Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

Arquivo do blog

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

A novela da nova cirurgia

Hoje tive mais uma consulta e a minha expectativa (ela, sempre ela !!!) era que eu já sairia de lá liberada para a nova cirurgia, aquela que aprofundará o tipo de câncer que tenho, o nível de comprometimento dos lifonodos e a definição, a partir dessas informações, do tratamento que farei. Mas nada !! Só no próximo ano repetirei os exames que nortearam os próximos passos.
Mais exames....mais consultas ...
A conversa foi boa, ele gostou da minha disposição, do meu astral e da minha determinação em prosseguir com a dieta. Falou-em com otimismo sobre o tipo de câncer que tive (?), mas não pôde esclarecer a maior de minhasdúvidas: as quimioterapias. Quantas farei ? Qual o tipo ? E os efeitos colaterais ? O que elas me impedirão de fazer ? Ficarei muito debilitada ?
Pediu-me calma e paciência. Cada caso é um caso e cada organismo reage de um jeito.
Vou tentar não pensar demais, a não fazer jus ao meu antigo diagnóstico psiquiátrico de ansiedade antecipatória.
Tenho trabalhos a concluir, relatórios a entregar, compras a fazer e malas para arrumar de novo.
Melhor me preparar para o reveion e deixar a cirurgia para o próximo ano.
Transferir as angústias da espera para 2008. Repassar para mais tarde os medos. Desconsiderar que janeiro será diferente.
Viver ainda é o melhor de todos os projetos !

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Disfarce quase perfeito

Só os que me conhecem muito é que sabem o quanto tenho me esforçado para que a aparência seja de grande normalidade. Tenho buscado em prazeres até mesmo novos, estímulos para não ceder diante de pensamentos mais pessimistas. Talvez o clima de festas, a latente fraternidade e o espírito de proximidade estejam contribuindo para que a minha sensibilidade esteja mais extremada, mais pulsante e às vezes incontrolavelmente dolorosa.
Não dá pra evitar pensar em como será o meu Natal no próximo ano. Tudo bem que ninguém sabe como será o seu. Ninguém sabe como será a sua próxima meia hora. Inevitável, porém, que a certeza da doença altere os sonhos, os planos e nos conduza a pensamentos que lutamos para não ter, mas que nos invadem e nos consomem.
Ando emotiva demais, chorona demais, pensativa demais e querendo me isolar. Sei que nada disso é bom.
Vibro com o PapaiManoel e sua ajudante, com as conquistas do Raul, com a alegria emanada dos pequenos Leonardo e Thomaz, com os resultados profissionais e laboratoriais, com a doçura da Anaterra, com a saúde da mamãe, com as inúmeras demonstrações de carinho dos amigos, mas intimamente há uma incômoda dor silenciosa e só minha. Calada, doída, sentida, profunda.
Talvez o que mais me incomode seja a impossibilidade de administrar meu tempo, meus próximos dias, meus próximos meses. Não saber como posso agir a curto/médio prazo, como ficarei após a cirurgia, durante a quimioterapia.... Quais serão as minhas limitações ? Poderei trabalhar normalmente ? Quando poderei viajar ? Não há respostas para essas dúvidas e aí só me resta esperar e justo eu, que sempre corri atrás das respostas, que nunca tive muita habilidade para aguardar, que paciência nunca foi uma de minhas poucas virtudes.
Um sobe-e-desce que oprime e angustia, mas dizem os mais experientes no assunto : faz parrrrte !!!

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

O Natal na periferia

Mesmo não sendo a Regina Casé, hoje deu pra sentir o gosto do Natal que reúne pessoas que querem mais do que presentes. Se satisfazem com atenção, demonstração de afeto e se tudo isso vier embalado em uma roupa vermelha, com um sorriso de velhinho estampado no rosto, melhor ainda. Os carrinhos, bonecas e bolas são simbólicos. O abraço daquele ser que encanta adultos e crianças é mais relevante, mais emocionante.
Um grupo pequeno de pessoas anônimas há alguns durante todo o ano compra brinquedos que são distribuídos entre os que vivem nas áreas mais pobres do bairro da Terra Firme. Este ano o Manoel foi convidado a ser o Papai Noel. Visível a sua emoção. Há alguns meses não tirava a barba para que de fato sentisse o gosto mais real da fantasia.
A Anaterra a ajudante fiel, participativa. Sempre disposta, prestativa, decidida, distribuia brinquedos : meninos aqui nesta fila... meninas ali, naquela.
No rosto de cada pequenino a certeza de que não fora esquecido.
Este Natal, como já imaginara, está sendo diferente. Emoções muito fortes. Passado e futuro que estão perturbando o presente.
Antes a família reunida. Almoço farto e barulhento. Troca de presentes simples, a emblemática lembrança.
As lágrimas têm caído escondidas. Tenho chorado demais. O motivo ? Ah.... são motivos... muitos motivos... Alguns bobos, outros futuristas. A sensibilidade está à flor da pele e não dá pra segurar que o coração se aperte e os sonhos e medos se misturem; que o ir-e-vir se alterne; que morrer esteja tão próximo do viver intensamente.
É Natal e a natureza aqui parece saber disso. Chove lá fora. O dia fica mais triste, mais preguiçoso como se recomendasse a reflexão, a introspecção, o silêncio absoluto para que os pensamentos voem mais longe e tragam boníssimas lembranças e aterrorizantes perspectivas.
É Natal, mas nem ouço o sino de Belém.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Noite Feliz

O cheiro na casa denuncia a data: o peru que assa junta-se às rabanadas que são fritas; o bolo ainda nem saiu da forma e exala pela casa o cheiro apetitoso peculiar que leva ao desejo e em breve a farofa com bacon se unirá ao odor marcante desse dia.
É Natal !!
Este para mim é muito, muito especial. Tem um gosto de vitória recheado de medo. Alegria untada de temor. Esperança polvilhada de incertezas. Sorrisos mesclados de lágrimas. Mas é Natal !!
Brindes sem álcool, mas tim-tim à vida, à oportunidade de me reconhecer viva e esperançosa, de acreditar que é possível ser imensamente feliz mesmo que o estigma do câncer ronde corações e mentes.
Esquecer por alguns dias, horas e minutos que ter câncer não é sentença de morte, embora seja algo definitivo, improvável, eterno. Sim, o câncer é para sempre, mesmo que seja silecioso, mesmo que nunca mais surja, mas é latente, não nos deixa nunca mais. Uma sombra a minar os sonhos, que nos leva a rever planos e a não ousar demais.
Neste Natal, mais do que os presentes, pela primeira vez eu estou mais próxima do aniversariante. Incrédula diante dos novos fatos, mas crédula na fé.
Meus pensamentos estão voltados ao seu poder, ao que Ele pode me trazer como benção. Acima de tudo muita força, otimismo, resignação. Que eu e todos os outros que estão passando por situações similares não desanimem e que os que têm a missão de tratar de nossa saúde, também sejam iluminados e encontrem sempre o caminho mais curto, menos doloroso, mais eficiente.
Hoje à noite abraçarei cada um dos que amo e que estarão ao meu lado e mentalmente os que não estarão próximos. Amados do mesmo jeito, com a mesma intensidade !!
Brindarei com água, chá ou quem sabe um vinho branco orgânico, a oportunidade que estou tendo de me renovar na felicidade da incerteza.
Uma NOITE MUITO FELIZ a todos !!

domingo, 23 de dezembro de 2007

De volta...

Retornar depois de sete dias longe de casa nos dá a sensação de um enorme vazio, uma confusão que passa com o tempo, mas que incomoda. Um misto de que ainda não se chegou por inteiro que a metade está aqui, mas a outra ainda não veio. Compartilhamentos experimentados só para os que vivem intensamente esse ir-e-vir.
Acabo de chegar. Foram dias entre Brasília e Pirinópolis, em Goiás. Motivos diversos provocaram essa viagem que vão desde a participação em um evento à necessidade de desestressar, de viver, de dar um tempo à cabeça e rever emoções.
Deixar a rotina e sair em busca de sonhos, de planos com prazos de vencimento limitados pelos dias e pelas horas, mas nem por isso menos intensos. Abandonar um pouco o leme, deixar o barco à deriva e permitir-se nem olhar a bússola.
A consulta com a médica que utiliza cogumelos no tratamento do aumento imunológico me fez muito bem. Voltei com a crença maior de que a minha trajetória será mais amena, que nada impedirá de eu viver mais um tempo e da forma intensa que sempre vivi. Não me basta viver, é preciso que a vida pulse em mim. Vou seguir o tratamento e junto com o que os demais médicos prescreverem, cuidar de mim com a mesma atenção que tenho feito até hoje.
Conheci novos lugares, revi pessoas queridas e deixei-me levar pela alegria do momento. Esqueci, durante boa parte desses dias, que há três meses meu mundo sofreu um forte abalo. Um nódulo de tamanho quase insignificante atravessou meu caminho e como a Pedra do Drumond tumultuou, perturbou, atravancou.
Uma pedra nodular superável, transponível. Vi nesses dias que posso viver sem pensar nela, quase ignorando-a. A felicidade ofusca o gosto amargo do medo.
Voltei melhor do que era há oito dias.
Isso é o que importa !!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Viajando

Os que diariamente procuram saber o que se passa comigo via este blog devem estar estranhando a ausência tão demorada. Desde a última segunda-feira (17) estou viajando. Brasília e agora Pirinópolis me afastaram de Belém. Os motivos são os mais diversos possíveis, mas o importante é que todos culminam para um só foco : melhorar meu astral, buscar explicações para a doença, aprender mais, aprimorar conhecimentos, rever pessoas queridas, relaxar, mesmo que a saudade de casa seja grande.
Na volta contarei detalhes, por enquanto quero apenas sentir que a vida lateja e que mesmo com os fantasminhas ela é linda e estar viva é um privilégio que deve ser comemorado a cada minuto, todos os dias.
Prometo belas fotos e muitas novidades.
Até a volta !!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Os Pinto e os Bandeira

Duas famílias marcam a minha história desde muito cedo. Uma referência de vida em minha via.
Primeiro os Bandeira Gonçalves. Ainda criança, adolescente, fui aluna da professora Risoleta no Colégio Souza Franco. Gentil, meiga, doce. Mostrou-me os primeiros encantos da língua francesa. Voilá ! Boujour, merci e por aí afora. Anos se passaram e no curso de Letras da Universiade Federal do Pará outra doce Bandeira cruza meu caminho: a Lúcia. Andar lento, voz mansa escondiam a inteligência, a firmeza nas posições, a base intelectual forte vinda de berço. Cursamos algumas disciplinas e a roda-vida nos afastou. Optei pelo jornalismo e anos depois ela faleceu bruscamente. Quando pisei no velho prédio de A Província do Pará o chefe maior era outro Bandeira Goncalves. Ou simplesmente Chembra. Voz grossa, gestos fortes, cigarro rolando no dedo ... Características suficientes para apavorar a quase menina em seu primeiro emprego. Com o tempo, porém, percebi que aquela cara carrancuda era só um personagem. O mestre, o homem justo, atencioso se escondia naquela pele de bicho bravo.
As noites me trouxeram o Walter, o maior de todos os intérpretes (ninguém canta Geni, do Chico, como ele. Ninguém !!!)e mais recentemente a Simone Bandeira, também da família, surge entre as minha alunas na FAZ. No orkut acho a Nara, aquela que conheci bebê, filha da Lúcia.
Quantos esbarrões deliciosos...
Algo similar aconteceu à família Pinto. Primeiro o Lúcio Flávio. Ícone para todos os que se dedicam ao jornalismo sério, ético, amazônico. Aos 19 anos apenas um deus, inatingível, que para minha surpresa já me conhecia das escadas da Província. Quando fui demitida pelo Fernando Jares e achei que a curta carreira tinha acabado, foi dele o colo, o incentivo para ir em frente. Perguntou-me com a típica e marcante objetividade : quer continuar nessa vida ? Respondi segura que sim. Bastou um telefonema do mestre para que as portas do novíssimo Estado do Pará se abrissem. Gratidão eterna pela confiança na foca. Depois chega o Elias Pinto, para mim o eterno Eliaszinho. O jovem rebelde, intelectual incompreendido. 20 e poucos anos e muitos sonhos. Uma amizade que se fortaqlece até hoje. Cheguei a ser sua procuradora em uma de suas meteóricas "partidas definitivas" de Belém que não demoraram mais do que uma semana. Mais tarde surge o Raimundo José Pinto, para mim o RAIMUNDOZÉ. Anos e mais anos de convivência diária na Embrapa e a certeza de que tive outro professor. Mais do que jornalismo ele me ensinou a ser ética, a não vacilar, a não ceder e a me fazer respeitar. Como ele ! Tem ainda o Luiz Pinto, cartunista de mão cheia. Menos convivência, mas nem por isso menos carinho.
Como explicar esses encontrões, essa alquimia ?
Sei apenas que fiquei melhor, muito melhor, depois do que aprendi e convivi com essas famílias.
Sou um pouco de cada um deles.
Um privilégio !!

domingo, 16 de dezembro de 2007

A bucólica Mosqueiro

Ela já foi mais bucólica, mais calma, mais bonita, mais hospitaleira, mais rústica. Mas para mim continua linda e visiá-la é sempre revigorante.
Hoje renovei esse prazer : molhei meus pés nas águas escuras de suas praias e ratifiquei o quanto vale a pena viver, o quanto a natureza é bela e como somos insignificantes diante da sua rgandiosidade e sabedoria.
Mosqueiro, a ilha distante de Belém a cerca de 70km faz parta da minha história desde a infância quando ia com a tia Jorgete passar as férias de julho. Sem ponte, um caminho entre o mato e uma demorada travessia transformavam a viagem que hoje não passa de 1h15 minutos em duas, três, quatro horas. A outra opção era o navio - o Presidente Vargas. Uma festa a cada chegada no trapiche da Vila.
Outros verões vieram, inclusive com uma casa própria que os filhos bem criancinhas aproveitaram bastante. Nós também.
É revigorante desfrutar do muito que ela oferece. As tapioquinhas feitas na hora com café fresco, peixes frescos, camarão plastificado como diz o amigo Marcos Magalhães, ahh um mundo à parte. Diferente de todas as praias do mundo !! Água doce e ondas...
Gosto de olhar aquele rio que parece um mar, as ondas calmas (às vezes nem tanto !!), a areia escura e os vendedores de camarões, siris, raspa-raspa, picolés, roscas e outras guloseimas que desfilam pela orla.
Há muito queria ir. Desde que tive o diagnóstico do câncer algo me travava de tomar a decisão de beijá-la solenemente. Talvez receiasse não estar plena para sentir o que sinto sempre quando vou visitá-la ou ao voltar, sentir algo como uma despedida.
Temei me deprimir, sentir um gosto de perda, não ter o mesmo gosto.
Não.. fui e voltei muito bem.
Pisei na areia, molhei os pés, comi peixe no tucupi, me diverti com as brincadeiras (que mais parecem brigas) dos filhos, li jornal e peguei um sol entre nuvens, mas forte o suficiente para me deixar vemelha agora.
Vi sua água, senti seu vento em meu rosto, deliciei-me com sua chuva fina que me brindou molhando meu corpo suado, amenizando o calor e amentando o prazer do reencontro.
Fiz as pazes com a bucólico. Sem tristezas nem mágoas. Apenas uma promessa de retornar logo.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Porque a gente muda

Em uma mensagem há poucos dias para o Marcelo Gabbay (publicitário que já foi meu colega na Embrapa, que hoje está no Rio e que mais do que quando estávamos pertos estamos hoje mais próximos) eu dizia que quase todas as pessoas, em algum momento de suas vidas, sofrem uma interrupção brusca que os leva a redirecionar a vida. É como se estivéssemos dirigindo em uma longa estrada reta, há muito tempo, sem tempestades à vista e de repente aparecesse uma encruzilhada mas com direções (todas !)que nos obrigasse a seguir uma direção completamente diferente daquela antiga, a calma, tranqüila, segura.
Alguns vivem esse turbilhão por motivos trágicos demais, como os que perdem os filhos tragicamente ou mesmo por doença. Quase todos buscam uma fuga aliando-se a outros pais, dividindo a dor dessa perda irreperável.
Outros mudam de religião e encontram um Deus até então desconhecido, que muda seus hábitos, conceitos, valores e a vida.
Há os que se envolvem com movimentos sociais e optam por um modelo de vida às vezes até antagônicos ao anterior (viram vegetarianos, ambientalistas, missionários etc).
Ou, como é o meu caso, "ganham" uma doença que nosleva a refletir sobre o mundo, sobre você, sobre tudo e todos. Que nos dá dimensões antes inexistentes e impensáveis e nos tiram o chão que antes parecia tão firme. Arrebentam a algema do tempo e não nos permitem mais olhar o horizonte, o máximo que nossa mente alcança é o amanhã.
Sinto-me assim, quase sem amanhã....
Não é infelicidade. Não, não é isso !! Em nenhum momento, mesmo quando sinto-me a mais triste das mulheres, encaro este câncer ou as hepatites acumulativas como um castigo, como conseqüência buscada na vida desregrada e abusiva que levava. São tão somente acidentes de percurso, conseqüência dos 50 anos que já chegaram e da vida vivida com muita vida.
Creio que apenas estou tendo outra oportunidade. Foi me dada uma nova opção de viver. Sem muitos dos meus antigos prazeres, mas intensa do mesmo jeito. Sim !! se é pra comer peixe que seja o melhor, o mais gostoso. Se é para comer queijo branco que seja o menos ruim. Se me é permitida uma salada que seja a mais deliciosa, a mais bonita.
Meu limão não é mais azedo do que o da maioria das pessoas. Basta aceitá-lo e ir chupando-o devagar.
A gente se acostuma...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

E ele ?

Alguns devem estar se perguntando: por que você só fala da Anaterra, só escreve sobre ela ? E o Raul ? Na verdade são apenas coincidências. Ela tem sido mais notícia familiar nesses últimos meses. Tem gerado informações que redundam em tópicos aqui. Mas não creio que tenha preferências. Embora considere perfeitamente normal os pais se identificarem mais com um filho do que com o outro. Apenas namorados (e seus pares como maridos, amantes, ficantes etc) e amigos escolhemos espontaneamente. Os demais nos são impostos pela vida: pais, irmãos, tios, colegas de trabalho, vizinhos. Sendo assim, por que não simpatizar (não disse amar no incondicional) mais com um do que com outro ?
Tenhos dois filhos quase nada parecidos entre si. Talvez só fisicamente. E como hoje resolvi falar do Raul o vejo completamente diferente de mim. É vaidoso ao extremo, valoriza o corpo, os músculos (tema recorrente de nossas constantes discussões) e ao contrário de mim, tem pouca vaidade pelo intelecto, por ser admirado pelo que faz, escreve, diz, pensa, conquista.
É calmo, tranqüilo, calado e sedutor. Talvez esta seja a maior de todas as suas características. Encanta a todos. Não grita, raramente contesta mesmo quando não concorda e ao final apenas faz o quer sem se incompatibilazar com as pessoas. Fica sempre de bem com todo mundo.
É inteligente e por ter certeza disso, usa e abusa do dom. Não se esforça, não se dedica e perde belas oportunidades de ir mais longe.
Sutil, seduz e consegue tudo o que almeja.
Um homem, embora com apenas 16 anos, que não tolera o álcool nem o fumo. Geração saúde, que se cuida e faz discursos pelo natural. Que vez ou outra age como um grande bebê, o meu bebezão, que quer dormir comigo na cama, que deita em minha barriga em busca de um cafuné, que diz gostar muito de conversar comigo (desde que não seja sobre musculação, suplemento alimentar etc).
Cada um com suas peculiaridades, cada um com suas características.
Dois seres em formação que espero muito em breve se transformem em dois cidadãos justos, honestos, preocupados com o mundo e felizes.
Acima de tudo : muito felizes !

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

E ela chega aos 12

Há doze anos eu pensava que iria morrer. Vivi, com a mente doente que sempre tive, esses momentos pré-morte. Transformei o parto em complicações. Tinha motivos de sobra que só ratificavam as fantasias mórbidas: pressão arterial alta, duas pré-eclampses e muito medo.
Troquei a alegria de ter mais um filho pelo medo de deixá-los. Ele tinha, àquela época, 4 anos e ela estava chegando. Hoje, 12 anos depois, tenho uma bela menina-moça que começa a se tornar mulher. Uma autêntica amazônida. Pele morena, cabelos negros e lisos, olhos miúdos e bem escuros.
A cabocla verdadeira.
Ela herdou esses traços fortes dos antepassados de meu pai, índios da região do Tapajós. A tez é pura Amazônia.
Tem orgulho dessas características. Valoriza-as...
Ser mãe de uma jovem neste momento é oscilar entre uma sargenta ranzinza e autoritária e uma doce e meiga cúmplice, amiga. Acho que sou assim (pelo menos tento !): brigo, ameaço bater, coloco de castigo, obrigo a estudar e ao mesmo tempo sou carinhosa, acaricio, afago, beijo, abraço, faço concessões encima de concessões.
Atenta sempre: quem são seus amigos,com quem conversa na Internet, vasculho o Orkut e converso... converso... converso....
Minha menina-moça tem sonhos. Sonha alto: quer ser arqueóloga (se diz apaixonada pelo Egito) ou uma profissão que possa aporoximá-la das crianças especiais. Paciência tem de sobra e carisma com os pequeninos também.
O que posso desejar a ela além do que desejamos a todos que amamos: que seja feliz !! Muito feliz !!
Tim-tim !!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Planos

Comecei escrevendo um outro texto, sobre os receios do câncer. Uma doença ingrata, traiçoeira que sorrateiramente se estrutura, se fortalece e só então mostra a cara. Às vezes tarde demais.
Mas mudei de tema... Não que eu não pense sobre o assunto, mas é que quero viver intensamente tudo o que tenho pra viver. Descobrir a doença me fez ter um outro olhar sobre quase tudo. É interessante como o medo de morrer nos leva a valorizar mais a vida, a vê-la como mais preciosa, como querer não ir.
Hoje não penso mais a daqui a 10,20 anos, mas daqui a 10, 20 dias. Busco prazeres onde antes não conseguia enxergar, elimino os obstáculos e me presenteio com alegrias antes insignificantes.
O dia-a-dia tem outro sabor e o futuro também. Meu futuro está marcado no calendário, depende dos médicos, da nova cirurgia, do tratamento. Enquanto ele não chega brindo à felicidade que me sirvo em doses que já não são homeopáticas. Não tenho tempo nem paciência para viver homeopaticamente. Preciso de doses cavalares de felicidade, de doses mortais de alegria.
Cavo onde posso encontrar-me e sem muitos senões vou à luta, vou ao meu encontro.
Não sabia que o temor da morte me apresentaria uma nova vida. Ficar diante da escuridão me aproximou da luz. Estou sendo conduzida aos braços do que posso planejar e ainda me presentear.
A vida deverá ser mais curta, mas provavelmente bem mais intensa.
Uma historinha antiga me resume hoje.
Um homem foi ao médico e disse que queria viver até os 100 anos.
- Você fuma? perguntou o médico
- Nunca ! Odeio cigarros !, respondeu o homem de 20, 30 anos.
- Bebe ?
- Só água, Não tomo nem refrigerante !
- Pratica algum esporte ?, quis saber o médico.
- Gosto de caminhar. Faço sozinho. Não surporto a companhia das pessoas.
- Mas certamente gosta de ler...
- Não tenho paciência.
- Filmes ?
- Acho uma bobagem.
- Sair com amigos ?, insistiu o médico.
- Não tenho amigos !
- Namorada, esposa ?
- Elas só querem o nosso dinheiro.
Aí o médico não se conteve ; - Para que então o senhor quer viver até os 100 anos ?
Que eu viva só 50, 53,55, mas com direito a tudo o que o homem não tinha ou não queria.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Os que vão, os que voltam e os que chegam

Sempre fiz de tudo para cultivar amigos. Desde muito cedo. Amigos da Conselheiro Furtado, onde morei muitos anos : Roberto, Augusto, Adilson, Leleka, Bebeto... Da época de Souza Franco: Glória, Fátima, Vanda, Nete, Zanda... Da Universidade, de A Província do Pará, jornal O Estado do Pará, Prefeitura, Embrapa e mais recente do meio pedagógico como professora e como aluna e os virtuais, presentes da Internet.
A descoberta do câncer na mama esquerda trouxe junto com o pavor do sofrimento, um cenário até então novo para mim: os amigos que não resistem a situações diferentes, pessoas que tendem a mudar diante do novo, do assustador e se mudam da gente. Há, felizmente, os que, ao contrário, diante da tempestade se aproximam, dão guarida, protegem.
A maioria permanece à distância acompanhando o desenrolar dos acontecimentos. A vida continua inalterada e sobra pouco tempo para uma proximidade maior. Pefeitamente compreensível ! Natural ...A fila anda...
O grupo dos que se afastaram me entritesce e me decepciona. Tinha amigos tão agarrados, tão próximos, desses que a gente conversa quase diariamente, que eu acompanhava "pari passu" suas vidas e eles a minha; onde reinava a confinaça plena, a confiança irrestrita . Amigos que já eram considerados irmãos. Irmãos que escolhi.
Mas eles optaram pelo silêncio, pelo sumiço. Já não sabem de mim. O fato curioso é que isso se deu depois da descoberta do câncer. Tão logo ele foi confirmado, recebi telefonemas, apoio e até lágrimas de angústia. Demonstraram explicitamente a preocupação com a minha saúde e o quanto estavam abalados. Alguns cheguei mesmo a confortar, consolar. Os dias foram se passando e os contatos diários ou semanais escassearam e muitos, três meses depois do diagnóstico, simplesmente emudeceram. Não existem mais.
Devem ter seus motivos. Racionalizo alguns: fragilidade para conviver com situações adversas, medo de me ver definhar aos poucos e deixar de ser a Ruth que conheceram ou o mais simples e comum de tudo: a amizade era frágil demais e latente apenas nos momentos felizes. Não resistiu a tempestade da doença !!
Outros, contudo, voltaram. Pessoas especiais que estavam caladas em seus cantos, mas que tão logo souberam do dignósticos retornaram, voltaram mais intensos. Uma leitura inversa: se eu estava tão bem não precisava deles. Agora não !! Quero afagos, energia, companhia, carinho e eles dizem, às vezes sem palavras: estou aqui, de braços abertos te oferecendo meu colo. Retornaram alguns que nem pensei pudesse um dia reatar os laços. Meus amigos diários e muito mais prsentes. De presente !!
E tem ainda os que chegaram junto com o câncer, principalmente os virtuais. Uma grata coincidência mora no Rio de Janeiro. Uma paraense que me conheceu na Net a partir das fotos do Círio Fluvial que disponibilizei na minha página do Orkut. Saudosa da terrinha calorenta, da nossa deliciosa cozinha, hoje é uma das presenças constantes em meu dia-a-dia. Conversamos, fofocamos, relembramos nossa infância e adolescência e isso tudo ajuda o tempo a passar, a tornar os dias menos tensos.
Como tudo na vida, a gente está sempre ganhando e perdendo. Felizmente neste escore, os que se foram são proporcionalmente quase insignificante diante dos que retornaram e dos que acabam de chegar.
Preferia, porém, que nenhum tivesse ido.

domingo, 9 de dezembro de 2007

A invisível Anete

Este detalhe da festinha de confraternização da pós foi tão hilária que merece um tópico específico. Alguns colegas, por motivos diversos, não puderam comparecer. Uns, pelas atividade que desenvolvem, neste período do ano estão assoberbardos; outros estão fora de Belém; outros tinham confraternizações já marcadas nesse mesmo dia e hora, enfim ...
Entre os ausentes a Anete Pitão, uma colega que durante o curso deu um novo curso a sua vida : deixou a Albras (a segunda melhor empresa do País para se trabalhar, como vive ressaltando o Fernando Jares) e está no Rio de Janeiro estagiando em uma grande agência de comunicação.
Mas a sua forte relação conosco a fez se manifestar, através do Fernando, via e-mail Uma cartinha emocionada, cheia de planos e muita felicidade. Impossível não ter se comovido. Para que a sua presença fosse indiscutível, o Fernando ampliou uma foto dela, pregou-a numa folha de isopor e levou a Anete para a festa.
Durante boa parte do encontro ela permanceu quieta, sentada em uma cadeira, mas observando tudo. Sorriso largo, uniforme da Albrás. Quando chegou a hora das manifestações, ela falou. Sim, o Fernando leu o texto e eu segurei, bem atrás dele, a foto. Perfeito !! Quase ouvíamos a voz dela.
Mais tarde, na hora dos comes e bebes, esquecemos a Anete no jardim onde estávamos concentrado. - Corram ! peguem a Anete. Ela ficou sozinha. De repente lá estava ela de novo conosco.
Embora saibamos que ela vive de dieta, lhe foi oferecido na boquinha salada, torta de morango, sorvete, arroz com galinha e até cerveja.
Com a chegada do Pedro Paulo (colega que começou, mas não foi até o final, mas que veio prestigiar), a bagunça ficou maior. Sem cerimônia ele grudou um pedaço de alface no dente da Anete (o Wallace documentou). Impagável !!
A peruca, usada pela Anaterra em uma de suas apresentações teatrais, finalizou o show improvisado : todos colocando a peça e o Pedro Paulo voltando aos velhos tempos de Los Papitos, quando imitava os Menudos.
Demais ...
Brincadeiras saudáveis, alegria verdadeira.
Lavei a alma, o coração está leve e rio todas as vezes que me lembro do que rolou na última sexta-feira.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Os amigos que se renovam

Mais do que comer a deliciosa salada do Alessandro e Ellen, rir das presepadas do Fernando Jares (a homenagem a Anete ausente foi hilária), abraçar a Andreá Cunha e a Érika, conversar com a Juliana, Samira, Alexandre, ouvir o Rogério comentando mais uma matéria da Rede Record gerada aqui, ontem a nossa confraternização foi uma ratificação de que podemos fazer amigos após os 40.
Espontânea, verdadeira, intensa, alegre, muuto, muito divertida e tão barulhenta quando os periquitos do CAN (a Élida não veio !!), a nossa reunião, embora singela e sem nenhuma sofisticação, primou pelo explícito carinho. É claro que temos mais afinidades com um do que com outro. Isso fica evidente quando se vê o Alexandre e a Samira juntos, a Ellen e o Alessandro, eu, a Érika e Andrea. Mas o grupo lateja cumplicidade e fraternidade.
Tivemos direito a tudo ontem : ao amigo invisível com características pessoais ditas ao contrário. Um exercício para o mal de Alzaimher. Parece simples, mas é muito complicado. Tive que dizer que a Érika é séria demais, chata demais, carrancuda demais, deselegante, feia, mal humorada, burra e que vive viajando para lugarezinhos simplórios como Miami (perdeu até um módulo por causa disso!). A minha amiga ganhou um dos livros que mais recomendo para quem é da área de Comunicação: a Era dos Escândalos, do Mário Rosa. E recebi em troca dois presentes: a Erika de novo como minha amiga e um belo livro. Superamiga, duas vezes amiga. Brindamos a feliz coincidência. Ganhei uma preciosidade: o livro que reúne as fotografias de Lévi-Strauss quando ficou pelo Brasil e países próximos na década de 30. Um passeio pela Amazônia ainda bela, intocável e com seus habitantes primeiros. Os índios ainda nus, sem antenas parabólicas ou calças jeans, celulares, motos e drogas.
Rimos muito. Nem senti vontade de beber. Não cheguei nem a uma taça. Fiquei bêbada de alegria, de companhia, de felicidade. Dormi serena e agradeci a Deus por ter me guidado em direção a esse grupo, por ter reunido essas pessoas a minha volta neste momento da minha vida, por ter estado com eles todo esse tempo.
Acertamos que nos encontraremos a cada dois meses. Fielmente !! Não queremos perder essa preciosidade da descoberta, do reencontro.
Amigos que chegam na maturidade e que de alguma forma estão substituindo outros. Alguns que me decepcionaram, que não estão mais do meu lado ou que apenas abdicaram do papel de amigo.
Tim-tim a vocês, amigos de sala de aula que agora extrapolam e invadem a minha vida.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Vinho orgânico PODE !!

Daqui a pouco os colegas da pós da Unama vão se reunir em casa. A nossa confraternização com direito a amigo invisível, muito papo (do bom !!), gargalhadas e fortalecimento da amizade que nasceu durante estes meses (mais de um ano!).
Tenho que prosseguir na dieta. Não posso me deslumbrar com o espírito festivo e ignorar as recomendaçõs médicas. Não parece, não sinto, mas estou doente. Não posso esquecer desse pequeno detalhe.
Como fui "premiada" pelo médico pela excelente conduta, recevi como um dos trouféus um vinho branco moderadamente. Desde o dia 24 de setembro não coloco uma gota de álcool na boca. Para muitos pode parecer pouco, mas para mim é muito, muito mesmo ! Sempre fui amante da cerveja e em seus braços dormi muitas vezes, amei, chorei, sorri e vomitei. Encontrei nela companhia quando estava só, companhias mais agradáveis quando estava acompanhada. Por isso é tão difícil ficar sem ela definitivamente. Por isso comemoro o vinho de quem nunca fui muito amiga.
Mas hoje PODE !! Não cerveja, mas um vinho que já começo a me deliciar. Saborear sozinho, sentir seu cheiro, seu gosto. Eu e ele.
Um vinho orgânico !! Nem sabia que existia.
Vinícola Garibaldi que nas informações contidas no enunciado afirma que suas uvas são cultivadas sem uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos. Um peso a menos na consciência, um prejuízo menor ao fígado. Será só uma taça. Um brinde ao momento, a descoberta de que se pode fazer amigos depois dos 50. Contrariando todos os ditados que afirmam o contrário.
Tim-tim aos orgânicos.
Tim-tim aos colegas da Unama !!
Tim-tim à oportunidade que estou tendo de vivenciar tudo isso.
Hoje a doença não existe !

Vinho orgânico PODE !!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Como administrar o amanhã ?

Há pessoas que não sentem a menor necessidade de se programar, de ter agenda, de controlar o tempo, de organizar-se. Conheço muitas. Acho mesmo que são a maioria. Não se importam com atrasos, com faltas em compromissos ou simplesmente em ignorar o que haviam prometido com tanta ênfase. Agem com naturalidade, não sentem nenhum incômodo em deixar os outros esperando ou cancelar encontros marcando antecipadamente.Sou exatamente o contrário. Embora considere-me extremamente desarrumada consigo ser extremamente (às vezes meio patológica) organizada. Confuso ? não... nem um pouco. As gavetas podem não ser a perfeição em arrumação,posso ter misturados em uma mesma pasta documentos da Embrapa, Faz e Unama, mas minha cabeça não pára. Sei o que tem no freezer, sei o que tenho que entregar amanhã, conheço todos os alunos pelo nome, raramente furo prazos e quase nunca chego atrasada.
Essa característica (nem virtude nem defeito !)tem me incomodado muito. Ela impede-me de me organizar para amanhã. Tem sido assim desde setembro, quando descobri o câncer. Têm me sido dados pequenos prazos pra fazer e acontecer. Cirurgia dia 10 de outubro, depois 7 de novembro, veredicto dia 29 de novembro e os dias se passando, transformando-se em meses e a minha vida seguindo sem nenhuma programação a médio prazo. Longo prazo ? nem pensar !
Sei que tenho até o dia 2, 3 de janeiro para agir naturalmente, para me programar. Mas e depois ? Tenho coordenação e participação em projetos de Comunicação que deveriam iniciar em 2008 e terminar só em 2011, propostas de trabalho para frilas em 2008, a diretoria da Associação Brasileira de Jornalismo Científico, monografia para concluir...
Ahhh... horrível tudo isso.
Vou tentando viver com uma naturalidade que é real. Sei de hoje, um pouquinho de amanhã e só.
O Natal agora é presente, mas há alguns dias era uma icógnita e o carnaval ?

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Um Natal diferente

Como diz o cartão virtual que comecei a enviar aos amigos, este Natal terá um gosto diferente pra mim. Um Natal reciclado, repaginado. Obviamente comprarei as lembrancinhas de sempre, me emocionarei com alguns comerciais, chorarei em outros, mas vou tentar me reciclar, ver este momento de grandes aquisições materiais, como uma oportunidade de reutilizar-me, de reestruturar-me, de não me desperdiçar.
Olhar bem lá dentro de mim e ver opções, alternativas, sonhos e planos que durante anos camuflei ou sufoquei. Sentimentos que evitei aflorar, prazeres que nem me permiti sentir como ficar mais tempo na cama assistindo o Bom Dia Brasil. Os compromissos assumidos durante as 12 horas do dia não me permitiam tal preguiça.
Até meu Papai Noel é reciclado. Ao contrário dos importados que cantam e se requebram, este ano tenho um feito com tampinhas de pet vermelhas, algodão baratinho e de gosto duvidoso. Mas é um Papai Noel.
Do velho se fez o novo.
Sem preconceitos, sem medo de enfeiar e não enfeitar, sem preocupação com os que observam e analisam .
Papai Noel sem tecnologia, mas que encanta.
Que pulsa, vive e não está contando os dias que faltam para o Natal de 2007 chegar e nem fará as contas de quantos meses faltarão para voltar a enfeitar a árvore simples e tosca em 2008.
Como eu, sem muitas contas, sem pressa. Apenas vivendo cada minuto, cada dia e brindando a cada um deles como se fossem os últimos.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Como eles crescem ...

Hoje estou nervosa. Não...não estou aguardando nenhum resultado de exame nem vou mais tarde ao médico.
O Raul está fazendo a segunda prova para ingresso na Universidade do Estado do Pará (Uepa). É o sistema moderno, mas já falido a desaparecer, de vestibular seriado. Sei que demorar muito pode ser um bom sinal. Fazendo tudo com calma como é recomendado, ver, rever, rerever, mas como as horas demoram a passar...
O Manoel está na porta do Colégio Augusto Meira aguardando-o junto com dezenas de outros pais aflitos.
Vê-lo ingressando nesse mundo de adultos me assusta e ao mesmo tempo me tranqüiliza. Ele é atento, inteligente, mas preguiçoso. Zen demais ! Ainda está indeciso. Fala em Biologia, Medicina Veterinária e mais recentemente em Nutrição para se especializar na área esportiva. Um bom mercado ...
O que eu quero, fundamentalmente, é que ele seja feliz. Um cidadão que procure fazer sempre justiça, íntegro, humilde e que respeite os que não tiveram a mesma oportunidade que estamos lhe dando de freqüentar bons colégios (estuda no Gentil Bittencourt desde os 7 anos). Faz inglês, está terminando espanhol e ainda reforço específico para vestibular no Equipe. O ideal seria que todos os jovens nessa faixa-etária pudessem uusufruir de tanto e não buscarem outras opções de vida que quase nunca incluem estudar, se apromirar, crescer como ser humano.
Tento passar a eles (Raul e Anaterra) que esta é a maior das heranças que pretendo legar aos dois. Ninguém, nunca, poderá roubar o conhecimento que estão acumulando. é deles !! Só deles !!
Aprendi, na prática, que existem várias opções para se obter ganhos. Optei pela mais difícil que inclui muito trabalho, muitas horas de estudo, leituras e compromissos pessoais e rígidos de comportamente profissional. Não ganhei muito financeiramente, mas estou feliz com o resultado final.
Esse pouco é que almejo que eles compreendam e vivenciem também.
Agora é continuar esperando ...
Ano que vem saberemos o resultado final do investimento, do sofrimento, da expectativa...
Vida de adulto tão precocentemente.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Periquitos do CAN

A expressão foi usada em sala de aula, na Unama, pela Élida (se não estou enganada) e achei o máximo. Mas é preciso morar em Belém, conhecer Belém para entender o que ela significa.
Periquitos do CAN acima de tudo representa muita gente reunida e fazendo barulho, mas não é um barulho qualquer. É um barulho de periquitos !!! Centenas (quiçá milhares) gritando (?) ao mesmo tempo, voando em bando (e em brando!) em direção às samaumeiras da praça santuário de Nazaré ou Complexo Arquitetônico de Nazaré, o CAN.
Ao final da tarde, exaustos de peregrinar pela cidade, saborear açaís nos pés ou beliscar as mangas, eles chegam em Nazaré. Nunca andam só. Odeiam a solidão. Parecem conversar sobre o dia movimentado e ainda farto de frutas da cidade.
Uma mancha verde corta o azul do céu. São eles. Impossível não olhar pra cima, mesmo correndo o risco de ser presenteado com secreções nada agradáveis. Por sinal, muito freqüentes em torno das árvores centenárias.
Quando o dia amanhece, revigorados e ao som do sino da Basílica Santuário, lá se vão eles. Mais barulho, mais festa.
Belém tem muitas expressões típicas: égua é a mais conhecida. Tem variados significados conforme a entonoção. Pode ser coisa muito boa ou muito ruim, dependendo do interlocutor. Pai d'égua, axi, pitiú, arreda e tantas outras que às vezes causam estranheza entre os que nos visitam.
Mas o linguajar mais observado, inclusive pelo Pasquale, é o uso que fazemos do pronome tu. Usa-se a segunda pessoal do singular com relativa correção .
- Queres água ? Algo meio português de Portugal.
Os que têm dificuldade em conjugar os verbos usam o isse e tudo se transforma em visse, quisesse, comesse, andasse...
Há uma frase hilária que traduz bem essa forma única (e errada !!) de conjugar os verbos na segunda pessoa do singular : passasse por mim me olhasse fizesse que nem me visse. Nem falasse !!

sábado, 1 de dezembro de 2007

A Pós quase pós

Ontem um ciclo se fechou. Depois de um ano e alguns meses chegou ao final a etapa de cumprimento de créditos da pós em Comunicação Institucional na Amazônia que me levou de volta aos bancos escolares como aluna.
Já bateu saudade.
Um grupo inicialmente heterogêneo e que ao final estava homogêneo demais, unido demais marcará sua passagem em minha história. Acompanharam pari passu minha saga recente: cada ida e vinda aos médicos, exames. Dividi aflições e alegrias com eles e sobretudo aprendi muito. Uma oportunidade rara de me avaliar profissionalmente, de ter uma noção mais exata do nível em que me encontro neste concorrido mercado.
O curso, o primeiro oferecido pela Unama, como todos os pioneiros, padeceu das típicas mazelas que os desbravadores enfrentam. Seremos os que abrirão oficialmente essa formação, que terão o primeiro certificado comprovando que durante meses nos detivemos a tentar entender os complexos processos que fazem a comunicação acontecer (ou não!) em uma organização. Falhas tiraram o brilho do pioneirismo. Poderia ter sido melhor, sobretudo se houvesse a percepção de que naquela sala estava um núcleo crítico e respaldado para opinar, sugerir, contribuir. Infelizmente não permitiram essa interferência, a troca não vingou e o curso não cresceu ao seu longo como poderia.
Que pena ...
Independente das limitações houve, contudo, momentos ímpares, oportunidades únicas para questionarmos, entendermos, aumentarmos nossas angústias e dissipar algumas com a ajuda de professores que vieram de fato somar.
A experiência de revivenciar a ansiedade das notas, a correria dos trabalhos, o reencontro com os colegas a cada ausência mais demorada, o nervosismo nas apresentações ou os aplausos após uma boa performance, trouxeram de volta a juventude perdida nos pavilhões ou na beira do rio Guamá na Universidade Federal do Pará.
Brincamos, rimos, nos divertimos e até aprendemos.
Esqueci, por vários dias, que já sou adulta demais, tenho anos demais, estou descrente demais para reestruturar conceitos, mudar radicalmente valores.
E no final de tudo, junto com o título que em breve receberemos, fica só essa enorme saudade. O vazio das noites que já se esgotaram no calendário. Não mais nos reencontraremos no início da noite, não dividiremos as guloseimas nos intervalos, não mais reclamaremos do café ou da sala com cheiro do mofo ou apenas nos abraçaremos, em silêncio, bem apertado no reencontro.
Saudade misturada com o gosto do dever cumprido.
Chegamos ao final de mais uma etapa !!
Vencemos !!
Tim- tim !!