Faltam poucas horas para o dia que espero há cerca de quatro meses. Ainda estou confusa, mas calma. A solidariedade e manifestações de amizade e carinho têm me alimentado e me levado a crer que tudo passará, que é só um momento. Como diz o amigo, “É SÓ UM TRATAMENTO!"
O dia hoje incluiu uma ida ao salão de beleza para cuidar das unhas (quanto tempo ficarei sem freqüentá-lo ?) e cortar um pouco mais o cabelo. Não quero ter trabalho durante a convalescença e nem ficar tão chocada quando ele começar a cair.
Logo após o almoço, supermercado. Ficarei inativa, mas os filhos, a mãe, o marido, os animais da casa continuarão suas vidas, continuarão almoçando, jantando... Como dona-de-casa era necessário deixar tudo organizado.
A roda-viva não pára...
Depois o contato mais direto com a realidade que amanhã vivenciarei mais de perto. Um dos exames preparatórios que permitirá a localização com exatidão e rapidez dos lifonodos me levou a salas de exames, aparelhos ultra sofisticados, sons desconhecidos e uma sensação de que agora é impossível voltar atrás.
A garantia anterior é que era um exame simples, quase indolor. Mas como ser indolor se uma grande agulha é introduzida no seio e o líquido (contraste) se espalha como fogo em todo a sua extensão? Muita dor e uma espera de 30/40 minutos enquanto massageava o local para que o produto se espalhasse. Até a volta aos equipamentos com aparência de laboratórios espaciais típicos da medicina nuclear, que localizaram os lifonodos. Primeiro passo exitoso para amanhã.
Durante os 30 minutos de espera e angústia acabei pedindo socorro. Sozinha naquela sala me senti perdida e triste. Liguei para algumas pessoas em busca de consolo, de carinho, de força. O ambiente que me colocou frente à frente com o inevitável é mais assustador que a própria doença. Pessoas que denotam o quanto estão sendo devoradas pela doença ou outras pesarosas,sorumbáticas pela convivência tão próxima e constante com a morte.
Ainda fui à clínica de cirurgia plástica. Menos mal. Cinqüentonas, sessentonas com butox ou ainda caminhando com dificuldade denunciavam as plásticas. Eu também farei uma amanhã, Na verdade o que mais demorará: a reconstrução da mama esquerda, que já teve uma parte retirada e a plástica simples na direita para que haja uma simetria entre as duas. Depois da consulta com a cirurgiã, deixei o consultório com o Raul toda marcada de caneta. Parecia que iria a uma cerimônia indígena. Mesmo assim fomos ao Hiper Líder jantar. Alguém reparou ? nem notei.
Tenho dito com humor que tudo isso tem me trazido muitos ganhos. Nunca vi essa pedra no meu caminho como um castigo ou algo similar. Mas como algo que chegou para me renovar e entre tudo de bom que tenho exercitado, inclusive o medo que depois se transforma em um suave e relaxante alívio, estão os seios novos.
Ao contrário do olhar cabisbaixo, sempre voltado ao chão, eles em breve terão um olhar soberbo, austero. Olharão nos olhos...
Brincadeiras à parte, tentativas de afastar do pensamento que os riscos são grandes, que não farei apenas uma plástica estética, mas uma pesquisa dos lifonodos que definirão com precisão meu tipo de câncer, o nível de comprometimento dessas glândulas da axila, enfim, o que terei que viver depois, além, evidentemente, do que sempre significou um ato cirúrgico: risco de morte. Mas o risco está em todos os lugares, infelizmente: no acidente de trânsito, no assalto, na bala perdida, no aneurisma silencioso, no infarto fulminante, na pancreatite que não perdoa.
E nada (NADA !!!) é mais compensador do que se saber querida, amada, respeitada. Que a torcida é verdadeira, carinhosa e chegam de pessoas que nunca imaginei um dia poderia ter algum significado. Tenho recebido manifestações de pessoas que cultuam os mais diferentes deuses, que têm as mais diversas crenças (evangélicos, católicos, espíritas, umbandistas, judeus), todos emanados no que é fundamental para mim: a energia positiva, profunda, sincera.
Quero continuar bem amanhã como estou agora e que logo logo possa estar de volta aqui, conversando com os amigos reais ou virtuais; os que estão aqui em Belém ou mais distantes (têm alguns que distam mais de 3 mil km, mas que sinto tão próximos... bem aqui...).
Ahhh como espero que isso aconteça....
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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3 comentários:
Ah, isso eu quero ver!!!!
Ruth, você vai botar a foto dos novos seios soberbos e austeros no blog pra gente ver?!
Bota vai!!!!
beijão, meu amor!
Soraya
Querida Ruth,
Hoje depois da ligação do Manoel, não aguentei a noticia e não segurei a emoção. Foi a melhor notícia que recebí dos últimos anos. Fiquei muito feliz, feliz mesmo, graças a Deus, que tudo ocorreu bem, sem grandes danos. Uma boa noite para você. Saiba que Deus estará sempre ao seu lado, em qualquer ocasião.
Beijos
Giséle, Abner, Adrya, Clara e marlene (minha mãe)
Rutíssima,
Minhas orações são, tbem, por você!!!!!
Beijo grande
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