Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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quarta-feira, 9 de abril de 2008

O meu dia de Combate ao Câncer

Ontem, quando no Brasil todo eventos marcavam o dia de Combate ao Câncer eu tive o MEU DIA, o meu primeiro dia como portadora dessa doença.
Às 7:45h cheguei ao Hospital Ophir Loyola para fazer a programação da radioterapia e lá já encontrei várias pessoas. Um senhor com câncer na orelha, outra senhora de Paragominas com câncer no útero, outra no reto, outra de Macapá. Umas dez pessoas que ali estavam apenas para fazer a marcação do local exato em que receberíamos a radiação, um procedimento que antecede a radioterapia e que estava marcado em minha carteirinha desde o dia 24 de março.Depois é que definem quando começa a radio.
Depois de aguardar por cerca de três horas formos informados por uma atendente que nos reuniu ali mesmo no corredor, em pé em torno dela, que deveríamos ir para uma fila (lá na 14 de abril como eles se referem ao prédio que fica na outra rua mas que tem ligação interna com o central de frente para avenida Magalhães Barata) para marcar uma outra data porque o “aparelho quebrou”. Mais de 30 pessoas, quase uma hora na fila e a nova data para a programação: 17 de abril.
O tempo que passei ali, vendo o descaso com as pessoas fragilizadas pela doença (algumas, como a da foto ao lado, já andam com o travesseiro para deitar em qualquer banco, em qualquer batente. Já sabem que irão esperar demais e não suportarão em pé) e que saem de suas cidades sem nenhum apoio, dói mais do que o medo do câncer estar aproveitando essa demora e estar fazendo a festa dentro de mim. Sim, porque a radioterapia é exatamente para isso. Ela age onde existe a possibilidade de haver células cancerígenas não detectadas durante os exames. Só as pessoas que ficam com alguma parte do órgão doente fazem radio. Eu, felizmente, não tirei a mama, pude fazer a reconstrução, mas o tempo está se esgotando e preciso da radioterapia para ter mais segurança de que esse câncer não retornará. Para a mesma mama, para outra, para outro órgão. Mas quando farei ? O fato de Belém possuir apenas um aparelho não me dá nenhuma segurança de que o tratamento será eficaz.
O que tive ontem foi muita indignação, frustração, raiva com o descaso das autoridades que insistem em dizer que temos um hospital referência. Referência em que ? talvez porque usem referência como sinônimo de único.Ai têm razão. Lá não temos sequer a quem reclamar. As pessoas estão anestesiadas diante da dor dos outros, já se acostumaram, criaram uma auto-defesa para que não sofram diante dos quadros aterrorizantes que desfilam sem nenhuma privacidade pelos corredores expondo seres humanos que já nem se preocupam mais em esconder as bolsas que colhem suas fezes ou o odor de suas peles necrosadas.
Procurei então onde reclamar. Liguei para os colegas das redações, afinal havia uma grande gancho: a coincidência com o dia de combate ao câncer e sugeri a pauta. A Tv Record e o jornal O Liberal “compraram” o assunto e entrevistas foram feitas, comigo e com outros pacientes, e as explicações do colega assessor só ratifica a naturalidade: foi um problema de umidade que impediu o equipamento de funcionar, mas já estamos providenciando o conserto. Ao final a frase abominável: por que você não me procurou Ruth ?
Não o procurei porque sou paciente e não estou trabalhando, fazendo qualquer atividade relacionada ao jornalismo. Não procurei porque não concordo com os privilégios. Não procurei porque não desejo um tratamento diferenciado. Não procurei porque aquele hospital é tão meu quanto de qualquer pessoa que está ali, calada, oprimida, sem nenhuma informação sobre seus direitos. Não procurei porque ali ninguém está fazendo favor. Não procurei porque as pessoas precisam abrir os olhos e ver, com nitidez e sem querer preservar este ou aquele, que o caos está instalado e há muito tempo, mas é melhor enxergar o arco-íris e acreditar que tudo funciona a contento ou que isso é assim em todo o País, logo, nada há mais a fazer, só lamentar e se acostumar. Não procurei e não procurarei.
Acho que vou mesmo para Campinas antes que me torne grave, precise retirar a mama inteira,esvaziar a axila, fazer quimio e ser mais uma paciente em fase terminal que perambula pelo “hospital referência”.
Preciso correr ....

6 comentários:

RENATA disse...

Minha querida amiga..adorei seu blog e suas palavras..que ate me emocionaram.
Sei muito bem o que significa cada palavra que vc escreveu aqui..sobre suas apreenções ..seus medos e suas duvidas..pois passo como vc ja sabe pela mesma luta.
Quando as pessoas me falavam em amigos virtuais eu simplismente achava quase que impossivel se ter laços de amizades com pessoas que ja mais vimos..mas me enganei completamente..pois atraves dessa doença conheci pessoas maravilhosas que começaram a fazer parte da minha vida mesmo a distancia do outro lado da telinha e vc minha querida foi uma delas..queria so que soubesse que te acho uma pessoa maravilhosa e iluminada..uma verdadeira guerreira e sinto como se te conhecesse a muito tempo.
E sempre estarei aqui do outro lado da telinha para o que der e vier..tanto para dividir suas alegrias como tambem suas tristezas..um grande beijo no coração e como sempre digo qualquer coisa grita ou me mande um sinal de fumaça..bjs!!!

Anônimo disse...

Ruth querida,como entendo tua indignação,mais vistes estas vivenciando um pouco do dia a dia de milhares de pessoas por ai afora,nosso bate-papo foi muito bom,achei,e não adotei pra min o conformismo com o papo de a cada um sua sina,mais como uma gota de chuva no oceano agente tenta fazer a diferença.Fizestes ontem tua lição e muita diferença.Um beijo.

Unknown disse...

Querida amiga, seu blog é maravilhoso, mas com esse post vc ganhou ainda mais a minha admiração. Sua luz é linda e é disso que a humanidade precisa! Chega de banalizarmos as coisas, que o Mestre possa tocar no coração de cada um daqueles que têm o poder de mudar essa situação! Beijo grande.

Anônimo disse...

A gente sempre aprende muito contigo.
beijos
Ana Laura.

Ana Laura Lima disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu