De novo sinto aquela sensação ruim de que apenas meu mundo mudou. Ao meu redor ou longe de mim, a rotina é a mesma, a roda-vida gira e ninguém percebe você. É como se eu fosse uma espectadora atenta que enxerga longe, mas ninguém me vê. O filho vai à academia, conversa com os amigos; a filha à escola; o marido saí pra trabalhar sem hora pra voltar; os amigos próximos ou distantes mantêm suas atividades inabaláveis. Eu, apenas eu, não posso sair para onde quero, estou limitada à minha casa e às visitas aos consultórios e laboratórios.
Não é revolta, mas uma necessidade grande de entender o que se passa e aceitar o inevitável. Tudo é só meu. Pertence exclusivamente a mim. Ninguém entende em toda a sua dimensão por mais que se esforce, ninguém pode viver por mim.
As dores, os incômodos, os aborrecimentos, os medos, as expectativas, até as boas notícias são individuais. Não é possível ter as mesmas emoções que eu tenho. Eu choro, eu comemoro numa solidão atroz. Meu mundo !!
Não cabe auto- piedade, mas a incômoda certeza do descartável, do substituível, do quanto somos efêmeros. É a certeza da insignificância. O mundo é o mesmo, igualzinho como você o deixou antes de adoecer. O doente é você e pronto !!
Se por um lado esta constatação é dolorosa, por outro é necessária. Fica mais fácil compreender o outro, a não depender demais de atenções, não esperar demais por afagos, não criar muitas expectativas.
Sinto-me, desde o momento que entendi o que me angustiava, uma enorme leveza. Se eu morrer hoje, pouco ou quase nada mudará. Se qualquer pessoa morrer hoje, agora, o mundo será exatamente o mesmo. Choros que ficarão no passado logo em breve e tudo prosseguirá dentro da mais completa normalidade.
Talvez a prepotência que marca os homens não nos prepare para entender o quanto somos pouco. Somos apenas um ser temporário em um mundo que nem nos percebe.
Tudo isso só aumenta o meu desejo de querer viver mais ainda e aproveitar o quanto ainda tenho à minha disposição. De me perceber por mim e assim ser feliz.
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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5 comentários:
Ruth, tudo bem? olhe só: Um dia eu li na coluna do Arnaldo J. a seguinte frase: SE GOSTE.....SE BASTE, SE CURTA, SE ADMIRE POR INTEIRO, vc conseguindo , e, tendo certeza de tudo isto, sua vida mudará. A vida, me ensinou....fui no arranque, que hoje eu nao percebo mais, nao sinto solidão, ao contrário, quero ter a experiência de viver assim...EU só da EU. Espero que um dia a vida me de este presente, e seráem BRAGANÇA, perto da rádio Educadora, rsssssss bjs da sempre anamaria
Ruth,querida Ruth,doce Ruth,forte Ruth,chorona Ruth...essa nossa mundança me fez perceber nesses anos,ja se vão ai 7 anos,que nos ciamos expectavivas em relação aos outros,portanto gosto muito,muito mesmo de ficar so,adoro as horas em casa que fico comigo pra fazer o que devo e depois o que gosto,pequenas coisas,mais que no meu mundo são importântes,coisas muito simples ate.Posso falar por min,não houve um dia sequer nesses 7 anos que EU não voltasse meu pensamento em vcs,na familia minha e nossa,nos momentos de extrema alegria e descanso,eu ou Ruy pensavamos:o que fulano acharia?sera que tal pessoa gostaria?essas coisas...enfim,sei que escrever te faz bem,chorar te faz bem,ter esse tempo pra perceber as coisas obvias,sim obvias,agente tambem deixa os nossos com a sensação de abandono,na verdade não e,a VIDA amiga,alguem falou:assim caminha a humanidade.Que bela oprtunidade de sentir todos esses sentimentos,de fazer uma bela Limonada desses limões que a vida nos deu,tbem me recupero contigo,não sinto as tuas dores,mais sinto as tuas palavras e elas tem a intensidade devida no meu bem-querer por ti,sei que não e consolo,mais fica como VOYER,e assim que escreve?,como expectadora dessa magica que e ver os filhos crescerem,a benção da mãe pertinho fazendo ponto cruz rsrrsrrsr,do cumpadre no seu jeitão,dos cachorros e gatos amigos incondicionais não e?,ouve as istorias da d.Lucia,ahhhhhh...passa derrubando mais essa parede,agora mais leve,boniiiiiiiita,mais,mais,beijo Ruth.
Ruth, ha tempo não passava por aqui, talvez um reflexo disso que dizes: "a vida continua para os outros, que não estão doente".
Mas estou sempre com vc. em meus pensamentos e orações.
O dar-se conta de que somos substituiveis é doloroso , mas não é de todo ruim.
As rupturas com os filhos , são ritos de passagem em cada etapas de suas vidas (lembro do meu choro , quando deixei pela primeira vez meu filho na creche, com menos de 4 meses) e continuam por toda a vida(como agora em que vejo minha filha com o primeiro namorado, e me dou conta que já não tenho mais crianças em casa);
Missão cumprida? NUNCA ! Querer viver mais, sempre mais e melhor, é o desafio que nos impulsiona
Beijos e bençãos
Oi amiga, que lindo! Assim que tem que ser mesmo, lutar para viver e viver para lutar...Me identifiquei em cada parágrafo com o que você escreveu, saiba que estes sentimentos não são apenas seus, me sinto assim também às vezes. Um beijo e um cheiro...
Oi Ruth!
Soube agora, pelo seu sempre atualizado blog, que vc fez a cirurgia. Fico feliz com suas (grandes) vitórias!
Saudades!
Juliana Rose
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