É preciso estar no olho do furacão para se ter idéia exata do que é um furacão. Nunca pensei que um dia fosse entender tanto de câncer de mama. Um assunto que me interessava à distância como acontece com a maioria das mulheres.
Hoje leio o que posso, converso com pessoas sobre o tema e já tenho boas e presentes “amigas do peito” com quem converso quase diariamente, dividindo angústias, vitórias, medos e colo.
Esses dias recentes foram de novo de muitas consultas. Primeiro a cirurgiã plástica que elogiou minha disciplina, embora algumas vezes se surpreenda com a minha disposição, agilidade em fazer, em sair e resolver tanta coisa. Os seios novos (?) estão quase em forma.
No mastologista-oncologista, que me operou ouvi o que mais queria ouvir de um médico experiente e muito bem conceituado em Belém: “ninguém quer ter um câncer, mas se pudesse escolher teria um como o seu”. Os detalhamentos dos exames do tumor, aliados ao que foi detectado durante a cirurgia, permitem que seja montado o protocolo. Ou seja, todos os caminhos científicos e médicos para combater esse tipo de câncer.
Ele me adiantou que farei a quimio mais branda (a branca) com menores efeitos colaterais. Serão seis sessões com intervalo de 21 dias. Explicou que só farei porque ainda continuoi menstruando normalmente. Tenho uma taxa hormonal que me impede de ser liberada das quimio. Deus sabe o que faz. Espero, contudo, ter pouca indisposição. Continuo a dieta natural, evitando carne vermelha, massas e doces, não comendo frituras, gorduras e sem colocar na boca nenhuma gota de álcool. Quero continuar minhas atividades, quero prosseguir dando aulas, quero me manter ocupada, caminhar e se for liberada por eles, fazer até ginástica, hidro qualquer coisa que me deixe mais disposta ainda. Viver mais e mais intensamente ainda.
Super valorizar o que já descobri de prazer e descobri outros que ainda não me permiti.
Amanhã (quinta-feira) vou ter a primeira consulta com mais um médico que passa a integrar o já amplo grupo de profissionais que desde setembro cuida de mim. É o oncologista que ministrara e acompanhará as quimios e as radios. Ele dará a palavra final em função dos exames e de tudo o que já vivi.
Fico ansiosa, apreensiva, mas querendo que tudo aconteça logo, que eu possa ir vencendo cada etapa e me fortalecendo a cada vitória.
Um dia atrás do outro...
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
domingo, 24 de fevereiro de 2008
Reencontros ...
Quinta, sexta e sábado foram dias de puro reencontro. Re(estive) em ambientes muito significativos pra mim e com pessoas queridas. Estavam há algum tempo afastados pelas circunstâncias do meu dia-a-dia e constatei que a vida prossegue e que eu também vivo.
Primeiro, na sexta-feira à tarde, uma ida à Embrapa prestigiar a bela homenagem de despedida (aposentadoria) da amiga Célia Pereira. Novamente vejo no rosto de cada antigo colega, a surpresa dos colegas. A maioria sempre acha que me encontrará abatida,esquálida, pálida. Luto contra essa imagem. Quero-me bem. Recebi abraços e votos de retorno breve (?) que sei serem sinceros.
Depois mais um (re) encontro festivo. À noite voltei, depois de longa ausência, ao peixinho da 14 de Março (Bira’s Bar). Célia Libardi, Zé, Vanessa, Michel, Valmir Gato e um bom papo regado a cerveja (eles) e água (eu) e muito peixe com pimenta de cheiro fresca, limão e farofa. Um abuso consentido. Permissão para um prazer. Tudo de bom !
Na sexta-feira, uma palestra do grande jornalista e amigo Lúcio Flávio Pinto me levou ao Museu Emílio Goeldi. Jornalismo e Amazônia e de novo uma aula sobre os bastidores da região, o anti-jornalismo, o alto preço que ele paga por ter como único compromisso a verdade. Lamento, todas as vezes que ouço o Lúcio, ao constatar o quanto nós, amazônidas, sabemos tão pouco sobre o nosso chão. Pior: preferimos não saber. É mais importante a eleição nos Estados Unidos ou os jogos na Espanha ou Itália do que acontece em nossos quintais. Quantos filhos ilustres desse Estado apenas se lembram onde nasceram quando precisam preencher algum formulário. ? Saio desses encontros sempre incomodada e com a sensação de grande inutilidade. Mas valeu por ter revisto a Joice, Lilian, Milena, o próprio Lúcio e ainda usufruiu da companhia da Ieda Jucá com quem saí depois da palestra para conversar mais um pouco.
Sábado ainda me reservava mais emoções. Além do enorme prazer de ir cedo ao Ver-o-Peso comprar peixe fresco (uma tainha deliciosa foi assada para o almoço) em companhia do Manoel e do Leonardo, me preparei para um prazer meio solitário. Algo que podemos tentar traduzir, mas que só nosso :o baile de formatura da mais recente turma de colandos da FAZ (Faculdade de Tecnologia da Amazônia) em Comunicação Institucional. Fui receber a homenagem do grupo que durante meses convivi e me envolvi. Deram meu nome para a turma e ontem, solene e publicamente, agradeceram o que fiz com prazer, com respeito e dedicação.
Festa linda, informal, alto astral. Ali estavam reunidas pessoas do bem. Que acreditaram que a mudança é possível, que deixaram filhos, esposa, maridos, pais para ir em busca de um sonho. Muitos enfrentaram horas e mais horas em pé nos ônibus da periferia ou cansados, apenas desabavam nas cadeiras escolares. Mas resistiram a tudo e chegaram ao fim dessa caminhada. Estavam visivelmente felizes. Seus familiares também.
Eu também... Vi de perto tudo isso e várias vezes segurei as lágrimas.
Lágrimas de pura emoção. De alegria pelo reencontro. A vida soprando e me preparando para as notícias que a nova semana trará. Tenho que estar novamente forte, novamente disposta, novamente esperançosa para enfrentar o que virá . O que ainda me espera.
Primeiro, na sexta-feira à tarde, uma ida à Embrapa prestigiar a bela homenagem de despedida (aposentadoria) da amiga Célia Pereira. Novamente vejo no rosto de cada antigo colega, a surpresa dos colegas. A maioria sempre acha que me encontrará abatida,esquálida, pálida. Luto contra essa imagem. Quero-me bem. Recebi abraços e votos de retorno breve (?) que sei serem sinceros.
Depois mais um (re) encontro festivo. À noite voltei, depois de longa ausência, ao peixinho da 14 de Março (Bira’s Bar). Célia Libardi, Zé, Vanessa, Michel, Valmir Gato e um bom papo regado a cerveja (eles) e água (eu) e muito peixe com pimenta de cheiro fresca, limão e farofa. Um abuso consentido. Permissão para um prazer. Tudo de bom !
Na sexta-feira, uma palestra do grande jornalista e amigo Lúcio Flávio Pinto me levou ao Museu Emílio Goeldi. Jornalismo e Amazônia e de novo uma aula sobre os bastidores da região, o anti-jornalismo, o alto preço que ele paga por ter como único compromisso a verdade. Lamento, todas as vezes que ouço o Lúcio, ao constatar o quanto nós, amazônidas, sabemos tão pouco sobre o nosso chão. Pior: preferimos não saber. É mais importante a eleição nos Estados Unidos ou os jogos na Espanha ou Itália do que acontece em nossos quintais. Quantos filhos ilustres desse Estado apenas se lembram onde nasceram quando precisam preencher algum formulário. ? Saio desses encontros sempre incomodada e com a sensação de grande inutilidade. Mas valeu por ter revisto a Joice, Lilian, Milena, o próprio Lúcio e ainda usufruiu da companhia da Ieda Jucá com quem saí depois da palestra para conversar mais um pouco.
Sábado ainda me reservava mais emoções. Além do enorme prazer de ir cedo ao Ver-o-Peso comprar peixe fresco (uma tainha deliciosa foi assada para o almoço) em companhia do Manoel e do Leonardo, me preparei para um prazer meio solitário. Algo que podemos tentar traduzir, mas que só nosso :o baile de formatura da mais recente turma de colandos da FAZ (Faculdade de Tecnologia da Amazônia) em Comunicação Institucional. Fui receber a homenagem do grupo que durante meses convivi e me envolvi. Deram meu nome para a turma e ontem, solene e publicamente, agradeceram o que fiz com prazer, com respeito e dedicação.
Festa linda, informal, alto astral. Ali estavam reunidas pessoas do bem. Que acreditaram que a mudança é possível, que deixaram filhos, esposa, maridos, pais para ir em busca de um sonho. Muitos enfrentaram horas e mais horas em pé nos ônibus da periferia ou cansados, apenas desabavam nas cadeiras escolares. Mas resistiram a tudo e chegaram ao fim dessa caminhada. Estavam visivelmente felizes. Seus familiares também.
Eu também... Vi de perto tudo isso e várias vezes segurei as lágrimas.
Lágrimas de pura emoção. De alegria pelo reencontro. A vida soprando e me preparando para as notícias que a nova semana trará. Tenho que estar novamente forte, novamente disposta, novamente esperançosa para enfrentar o que virá . O que ainda me espera.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Quase um mês
A sensação é de um longo período. Não apenas 27 dias. Tanta coisa aconteceu. Dores, curativos e mais curativos, visitas de tantos amigos, mensagens diversas, plenos novos e velhos e o tempo pareceu nem passar. Ainda não faz nem um mês que operei. Nem acredito !
Retornei às aulas, já uso sapatos altos, ando de ônibus, vou aqui e ali, shopping, restaurantes, feiras e supermercados e às vezes esqueço que isso é só mais uma fase. Felizmente uma fase que está indo bem, que teve pouquíssimos e solucionáveis contratempos.
Agora o foco se volta ao planejamento das quimios. Provavelmente na próxima semana devo ir ao oncologista que vai prescrever o tratamento. É tudo muito complexo. Cada caso é um caso. Cada informação levantada no tumor significa uma peculiaridade e essa espera é sempre uma angústia.
O câncer parece uma caixa de surpresa. Os médicos, por mais competentes que sejam não fazem afirmação, não dão garantias. Hoje os prognósticos são ótimos, o tratamento eficaz, mas amanhã é um outro dia e a doença uma incógnita. A simples colocação de um cateter pode significar complicações e uma quimio forte nenhum efeito colateral. Nada é previsível.
Enquanto esta nova etapa não chega, vou tentando não pensar demais, controlar a minha patologia de ansiedade antecipatória e esperar. As aulas à noite têm me ajudado muito. A presença dos filhos também, tem ainda o Leonardo, o Thomas, a Internet, as leituras e os amigos fisicamente próximos ou distantes.
Amanhã devo sair com a galera da Embrapa. Um peixinho frito no Bira’s Bar, muita conversa, muito riso e certamente muita saudade. No sábado tem a festa dos colandos da FAZ que derão meu nome à turma. Vou lá. Quero revê-los e agradecer, tardiamente, pela emocionante homenagem.
E assim os dias vão passando lentamente ...
Retornei às aulas, já uso sapatos altos, ando de ônibus, vou aqui e ali, shopping, restaurantes, feiras e supermercados e às vezes esqueço que isso é só mais uma fase. Felizmente uma fase que está indo bem, que teve pouquíssimos e solucionáveis contratempos.
Agora o foco se volta ao planejamento das quimios. Provavelmente na próxima semana devo ir ao oncologista que vai prescrever o tratamento. É tudo muito complexo. Cada caso é um caso. Cada informação levantada no tumor significa uma peculiaridade e essa espera é sempre uma angústia.
O câncer parece uma caixa de surpresa. Os médicos, por mais competentes que sejam não fazem afirmação, não dão garantias. Hoje os prognósticos são ótimos, o tratamento eficaz, mas amanhã é um outro dia e a doença uma incógnita. A simples colocação de um cateter pode significar complicações e uma quimio forte nenhum efeito colateral. Nada é previsível.
Enquanto esta nova etapa não chega, vou tentando não pensar demais, controlar a minha patologia de ansiedade antecipatória e esperar. As aulas à noite têm me ajudado muito. A presença dos filhos também, tem ainda o Leonardo, o Thomas, a Internet, as leituras e os amigos fisicamente próximos ou distantes.
Amanhã devo sair com a galera da Embrapa. Um peixinho frito no Bira’s Bar, muita conversa, muito riso e certamente muita saudade. No sábado tem a festa dos colandos da FAZ que derão meu nome à turma. Vou lá. Quero revê-los e agradecer, tardiamente, pela emocionante homenagem.
E assim os dias vão passando lentamente ...
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Nem deu pra pensar ...
Os acontecimentos mais intensos, o corre-corre surgem para mim como excelentes oportunidades para não pensar demais, não me ver doente, não imaginar o que ainda está por vir. E este final de semana foi tudo de bom nesse sentido.
Primeiro saí com os filhos e marido na noite de sexta-feira para comer um churrasquinho como há muito não fazia. Só faltou a cerveja gelada, mas encarei bem a sua ausência. Nada de saudade ou melancolia. Um dia ainda tomo uma cerpinha de novo !
No sábado o fuzuê foi mais intenso. Começou com umas compras rápidas e um almoço na casa da amigona Ieda Jucá. Gosto muito de conversar com ela. Tem uma maturidade que no entanto não inibe os devaneios, as viagens, o voar. Entende-me como poucas pessoas e assina embaixo quase tudo o que penso e o que faço. Não apaticamente, mas com argumentos, considerações e exemplos de vida. Saio mais leve desses encontros. Tem se mostrado uma das pessoas mais presentes neste meu momento de vida. Não me surpreendo, mas serve de referência comparativa com outros amigos de quem esperava também um colo. Mas que não veio. Aprende-se sempre, mesmo com a dor.
Depois mais um curativo. Eles não terminam nunca. Quase tudo cicatrizado e de repente um grande pedaço de pele saí grudado no esparadrapo. Retorno aos curativos e ao incômodo. Mas nada que não seja superável.
Á noite a alegria tomou conta da nossa casa. Balões multicoloridos, bombons diversos, bolos, músicas infantis no som. O meu único sobrinho-neto, o Thomaz, neto da minha irmã Ruthlene estava completando dois anos e a festinha trouxe de volta os aniversários já distantes do Raul e Anaterra. Muita gente que não conhecia ou conhecia pouco, outras mais próximas e a alegria da garotada e do aniversariante com cada novo presente.
E o maior de todos os prazeres : a família reunida e harmoniosamente. Mamãe no papel de bisavó, Rulton, Socorro, Marcela e o charmosos e inteligente Leonardo e a Ruthlene , Thaís, Filipe e Thomaz. Só faltaram o Ruy, Dóris e Ana Júlia.
Um final de semana deliciosamente movimentado. Pouco tempo para pensar.
Primeiro saí com os filhos e marido na noite de sexta-feira para comer um churrasquinho como há muito não fazia. Só faltou a cerveja gelada, mas encarei bem a sua ausência. Nada de saudade ou melancolia. Um dia ainda tomo uma cerpinha de novo !
No sábado o fuzuê foi mais intenso. Começou com umas compras rápidas e um almoço na casa da amigona Ieda Jucá. Gosto muito de conversar com ela. Tem uma maturidade que no entanto não inibe os devaneios, as viagens, o voar. Entende-me como poucas pessoas e assina embaixo quase tudo o que penso e o que faço. Não apaticamente, mas com argumentos, considerações e exemplos de vida. Saio mais leve desses encontros. Tem se mostrado uma das pessoas mais presentes neste meu momento de vida. Não me surpreendo, mas serve de referência comparativa com outros amigos de quem esperava também um colo. Mas que não veio. Aprende-se sempre, mesmo com a dor.
Depois mais um curativo. Eles não terminam nunca. Quase tudo cicatrizado e de repente um grande pedaço de pele saí grudado no esparadrapo. Retorno aos curativos e ao incômodo. Mas nada que não seja superável.
Á noite a alegria tomou conta da nossa casa. Balões multicoloridos, bombons diversos, bolos, músicas infantis no som. O meu único sobrinho-neto, o Thomaz, neto da minha irmã Ruthlene estava completando dois anos e a festinha trouxe de volta os aniversários já distantes do Raul e Anaterra. Muita gente que não conhecia ou conhecia pouco, outras mais próximas e a alegria da garotada e do aniversariante com cada novo presente.
E o maior de todos os prazeres : a família reunida e harmoniosamente. Mamãe no papel de bisavó, Rulton, Socorro, Marcela e o charmosos e inteligente Leonardo e a Ruthlene , Thaís, Filipe e Thomaz. Só faltaram o Ruy, Dóris e Ana Júlia.
Um final de semana deliciosamente movimentado. Pouco tempo para pensar.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
O retorno da professora
Esta semana foi bem movimentada. Estava ansiosa como uma iniciante com o recomeço do semestre. Novos alunos e uma nova disciplina (três no total agora ). Mas uma ansiedade boa, de quem está bem, de quem vai fazer o novo, vai ser avaliada, testada. Conhecer novas pessoas, tentar entender pelo semblante a expectativa particular de cada um, o que eles esperam de mim é sempre um grande desafio. São pessoas com interesses diferentes, histórias de vida únicas e que com o passar do tempo se permitem que eu as desvendem. Tenho sempre gratas surpresas. Algo que vai além daqueles contatos formais de aluno e professor. Sintonias, empatias que teriam acontecido em outros ambientes, mas que se fortalecem com a convivência semanal nas aulas e fora delas.
Dividir o pouco que acumulei ao longo desses anos é gratificante. Ali estão pessoas que em sua maioria não têm nenhuma vivência no mundo complexo da Comunicação. Desconhecem o que está nos livros e nos bastidores. É como se estivesse desnudando um mundo novo para eles. As curiosidades são infinitas, as decepções também, mas a minha paixão pela Comunicação, sobretudo essa que acontece nas instituições e ainda pouco conhecida em Belém, os motiva a ir em frente, a acreditar que podemos mudar, interferir de alguma forma.
E ontem o reencontro em sala de aula foi mais especial ainda. Retornei aos alunos que no semestre passado viveram comigo o momento da descoberta do câncer, que compartilharam cada dúvida no retorno, que se envolveram com a minha angústia. Fiquei sinceramente emocionada. Entrar na sala e encontrá-los foi um presente de Deus. Sempre imaginamos o mais grave, o mais complicado do que está por vir. Cheguei mesmo a pensar que não teria condições de dar aulas este semestre e de repente, 20 dias após uma demorada cirurgia estou lá. Sandálias de salto alto, bem disposta e durante duas horas e meia conversando com eles sobre Comunicação Integrada, sobre a importância da articulação entre os diferentes profissionais e áreas que fazem a Comunicação em uma organização e a relação dela com os demais setores.
Recebi beijos, abraços e sinceros sorrisos pela minha volta.
Fiquei feliz....
Dividir o pouco que acumulei ao longo desses anos é gratificante. Ali estão pessoas que em sua maioria não têm nenhuma vivência no mundo complexo da Comunicação. Desconhecem o que está nos livros e nos bastidores. É como se estivesse desnudando um mundo novo para eles. As curiosidades são infinitas, as decepções também, mas a minha paixão pela Comunicação, sobretudo essa que acontece nas instituições e ainda pouco conhecida em Belém, os motiva a ir em frente, a acreditar que podemos mudar, interferir de alguma forma.
E ontem o reencontro em sala de aula foi mais especial ainda. Retornei aos alunos que no semestre passado viveram comigo o momento da descoberta do câncer, que compartilharam cada dúvida no retorno, que se envolveram com a minha angústia. Fiquei sinceramente emocionada. Entrar na sala e encontrá-los foi um presente de Deus. Sempre imaginamos o mais grave, o mais complicado do que está por vir. Cheguei mesmo a pensar que não teria condições de dar aulas este semestre e de repente, 20 dias após uma demorada cirurgia estou lá. Sandálias de salto alto, bem disposta e durante duas horas e meia conversando com eles sobre Comunicação Integrada, sobre a importância da articulação entre os diferentes profissionais e áreas que fazem a Comunicação em uma organização e a relação dela com os demais setores.
Recebi beijos, abraços e sinceros sorrisos pela minha volta.
Fiquei feliz....
domingo, 10 de fevereiro de 2008
DOMINGO LEGAL !!!
Não...não é o programa do Gugu Liberato.É só um plágio para resumir o meu domingo. Começou cedo com uma visita do grande e velho e bom amigo Célio Melo. Com seu inseparável cigarro e a eterna negativa de fazer exames que possam anunciar o que mais teme, a conversa matou a saudade. Paralelamente uma passada rápida da tia Jorgete. Depois o Leonardo que fomos buscar em casa. A deliciosa companhia de todos os domingos. Falante, brincalhão e carinhoso e que ainda me dá o privilégio de ser chamada de TIVÒ. Uma visita à casa da D. Maria para dar e receber um forte abraço na Renata Menezes (velha amiga de Universidade. Irmã por escolha) e no marido Paulo Euler (jornalista da Embrapa). Não tivemos muito tempo para atualizar os papos, mas mesmo um rápido encontro é suficiente para realimentar a alma, fortalecer a amizade de tantos anos. Como fiz quando passei por Brasília em janeiro. Ficamos algumas poucas horas conversando no aeroporto. O coração agradece. Quem sabe ela ainda aparece por aqui hoje, antes de viajar.A sobrinha mais velha, Thais, também veio almoçar, junto com o irmão e a cunhada (almoço dominicial tradicional).
Um domingo que aos poucos me traz de volta à rotina e me mostra que o mundo que deixei lá fora ainda existe. Que bom !!!
Um domingo que aos poucos me traz de volta à rotina e me mostra que o mundo que deixei lá fora ainda existe. Que bom !!!
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Esse mundo só meu !
De novo sinto aquela sensação ruim de que apenas meu mundo mudou. Ao meu redor ou longe de mim, a rotina é a mesma, a roda-vida gira e ninguém percebe você. É como se eu fosse uma espectadora atenta que enxerga longe, mas ninguém me vê. O filho vai à academia, conversa com os amigos; a filha à escola; o marido saí pra trabalhar sem hora pra voltar; os amigos próximos ou distantes mantêm suas atividades inabaláveis. Eu, apenas eu, não posso sair para onde quero, estou limitada à minha casa e às visitas aos consultórios e laboratórios.
Não é revolta, mas uma necessidade grande de entender o que se passa e aceitar o inevitável. Tudo é só meu. Pertence exclusivamente a mim. Ninguém entende em toda a sua dimensão por mais que se esforce, ninguém pode viver por mim.
As dores, os incômodos, os aborrecimentos, os medos, as expectativas, até as boas notícias são individuais. Não é possível ter as mesmas emoções que eu tenho. Eu choro, eu comemoro numa solidão atroz. Meu mundo !!
Não cabe auto- piedade, mas a incômoda certeza do descartável, do substituível, do quanto somos efêmeros. É a certeza da insignificância. O mundo é o mesmo, igualzinho como você o deixou antes de adoecer. O doente é você e pronto !!
Se por um lado esta constatação é dolorosa, por outro é necessária. Fica mais fácil compreender o outro, a não depender demais de atenções, não esperar demais por afagos, não criar muitas expectativas.
Sinto-me, desde o momento que entendi o que me angustiava, uma enorme leveza. Se eu morrer hoje, pouco ou quase nada mudará. Se qualquer pessoa morrer hoje, agora, o mundo será exatamente o mesmo. Choros que ficarão no passado logo em breve e tudo prosseguirá dentro da mais completa normalidade.
Talvez a prepotência que marca os homens não nos prepare para entender o quanto somos pouco. Somos apenas um ser temporário em um mundo que nem nos percebe.
Tudo isso só aumenta o meu desejo de querer viver mais ainda e aproveitar o quanto ainda tenho à minha disposição. De me perceber por mim e assim ser feliz.
Não é revolta, mas uma necessidade grande de entender o que se passa e aceitar o inevitável. Tudo é só meu. Pertence exclusivamente a mim. Ninguém entende em toda a sua dimensão por mais que se esforce, ninguém pode viver por mim.
As dores, os incômodos, os aborrecimentos, os medos, as expectativas, até as boas notícias são individuais. Não é possível ter as mesmas emoções que eu tenho. Eu choro, eu comemoro numa solidão atroz. Meu mundo !!
Não cabe auto- piedade, mas a incômoda certeza do descartável, do substituível, do quanto somos efêmeros. É a certeza da insignificância. O mundo é o mesmo, igualzinho como você o deixou antes de adoecer. O doente é você e pronto !!
Se por um lado esta constatação é dolorosa, por outro é necessária. Fica mais fácil compreender o outro, a não depender demais de atenções, não esperar demais por afagos, não criar muitas expectativas.
Sinto-me, desde o momento que entendi o que me angustiava, uma enorme leveza. Se eu morrer hoje, pouco ou quase nada mudará. Se qualquer pessoa morrer hoje, agora, o mundo será exatamente o mesmo. Choros que ficarão no passado logo em breve e tudo prosseguirá dentro da mais completa normalidade.
Talvez a prepotência que marca os homens não nos prepare para entender o quanto somos pouco. Somos apenas um ser temporário em um mundo que nem nos percebe.
Tudo isso só aumenta o meu desejo de querer viver mais ainda e aproveitar o quanto ainda tenho à minha disposição. De me perceber por mim e assim ser feliz.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Resultados Animadores
É interessante o fenômeno que toma conta da gente quando passamos a conviver com uma doença como o câncer. O impacto da notícia é assustador, os exames que se seguem apavorantes, depois vem a conformação, a quase naturalidade com o destino que nos foi traçado. É como se nós mesmos nos preparássemos para conviver, eternamente, com esse fantasma nos rondando.
Cada dia é um dia. Cada vitória um brinde. Um novo raio de sol se abre e a esperança se renova.
Nunca havia me dedicado a entender o que é um câncer de mama. Sabia o que todo leigo sabe. Ele, assim como outras doenças, tem um mundo à parte. Características e peculiaridades que só os portadores ou familiares muito próximos conhecem, vivenciam.
Sempre fiz as mamografias anualmente. Cumprimento das determinações institucionais da Embrapa e com muita tranqüilidade. Até que tudo mudou. Após o grande susto, a reação normal de pânico, vivo agora cada instante como se ele fosse único e já foram tantos os momentos ....A primeira cirurgia, o tratamento demorado do fígado, a segunda cirurgia e exames, muito exames. Cada resultado uma nova expectativa. Resultado que vão desvendando os mistérios do câncer. Ele é individualizado. Às vezes um símbolo, uma simples e aparentemente indefesa letrinha, muda tudo. Quer dizer quase tudo.
O mais recente traz informações preciosas do ponto de vista da oncologia. Mas foi preciso a ajuda do médico e das amigas do peito da comunidade virtual para que eu entendesse que “carcinoma de ductos mamários revelando positividade para receptores de estrógeno e progesterona e escore 1+ para produto do oncogene C-erB-2” quer dizer que tenho um câncer menos agressivo, que devo sofrer menos do que muitas mulheres que não apresentam esse tipo de laudo.
Os médicos decidirão o que fazer, mas pelo que tem sido revelado até então, estou otimista.
Neste momento tento me livrar das complicações no seio que já me causaram tanta dor e que ontem me levaram de volta à mesa da cirurgiã com anestesia, novos pontos, pulsões e mais dor. Isso tudo tem me deixado um pouco apática. Mas sei que não há motivo. Talvez seja o excesso de remédios que esteja causando tanta indisposição.
Tenho que afastá-la. Segunda-feira tem início o novo período letivo. Novos e velhos alunos e uma revigorada certa no astral.
Novo ânimo !! Novo ano !!
Cada dia é um dia. Cada vitória um brinde. Um novo raio de sol se abre e a esperança se renova.
Nunca havia me dedicado a entender o que é um câncer de mama. Sabia o que todo leigo sabe. Ele, assim como outras doenças, tem um mundo à parte. Características e peculiaridades que só os portadores ou familiares muito próximos conhecem, vivenciam.
Sempre fiz as mamografias anualmente. Cumprimento das determinações institucionais da Embrapa e com muita tranqüilidade. Até que tudo mudou. Após o grande susto, a reação normal de pânico, vivo agora cada instante como se ele fosse único e já foram tantos os momentos ....A primeira cirurgia, o tratamento demorado do fígado, a segunda cirurgia e exames, muito exames. Cada resultado uma nova expectativa. Resultado que vão desvendando os mistérios do câncer. Ele é individualizado. Às vezes um símbolo, uma simples e aparentemente indefesa letrinha, muda tudo. Quer dizer quase tudo.
O mais recente traz informações preciosas do ponto de vista da oncologia. Mas foi preciso a ajuda do médico e das amigas do peito da comunidade virtual para que eu entendesse que “carcinoma de ductos mamários revelando positividade para receptores de estrógeno e progesterona e escore 1+ para produto do oncogene C-erB-2” quer dizer que tenho um câncer menos agressivo, que devo sofrer menos do que muitas mulheres que não apresentam esse tipo de laudo.
Os médicos decidirão o que fazer, mas pelo que tem sido revelado até então, estou otimista.
Neste momento tento me livrar das complicações no seio que já me causaram tanta dor e que ontem me levaram de volta à mesa da cirurgiã com anestesia, novos pontos, pulsões e mais dor. Isso tudo tem me deixado um pouco apática. Mas sei que não há motivo. Talvez seja o excesso de remédios que esteja causando tanta indisposição.
Tenho que afastá-la. Segunda-feira tem início o novo período letivo. Novos e velhos alunos e uma revigorada certa no astral.
Novo ânimo !! Novo ano !!
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Os (estranhos) novos seios
Eles estão aqui. Quase curados. Já sem drenos, sem expelir secreções e pouco doloridos. Mais bonitos, empinados. Quase jovens.
Mas estranhos. Não parecem meus. Ainda os desconheço.
Sempre tive seios fartos. Na adolescência, enquanto as colegas nem usam ainda soutien, eu já exibia o meu. E naquela época o primeiro soutien era marcante. A gente nunca esquecia. Tínhamos vergonha de mostrar que estávamos ficando mocinhas.
Como um ato preparatório para recebê-lo, primeiro usávamos combinação, confeccionada pela própria mãe ou avó. Uma espécie de camisetão, camisolão feito em casa, acho que de cetim, de alcinhas finas. Só depois ganhávamos o primeiro soutien. Quase sempre róseo e rendado. Bem menina-moça.
Os meus devem ter sido os maiores à venda para esta faixa-etária. No início me incomodava. Pareciam muito grandes para uma menina com tão pouca idade. Mas depois que os aceitei, passei a valorizá-los.
Os seios foram, daí pra frente, a minha marca registrada. Roupas decotadas e eles sempre querendo se mostrar. Às vezes explicitamente outras apenas sutilmente, mas sempre em evidência.
Os anos, a lei da gravidade, as amamentações tiraram parte de sua beleza. Mas os soutiens modernos, com vários recursos disfarçavam as imperfeições do tempo. Nem pareciam os mesmo quando estavam amparados pelos abençoados ferrinhos inteligentemente colocados abaixo deles.
Empinavam-se. Bonitos....
De tão charmosos foram muitas vezes fotografados. Tenho belas fotos em roupa de praia ou mesmo em um vestido mais ousado.
De repente não os tenho mais. Eles já não derramam mais. Nem balançam.
Estão menores, seguros e garbosos, impávidos como se soubessem jovens em um corpo já envelhecido.Sinto-os prepotentes como se quisessem se impor pela beleza.
Talvez eu não tenha me preparado para recebê-los. Sempre estive preocupada com a cirurgia que faz parte do tratamento do câncer. Os resultados que nortearão (tema do blog de amanhã) os próximos passos. Queria muito que tudo saísse bem, sem imprevistos que nem pensei que iria perder parte de mim. Que alguns gramas seriam jogados no lixo.
"Ó pedaço de mim... Ó metade arrancada de mim ", já compôs o Chico.
Uma amiga (a Renata Menezes) que já fez plástica nos seios, comentou que logo logo vou descobrir o prazer de andar de camiseta sem soutien.
Pode ser...
Mas enquanto isso não acontece, vou tentando me acostumar com essa comissão de frente menor, mais tímida, menos farta...
Mas estranhos. Não parecem meus. Ainda os desconheço.
Sempre tive seios fartos. Na adolescência, enquanto as colegas nem usam ainda soutien, eu já exibia o meu. E naquela época o primeiro soutien era marcante. A gente nunca esquecia. Tínhamos vergonha de mostrar que estávamos ficando mocinhas.
Como um ato preparatório para recebê-lo, primeiro usávamos combinação, confeccionada pela própria mãe ou avó. Uma espécie de camisetão, camisolão feito em casa, acho que de cetim, de alcinhas finas. Só depois ganhávamos o primeiro soutien. Quase sempre róseo e rendado. Bem menina-moça.
Os meus devem ter sido os maiores à venda para esta faixa-etária. No início me incomodava. Pareciam muito grandes para uma menina com tão pouca idade. Mas depois que os aceitei, passei a valorizá-los.
Os seios foram, daí pra frente, a minha marca registrada. Roupas decotadas e eles sempre querendo se mostrar. Às vezes explicitamente outras apenas sutilmente, mas sempre em evidência.
Os anos, a lei da gravidade, as amamentações tiraram parte de sua beleza. Mas os soutiens modernos, com vários recursos disfarçavam as imperfeições do tempo. Nem pareciam os mesmo quando estavam amparados pelos abençoados ferrinhos inteligentemente colocados abaixo deles.
Empinavam-se. Bonitos....
De tão charmosos foram muitas vezes fotografados. Tenho belas fotos em roupa de praia ou mesmo em um vestido mais ousado.
De repente não os tenho mais. Eles já não derramam mais. Nem balançam.
Estão menores, seguros e garbosos, impávidos como se soubessem jovens em um corpo já envelhecido.Sinto-os prepotentes como se quisessem se impor pela beleza.
Talvez eu não tenha me preparado para recebê-los. Sempre estive preocupada com a cirurgia que faz parte do tratamento do câncer. Os resultados que nortearão (tema do blog de amanhã) os próximos passos. Queria muito que tudo saísse bem, sem imprevistos que nem pensei que iria perder parte de mim. Que alguns gramas seriam jogados no lixo.
"Ó pedaço de mim... Ó metade arrancada de mim ", já compôs o Chico.
Uma amiga (a Renata Menezes) que já fez plástica nos seios, comentou que logo logo vou descobrir o prazer de andar de camiseta sem soutien.
Pode ser...
Mas enquanto isso não acontece, vou tentando me acostumar com essa comissão de frente menor, mais tímida, menos farta...
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