O tema ainda não se esgotou. Foi bom demais e ainda está muito latente, presente para ter um ponto final. Mesmo com os rastros dos homens que marcaram sua estada com cocos, garrafas, sacos plásticos e latinhas em abundância na praia ou a poluição sonora em total desrespeito ao gosto musical de cada um ou à sensibilidade auditiva particular, Ajuruteua continua linda.
Quem se dispuser, como eu, a caminhar um pouco dará de cara com cenários indescritíveis como o grande lago que ainda abriga um velho navio afundado, diz a lenda, no início do século passado com todos mortos. A água salobra, calma convidou-me a fazer o que raramente consigo: banhar-me .. Areia limpa, fina, voando ao bel prazer do vento.
Andando no sentido contrário, mais beleza. Ali a natureza é mais evidente. Já destruiu e continua destruindo as casas que estavam na praia. Implacável em sua fúria vai e quando volta deixa rastros de destruição que só mais tarde são contabilizados. Madeiras se misturam às ondas e um esqueleto surge no lugar da casa antes de pé.
Andando ... andando ... e se descobre mais belezas já distantes das aparelhagens de som instaladas no lugar dos bancos traseiros ou das malas dos carros.
No domingo, almoçamos em um bar exótico. Tudo é exótico no lugar, a começar pelo garçom. Um carioca de mais ou menos 40 anos, bronzeado e que aborda as pessoas na praia assim: - Quer almoçar comigo hoje ? É claro que é pago, mas acabamos caindo no marketing personalizado, inteligente e carinhoso. Ao final do filé de pescada amarela ensopada e deliciosa, marcamos de sair de madrugada para ver a revoada de garças e guarás, o mangal acordando e presenciar uma das mais belas cenas que já vi na vida: o sol nascendo de dentro das águas de Ajuruteua (isso faz muito tempo !!!). Às três horas da manhã estávamos apostos aguardando, mas uma chuva torrencial cancelou nossos planos. Inconformados, voltamos à cama. O sol não nasceu feliz, sorridente no último dia de 2007 e nós acordamos bem mais tarde.....
A chuva veio, lavou a praia (levando boa parte da sujeira deixada pelos visitantes) e também me deu a sensação de estar levando tudo de ruim que por ventura 2007 tenha trazido. Roupa branca, flores para Yemanjá, sete ondas, lentilha e 2008 chegou.
Fogos, abraços, espumante e muitas lágrimas.
Chorei demais ...
Chorei pelo que vivi e pelo que deixei de viver.
Por tudo que não tive coragem de experimentar, de dizer, de realizar
Pelos sustos que poderiam ser mais homeopáticos
Ou pelos que apenas criei
Chorei demais ... Incontrolavelmente
Pelo feito e desfeito, pela ansiedade e pela alegria de estar viva
Pela expectativa de continuar viva, de viver melhor
Chorei demais ...
Nos abraços e braços dos amigos, filhos, marido, mãe, tia
Nos braços dos que ali não estavam, mas que sei também pensavam em mim
Chorei demais ...
De saudade de 2007
De esperança em 2008
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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