Como é ruim ratificar que a minha Belém querida está tão distante do bom, da modernidade, carente de quase tudo, do básico como a saúde. Eu já sabia disso há muito tempo. Sofri, vivenciei, presenciei o quê de mais revoltante pode ser o desrespeito com o ser humano e principalmente aquele doente, fragilizado por um mal incontrolável e assustador como o câncer. Tudo detalhadamente registrado aqui neste blog, mas nem por isso deixo de me revoltar, de me sentir impotente diante de dois mundos tão diferentes, divididos pela proximidade ou distância da linha do Equador.
Depois de quase três meses da decisão tresloucada de deixar minha terra natal e recomeçar a vidaa mais de 3 mil km, mesmo sem ter um direção mais precisa do que me aguardava, de novo volto os olhos para mim mesma. Preciso me cuidar, ficar alerta a qualquer sinal emanado do meu corpo, ler o aviso implícito em uma sutil mudança que pode ser um aviso, um alerta.
As dores persistentes na mama esquerda, de onde foi retirado o nódulo maligno e um inesperado sangramento vaginal com fortes cólicas , surpreendente a volta da menstruação interrompida em março logo após o início do remédio contra a recidiva na mama, me assustou, trouxe de volta os mesmos medos adormecidos pelos acontecimentos mais prementes, mais urgentes.
Voltei à clínica de Campinas onde comecei o tratamento, onde me submeti à braquiterapia em julho e de novo me deparo com o atendimento, presteza, profissionalismo inusitados para os que vivem no Pará e, intimamente, desejo em silêncio que um dia meus conterrâneos tenham direito a tudo isso.
Não.. não é nada particular. Tudo pelo plano da Embrapa, assim como o que eu usava em Belém. Mas a diferença é gritante !
Cheguei na clínica por volta das 13:30h. Antes de ser consultada fiz uma ultrassom da mama. Medo, angústia... Sentia um pedaço de tecido entumescido onde doía mais. Seria um novo nódulo ? Ai meu Deus, mais uma nova cirurgia? Agora não ! Logo em seguida o ginecologista/mastologista, um senhor divertido e muito experiente, me chama e diz que não devo me preocupar. Ele já estava com o laudo do mastologista na mão ! Explica que a mama fora muito agredida. Duas cirurgia e mais a braquiterapia podem ter causado todo o trauma que tanto me incomoda hoje a ponto de dificultar de dormir de bruços. Mas tinha ainda o sangramento... Semblante preocupado, afinal o câncer no endométrio pode acontecer depois do da mama, facilitado pelo remédio que tomarei durante cinco anos. Nova agradável surpresa: ele chama a atendente e diz que precisa de uma ultrassom vaginal naquele momento. Só o tempo de pedir autorização pelo telefone à Unimed e eu já estava de volta à sala de ultrassonografia. O incômodo e constrangedor exame começa a me desvendar intimamente. Mexe daqui, cutuca dali e as descobertas vão se enumerando: um cisto no ovário esquerdo e quatro miomas no útero, mas nada que seja preocupante ,segundo o médico. Confiei nele, acreditei no que disse. Preciso apenas de acompanhamento constante, avaliações que me permitam descobrir tumores em fase inicial se eles acontecerem novamente e três preciosas e difíceis recomendações: muita atividade física, alimentação moderada e uma cabeça leve, serena, tranqüila, em paz. Fácil ? Nem um pouco ! Mas nada impossível. Saí de lá com a receita para caso surgissem novas dores ou sangramentos e uma espécie de agenda para registrar quaisquer alterações menstruais. A explicação técnica é que em alguns casos a menopausa só se concretiza em muitos meses.
Inevitável não comparar com a realidade em Belém. Quanto tempo eu aguardaria pela consulta ? E os exames ? Mais um bom tempo certamente para apanhar os resultados e nova espera para retornar ao médico. Uma semana, um mês, dois meses ? Em uma tarde fiz tudo e saí de lá tranqüila, feliz com a possibilidade de viver os próximos meses sem o fantasma do câncer me perseguindo, me seguindo.
Em novembro uma nova avaliação em Campinas. Mastologista e oncologista vão me vasculhar com mais detalhes e, desde agora, rezo pra que nada seja encontrado.
Prossigo na academia, irei a um nutricionista nos próximos dias e tentarei buscar as diferentes maneiras de me manter distante da depressão, da tristeza. Nem sempre é possível, mas com determinação vou buscando prazeres antigos, novos e oportunidades para me fazer feliz.
Brasília me espera. Os amigos estão me acarinhando e sei que me fará bem essa viagem. Ou melhor : só idealizá-la já está fazendo !
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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Um comentário:
Oi, Ruth! Eu também já senti essa diferença de tratamento; também sonho com o dia, os novos tempos para a nossa terra paraense. Um dia quem sabe possamos nos orgulhar das diferenças, apenas climáticas, gastrômicas. Por enquanto sei muito bem do que aludes...
Recebas o meu abraço, o apoio e o carinho, mesmo distante geograficamente.
Doralice Araújo, em Curitiba
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