Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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sábado, 3 de novembro de 2007

Por que falar ?

Sempre fui escancarada. Minha vida tem poucos, raríssimos segredos. Falar, escrever, comunicar, discutir, analisar, entender, conversar, ajudar, dividir são algumas das minhas ações mais rotineiras. Minhas caracterísitcas explícitas.
Sei que existem pessoas que preferem se calar, se reservar o direito de serem as únicas conhecedoras de seus íntimos. Compreendo e respeito. Eu, porém, necessito verbalizar sentimentos, apreensões, alegrias, medos. E falar da doença, especificamente do câncer, tem me ajudado a desopilar o pensamento, a organizar as emoções, a penetrar mais fundo no que me atemoriza.
Não quero piedade ou fazer um marketing pessoal em torno da doença. Fundamental neste momento é ter a exata dimensão do que ela representa em minha vida e o quanto interferirá nos meus planos, no meu futuro. Conversar com pessoas (sobretudo as da comunidade de Combate ao Câncer de Mama)tem me permitido visualizar um novo mundo. Assustador pela dor, pelas mudanças radicais que vão do visual ao social, mas proporcionalmente intenso, corajoso, superador. Ali estão pessoas que lutam contra o câncer há anos que tiveram recisivas, metástases, mutilações e que não se entregaram. Vivem cada dia como se fosse o último. Não o último de despedida, mas de renovação. Que na sua dor encontram tempo e generosidade para acalentar os outros, os que acabam de chegar, como eu, ainda perplexos por descobrir que uma doença que parecia tão distante de mim, estava se fortalecendo e crescendo em minhas entranhas.
Falo para os filhos com naturalidade. Eles têm acompanhado "pari-passo" os exames, as consultas, meus medos e conquistas. Nem mesmo minha mãe, de 72 anos, está sendo preservada. Não quero mentiras. Dos médicos quero a verdade completa mesmo que ela doa. Ao saber dos meus limites procurarei vencê-los, um a um, mas ao ignorá-los ficarei sem armas. Apática, indefesa e antecipadamente derrotada.
Meus alunos e ex-alunos sabem das idas e voltas. Das cirurgias transferidas, das complicações hepáticas. Sem pedidos de piedade. Apenas olhando nos olhos, comunicando, informando que terminarei o semestre junto com eles. O que me dá uma enorme alegria. A sinceridade de cada palavra, cada olhar me renova e me dá a certeza de que falar, dividir, me apoiar nos que estão próximos é fundamental para mim.
Para outros, enfrentar a curiosidade e até a piedade incomoda. Para mim é imprescindível sentir a solidariedade, a amizade, o carinho, a preocupação.
Preciso me aconchegar nesses colos que estão disponíveis.
Por isso eu falo ...

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