A relatividade está aí para ratificar : nada é todo ruim ou de todo bom. É claro que não posso estar abençoando descobrir que estou com um câncer, que o fantasma da doença será meu companheiro eterno, que no transcorrer dos próximos anos posso ter outras surpresas desagradáveis, que o fígado agora desnudo é frágil e não suportará mais agressões e que não terei direito mais a alguns de meus maiores prazeres: cozinhar, comer e beber em companhia de amigos e parentes. Um acontecimento quase festivo para mim. Dizem que sou boa na cozinha que meus quitutes encantam os que já tiveram o privilégio de degustar meu arroz paraense ou minha maniçoba, o cozidão de rabada e peito(famoso entre os jornalistas mais antigos)ou um vatapá, caruru, feijoada...
Rituais planejados com carinho, embalados pela MPB, principalmente o Chico Buarque, mas que abre espaço para o Chico César, João Bosco, Tim Maia, Miúcha, Tom, Caetano... Um cardápio, como dá pra perceber, fundamentado na gordura, no excesso de caloria.
Coisas do passado ...
O ruim está em pensar com mais freqüência na morte, na mutilação, nas dores, limitações. Se ter a certeza da efemeridade, de que a eternidade não é humana como algumas vezes julgamos. O presente chama-se presente porque é um PRESENTE. Ele é a nossa única certeza. O hoje.
Não vislubrar com nitidez o futuro me angustia. Como viverei, estarei, agirei daqui a seis meses, um ano ? Ahh... é angustiante demais. Justo eu que sempre gostei de me planejar com bem antecedência. Raramente faça algo por impulso. Avalio prós e contras e só aí meto a cara sem volta.
Mas o câncer veio para me dar presentes também. E ontem recebi mais um.
Por volta das 19 horas de Belém recebi um telefonema de Brasília. O grupo de colegas que como eu integra a comissão encarregada de analisar as propostas de projeto das área de Comunicação e Transferência de Tecnologia ligou para dizer que estava sentindo a minha falta e me desejar pronta recuperação. Kátia, Lineu, Araê, Sumara, Raul e Robinson me fizeram rir, sentir saudade e acreditar que no próximo ano talvez volte àquela atividade exaustiva e ao mesmo tempo tão engrandecedora.
Nunca, em momento algum, pensei que um dia chegaria a esse topo. Avaliar o que todos os outros colegas das Unidades da Embrapa do país inteiro propõem é muita responsabilidade, mas ao mesmo tempo um grande reconhecimento. São cinco dias a cada semestre com oito, dez horas muito cansativas, mas de aprendizagem intensiva. Um privilégio ler, discutir e dividir com pessoas tão competentes essa tarefa.
Não chorei, mas senti vontade. As vozes familiares. Cada um com seu sotaque, indicando a diversidade regional na representação e a peculiaridade na demonstração explícita do seu afeto.
A Kátia doce, meiga como sempre. Irmãzona. O Lineu com a voz forte do gaúcho falando de saudade e se despedindo, já que não estará mais no grupo no próximo ano. A Sumara eufórica com o casamento, esbanjando felicidade. O Raul mais moderado, mais formal, mas sincero demais nos votos de saúde. Tem ainda o Araê, equilibrado, moderado, voz serena. O professor da turma. E o mais novo do grupo que em breve será o grande maestro : o Robinson. Amigo que desde o primeiro olhar sabíamos que teríamos uma história. O tempo só tem ratificado a cumplicidade e confiança.
Falei com cada um. Senti cada afago, imaginei o olhar e agradeci por estar tendo o privilégio de usufruir de tantas demonstrações de afeto. Colegas, amigos que construímos ao longo da vida e que agora dão seu testemunho de que o caminho trilhado era o mais viável.
Felizmente estou tendo tempo para me abastecer desse carinho...
Poderia ser pior ...
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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Um comentário:
Flor,
Cá estamos, eu e a Katinha, no aeroporto de BSB, com os vôos para lá de atrasados, lendo encantadas o seu Blog.
Não aceitaremos desculpas! Queremos você na próxima reunião!
Beijo estalado.
Sumara e Kátia
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