Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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sábado, 5 de abril de 2008

Os paradoxos

Após viagens, consultas, exames, tento voltar à rotina. Encarar que esse momento de minha vida será como outro qualquer, Importante, inesquecível, mas que não deve ser o único. Os bons prognósticos, as notícias alvissareiras e o que me espera aos poucos são minimizados. Ou porque de fato não são tão graves como a minha doente e criativa mente idealizaram ou porque a gente se acostuma, já vê com naturalidade o que antes parecia tão assustador, irremediável.
Mas não consigo me desligar por completo, fingir que sou a mesma pessoa.
Tive câncer na mama esquerda, tomarei o tal Tamoxifeno por cinco anos e durante outros anos passarei pela ansiedade de ter que estar procurando nódulos em outros lugares. Tento me conformar e me confortar pensando que se achei este tão pequenino escondido em muito tecido adiposo (eufemismo para comentar o excesso de gordura) sem tê-lo procurado, agora que estou decidida em me transformar em uma caçadora de câncer, não vou deixá-los em paz. Tudo farei para que, antes de amadurecerem, eu e as máquinas possamos identificá-los.
Sei agora como proceder. Onde encontrar as respostas.
Tenho vivido dois mundos diferentes nessa busca incessante. Ora nas clínicas cobertas de mármore e pessoas bem tratadas, bem vestidas ora entre macas e pessoas carentes, com fome e debilitadas.
Paradoxos que me perturbam muito.
Enquanto um dos médicos referência em câncer de mama que só atende particular e a consulta no valor de R$450,00 telefona para minha casa, a mais de três mil km, apenas para me dar uma “satisfação parcial”, comentar os resultados da revisão do nódulo, saio em seguida em busca da carteirinha do SUS para na próxima semana marcar a programação da radioterapia, rezando para que a ÚNICA existente no Pará não quebre ou que pessoas muito mais necessitadas e graves do que eu não passem de novo à minha frente.
Dois mundos que só têm em comum o câncer.
O câncer que mata, mutila, definha, mas que pode ser amenizado se o tratamento for humano, digno e menos dolorido para os que têm que conviver, pelo resto da vida com o fantasma das células que se reproduzem rápida e desordenadamente, quase sem controle em nosso corpo.
O mesmo câncer que permite que algumas (pouquíssimas !) pessoas tenham acesso aos exames mais sofisticados e que podem dar um diagnóstico mais preciso e obviamente um tratamento mais eficaz, também tem uma outra faceta. Aquela que não permite sequer o acesso aos remédios básicos, aqueles que tradicionalmente são utilizados há anos, mas que custam caro e que, por direito, todo cidadão tem direito.Muitos, porém, precisam entrar na justiça para obtê-los.
Um câncer de classe alta e outro de miseráveis. Células iguais, mas tratamentos antagônicos.
Isso tem me incomodado muito.
Estou tendo o privilégio da comparação, oportunidades abençoadas de ouvir diversas opiniões e não ter que acatar a primeira ou a segunda, nem sempre as corretas.
Não vou desistir dessa busca por mais estafante que seja. Se em Belém não encontro as respostas para as minhas perguntas, se não é na minha cidade natal que estão as maiores probabilidades de eu chegar à cura ou pelo conviver harmoniosamente com o câncer, irei onde elas estão.
Mas eu faço parte de uma minoria privilegiada. Hoje custeio idas e voltas, consultas, exames e remédios porque tive acesso às leis que regem os portadores de câncer, entre elas a liberação do FGTS. Quantos sabem disso ? quantos têm FGTS ?
Ahh como é difícil viver em um Brasil tão desigual...

Um comentário:

Unknown disse...

Verdade cunhada,mundo desigual...ei vivenciei esta essa semana,tinha uma pequena cirurgia entorno do olho esquerdo ja agendada ha mais de 30 dias pelo SUS,e nesse tempo de espera a minha carencia do convenio medico terminou,mais como ja havia agendado e estava com todos os exames em dia fui assim mesmo,para não falhar.Chegando la,o medico achou por por bem me pedir os mesmos exames de 30 dias atraz,imagina o tempo de marcar,fazer,receber,e agendar consulta,mais 30 dias,quando falei do convenio medico na mesma hora ele ligou pra atendente do consultorio particular dele e agendou pra essa terça,e aceitara os exames do SUS e farei o procedimento no consultorio,que segundo ele e muiiiiiito simples.Fiquei indignada com o mundo de pessoas que estavam la fora,a espera de atenção,cuidados,respeito mesmo...aqui em Leme a prefeitura nos da os remedios,mesmo que seja de convenios,pra quem pode pagar,mais vejo as diferenças,ehhhhhhhhhh BRASIL e boa sorte pra nos.