundantemente, comi demais e a saúde em nome de muitas coisas - inclusive da preguiça - ficou sempre em segundo plano. Um fígado frágil, uma garganta e pulmões agredidos e o medo a me perseguir. Os exames complexos e detalhistas me perturbaram muito. Cada um, uma prece, um susto.
Hoje tive aula o dia inteiro na pós. Último o módulo. Precisava conclui-lo, mesmo que presente quase só fisicamente. E por volta do meio-dia, recebo de um Manoel emocionado, àquela hora à frente da pequena imagem de Nossa Senhora de Nazaré da Capela do Colégio Gentil Bittencourt, a aguardada notícia : o montão de exames detectou apenas uma artrose no joelho esquerdo. Chorei de alegria, de alívio e dividi com os colegas da pequena turma de Comunicação Institucional na Amazônia/Mercado o grande momento. Palmas, gritos e muitos "que bom ...que bom" tornaram a aula inesquecível.
Hoje sei porque fui fazer aquele curso depois de tantos anos de formada pela UFPa. Era com eles que eu tinha que dividir esse momento. Lágrimas nos olhos de algumas, abraços apertados de outros e a contagiante esperança que a vitória está perto.
A primeira já aconteceu.
Obrigada meus queridos.
Obrigada também a todos os que têm se manifestado aqui.
Cada linha é um abraço, um afago, um colo.
Tudo o que estou precisando...

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Meu final de semana

A contagem agora é regressiva. Os resultados dos exames já podem até estar prontos (alguns estavam marcados para ontem), mas preferi ir apanhá-los só na segunda-feira, próximo da hora da consulta com o mastologista. Se for pegá-los, vou lê-los e tentar decifrar o que não conseguirei. Verei um diagnóstico provavelmente pior do que realmente é.
Optei por me iludir de que este sábado de aula na Unama, em companhia dos colegas, com risos, brincadeiras e novidades, será normal como qualquer outro. No domingo talvez vá a Mosqueiro. Falei com a minha analista que estava com receio de ir com um sentimento de despedida. Mas quando saberei que estarei me despedindo ? Quem me garantiu que quando fui à última vez eu voltaria ? Ninguém sabe ....
Ontem, ao assistir uma matéria na Tv sobre a morte de um professor por assaltantes adolescentes durante uma forte chuva que caiu em Belém na quarta-feira à tarde, fiquei analisando seu caso e o meu. Há cerca de dois meses estou sentindo-me meio morta, apavorada com as sucessivas descobertas (o nódulo, a primeira cirurgia, o diagnóstico, agora outros exames, nova cirurgia...), mas estou aqui : viva !! cheia de esperanças na cura, rodeada de familiares e amigos, com tantos planos. Ele, que nem pensava nisso, deveria estar cheio de saúde, já nos deixou.
Não quero mergulhar na minha pior patologia : a ansiedade antecipatória. Um diagnóstico antigo da minha analista e que me maltrata muito mais que o problema em si.
Preciso acreditar que meu FUTURO É HOJE !!

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Os filhos

Demorei para escrever sobre eles. Nada me preocupa mais do que o Raul e a Anaterra. São jovens demais pra viver com uma situação dessas. Para enfrentar o choro sem hora da mãe, pra pensarem que poderão perdê-la em breve ou presenciar o sofrimento que está por vir. Ele com 16 anos, um belo homem, vaidoso, cheio de músculos adquirido na academia com muita disciplina e nas lutas de karatê. Mas um quase homem também inteligente, sensível. Que escreve bem, é antenado com o mundo, bom aluno. Calmo como o Manoel.De poucas palavras. Diz que a ficha ainda não caiu. Eu ainda estou bem. Vou ao shopping, ao supermercado, às aulas. Nennhum sinal que a doença me corrói por dentro. Mas a Anaterra, ainda com 11 anos (fará 12 em dezembro), talvez por ser mulher, tem uma percepção maior. Já sofre com as minhas lágrimas, mas amadurecida diz: - chora mãe, alivia. Quer cuidar de mim. Me proteger. É falante e extrovertida como eu. Metida a sabe-tudo, mas carinhosa ao extremo. É a minha bailarina. A gordinha mais flexível que existe no grupo de balé do Colégio Gentil. Se pudesse dormiria todas as noites ao meu lado, como se sua presença pudesse evitar algo mais grave. Tenho medo por mim. Mas tenho mais medo por eles. Sei que a possibilidade da morte existe e acho tão cedo deixá-los sem mãe... Mas eu não tenho esse poder. Quero apenas que não sofram demais. O meu sofrimento certamente saberei aceitar, mas o deles será mais doloroso. Por eles e para eles queria viver mais um pouco ...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Os exames

O momento agora é de "cair a ficha". O meu mundo já não é tão rotineiro. Já não saio de manhã cedo para a Embrapa, à tarde preparo ulas e à noite vou à Unama ou assisto Tv, leio um livro. Um calendário de exames começa a ser cumprido. Exames que já prenunciam o que me espera. Uma ressonância magnétia que colocou a prova toda a minha claustofobia; a citilogafia óssea que não dói, mas incomoda, os riscos cirúrgicos cardiológicos (ecocardiograma e a esteira), a grande quantidade de exames de sangue e a palavra que me persegue sempre presente nas requisições : metástase. Já começo a aceitar, com relativa normalidade, que tnho um câncer na mama esquerda, que farei quimioterapia, radioterapia, que vou ficar mais de cinco horas em uma sala de cirurgia, que minha vida sofrerá uma grande mudança nos próximos mesee (ou anos ?). Agora estou tendo contato real com o mundo da doença. Até então era apenas uma informação, dolorosa, mas só uma informação. Agora é de verdade. Tenho marcas no corpo das picadas de injção, senti medo ao entrar naquele tubo ouvindo sons como se estivesse do lado de um videogame muito alto, fragilizei vendo pessoas com aparências tão debilitadas.
Comecei de fato a me sentir doente, mesmo que no laudo dado pelo meu médico (o mastologista-oncologista Gilberto Erichsen), eu esteja com um quadro geral bom e assintomática. Mas a fase, não conseigo esquecer, é de pesquisa de metástase. Felizmene hoje à noite Nossa Senhora de Nazaré, em sua peregrinação nas casas, cerimônia que antecede a grande festa do Círio, dia 14, estará em casa. Vou chorar, eu sei, vou me ajoelhar a seus pés e humildemente pedir pela cura, pela minha saúde e pela todos os que tanto amo e que tanto têm me amparado.
Amém !!

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Os amigos

Ahhh os amigos.... Um capítulo à parte e especialíssimo.
Tem os bem antigos como a Sula, Ieda, Zanda (tanto tempo !!!), Renata (Brasília), o Honorato (Brasília),Guilherme (padrinho do meu filho). Tem os da Embrapa de Belém, tantos anos lado a lado(Célia, Consuelo, Célio, Emê, Antonio Carlos, Zezé, Renata, Ana Laura, Marcus e mais um montão que não vou prosseguir pra não esquecer de alguém. Os da Embrapa de outros lugares como Brasília (Robinson, Marita, Beth, Rosângela... )ou do Rio como a Soraya, de Porto Velho, Manaus, Rio Branco; os vizinhos, os da Unama, mais recentes, mas também intensos como a Andréa Cunha, a Érika, o Alexandre, Fernando, a Juliana e outros que a vida colocou no meu caminho como a Rosaly, Joice, Orly, Beth Mendes, Milena, Raimundo José Pinto.... Muitos... muitos.... que neste momento são meu colo, meu chão. Mensagens que chegam a cada dia e me inundam de esperança, de fé. Telefonemas que apenas indagam como estou, mas que a voz transmite paz, preocupação, torcida.
Orações em todas as religiões, em diferentes credos. Muita fé, muita energia positiva para que eu tenha força e vença mais essa batalha. Que o câncer seja só esse nódulo. Que outras partes do meu corpo não abrigue nenhum outro tumor. O meu maior medo neste momento.
Só posso agradecer a cada um. Os que citei e os que não relacionei porque não haveria espaço ou memória suficientes.
Sinto-me privilegiada por tanto carinho. Já disse para alguns: se tiver que morrer dessa donça, pelo menos vou ter a oportunidade de saber o quanto me querem bem. Um infarto ou um acidente de trânsito, uma morte brusca qualquer, talvez não me desse essa oportunidade. Afinal, ninguém garante que a gente veja as homenagens ....
Obrigada queridos (os que não foram citados não se sintam diminuídos. O zoloft e o lexotan também anestesiam a memória).

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

O preventivo

Nunca tive o hábito de fazer o auto-exame. Todas as vezes que pensava em fazer, achava tantos nódulos fictícios que desistia. Mas felizmente trabalho, há quase 24 anos, em uma empresa que exige dos empregados os exames preventivos, o que chamamos de periódicos. Todos os anos, nós da Embrapa, passamos por uma bateria de análises que incluem, para nós mulheres, a mamografia. E foi em uma dela, em agosto passado, que tudo começou. São sustos encima de sustos. Primeiro o laboratório dizendo que precisava repetir o exame. Primeiro medo ! De fato havia um nódulo. Mas que nódulo ? Pelo laudo nada demais. Mas era preciso ir mais além. Uma cirurgia retirou o material que foi para bióspia. Só esta palavra já aperta o coração. Preferi deixar para saber o resultado só no dia 24. Afinal, dia 23 meu filho, Raul, completava 16 anos. Um bom motivo para reunir parentes, amigos e os amiguinhos deles. Churrasco, cerveja e sobremesas fizeram meu domingo especial. Ouvi música, cozinhei, tomei cerveja e cantei... Talvez me despedindo desse clima de festa. Na segunda-feira, dia 24, enquanto estava assistindo a missa de primeiro ano de falecimento da colega e pesquisadora Socorro Kato, na Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, o Manoel e o Raul tomavam conhecimento do laudo definitivo : estava mesmo com câncer. Do meu lado a Anaterra no táxi do Sid. Um quase parente que ficou mudo. Não chorei, apenas senti que meu mundo caiu. Desabou tudo... E agora ? POr onde começar ? O que fazer ? Quanto tempo eu tenho de vida ? A Anaterra, adulta, solidária, apertava a minha mão e repetia : - Mãe, lembra da tia Rosaly. Não vai ser nada demais.
O susto é enorme, ainda não me refiz, ainda estou como espectadora dessa peça de teatro macabra, mas tenho consciência que o preventivo fez a diferença. Não sentia nada : dor, secreção, nem no tato .. Nada. E em 2006, quando fiz também a mamografia obrigatória, nada atestou. Em um ano ele se instalou em meu seio esquerdo. É preciso prevenir, afinal, como diz o Fernando Jares, colega da pós-graduação da Unama, não é exatamente para descobrir no ínicio, quando ainda há cura, que fazemos o preventivo ? É ... pode ser ....