Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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sábado, 20 de setembro de 2008

As "meninas" estão chegando


As decisões ultimamente têm sido grandiosas. Não se limitam a optar entre ir à Estação tomar um sorvete na Cairu ou passar no Líder da Doca para fazer umas comprinhas para a semana. Já não tenho que decidir se iremos no próximo final de semana tomar uma cerveja, devidamente acompanhada de uma cerveja bem gelada em Mosqueiro ou cuidar da limpeza do quintal que está feio, cheio de mato, precisando de trato. Minhas opções agora são complexas, onerosas e quase sempre solitárias. Uma das mais recentes foi a de viabilizar a ida da minha cunhada Dóris, a quem nunca poderei pagar por tanta generosidade, a Belém, Há uma semana ela seguiu de ônibus de Leme para o terminal rodoviário de São Braz, mais de 48 horas de viagem com uma missão muito especial: trazer para perto de nós a Miúcha e a Bebel, as duas cachorrinhas “cofaps” que viviam dentro de casa com a gente. As mesmas que dormiam, nas tardes de sábado e domingo, junto com o Manoel na rede.
Será um reencontro. Estamos ansiosos como se estivessem chegando dois bebês. Cobertores foram comprados, ração, vasilhas novas e bonitas. Tudo pronto para que elas sintam-se confortavelmente em casa, mesmo que seja uma casa diferente da que estávamos todos acostumados. Bem menor, mais impessoal. Estou me controlando para não adquirir coisas demais, pra não juntar muita coisa novamente. A nossa história, como diz um grande amigo, não pode fazer relação com o material, com o físico. As lembranças, as doces recordações estão dentro de nós e nos acompanham para onde formos, independente de termos ou não algo para contemplar, tocar.
A Dóris também trará um “kit ver-o-peso” pra matar a saudade das nossas guloseimas. Polpa de cupuaçu, taperebá, maniva pré-cozida, tucupi, jambu, molho de pimento , bombons de cupuaçu e muito cheiro-do-pará. Mas o que eu mais queria não virá...
Como dói essa aproximação com o nosso mundo paraense. Fica forte demais a presença do Manoel quando estamos próximos do nosso passado. Ontem a Embrapa o homenageou novamente. A imagem de Nossa Senhora de Nazaré peregrina pela primeira vez visitou a instituição. Uma procissão que percorre o centro de pesquisa e que ele participou desde os primeiros. Se envolvia, vibrava com os fogos, com a decoração da berlinda e nos últimos anos estávamos todos lá acompanhando a santinha, pedindo sua bênção. O Círio do ano passado foi muito angustiante para todos nós. Tínhamos acabado de saber do meu câncer. Emoção, emoção e mais emoção e em silêncio sem querer preocupar o outro, nos perguntávamos se este ano eu estaria aqui para ver mais um Círio. Quanta ironia, quanta perplexidade: eu estou, mas ele não. O último círio era dele, não meu...
Não iremos este ano para Belém participar da grande procissão. Inúmeros motivos nos impedem, vão das limitações financeiras ao receio que ainda tenho do reencontro com parte da minha história. Vou entrar na casa que foi nossa, sentar na cadeira que era dele, deitar na cama que dividíamos, rever roupas, sentir cheiros, olhar fotos... aii meu Deus vai ser tão doloroso, mas será necessário muito em breve. É preciso virar essa página para que as outras não fiquem tão dependentes dela.
Mas agora o que eu quero mesmo é que as horas passem correndo e a gente possa abraçar as “meninas”. Chegarão à base de tranqüilizantes, mas logo logo vão estar latindo de felicidade com o reencontro. Também devem estar com saudades.

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