Só os que me conhecem muito é que sabem o quanto tenho me esforçado para que a aparência seja de grande normalidade. Tenho buscado em prazeres até mesmo novos, estímulos para não ceder diante de pensamentos mais pessimistas. Talvez o clima de festas, a latente fraternidade e o espírito de proximidade estejam contribuindo para que a minha sensibilidade esteja mais extremada, mais pulsante e às vezes incontrolavelmente dolorosa.
Não dá pra evitar pensar em como será o meu Natal no próximo ano. Tudo bem que ninguém sabe como será o seu. Ninguém sabe como será a sua próxima meia hora. Inevitável, porém, que a certeza da doença altere os sonhos, os planos e nos conduza a pensamentos que lutamos para não ter, mas que nos invadem e nos consomem.
Ando emotiva demais, chorona demais, pensativa demais e querendo me isolar. Sei que nada disso é bom.
Vibro com o PapaiManoel e sua ajudante, com as conquistas do Raul, com a alegria emanada dos pequenos Leonardo e Thomaz, com os resultados profissionais e laboratoriais, com a doçura da Anaterra, com a saúde da mamãe, com as inúmeras demonstrações de carinho dos amigos, mas intimamente há uma incômoda dor silenciosa e só minha. Calada, doída, sentida, profunda.
Talvez o que mais me incomode seja a impossibilidade de administrar meu tempo, meus próximos dias, meus próximos meses. Não saber como posso agir a curto/médio prazo, como ficarei após a cirurgia, durante a quimioterapia.... Quais serão as minhas limitações ? Poderei trabalhar normalmente ? Quando poderei viajar ? Não há respostas para essas dúvidas e aí só me resta esperar e justo eu, que sempre corri atrás das respostas, que nunca tive muita habilidade para aguardar, que paciência nunca foi uma de minhas poucas virtudes.
Um sobe-e-desce que oprime e angustia, mas dizem os mais experientes no assunto : faz parrrrte !!!
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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