Que o pós-operatório, mesmo da mais simples cirurgia é sempre muito doloroso, todos nós sabemos. Mesmo quando ele transcorre dentro do previsível.
Até a última terça tinha certeza de que tudo estava indo dentro da normalidade. Dores normais, incômodo exagerados na hora de dormir (só durmo de bruços), ausência de bons banhos, medicamentos em exagero, dependência demasiada das pessoas para fazer a mais simples tarefa. Mas tudo dentro do esperado.
Um frebão de mais de 39º, por volta das 13horas bagunçou o script. Procurei imediatamente os médicos que apostaram de imediato em uma faringite decorrente ainda do entubamento que tanto irritou minha garganta. Estava com tosse. Tudo contribuindo. Troca de antibióticos, entrada de novos medicamentos, saída de outros. À tarde a drenagem demasiada de secreção na mama direita indicava que era mais além da faringite.
A constatação chegou ontem com a consulta à cirurgiã plástica: a mama direita, a sadia, a que apenas participou como coadjuvante e pegou carona para se embelezar, rejuvenescer, estava com problema. Hematomas tinham se formado internamente, provavelmente em função de medicações que tomei no tratamento do fígado e que “afinaram” o sangue. Essa inesperada e malfada novidade está exigindo de mim uma dose maior de coragem. Eles estão sendo retirados com seringas a partir da introdução, ultradolorosa, de uma agulha no local. O alívio é imediato, mas como dói ....Demais mesmo !!
Felizmente sinto otimismo na médica e espero que em breve tudo isso seja só um lembrança. Não muito doce, mas uma lembrança.
Enquanto os exames complementares não chegam, fico ainda na expectativa sobre quais os passos seguintes. Quantas quimios (elas acontecerão ?), quantas rádios ?
E os meus planos, quantos terei ainda que adiar ?
Interrogações... interrogações...
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
A ENERGIA !!
Este é o quarto dia após a cirurgia. Talvez por ser segunda-feir sinto-me renovada, com uma nova semana iniciando de fato. Os três dias anteriores ainda foram confusos, de adaptação entre deixar o hospital e voltar à cama conhecida, ao cheiro meu, ao Lar Doce Lar. Se as dores persistem, embora em doses perfeitamente aceitáveis, se há o incômodo de não poder tomar um bom banho e por isso o “seu”João, o amigo e já antigo cabeleireiro é mais imprescindível do que nunca, se o soutien que lembra uma armadura quase não me dá direito aos movimentos básicos, por outro lado, só tenho a comemorar.
Estou no ápice da gangorra em que se transformou a minha vida. Ora lá encima sorridente como uma criança que aguarda a descida brusca e carregada de adrenalina; outras lá embaixo, cabisbaixa, temerosa, carregada de medo como se ninguém fosse aparecer para me colocar de volta ao topo. Tem ainda as centenas de vezes em que permaneço ali, estática, parada, o ponto intermediário. Nem alegre nem triste, apenas perdida, apática, inerte.
O medo da cirurgia, os temores com o fígado, a glicose ainda um pouco fora dos padrões (pré-diabética ? Era só o que faltava !!) fizeram-me chorar um pouquinho antes do encontro com a grande equipe que pontualmente, às 7:30h, já me aguardava. Oncologista/mastologista, cirurgiãs plásticas (duas!!), patologistas (dois!), anestesista, médica nuclear, assistentes e mais enfermeiros e auxiliares. Uma conversa rápida, uma máscara branca e amarela e de repente o sono profundo. Acordei depois de quase sete horas, já no quarto, sob os olhares apreensivos da Anaterra, Manoel e Rulton. Ainda não sabia das boas notícias, mas eles já: o lifonodo sentinela e o primeiro logo após ele, estavam negativados. Uma comemoração !! O câncer é menos agressivo e o que ainda virá deve ser mais suportável. O material retirado da mama esquerda seguiu para o laboratório e será o norte do tratamento ainda será discutido com os médicos. Cada passo é um passo nessa longa caminhada cercada de gangorras que sobem e descem e me trazem lágrimas e sorrisos.
Depois o sono, as visitas emocionantes (Ruthlene, Ieda Jucá, Érika Siqueira,Raul, mamãe...), flores, muitos telefonemas e no dia seguinte, ainda cedo, a alta.
No domingo finalmente não consigo resistir e mesmo com lentidão, acesso os e-mails e me emociono novamente. A energia que vem de tantos amigos, já manifesta de outras maneiras, é o grande diferencial. Sinto o quanto me fez bem saber-me amada, querida, protegida. Fluídos que me cercaram de uma carapaça contra tudo de ruim que o câncer poderia gerar em mim. Ele existe, é real, ainda me trará novas dores, muitos dissabores e não pode ser banalizado. Mas as conquistas, as vitórias também estão se sucedendo, uma atrás da outras.
Energias materializadas em palavras, orações, visitas em casa, telefonemas, mensagens. Não importa a forma, o importante é que eu sinto que tudo o que me foi passado por essas pessoas, a sincronicidade, a sinceridade, o carinho, o colo estão me curando.
Uma batalha vencida !
Um enorme alívio !
Obrigada por todas as demonstrações de afeto, sem elas acho que enlouqueceria !
Estou no ápice da gangorra em que se transformou a minha vida. Ora lá encima sorridente como uma criança que aguarda a descida brusca e carregada de adrenalina; outras lá embaixo, cabisbaixa, temerosa, carregada de medo como se ninguém fosse aparecer para me colocar de volta ao topo. Tem ainda as centenas de vezes em que permaneço ali, estática, parada, o ponto intermediário. Nem alegre nem triste, apenas perdida, apática, inerte.
O medo da cirurgia, os temores com o fígado, a glicose ainda um pouco fora dos padrões (pré-diabética ? Era só o que faltava !!) fizeram-me chorar um pouquinho antes do encontro com a grande equipe que pontualmente, às 7:30h, já me aguardava. Oncologista/mastologista, cirurgiãs plásticas (duas!!), patologistas (dois!), anestesista, médica nuclear, assistentes e mais enfermeiros e auxiliares. Uma conversa rápida, uma máscara branca e amarela e de repente o sono profundo. Acordei depois de quase sete horas, já no quarto, sob os olhares apreensivos da Anaterra, Manoel e Rulton. Ainda não sabia das boas notícias, mas eles já: o lifonodo sentinela e o primeiro logo após ele, estavam negativados. Uma comemoração !! O câncer é menos agressivo e o que ainda virá deve ser mais suportável. O material retirado da mama esquerda seguiu para o laboratório e será o norte do tratamento ainda será discutido com os médicos. Cada passo é um passo nessa longa caminhada cercada de gangorras que sobem e descem e me trazem lágrimas e sorrisos.
Depois o sono, as visitas emocionantes (Ruthlene, Ieda Jucá, Érika Siqueira,Raul, mamãe...), flores, muitos telefonemas e no dia seguinte, ainda cedo, a alta.
No domingo finalmente não consigo resistir e mesmo com lentidão, acesso os e-mails e me emociono novamente. A energia que vem de tantos amigos, já manifesta de outras maneiras, é o grande diferencial. Sinto o quanto me fez bem saber-me amada, querida, protegida. Fluídos que me cercaram de uma carapaça contra tudo de ruim que o câncer poderia gerar em mim. Ele existe, é real, ainda me trará novas dores, muitos dissabores e não pode ser banalizado. Mas as conquistas, as vitórias também estão se sucedendo, uma atrás da outras.
Energias materializadas em palavras, orações, visitas em casa, telefonemas, mensagens. Não importa a forma, o importante é que eu sinto que tudo o que me foi passado por essas pessoas, a sincronicidade, a sinceridade, o carinho, o colo estão me curando.
Uma batalha vencida !
Um enorme alívio !
Obrigada por todas as demonstrações de afeto, sem elas acho que enlouqueceria !
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
CHEGOU O DIA !!
Faltam poucas horas para o dia que espero há cerca de quatro meses. Ainda estou confusa, mas calma. A solidariedade e manifestações de amizade e carinho têm me alimentado e me levado a crer que tudo passará, que é só um momento. Como diz o amigo, “É SÓ UM TRATAMENTO!"
O dia hoje incluiu uma ida ao salão de beleza para cuidar das unhas (quanto tempo ficarei sem freqüentá-lo ?) e cortar um pouco mais o cabelo. Não quero ter trabalho durante a convalescença e nem ficar tão chocada quando ele começar a cair.
Logo após o almoço, supermercado. Ficarei inativa, mas os filhos, a mãe, o marido, os animais da casa continuarão suas vidas, continuarão almoçando, jantando... Como dona-de-casa era necessário deixar tudo organizado.
A roda-viva não pára...
Depois o contato mais direto com a realidade que amanhã vivenciarei mais de perto. Um dos exames preparatórios que permitirá a localização com exatidão e rapidez dos lifonodos me levou a salas de exames, aparelhos ultra sofisticados, sons desconhecidos e uma sensação de que agora é impossível voltar atrás.
A garantia anterior é que era um exame simples, quase indolor. Mas como ser indolor se uma grande agulha é introduzida no seio e o líquido (contraste) se espalha como fogo em todo a sua extensão? Muita dor e uma espera de 30/40 minutos enquanto massageava o local para que o produto se espalhasse. Até a volta aos equipamentos com aparência de laboratórios espaciais típicos da medicina nuclear, que localizaram os lifonodos. Primeiro passo exitoso para amanhã.
Durante os 30 minutos de espera e angústia acabei pedindo socorro. Sozinha naquela sala me senti perdida e triste. Liguei para algumas pessoas em busca de consolo, de carinho, de força. O ambiente que me colocou frente à frente com o inevitável é mais assustador que a própria doença. Pessoas que denotam o quanto estão sendo devoradas pela doença ou outras pesarosas,sorumbáticas pela convivência tão próxima e constante com a morte.
Ainda fui à clínica de cirurgia plástica. Menos mal. Cinqüentonas, sessentonas com butox ou ainda caminhando com dificuldade denunciavam as plásticas. Eu também farei uma amanhã, Na verdade o que mais demorará: a reconstrução da mama esquerda, que já teve uma parte retirada e a plástica simples na direita para que haja uma simetria entre as duas. Depois da consulta com a cirurgiã, deixei o consultório com o Raul toda marcada de caneta. Parecia que iria a uma cerimônia indígena. Mesmo assim fomos ao Hiper Líder jantar. Alguém reparou ? nem notei.
Tenho dito com humor que tudo isso tem me trazido muitos ganhos. Nunca vi essa pedra no meu caminho como um castigo ou algo similar. Mas como algo que chegou para me renovar e entre tudo de bom que tenho exercitado, inclusive o medo que depois se transforma em um suave e relaxante alívio, estão os seios novos.
Ao contrário do olhar cabisbaixo, sempre voltado ao chão, eles em breve terão um olhar soberbo, austero. Olharão nos olhos...
Brincadeiras à parte, tentativas de afastar do pensamento que os riscos são grandes, que não farei apenas uma plástica estética, mas uma pesquisa dos lifonodos que definirão com precisão meu tipo de câncer, o nível de comprometimento dessas glândulas da axila, enfim, o que terei que viver depois, além, evidentemente, do que sempre significou um ato cirúrgico: risco de morte. Mas o risco está em todos os lugares, infelizmente: no acidente de trânsito, no assalto, na bala perdida, no aneurisma silencioso, no infarto fulminante, na pancreatite que não perdoa.
E nada (NADA !!!) é mais compensador do que se saber querida, amada, respeitada. Que a torcida é verdadeira, carinhosa e chegam de pessoas que nunca imaginei um dia poderia ter algum significado. Tenho recebido manifestações de pessoas que cultuam os mais diferentes deuses, que têm as mais diversas crenças (evangélicos, católicos, espíritas, umbandistas, judeus), todos emanados no que é fundamental para mim: a energia positiva, profunda, sincera.
Quero continuar bem amanhã como estou agora e que logo logo possa estar de volta aqui, conversando com os amigos reais ou virtuais; os que estão aqui em Belém ou mais distantes (têm alguns que distam mais de 3 mil km, mas que sinto tão próximos... bem aqui...).
Ahhh como espero que isso aconteça....
O dia hoje incluiu uma ida ao salão de beleza para cuidar das unhas (quanto tempo ficarei sem freqüentá-lo ?) e cortar um pouco mais o cabelo. Não quero ter trabalho durante a convalescença e nem ficar tão chocada quando ele começar a cair.
Logo após o almoço, supermercado. Ficarei inativa, mas os filhos, a mãe, o marido, os animais da casa continuarão suas vidas, continuarão almoçando, jantando... Como dona-de-casa era necessário deixar tudo organizado.
A roda-viva não pára...
Depois o contato mais direto com a realidade que amanhã vivenciarei mais de perto. Um dos exames preparatórios que permitirá a localização com exatidão e rapidez dos lifonodos me levou a salas de exames, aparelhos ultra sofisticados, sons desconhecidos e uma sensação de que agora é impossível voltar atrás.
A garantia anterior é que era um exame simples, quase indolor. Mas como ser indolor se uma grande agulha é introduzida no seio e o líquido (contraste) se espalha como fogo em todo a sua extensão? Muita dor e uma espera de 30/40 minutos enquanto massageava o local para que o produto se espalhasse. Até a volta aos equipamentos com aparência de laboratórios espaciais típicos da medicina nuclear, que localizaram os lifonodos. Primeiro passo exitoso para amanhã.
Durante os 30 minutos de espera e angústia acabei pedindo socorro. Sozinha naquela sala me senti perdida e triste. Liguei para algumas pessoas em busca de consolo, de carinho, de força. O ambiente que me colocou frente à frente com o inevitável é mais assustador que a própria doença. Pessoas que denotam o quanto estão sendo devoradas pela doença ou outras pesarosas,sorumbáticas pela convivência tão próxima e constante com a morte.
Ainda fui à clínica de cirurgia plástica. Menos mal. Cinqüentonas, sessentonas com butox ou ainda caminhando com dificuldade denunciavam as plásticas. Eu também farei uma amanhã, Na verdade o que mais demorará: a reconstrução da mama esquerda, que já teve uma parte retirada e a plástica simples na direita para que haja uma simetria entre as duas. Depois da consulta com a cirurgiã, deixei o consultório com o Raul toda marcada de caneta. Parecia que iria a uma cerimônia indígena. Mesmo assim fomos ao Hiper Líder jantar. Alguém reparou ? nem notei.
Tenho dito com humor que tudo isso tem me trazido muitos ganhos. Nunca vi essa pedra no meu caminho como um castigo ou algo similar. Mas como algo que chegou para me renovar e entre tudo de bom que tenho exercitado, inclusive o medo que depois se transforma em um suave e relaxante alívio, estão os seios novos.
Ao contrário do olhar cabisbaixo, sempre voltado ao chão, eles em breve terão um olhar soberbo, austero. Olharão nos olhos...
Brincadeiras à parte, tentativas de afastar do pensamento que os riscos são grandes, que não farei apenas uma plástica estética, mas uma pesquisa dos lifonodos que definirão com precisão meu tipo de câncer, o nível de comprometimento dessas glândulas da axila, enfim, o que terei que viver depois, além, evidentemente, do que sempre significou um ato cirúrgico: risco de morte. Mas o risco está em todos os lugares, infelizmente: no acidente de trânsito, no assalto, na bala perdida, no aneurisma silencioso, no infarto fulminante, na pancreatite que não perdoa.
E nada (NADA !!!) é mais compensador do que se saber querida, amada, respeitada. Que a torcida é verdadeira, carinhosa e chegam de pessoas que nunca imaginei um dia poderia ter algum significado. Tenho recebido manifestações de pessoas que cultuam os mais diferentes deuses, que têm as mais diversas crenças (evangélicos, católicos, espíritas, umbandistas, judeus), todos emanados no que é fundamental para mim: a energia positiva, profunda, sincera.
Quero continuar bem amanhã como estou agora e que logo logo possa estar de volta aqui, conversando com os amigos reais ou virtuais; os que estão aqui em Belém ou mais distantes (têm alguns que distam mais de 3 mil km, mas que sinto tão próximos... bem aqui...).
Ahhh como espero que isso aconteça....
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
É QUINTA !!
Finalmente agora posso afirmar categoricamente: vou fazer a segunda cirurgia na mama, na próxima quinta-feira, dia 24 !!
Hoje o dia começou cedo demais e só teve uma agenda: ambientes de saúde. Médicos e exames, exames e médicos. Das 6:30 às 17horas !
Primeiro o laudo de risco cirúrgico do cardiologista, depois a solicitação de um laudo complementar no laboratório que atestou o câncer. Nova mamografia, nova ultrassom da mama. Aqui muita apreensão com a possibilidade de novas descobertas, novos nódulos, pequenos tumores não detectados. Mas isso só saberei amanhã. Depois o oncologista, a especialista que marcará os lifonodos e finalmente a cirurgiã plástica. Ainda falta o anestesista.
A peregrinação trouxe enfim a definição há tanto aguardada: a cirurgia acontecerá dia 24 mesmo, no Hospital Porto Dias. Complicado demais conseguir conciliar a agenda apertada e disputadíssima de tantos especialistas. Mas finalmente obtivemos sucesso.
Sinto agora um misto de medo e alívio; a angústia mescla-se à alegria da decisão e a ansiedade agora dá lugar aos pensamentos macabros e assustadores do que estará ainda me esperando após a cirurgia.
Sei que há uma grande diferença entre o que as máquinas mostram e o que pode ser visualizado pelos médicos em uma cirurgia. Mas não vou esmorecer, tenho motivos de sobra para continuar vivendo, para ser mais feliz, mais realizada, mais amada, mais querida.
Dar-me mais e mais. Presentear-me ainda muito mais !!
Tenho filhos maravilhosos que desabrocham como homem e mulher. Quero acompanhar essa fase com a mesma intensidade que vivencie a gravidez, a primeira infância, os primeiros dias de aula e tudo o que foi marcante na vida de cada um. Momentos preocupantes e desesperadores (como a cirurgia do Raul em 2004), mas outros de felicidade plena que começaram desde o nascimento.
Quero ir mais além nas minhas descobertas como professora, como profissional de Comunicação nas instituições, como mulher, como amiga, como filha, como irmã. Saber que ainda há muito me esperando lá fora para me mostrar um novo mundo. Esse que comecei a descobrir com a notícia da doença que tanto atemoriza, mas que quero encarar como uma nova oportunidade de viver melhor e mais do que viveria se ela não tivesse se colocado no meu caminho.
A minha pedra drumoniana que vou passar por cima.
Porque assim quero, porque assim Deus quer e a minha Naza também !!
Amém !!
Hoje o dia começou cedo demais e só teve uma agenda: ambientes de saúde. Médicos e exames, exames e médicos. Das 6:30 às 17horas !
Primeiro o laudo de risco cirúrgico do cardiologista, depois a solicitação de um laudo complementar no laboratório que atestou o câncer. Nova mamografia, nova ultrassom da mama. Aqui muita apreensão com a possibilidade de novas descobertas, novos nódulos, pequenos tumores não detectados. Mas isso só saberei amanhã. Depois o oncologista, a especialista que marcará os lifonodos e finalmente a cirurgiã plástica. Ainda falta o anestesista.
A peregrinação trouxe enfim a definição há tanto aguardada: a cirurgia acontecerá dia 24 mesmo, no Hospital Porto Dias. Complicado demais conseguir conciliar a agenda apertada e disputadíssima de tantos especialistas. Mas finalmente obtivemos sucesso.
Sinto agora um misto de medo e alívio; a angústia mescla-se à alegria da decisão e a ansiedade agora dá lugar aos pensamentos macabros e assustadores do que estará ainda me esperando após a cirurgia.
Sei que há uma grande diferença entre o que as máquinas mostram e o que pode ser visualizado pelos médicos em uma cirurgia. Mas não vou esmorecer, tenho motivos de sobra para continuar vivendo, para ser mais feliz, mais realizada, mais amada, mais querida.
Dar-me mais e mais. Presentear-me ainda muito mais !!
Tenho filhos maravilhosos que desabrocham como homem e mulher. Quero acompanhar essa fase com a mesma intensidade que vivencie a gravidez, a primeira infância, os primeiros dias de aula e tudo o que foi marcante na vida de cada um. Momentos preocupantes e desesperadores (como a cirurgia do Raul em 2004), mas outros de felicidade plena que começaram desde o nascimento.
Quero ir mais além nas minhas descobertas como professora, como profissional de Comunicação nas instituições, como mulher, como amiga, como filha, como irmã. Saber que ainda há muito me esperando lá fora para me mostrar um novo mundo. Esse que comecei a descobrir com a notícia da doença que tanto atemoriza, mas que quero encarar como uma nova oportunidade de viver melhor e mais do que viveria se ela não tivesse se colocado no meu caminho.
A minha pedra drumoniana que vou passar por cima.
Porque assim quero, porque assim Deus quer e a minha Naza também !!
Amém !!
domingo, 20 de janeiro de 2008
Este mundo que é só meu
Sei que sou uma privilegiada. Tenho uma família muito presente, amigos que sei que são sinceros, leais, verdadeiros presentes de Deus, pessoas queridas que mesmo a milhares de km estão próximas de mim. Médicos dos mais competentes e condições financeiras (pelo menos até aqui) para custear tudo de mais estranho que tem sido a minha dieta e os diversos medicamentos que me acompanham o dia inteiro.
Tenho plena consciência de que há casos mais graves, mais complicados. Acabo, inclusive, de conhecer um que me abalou bastante. A jovem mãe que descobriu no final da gravidez (agora em dezembro) o câncer na mama e fez a mastectomia logo após a cesariana. Não pôde amamentar, carregar seu bebê, sequer curtir o quarto que montou com tanto carinho para ele, já que teve que deixar sua cidade em busca de tratamento na capital. E para completar, o marido dele trabalha em outro País.
Constato, contudo, que mesmo com todo este apoio, carinho, atenção, preocupação companheirismo, amor e solidariedade, este mundo que vivo hoje é só meu. Ninguém, por mais próximo ou sentimento forte que tenha por mim, compreende a dimensão de meus pensamentos.
Tudo é genuinamente meu.
A vida prossegue e nem me nota. Não percebe que definho, que estou triste, que choro, me estresso por nada. Não cobro nada de ninguém. Não... não é isso, não tenho esse direito, apenas constato o quanto é comum estar doente, o quanto é banal morrer. Faz parte da vida.
As angústias que me atormentam, por mais que milhares de vezes repetidas, serão sempre só minhas. As incertezas que me corroem não têm como serem repartidas. Todas as dúvidas só eu posso dirimi-las. Feridas que latejam, pulsam e me incomodam num turbilhão de dor imensuravelmente controláveis.
Este é o meu mundo...
Nada impedirá que os passarinhos que embelezam minhas manhãs venham à janela pedir suas frutas de todos os dias. A lua crescente em breve será cheia. A chuva insiste em deixar o dia preguiçoso, úmido. As crianças gritam lá fora enquanto brincam. Os vizinhos mais idosos conversam na calçada.
Tudo igual... Tudo irremediavelmente como sempre foi.
Ontem não foi diferente. O filho foi à festa. Antes fizera, durante o dia, uma em casa em homenagem a uma amiga que aniversariava. Está vivendo a explosão da sexualidade, a descoberta do prazer de encantar. Divertiu-se até tarde.Nem reparou em meu olhos vermelhos.
Marido e filha foram ao teatro. Preferi ficar em casa. Precisava concluir um trabalho e com sorte conversar na Internet com pessoas especiais. Mas elas estavam ocupadas demais para me ouvir, para me dar o que mais precisava: carinho.
A solidão não foi boa companhia. Fiquei triste, carente, sensível demais e meus fantasminhas viraram monstros que me torturaram e me deixaram frágil. Dormi cedo, molhei o travesseiro, revivi emoções e senti muito medo.
Felizmente, como em um pesadelo infantil, eles voltaram para o mundo encantado dos contos de fada.
Acordei sem fantasmas, sem monstros, só com uma chuva intermitente.
Só meu mundo ainda é real ...
Tenho plena consciência de que há casos mais graves, mais complicados. Acabo, inclusive, de conhecer um que me abalou bastante. A jovem mãe que descobriu no final da gravidez (agora em dezembro) o câncer na mama e fez a mastectomia logo após a cesariana. Não pôde amamentar, carregar seu bebê, sequer curtir o quarto que montou com tanto carinho para ele, já que teve que deixar sua cidade em busca de tratamento na capital. E para completar, o marido dele trabalha em outro País.
Constato, contudo, que mesmo com todo este apoio, carinho, atenção, preocupação companheirismo, amor e solidariedade, este mundo que vivo hoje é só meu. Ninguém, por mais próximo ou sentimento forte que tenha por mim, compreende a dimensão de meus pensamentos.
Tudo é genuinamente meu.
A vida prossegue e nem me nota. Não percebe que definho, que estou triste, que choro, me estresso por nada. Não cobro nada de ninguém. Não... não é isso, não tenho esse direito, apenas constato o quanto é comum estar doente, o quanto é banal morrer. Faz parte da vida.
As angústias que me atormentam, por mais que milhares de vezes repetidas, serão sempre só minhas. As incertezas que me corroem não têm como serem repartidas. Todas as dúvidas só eu posso dirimi-las. Feridas que latejam, pulsam e me incomodam num turbilhão de dor imensuravelmente controláveis.
Este é o meu mundo...
Nada impedirá que os passarinhos que embelezam minhas manhãs venham à janela pedir suas frutas de todos os dias. A lua crescente em breve será cheia. A chuva insiste em deixar o dia preguiçoso, úmido. As crianças gritam lá fora enquanto brincam. Os vizinhos mais idosos conversam na calçada.
Tudo igual... Tudo irremediavelmente como sempre foi.
Ontem não foi diferente. O filho foi à festa. Antes fizera, durante o dia, uma em casa em homenagem a uma amiga que aniversariava. Está vivendo a explosão da sexualidade, a descoberta do prazer de encantar. Divertiu-se até tarde.Nem reparou em meu olhos vermelhos.
Marido e filha foram ao teatro. Preferi ficar em casa. Precisava concluir um trabalho e com sorte conversar na Internet com pessoas especiais. Mas elas estavam ocupadas demais para me ouvir, para me dar o que mais precisava: carinho.
A solidão não foi boa companhia. Fiquei triste, carente, sensível demais e meus fantasminhas viraram monstros que me torturaram e me deixaram frágil. Dormi cedo, molhei o travesseiro, revivi emoções e senti muito medo.
Felizmente, como em um pesadelo infantil, eles voltaram para o mundo encantado dos contos de fada.
Acordei sem fantasmas, sem monstros, só com uma chuva intermitente.
Só meu mundo ainda é real ...
sábado, 19 de janeiro de 2008
A reinstalação do medo
O ultimo mês (parte de dezembro e o início de janeiro) estive envolvida em tantas coisas ao mesmo tempo que parecia ser outra pessoa olhando-me à distância. Vivi tudo muito intensamente, viajei demais, trabalhei, aprendi muitas coisas novas. De 17 de dezembro a 15 de janeiro passei exatos 19 dias fora de Belém : Brasília, Pirinópolis, Ajuruteua e Cuiabá levaram-me para longe da cidade e também para bem distante deste mundo real que me assusta e agora faz com que o medo se reinstale.
Deve ter sido uma fuga inconsciente. Fui atrás de uma outra Ruth. A feliz, a que ri facilmente, a que sonha, a que ajuda, a que estuda, a que conversa e faz amizades facilmente. A que se encanta com as descobertas e se realiza nos outros. Precisava me sentir viva para não temer demais o que sabia, previamente, estava me aguardando. Agora não posso mais me iludir : a cirurgia em breve acontecerá, o pós-operatório terá dores, incômodos, limitações; se os lifonodos estiverem comprometidos terei que esvaziá-los e deixar de usar o braço esquerdo; se outros nódulos tiverem surgidos significará uma grande tendência a recisivas; o material a ser retirado ainda dará mais informações (boas ou muito más) que subsidiarão os demais médicos que ainda serão incluídos neste já grande time de profissionais.
Olho meu seio, toco, acaricio e imagino as mudanças que estão se processando nele. Não externamente (essas devem ser para melhor a partir da plástica), mas internamente. O que essas células malucas podem estar fazendo com ele ? Até onde podem estar decidindo meus próximos anos de vida ? Seios que sempre gostei de deixar meio à mostra, que sempre valorizei como ponto feminino, que amamentou meus filhos, que já me deu tanto prazer.
Ahhh sei que preciso manter a calma e quando a tristeza se apossa de mim, tenho uma fuga: fecho os olhos e revivencio o que de bom aconteceu nesses dias mais recentes: as pessoas, os lugares novos, a chuva que sempre me acompanhou em todos os lugares e que deixei me molhar como se fosse possível levar de mim o que de ruim se instalou, os peixes deliciosos, o artesanato, as discussões profissionais, a perspectivas de novos horizontes de trabalho, a esperança renovada da cura, o otimismo e apoio de pessoas que acreditam que tudo passará, os planos (que preciso acreditar !) estão apenas sendo adiados.
Fico sensível demais, estressada demais, chorona demais. Difícil esconder o quanto estou frágil, o quanto me assusta encarar de frente que minha vida, muito em breve, vai mudar tanto.
Preciso enxergar tudo de outro jeito. Sei disso !! Mas nem sempre eu consigo....
Deve ter sido uma fuga inconsciente. Fui atrás de uma outra Ruth. A feliz, a que ri facilmente, a que sonha, a que ajuda, a que estuda, a que conversa e faz amizades facilmente. A que se encanta com as descobertas e se realiza nos outros. Precisava me sentir viva para não temer demais o que sabia, previamente, estava me aguardando. Agora não posso mais me iludir : a cirurgia em breve acontecerá, o pós-operatório terá dores, incômodos, limitações; se os lifonodos estiverem comprometidos terei que esvaziá-los e deixar de usar o braço esquerdo; se outros nódulos tiverem surgidos significará uma grande tendência a recisivas; o material a ser retirado ainda dará mais informações (boas ou muito más) que subsidiarão os demais médicos que ainda serão incluídos neste já grande time de profissionais.
Olho meu seio, toco, acaricio e imagino as mudanças que estão se processando nele. Não externamente (essas devem ser para melhor a partir da plástica), mas internamente. O que essas células malucas podem estar fazendo com ele ? Até onde podem estar decidindo meus próximos anos de vida ? Seios que sempre gostei de deixar meio à mostra, que sempre valorizei como ponto feminino, que amamentou meus filhos, que já me deu tanto prazer.
Ahhh sei que preciso manter a calma e quando a tristeza se apossa de mim, tenho uma fuga: fecho os olhos e revivencio o que de bom aconteceu nesses dias mais recentes: as pessoas, os lugares novos, a chuva que sempre me acompanhou em todos os lugares e que deixei me molhar como se fosse possível levar de mim o que de ruim se instalou, os peixes deliciosos, o artesanato, as discussões profissionais, a perspectivas de novos horizontes de trabalho, a esperança renovada da cura, o otimismo e apoio de pessoas que acreditam que tudo passará, os planos (que preciso acreditar !) estão apenas sendo adiados.
Fico sensível demais, estressada demais, chorona demais. Difícil esconder o quanto estou frágil, o quanto me assusta encarar de frente que minha vida, muito em breve, vai mudar tanto.
Preciso enxergar tudo de outro jeito. Sei disso !! Mas nem sempre eu consigo....
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
"É só um tratamento"
Desde que cheguei de Cuiabá tenho duas grandes preocupações que têm ocupado quase integralmente meus dias: concluir o trabalho que assumi com a FAZ de elaborar um Plano de Comunicação para a instituição e de acelerar os contatos com os médicos que cuidam de mim para que a cirurgia finalmente aconteça.
Comecei pela psicoterapeuta. A cabeça é tudo, todos afirmam, e o que a médica tem feito por mim é fundamental neste processo. Só recebi elogios. Disse que estou bem, produzindo muita endorfina, serotonina e tudo mais que meu corpo necessita neste momento e que estão me fortalecendo fisicamente. Deixei o consultório feliz.
Depois estive com o “médico-maestro”, o que me cuida mais por inteira, que me vê como um todo, que consegui com medicamentos, uma dieta rigorosa e muita paciência ao conversar e muita atenção em cada consulta, me reinventar. Fui parabenizada pela força de vontade, pelo cumprimento à risca de tudo o que ele me passou. Riu quando eu disse que eu fui tão obediente que, para evitar quaisquer tipos de medicamentos que pudessem interferir no fígado, fizera uma restauração em um dente, para ser mais precisa no colo do dente, sem anestesia. Nem o dentista acreditou no início: aquela maquininha e seu irritante barulho furando meu dente, abrindo mais a pequena cárie e eu agüentando firme. Consegui !!
Hoje foi a vez do cirurgião. O mastologista-oncologista que vai me operar junto com o cirurgião plástico e um monte de gente (os que farão os exames patológicos por congelamento, anestesista, mais uma que marca os lifonodos, assistente... Nem sei quantos ao final estarão lá na sala comigo). Sempre achei que os cirurgiões, pela sua própria especialidade, são pessoas mais frias, menos sensíveis que outros médicos de outras áreas e hoje confirmei o que há muito detectara. A forma natural de me dizer que serão retirados dois lifonodos (glândulas que ficam nas axilas e braços) como precaução se não houver comprometimento, mas se houver serão retirados todos, o que significa, explicou-me naturalmente, nunca mais tirar cutícula das unhas, tomar um injeção ou mesmo receber uma picada de um inseto.Sem falar que não poderei carregar mais peso com esse braço. Ou seja, terei um braço aparente, de brinquedo, fantasia. Continuando, falou das quimios, que só serão decididas depois que o material for retirado. Mais naturalidade ao assegurar todas fazem o cabelo cair. E para finalizar a notícia mais apavorante: tenho que fazer outra mamografia e outra ultrassom para ele ter certeza de que durante esses três meses não surgiram outros nódulos. “Se apareceram outros, retiraremos logo”. Simples, né ?
Aiii meu Deus !! sei que são procedimentos normais, corriqueiros, que meu caso não é tão preocupante como grande parte o são. Sei que as minhas chances de cura são muito grandes, mas assim mesmo não consigo relaxar, não parar de pensar, de não sentir medo.
Tento tirar da cabeça o pessimismo, não pensar no pior usando a frase de um grande amigo que quando me vê abatida ou muito triste repete: É SÓ UM TRATAMENTO.
Vou rezar mais ainda para que seja mesmo.
Comecei pela psicoterapeuta. A cabeça é tudo, todos afirmam, e o que a médica tem feito por mim é fundamental neste processo. Só recebi elogios. Disse que estou bem, produzindo muita endorfina, serotonina e tudo mais que meu corpo necessita neste momento e que estão me fortalecendo fisicamente. Deixei o consultório feliz.
Depois estive com o “médico-maestro”, o que me cuida mais por inteira, que me vê como um todo, que consegui com medicamentos, uma dieta rigorosa e muita paciência ao conversar e muita atenção em cada consulta, me reinventar. Fui parabenizada pela força de vontade, pelo cumprimento à risca de tudo o que ele me passou. Riu quando eu disse que eu fui tão obediente que, para evitar quaisquer tipos de medicamentos que pudessem interferir no fígado, fizera uma restauração em um dente, para ser mais precisa no colo do dente, sem anestesia. Nem o dentista acreditou no início: aquela maquininha e seu irritante barulho furando meu dente, abrindo mais a pequena cárie e eu agüentando firme. Consegui !!
Hoje foi a vez do cirurgião. O mastologista-oncologista que vai me operar junto com o cirurgião plástico e um monte de gente (os que farão os exames patológicos por congelamento, anestesista, mais uma que marca os lifonodos, assistente... Nem sei quantos ao final estarão lá na sala comigo). Sempre achei que os cirurgiões, pela sua própria especialidade, são pessoas mais frias, menos sensíveis que outros médicos de outras áreas e hoje confirmei o que há muito detectara. A forma natural de me dizer que serão retirados dois lifonodos (glândulas que ficam nas axilas e braços) como precaução se não houver comprometimento, mas se houver serão retirados todos, o que significa, explicou-me naturalmente, nunca mais tirar cutícula das unhas, tomar um injeção ou mesmo receber uma picada de um inseto.Sem falar que não poderei carregar mais peso com esse braço. Ou seja, terei um braço aparente, de brinquedo, fantasia. Continuando, falou das quimios, que só serão decididas depois que o material for retirado. Mais naturalidade ao assegurar todas fazem o cabelo cair. E para finalizar a notícia mais apavorante: tenho que fazer outra mamografia e outra ultrassom para ele ter certeza de que durante esses três meses não surgiram outros nódulos. “Se apareceram outros, retiraremos logo”. Simples, né ?
Aiii meu Deus !! sei que são procedimentos normais, corriqueiros, que meu caso não é tão preocupante como grande parte o são. Sei que as minhas chances de cura são muito grandes, mas assim mesmo não consigo relaxar, não parar de pensar, de não sentir medo.
Tento tirar da cabeça o pessimismo, não pensar no pior usando a frase de um grande amigo que quando me vê abatida ou muito triste repete: É SÓ UM TRATAMENTO.
Vou rezar mais ainda para que seja mesmo.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
Hora de voltar ....
Amanhã deixo Cuiabá. Hora de voltar pra casa, matar a saudade dos filhos, embora sinta, aqui de longe, que no fundo eles gostam dessas “férias da mãe. Reconheço e assumo que sou controladora, que pego muito no pé e em diversos sentidos - Onde vão ? Que horas voltam ? Jáá almoçaram ? Doce de novo !!! Precisam ler mais ! E essa ausência acaba sendo um período de anti-estresse pra todos.
Aqui o trabalho se mistura com lazer, com o prazer. Tenho aproveitado para saborear os peixes do Pantanal, conhecer lugares interessantes e aprender um pouco mais sobre o Brasil. Conviver com pessoas especiais e me conhecer mais. Outro enorme prazer !
Cada lugar que conheço, reconheço que conheço tão pouco do meu País.
São tantos Brasis que, mesmo aos 50 anos e mais de 30 viajando sempre que possível, me surpreendo a cada novo lugar.
Agora é a hora de Cuiabá me encher os olhos.
Ontem estivemos no povoado de São Gonçalo. Dia de festa na pequeníssima cidade. Dia de homenagear o padroeiro. Jogos de futebol, música e o que mais me impressionou: dois bois quase inteiros sendo assados há mais de doze horas. Fomos convidados pelos organizadores, mas não tive coragem de comer. Uma sensação ruim... Preferi a ventrecha de pacu com farofa de banana (não se serve outra farofa aqui).
Um rio ainda pouco poluído à frente da cidade. Já exibindo, contudo, as garrafas pets e sacos plásticos nas margens.
Porém, o que achei que deveria ser aplicado também em outras localidades: a evidente e bem sucedida preocupação com as matas ciliares preservadas ou graças a interferência do homem, outras plantas foram incorporadas e uma vegetação homogênea protege as margens, chegando, em alguns trechos a impedir, inclusive a visão da água.
Amanhã aeroportos, amanhã abraço aos filhos, amanhã volta ao lar.
Saudades ? muitas.... Mas o melhor é a certeza do dever cumprido. De ter feito o que era para ser feito, de ter apostado, acreditado, ousado e ter dado certo!
Os médicos me aguardame oxalá a esperada cirurgia também !
Aqui o trabalho se mistura com lazer, com o prazer. Tenho aproveitado para saborear os peixes do Pantanal, conhecer lugares interessantes e aprender um pouco mais sobre o Brasil. Conviver com pessoas especiais e me conhecer mais. Outro enorme prazer !
Cada lugar que conheço, reconheço que conheço tão pouco do meu País.
São tantos Brasis que, mesmo aos 50 anos e mais de 30 viajando sempre que possível, me surpreendo a cada novo lugar.
Agora é a hora de Cuiabá me encher os olhos.
Ontem estivemos no povoado de São Gonçalo. Dia de festa na pequeníssima cidade. Dia de homenagear o padroeiro. Jogos de futebol, música e o que mais me impressionou: dois bois quase inteiros sendo assados há mais de doze horas. Fomos convidados pelos organizadores, mas não tive coragem de comer. Uma sensação ruim... Preferi a ventrecha de pacu com farofa de banana (não se serve outra farofa aqui).
Um rio ainda pouco poluído à frente da cidade. Já exibindo, contudo, as garrafas pets e sacos plásticos nas margens.
Porém, o que achei que deveria ser aplicado também em outras localidades: a evidente e bem sucedida preocupação com as matas ciliares preservadas ou graças a interferência do homem, outras plantas foram incorporadas e uma vegetação homogênea protege as margens, chegando, em alguns trechos a impedir, inclusive a visão da água.
Amanhã aeroportos, amanhã abraço aos filhos, amanhã volta ao lar.
Saudades ? muitas.... Mas o melhor é a certeza do dever cumprido. De ter feito o que era para ser feito, de ter apostado, acreditado, ousado e ter dado certo!
Os médicos me aguardame oxalá a esperada cirurgia também !
sábado, 12 de janeiro de 2008
Direto de Cuiabá
Há quatro dias estou em Cuiabá. Uma das poucas capitais que ainda não conhecia e confesso a minha surpresa. Ela é tudo o que eu não imaginava. Arrumadinha, limpa e com um povo atencioso sempre disposto a informar, a ajudar.
A Mídia ajuda-nos a criar boas e péssimas imagens. A gostar daqui e a desgostar dali. “É como não sentir calor em Cuiabá”, diz a música a do Skank,já anunciando o mal estar. Não senti nada, até agora, que se pareça com o calor abafado da minha Belém. Aqui a temperatura é alta, mas o vento é farto. Uma cidade agradável e hospitaleira.
Sinto, por outro lado,a efervescência do El Dourado. Muitos carros do tipo “tenho fazenda ou trabalho em uma” circulam pela cidade. No hotel homens de chapéu de couro, botas e muita poeira. Ela parece que vai explodir de opções de trabalho, de negócios em cada esquina. Pulsa, lateja, mesmo em calma, quase em silêncio.
Os sotaques se misturam. Possível identificar goianos e paulistas, mas certamente muitos outros brasileiros (e estrangeiros!) estão chegando em busca de uma nova oportunidade, do sonhos de ser feliz e Cuiabá parece recebê-los de braços abertos.
Hoje visitei a Casa do Artesão. Um espaço sob a responsabilidade do Sesc que me impressionou pela organização, pelo atendimento e qualidade dos prodrutos expostos. Profissionalização presente em cada espaço.
Cheguei mesmo a solicitar o nome da coordenadora para repassar a alguém de Belém. Uma iniciativa que poderia ser copiada. Quem sabe o nosso Mercado de São Braz se transforme em algo similar. Mude aquele ar de abandono e renasça.
A variedade na Casa do artesão é enorme. Um belo casarão bem cuidado reúne artesanato indígena, biojóias, belas e criativas camisetas, redes bordadas à mão lindíssimas, livros, cds, bijouterias e muita cerâmica, além de doces, licores e outras guloseimas da terra.
Ao entrar uma pessoa nos acompanha com uma cesta e ali vai reunindo tudo o que pretendemos adquirir. Depois, na saída (passamos mais de uma hora visitando calmamente cada um dos ambientes), em um balcão faz-se o pagamento (cartão, dinheiro...) e logo após, em outro, alguém empacota (para presente ou não).
Tudo sistematizado, com simpatia. Impossível não comprar muito além do previsto !
Cada lugar que entrava imaginava o Mercado de São Braz transformado em algo similar: artesanatos marajoara, tapajônico, biojóias, camisetas, livros, Cds do Vereguete, do Pinduca, da Fafá, do Nilson Chaves, do Pavulagem....Em outro canso nosso tacacá, açaí com peixe frito, tapioquinhas, caruru, vatapá e sucos e sorvetes de tantas e deliciosas frutas.
Vou sugerir (não sei se adiantará !) às pessoas do meu Estado para que conheçam essa experiência. Quem sabe ficará mais fácil comercializar e valorizar o que temos de bom, bonito, único.
Vou fazer a minha parte !!!
A Mídia ajuda-nos a criar boas e péssimas imagens. A gostar daqui e a desgostar dali. “É como não sentir calor em Cuiabá”, diz a música a do Skank,já anunciando o mal estar. Não senti nada, até agora, que se pareça com o calor abafado da minha Belém. Aqui a temperatura é alta, mas o vento é farto. Uma cidade agradável e hospitaleira.
Sinto, por outro lado,a efervescência do El Dourado. Muitos carros do tipo “tenho fazenda ou trabalho em uma” circulam pela cidade. No hotel homens de chapéu de couro, botas e muita poeira. Ela parece que vai explodir de opções de trabalho, de negócios em cada esquina. Pulsa, lateja, mesmo em calma, quase em silêncio.
Os sotaques se misturam. Possível identificar goianos e paulistas, mas certamente muitos outros brasileiros (e estrangeiros!) estão chegando em busca de uma nova oportunidade, do sonhos de ser feliz e Cuiabá parece recebê-los de braços abertos.
Hoje visitei a Casa do Artesão. Um espaço sob a responsabilidade do Sesc que me impressionou pela organização, pelo atendimento e qualidade dos prodrutos expostos. Profissionalização presente em cada espaço.
Cheguei mesmo a solicitar o nome da coordenadora para repassar a alguém de Belém. Uma iniciativa que poderia ser copiada. Quem sabe o nosso Mercado de São Braz se transforme em algo similar. Mude aquele ar de abandono e renasça.
A variedade na Casa do artesão é enorme. Um belo casarão bem cuidado reúne artesanato indígena, biojóias, belas e criativas camisetas, redes bordadas à mão lindíssimas, livros, cds, bijouterias e muita cerâmica, além de doces, licores e outras guloseimas da terra.
Ao entrar uma pessoa nos acompanha com uma cesta e ali vai reunindo tudo o que pretendemos adquirir. Depois, na saída (passamos mais de uma hora visitando calmamente cada um dos ambientes), em um balcão faz-se o pagamento (cartão, dinheiro...) e logo após, em outro, alguém empacota (para presente ou não).
Tudo sistematizado, com simpatia. Impossível não comprar muito além do previsto !
Cada lugar que entrava imaginava o Mercado de São Braz transformado em algo similar: artesanatos marajoara, tapajônico, biojóias, camisetas, livros, Cds do Vereguete, do Pinduca, da Fafá, do Nilson Chaves, do Pavulagem....Em outro canso nosso tacacá, açaí com peixe frito, tapioquinhas, caruru, vatapá e sucos e sorvetes de tantas e deliciosas frutas.
Vou sugerir (não sei se adiantará !) às pessoas do meu Estado para que conheçam essa experiência. Quem sabe ficará mais fácil comercializar e valorizar o que temos de bom, bonito, único.
Vou fazer a minha parte !!!
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Viajando de novo !!!
Viajar sempre foi para mim um enorme prazer. Conhecer (ou rever) lugares, descobrir pessoas, peculiaridades das cidades, comparar sotaques, hábitos, cultura e sempre voltar abarrota de souvenir representa, há muito tempo é uma grande alegria.
Renovo-me.
Durante muito anos deixei que o medo me dominasse e me impedisse de viajar. Pavor de andar de avião, medo de barcos, temores em demasia pelo carro ou ônibus e as oportunidades de viagem sendo adiadas, canceladas ou mentirosamente impedidas. Sim, sempre tinha uma boa desculpa para não ir.
Felizmente mudei. Hoje consigo enfrentar o medo (ele ainda existe e é enorme !!), mesmo que conte com a ajuda prestimosa do Lexotan. Não mais rejeito convites, não mais encontro desculpas evasivas para não ir.
No início da segunda quinzena de dezembro estive em Brasília e Pirinópolis; no final de dezembro e primeiros dias de janeiro em Ajuruteua e amanhã viajo para Cuiabá. Não conheço esta cidade (uma das poucas capitais brasileiras onde nunca estive). Vou conhecer um projeto ambiental diferente e como tudo será bancado pelos patrocinadores. Vou !!
Se tudo correr bem, na próxima semana viajarei de novo. Desta vez em companhia dos filhos, aproveitando o restinho de férias dos dois. Quando eu voltar de Cuiabá decidirei !!
Viajar me leva a não pensar na doença, no tratamento, nas consultas, nos exames. Apenas deixo-me levar pelo local, pelas pessoas à volta, pelo que aprendo, pelo que reaprendo. Sinto-me sem compromisso com dietas (emmbora continue seguindo-as rigorosamente), com conversar que tenham como tema central câncer, hepatites, esteatose, quimioterapias...Apenas vivo.
Ir a eventos profissionais, por outro lado, são oportunidades únicas de você se "mostrar". Para alguém como eu que pensa em parar de trabalhar só quando a mente não mais me obedecer (o corpo até pode. Ela não !!), estar em contato com diferentes segmentos profissionais é imprescindível. Tenho que me "vender", sempre !!
Hoje vejo-me atuando em muitas outras vertentes do jornalismo. Além da Comunicação Institucional e o magistério (minhas duas grandes paixões atuais), há muito ainda por desbravar : educação à distância, jornalismo ambiental, jornalismo científico e quem sabe projetos em parceria com pessoas que também estão em busca do novo, do desafio, do ousado. Por isso eu vou !!!
Espero não ficar muito tempo sem escrever aqui, até porque levarei meu inseparável laptop. Mas como tudo é sempre uma grande surpresa, talvez o tempo fique escasso. Sendo assim, paciência aos meus leitores assíduos. Nada demais aconteceu, apenas estou um pouco distante de Belém.
Até a volta !!
Renovo-me.
Durante muito anos deixei que o medo me dominasse e me impedisse de viajar. Pavor de andar de avião, medo de barcos, temores em demasia pelo carro ou ônibus e as oportunidades de viagem sendo adiadas, canceladas ou mentirosamente impedidas. Sim, sempre tinha uma boa desculpa para não ir.
Felizmente mudei. Hoje consigo enfrentar o medo (ele ainda existe e é enorme !!), mesmo que conte com a ajuda prestimosa do Lexotan. Não mais rejeito convites, não mais encontro desculpas evasivas para não ir.
No início da segunda quinzena de dezembro estive em Brasília e Pirinópolis; no final de dezembro e primeiros dias de janeiro em Ajuruteua e amanhã viajo para Cuiabá. Não conheço esta cidade (uma das poucas capitais brasileiras onde nunca estive). Vou conhecer um projeto ambiental diferente e como tudo será bancado pelos patrocinadores. Vou !!
Se tudo correr bem, na próxima semana viajarei de novo. Desta vez em companhia dos filhos, aproveitando o restinho de férias dos dois. Quando eu voltar de Cuiabá decidirei !!
Viajar me leva a não pensar na doença, no tratamento, nas consultas, nos exames. Apenas deixo-me levar pelo local, pelas pessoas à volta, pelo que aprendo, pelo que reaprendo. Sinto-me sem compromisso com dietas (emmbora continue seguindo-as rigorosamente), com conversar que tenham como tema central câncer, hepatites, esteatose, quimioterapias...Apenas vivo.
Ir a eventos profissionais, por outro lado, são oportunidades únicas de você se "mostrar". Para alguém como eu que pensa em parar de trabalhar só quando a mente não mais me obedecer (o corpo até pode. Ela não !!), estar em contato com diferentes segmentos profissionais é imprescindível. Tenho que me "vender", sempre !!
Hoje vejo-me atuando em muitas outras vertentes do jornalismo. Além da Comunicação Institucional e o magistério (minhas duas grandes paixões atuais), há muito ainda por desbravar : educação à distância, jornalismo ambiental, jornalismo científico e quem sabe projetos em parceria com pessoas que também estão em busca do novo, do desafio, do ousado. Por isso eu vou !!!
Espero não ficar muito tempo sem escrever aqui, até porque levarei meu inseparável laptop. Mas como tudo é sempre uma grande surpresa, talvez o tempo fique escasso. Sendo assim, paciência aos meus leitores assíduos. Nada demais aconteceu, apenas estou um pouco distante de Belém.
Até a volta !!
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Voltando à rotina
Agora que o período de comprar presentes, escolher a roupa branca, arrumar e desarrumar as malas passou, pouco a pouco a rotina se apossa de nós. Já não tão novo, 2008 começa para mim com novos exames médicos. Uma ultrassografia do fígado, um monte laboratorial e a antiga “chapa do pulmão”. Embora não tenha os laudos definitivos na mão, o que ouvi do radiologista foi prenúncio de um novo ano mais saudável: meu fígado está totalmente regenerado, novo em folha. Mereci até elogios por ter conseguido um auto-controle invejável mesmo com tantas viagens (Brasília, Pirinópolis, Ajuruteua) festas, confraternizações.
Acredito que em breve, finalmente, será marcada a nova cirurgia. Aquela que fará a pesquisa nos lifonodos, a que avaliará o grau do meu câncer, a que definirá o tipo de tratamento que farei. É que existe uma grande diversidade de tratamentos: a quimio vermelha, a amarela, a branca; número de sessões; tipos de aplicação e o que mais me assusta: as mais diferentes reações. Efeitos colaterais antagônicos.
Há pessoas que ticam tão debilitadas que precisam ser hospitalizadas. Outras, contudo, tomam e saem caminhando e só não vão ao shopping porque são proibidas pelos médicos. Após uma quimio, com a baixa imunológica muito acentuada, contato com multidões só depois de alguns dias.
A espera pelos resultados me dá mais uma semana livre e que pretendo utilizar viajando. Espero conseguir sair de Belém, ir conhecer trabalhos interessantes de jornalismo ambiental e esperar o dia da hospitalização chegar. Estar em atividade me ajuda a não pensar na anestesia, no pós-operatório, na mutilação, na plástica e depois nas quimios, rádios etc...
Preciso ocupar a mente e o corpo. Cansá-los saudavelmente e dessa forma não me estressar, não me aborrecer e continuar acreditando que isso é só uma fas. Tenho repetido com muita freqüência a muitas pessoas que já me sinto outra pessoa. Na verdade, as pessoas mais próximas e observadoras já perceberam essa mudança. A minha cunhada )Dóris)que mora em Leme (SP) disse que estou mais... mais... mais ..
Pode ser.. Deve ser...
Sinto-me privilegiada por estar tendo uma outra oportunidade, talvez a mais importante da minha vida. Sinto-me mais apegada a ela, querendo desfrutar de tudo o que deixei passar, ser ainda mais intensa ao viver, não deixar que tão pouco ocupe espaço do tão importante, do essencial.
O trabalho, as viagens a trabalho, o novo calendário, as pessoas retornando a seus postos. O mundo volta à normalidade.
No quarto, a pequena sacola se mantém arrumada há três meses. Camisolas abertas na frente, desodorante, sandálias baixas, calcinhas novas e confortáveis, colônia. Tudo à espera do dia em que finalmente voltarei ao hospital.
Que não demore muito....
Acredito que em breve, finalmente, será marcada a nova cirurgia. Aquela que fará a pesquisa nos lifonodos, a que avaliará o grau do meu câncer, a que definirá o tipo de tratamento que farei. É que existe uma grande diversidade de tratamentos: a quimio vermelha, a amarela, a branca; número de sessões; tipos de aplicação e o que mais me assusta: as mais diferentes reações. Efeitos colaterais antagônicos.
Há pessoas que ticam tão debilitadas que precisam ser hospitalizadas. Outras, contudo, tomam e saem caminhando e só não vão ao shopping porque são proibidas pelos médicos. Após uma quimio, com a baixa imunológica muito acentuada, contato com multidões só depois de alguns dias.
A espera pelos resultados me dá mais uma semana livre e que pretendo utilizar viajando. Espero conseguir sair de Belém, ir conhecer trabalhos interessantes de jornalismo ambiental e esperar o dia da hospitalização chegar. Estar em atividade me ajuda a não pensar na anestesia, no pós-operatório, na mutilação, na plástica e depois nas quimios, rádios etc...
Preciso ocupar a mente e o corpo. Cansá-los saudavelmente e dessa forma não me estressar, não me aborrecer e continuar acreditando que isso é só uma fas. Tenho repetido com muita freqüência a muitas pessoas que já me sinto outra pessoa. Na verdade, as pessoas mais próximas e observadoras já perceberam essa mudança. A minha cunhada )Dóris)que mora em Leme (SP) disse que estou mais... mais... mais ..
Pode ser.. Deve ser...
Sinto-me privilegiada por estar tendo uma outra oportunidade, talvez a mais importante da minha vida. Sinto-me mais apegada a ela, querendo desfrutar de tudo o que deixei passar, ser ainda mais intensa ao viver, não deixar que tão pouco ocupe espaço do tão importante, do essencial.
O trabalho, as viagens a trabalho, o novo calendário, as pessoas retornando a seus postos. O mundo volta à normalidade.
No quarto, a pequena sacola se mantém arrumada há três meses. Camisolas abertas na frente, desodorante, sandálias baixas, calcinhas novas e confortáveis, colônia. Tudo à espera do dia em que finalmente voltarei ao hospital.
Que não demore muito....
domingo, 6 de janeiro de 2008
Mais Ajuruteua
O tema ainda não se esgotou. Foi bom demais e ainda está muito latente, presente para ter um ponto final. Mesmo com os rastros dos homens que marcaram sua estada com cocos, garrafas, sacos plásticos e latinhas em abundância na praia ou a poluição sonora em total desrespeito ao gosto musical de cada um ou à sensibilidade auditiva particular, Ajuruteua continua linda.
Quem se dispuser, como eu, a caminhar um pouco dará de cara com cenários indescritíveis como o grande lago que ainda abriga um velho navio afundado, diz a lenda, no início do século passado com todos mortos. A água salobra, calma convidou-me a fazer o que raramente consigo: banhar-me .. Areia limpa, fina, voando ao bel prazer do vento.
Andando no sentido contrário, mais beleza. Ali a natureza é mais evidente. Já destruiu e continua destruindo as casas que estavam na praia. Implacável em sua fúria vai e quando volta deixa rastros de destruição que só mais tarde são contabilizados. Madeiras se misturam às ondas e um esqueleto surge no lugar da casa antes de pé.
Andando ... andando ... e se descobre mais belezas já distantes das aparelhagens de som instaladas no lugar dos bancos traseiros ou das malas dos carros.
No domingo, almoçamos em um bar exótico. Tudo é exótico no lugar, a começar pelo garçom. Um carioca de mais ou menos 40 anos, bronzeado e que aborda as pessoas na praia assim: - Quer almoçar comigo hoje ? É claro que é pago, mas acabamos caindo no marketing personalizado, inteligente e carinhoso. Ao final do filé de pescada amarela ensopada e deliciosa, marcamos de sair de madrugada para ver a revoada de garças e guarás, o mangal acordando e presenciar uma das mais belas cenas que já vi na vida: o sol nascendo de dentro das águas de Ajuruteua (isso faz muito tempo !!!). Às três horas da manhã estávamos apostos aguardando, mas uma chuva torrencial cancelou nossos planos. Inconformados, voltamos à cama. O sol não nasceu feliz, sorridente no último dia de 2007 e nós acordamos bem mais tarde.....
A chuva veio, lavou a praia (levando boa parte da sujeira deixada pelos visitantes) e também me deu a sensação de estar levando tudo de ruim que por ventura 2007 tenha trazido. Roupa branca, flores para Yemanjá, sete ondas, lentilha e 2008 chegou.
Fogos, abraços, espumante e muitas lágrimas.
Chorei demais ...
Chorei pelo que vivi e pelo que deixei de viver.
Por tudo que não tive coragem de experimentar, de dizer, de realizar
Pelos sustos que poderiam ser mais homeopáticos
Ou pelos que apenas criei
Chorei demais ... Incontrolavelmente
Pelo feito e desfeito, pela ansiedade e pela alegria de estar viva
Pela expectativa de continuar viva, de viver melhor
Chorei demais ...
Nos abraços e braços dos amigos, filhos, marido, mãe, tia
Nos braços dos que ali não estavam, mas que sei também pensavam em mim
Chorei demais ...
De saudade de 2007
De esperança em 2008
Quem se dispuser, como eu, a caminhar um pouco dará de cara com cenários indescritíveis como o grande lago que ainda abriga um velho navio afundado, diz a lenda, no início do século passado com todos mortos. A água salobra, calma convidou-me a fazer o que raramente consigo: banhar-me .. Areia limpa, fina, voando ao bel prazer do vento.
Andando no sentido contrário, mais beleza. Ali a natureza é mais evidente. Já destruiu e continua destruindo as casas que estavam na praia. Implacável em sua fúria vai e quando volta deixa rastros de destruição que só mais tarde são contabilizados. Madeiras se misturam às ondas e um esqueleto surge no lugar da casa antes de pé.
Andando ... andando ... e se descobre mais belezas já distantes das aparelhagens de som instaladas no lugar dos bancos traseiros ou das malas dos carros.
No domingo, almoçamos em um bar exótico. Tudo é exótico no lugar, a começar pelo garçom. Um carioca de mais ou menos 40 anos, bronzeado e que aborda as pessoas na praia assim: - Quer almoçar comigo hoje ? É claro que é pago, mas acabamos caindo no marketing personalizado, inteligente e carinhoso. Ao final do filé de pescada amarela ensopada e deliciosa, marcamos de sair de madrugada para ver a revoada de garças e guarás, o mangal acordando e presenciar uma das mais belas cenas que já vi na vida: o sol nascendo de dentro das águas de Ajuruteua (isso faz muito tempo !!!). Às três horas da manhã estávamos apostos aguardando, mas uma chuva torrencial cancelou nossos planos. Inconformados, voltamos à cama. O sol não nasceu feliz, sorridente no último dia de 2007 e nós acordamos bem mais tarde.....
A chuva veio, lavou a praia (levando boa parte da sujeira deixada pelos visitantes) e também me deu a sensação de estar levando tudo de ruim que por ventura 2007 tenha trazido. Roupa branca, flores para Yemanjá, sete ondas, lentilha e 2008 chegou.
Fogos, abraços, espumante e muitas lágrimas.
Chorei demais ...
Chorei pelo que vivi e pelo que deixei de viver.
Por tudo que não tive coragem de experimentar, de dizer, de realizar
Pelos sustos que poderiam ser mais homeopáticos
Ou pelos que apenas criei
Chorei demais ... Incontrolavelmente
Pelo feito e desfeito, pela ansiedade e pela alegria de estar viva
Pela expectativa de continuar viva, de viver melhor
Chorei demais ...
Nos abraços e braços dos amigos, filhos, marido, mãe, tia
Nos braços dos que ali não estavam, mas que sei também pensavam em mim
Chorei demais ...
De saudade de 2007
De esperança em 2008
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
Ainda Ajuruteua
Agora sim... Vejo o mar. Lindo !! A perder de vista. Poucos carros ainda. É sábado, a maioria ainda trabalha. Os vendedores de caranguejo passam, sem pressa, oferecendo uma “cambada” – vários amarrados em um fio (barbante). São dez, doze, por apenas cinco reais. Gordos, fresquinhos, mas fora do meu cardápio.
A pousada simples é bem em frente à praia. Basta abrir a janela e se esbaldar com tanto azul. A poucos metros dali, a casa do Fernando e da Sandra, cunhado e irmãos da Sula, amiga de tantas décadas que faz parte da minha história, com quem dividi apartamento, participei como coadjuvante dos primeiros anos de seu filho, hoje um homem, o Ivan. Lá também estava a tia Jorgete, irmã da mamãe. Na verdade a única tia que tive de verdade.A enorme e avarandada casa também reunia muitos jovens. Um bom reduto para que o meu adolescente Raul se sentisse entre pares e me surpreendesse como um aborrecente agressivo, malcriado e cheio de vontades.
Confesso que ainda não estava pronta para lidar com um filho mais adulto, determinado e sentindo-se injustiçado e por isso injusto em suas avaliações e conclusões.
Nada do que venha dos jovens me surpreende. Fui intensamente jovem. Vivi tudo o que tinha direito, não deixei nada para depois. Mas ser mãe de um jovem é diferente.
O famoso e cantado em verso e prosa, conflito de gerações. Falamos em outro tom. O tom da sabedoria, do incontestável, do domínio. Não é conversa, é determinação. Pensamos que dialogamos, mas tudo não passa de um monólogo. Já decidimos o que é certo e o que é errado. Impossível não haver conflito.
Isso tudo se acrescente a minha sensibilidade à flor da pele. Por tudo o que tenho vivido recentemente. Pelo dito e não dito, as lágrimas parecem que estão à espreita, aguardando apenas que eu pressione os olhos para molharem meu rosto. Tudo é sempre demais. As doses são sempre cavalares. As banalidades tornam-se grandes verdades e as filigranas transformam-se em tonéis de tormentas, agigantadas pela ansiedade do desconhecido.
Não foi bom o que senti. Talvez esteja precisando mais de colo do que de explosões hormonais, mas o mundo (e as pessoas, os filhos, principalmente) não parou apenas porque estou vivendo uma etapa de minha vida complicada e querendo mais atenção, mais compreensão, mais colo.
Preciso entender que sou apenas mais uma neste imenso universo, independente da minha fragilidade atual. É o plágio a Oscar Niemeyer. Sou pequena demais diante desse céu estrelado ou dessa imensidão do mar. Quase insignificante. A minha dor é minha. Só minha. Só eu entendo a sua extensão, a sua amplitude. Só eu sei dos meus pensamentos, angústias, medos e também dos meus sonhos, planos, desejos....
Aprendi um pouco mais neste início/final de ano. Mesmo que tenha doído, mas certamente aprendi que o bebezão está ficando um homem e crescer quase sempre dói.
A pousada simples é bem em frente à praia. Basta abrir a janela e se esbaldar com tanto azul. A poucos metros dali, a casa do Fernando e da Sandra, cunhado e irmãos da Sula, amiga de tantas décadas que faz parte da minha história, com quem dividi apartamento, participei como coadjuvante dos primeiros anos de seu filho, hoje um homem, o Ivan. Lá também estava a tia Jorgete, irmã da mamãe. Na verdade a única tia que tive de verdade.A enorme e avarandada casa também reunia muitos jovens. Um bom reduto para que o meu adolescente Raul se sentisse entre pares e me surpreendesse como um aborrecente agressivo, malcriado e cheio de vontades.
Confesso que ainda não estava pronta para lidar com um filho mais adulto, determinado e sentindo-se injustiçado e por isso injusto em suas avaliações e conclusões.
Nada do que venha dos jovens me surpreende. Fui intensamente jovem. Vivi tudo o que tinha direito, não deixei nada para depois. Mas ser mãe de um jovem é diferente.
O famoso e cantado em verso e prosa, conflito de gerações. Falamos em outro tom. O tom da sabedoria, do incontestável, do domínio. Não é conversa, é determinação. Pensamos que dialogamos, mas tudo não passa de um monólogo. Já decidimos o que é certo e o que é errado. Impossível não haver conflito.
Isso tudo se acrescente a minha sensibilidade à flor da pele. Por tudo o que tenho vivido recentemente. Pelo dito e não dito, as lágrimas parecem que estão à espreita, aguardando apenas que eu pressione os olhos para molharem meu rosto. Tudo é sempre demais. As doses são sempre cavalares. As banalidades tornam-se grandes verdades e as filigranas transformam-se em tonéis de tormentas, agigantadas pela ansiedade do desconhecido.
Não foi bom o que senti. Talvez esteja precisando mais de colo do que de explosões hormonais, mas o mundo (e as pessoas, os filhos, principalmente) não parou apenas porque estou vivendo uma etapa de minha vida complicada e querendo mais atenção, mais compreensão, mais colo.
Preciso entender que sou apenas mais uma neste imenso universo, independente da minha fragilidade atual. É o plágio a Oscar Niemeyer. Sou pequena demais diante desse céu estrelado ou dessa imensidão do mar. Quase insignificante. A minha dor é minha. Só minha. Só eu entendo a sua extensão, a sua amplitude. Só eu sei dos meus pensamentos, angústias, medos e também dos meus sonhos, planos, desejos....
Aprendi um pouco mais neste início/final de ano. Mesmo que tenha doído, mas certamente aprendi que o bebezão está ficando um homem e crescer quase sempre dói.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
2007 ?? 2008 ???
Os cinco últimos dias (três de 2007 e os dois primeiros de 2008) ficaram tão entrelaçados que nem sei exatamente onde um começou e o outro terminou ou vice-versa. Primeiro, mal tinha chegado de viagem (Brasília e Pirinópolis) e já estava arrumando de novo as malas, dessa vez as que incluiam rede, repelente, mosqueteiro, muita roupa de praia (minha, dos filhos, marido...), toalhas e a expectativa de percorrer quase 250 km de carro com chuva-sol-sol-chuva. Eu e toda a família (Manoel, Raul, Anaterra, mamãe e até a Miúcha, a cachorrinha que morre de solidão se a deixarmos, mesmo que ela tenha outros quatro cachorros e três gatos como companhia).
Açúcar mascavo embalado, leite de cabra na sacola, uvas, maçãs, bananas e muitos sachês de chá agrupados entre incensos, banhos do Ver-o-Peso e garrafas de sucos, vinho, refrigerantes, biscoitos e chocolates, lá fomos nós para Ajuruteua (Ajuru, da fruta que nasce abundante nas dunas e teua, cidade na língua indígena).
Uma viagem gostosa que merecerá alguns tópicos no blog. Um só texto reduziria a pó os diferentes aspectos que marcaram esses dias. Quero registrá-los, porém.
Antes de nos banharmos em suas águas azuladas e salgadas, uma paradinha obrigatória na deliciosa cidade de Bragança. Adoro Brangança !! Tenho tantas boas lembranças daquele lugar que as lágrimas foram inevitáveis. Aliás, acho que vou desidratar !! Tenho chorado demais. O médico que me acompanha diz que é normal. Será ?
Durante muitos aos a Embrapa me permitiu viajar pelos mais diversificados rincões da Amazônia. Participei de uma experiência que tentou, mais uma vez, aproximar a pesquisa da extensão rural (Emater) e Brangança era um dos pólos desse trabalho. Lá encontrei (ou reencontrei) uma pessoa muito querida, o Fabiano Neves. Engenheiro agrônomo, alto, forte (ou será sensualmente gordo ?), olhos verdes que conheci na minha juventude e por quem alimentei um amor platônico durante anos. Ele nem olhava para mim. Era assediado demais, bonito demais. Uma amizade que foi retomada depois de mais de 15 anos sem nenhum contato e que cresceu, se fortaleceu, mas que foi interrompida bruscamente pela sua morte prematura vítima de uma pancreatite. Rever Bragança, o Rex Bar onde tomamos tantas cervejas e comemos tantos caranguejos chegou a doer. Ouvi seu riso, sua voz debochada, irônica e senti seu forte abraço a cada reencontro, a cada partida.
Revi ainda a pracinha da Matriz, a Rádio Educadora onde estive tantas vezes, a área urbanizada próxima ao rio Caeté, a estradinha que nos levou aos campos, ao Acarijó, comunidades que participavam da experiência.
Bragança está mais bonita, mais moderna.
Mas Ajuruteua era o nosso destino e outras paisagens nos aguardavam.
Umas lindas, outras deprimentes. O mangal, onde a vida pulsa, um dos ecossistemas mais completos, sofre e emite cheiros de defunto, de morte. O homem entrou, mudou seu curso e o transformou em árvores secas, raízes expostas como feridas sem cura e a vida se mudou dali. Os caranguejos foram embora, as garças passeiam cansadas em busca de alimentos e os guarás, com suas penas de um vermelho intenso lindo, nem comparecem.
Mas de repente, mais adiante, ele renasce. Teimoso, persistente. Lá estão de novo os caranguejos que desaparecem na lama ao som do motor do carro; os guarás que buscam seu alimento na microfauna e as garças abundantes que mancham de branco o verde das árvores.
Cortando os mangais, além das estradas que o homem separou e os empobreceu, estão os rios e as pontes de madeira (apenas a maior é de concreto). Velocidade quase zero, muito cuidado e o barulho da madeira que se move em nossos pés. Lá embaixo mais beleza, mais natureza. Aqui e ali um barco, um pescador que descansa enquanto a maré não sobe.
Isso ainda é só o percurso dos 20,30 km que separam Bragança de Ajuruteua...
Escrevei mais, bem mais. Um só texto é pouco...
Foi tudo de bom, de mal, de bom-ruim-ruim-bom, de intenso, de gostoso, de surpreendente....
Ainda estamos em 2007 !!
Açúcar mascavo embalado, leite de cabra na sacola, uvas, maçãs, bananas e muitos sachês de chá agrupados entre incensos, banhos do Ver-o-Peso e garrafas de sucos, vinho, refrigerantes, biscoitos e chocolates, lá fomos nós para Ajuruteua (Ajuru, da fruta que nasce abundante nas dunas e teua, cidade na língua indígena).
Uma viagem gostosa que merecerá alguns tópicos no blog. Um só texto reduziria a pó os diferentes aspectos que marcaram esses dias. Quero registrá-los, porém.
Antes de nos banharmos em suas águas azuladas e salgadas, uma paradinha obrigatória na deliciosa cidade de Bragança. Adoro Brangança !! Tenho tantas boas lembranças daquele lugar que as lágrimas foram inevitáveis. Aliás, acho que vou desidratar !! Tenho chorado demais. O médico que me acompanha diz que é normal. Será ?
Durante muitos aos a Embrapa me permitiu viajar pelos mais diversificados rincões da Amazônia. Participei de uma experiência que tentou, mais uma vez, aproximar a pesquisa da extensão rural (Emater) e Brangança era um dos pólos desse trabalho. Lá encontrei (ou reencontrei) uma pessoa muito querida, o Fabiano Neves. Engenheiro agrônomo, alto, forte (ou será sensualmente gordo ?), olhos verdes que conheci na minha juventude e por quem alimentei um amor platônico durante anos. Ele nem olhava para mim. Era assediado demais, bonito demais. Uma amizade que foi retomada depois de mais de 15 anos sem nenhum contato e que cresceu, se fortaleceu, mas que foi interrompida bruscamente pela sua morte prematura vítima de uma pancreatite. Rever Bragança, o Rex Bar onde tomamos tantas cervejas e comemos tantos caranguejos chegou a doer. Ouvi seu riso, sua voz debochada, irônica e senti seu forte abraço a cada reencontro, a cada partida.
Revi ainda a pracinha da Matriz, a Rádio Educadora onde estive tantas vezes, a área urbanizada próxima ao rio Caeté, a estradinha que nos levou aos campos, ao Acarijó, comunidades que participavam da experiência.
Bragança está mais bonita, mais moderna.
Mas Ajuruteua era o nosso destino e outras paisagens nos aguardavam.
Umas lindas, outras deprimentes. O mangal, onde a vida pulsa, um dos ecossistemas mais completos, sofre e emite cheiros de defunto, de morte. O homem entrou, mudou seu curso e o transformou em árvores secas, raízes expostas como feridas sem cura e a vida se mudou dali. Os caranguejos foram embora, as garças passeiam cansadas em busca de alimentos e os guarás, com suas penas de um vermelho intenso lindo, nem comparecem.
Mas de repente, mais adiante, ele renasce. Teimoso, persistente. Lá estão de novo os caranguejos que desaparecem na lama ao som do motor do carro; os guarás que buscam seu alimento na microfauna e as garças abundantes que mancham de branco o verde das árvores.
Cortando os mangais, além das estradas que o homem separou e os empobreceu, estão os rios e as pontes de madeira (apenas a maior é de concreto). Velocidade quase zero, muito cuidado e o barulho da madeira que se move em nossos pés. Lá embaixo mais beleza, mais natureza. Aqui e ali um barco, um pescador que descansa enquanto a maré não sobe.
Isso ainda é só o percurso dos 20,30 km que separam Bragança de Ajuruteua...
Escrevei mais, bem mais. Um só texto é pouco...
Foi tudo de bom, de mal, de bom-ruim-ruim-bom, de intenso, de gostoso, de surpreendente....
Ainda estamos em 2007 !!
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