Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Atravessando o Canal da Mancha. Por baixo !

A minha claustrofobia é antiga. Não faz muito tempo que todos conheciam meu pânico de avião; meu medo de elevador e as sensações horrorosas que tomavam conta de mim quando me sentia presa. Podia ser um quarto fechado com uma grade na janela ou simplesmente um banheiro que insinuava que não iria abrir. Terapia, remédios e uma boa dose de persistência reduziram drasticamente essas manifestações que ainda eram motivo de chacota, afinal, uma jornalista que não entra em um elevador ? ahh não acredito !

Mas quando saímos de Londres para ir a Paris não percebi de que forma se daria essa locomoção e nem procurei saber. Estava entregue nas mãos dos guias, da agência que contratei. Avião, barco, trem, ônibus, van... qualquer coisa não faria diferença. Mas só chegando às proximidades do que é conhecido como Eurotunel soube exatamente como ia mudar de um país pra outro.

Lembra, muito mal, é verdade, as travessias de nossos rios amazônicos. Grandes balsas, mas ao contrário de céu aberto, onde podemos ir apreciando o vôo dos pássaros, os peixes em volta da gente, a paisagem exuberante, os ribeirinhos passando em suas minúsculas canoas, o que fui sentindo foi o ar faltando e a escuridão dominando o ambiente. O ônibus estava entrando em uma espécie de container que parecia ter sido feito exatamente para as suas exatas medidas. Nem um metro a mais de um lado e nem do outro. Um leve balanço, que não lembra maresia, mas um grande amortecedor me deixou um pouco tonta.

Vários avisos em forma de cartazes e outros pelo som em inglês e francês, deixavam mais evidente que aquilo era perigoso. Tinha até túnel de emergência!! Comecei a ler o panfleto explicativo e quase morro: durante 39km nós estaríamos a 40m abaixo do mar do canal da mancha. Nem liguei mais para o que estava ainda no papel. Primeiro amedrontam depois tentam nos convencer o quanto a obra é importante para a engenharia mundial. É o maior metrô marítimo do mundo ou a obra de engenharia mais ambiciosa e cara da sua época. Lia, mas não parava de pensar que acima da minha cabeça estava o mar. É claro que tentei disfarçar, fingir que tudo me parecia normal, que já fizera aquela travessia pelo menos uma dezena de vezes. Só o coração acelerado, felizmente imperceptível para os que estavam do meu lado, denunciavam o mal estar. Isso pra ser generosa comigo mesmo.

Bastava, porém, alguém um pouco mais observador pra perceber o meu grande alívio quando o container se abriu e saímos daquela lata de sardinha. Eu estava vendo o sol, tudo bem que ele estava encoberto pelas nuvens e neblina. O dia estava cinza, mas nunca me pareceu tão lindo !

Depois de percorrermos alguns quilômetros um presente não anunciado: uma parada de cerca de três horas na belíssima cidade de Bruges, na Bélgica. Um cenário de filme... E pra comemorar a vida pós Eurotunel e experimentar o novo, resolvi encarar uma das centenas de cervejas que os belgas tanto apreciam. Pedi a mais forte, uma garrafa de apenas 330ml acompanhado de croquete madame (um sanduíche com um ovo frito encima. O croquete monsieur não tem ovo. Por que ? Não sei) . 8,5 % de álcool e como já passava do meio-dia, tinha comido pouco, no terceiro gole pensei que ia cair da cadeira. Felizmente o almoço chegou, degustei o restante da estranha cerveja e aproveitei pra dormir até Paris.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Um Superavião cheio de novidades

Não sei se todos já entraram naqueles aviões enormes que percorrem longas distâncias como Guarulhos/Lisboa/Londres. Dez, doze horas sem uma paradinha. Eu nunca tinha entrado ! Tanto tempo a bordo é claro que eles tentam de tudo pra distrair os ansiosos passageiros presos nas poltronas apertadas (são um pouquinho mais folgadas do que a que estamos acostumados) e sem poder ver nada pela janelinha.

Eu já viajei demais, mesmo quando tinha muito medo (fui até tema do Retrato Falado com a Denise Fraga no Fantástico por causa disso), mas sempre vôos domésticos ou teço-tecos amazônicos (de Belém à Altamira é uma tortura !) ou mais recentemente nos da Embraer de São Paulo ou Brasília para Ribeirão Preto, mas esta foi a primeira vez que entrei naquele monstro que começa assustando desde o lado de fora. Imenso ...

Meia dúzia ou mais de tripulantes nos aguardava na entrada direcionando para onde devemos seguir até chegarmos a nossa poltrona Sim, porque é perfeitamente possível se perder ali dentro. Três cadeiras próximas à janela à esquerda; outras três à janela da direita e mais quatro no meio. E tome gente entrando. Não tenho certeza, mas acho que éramos em torno de 300 pessoas.

Começo a olhar tudo. Como um matuto que chega na cidade grande. Percebo que há mais botões acima de nossas cabeças que o normal, que a mesinha à frente não é igual a que estou acostumada e sinto-me como uma criança que quer descobrir cada um desses segredinhos.

Lembro-me com saudade da época que frequentava motel. Quanto mais sofisticado melhor, quanto mais misterioso mais atraente. Não pela maciez da cama, mas pelas descobertas que fazia. Luzes que acendiam no chão, água que caia do céu na piscina parecendo chuva, banheiras, espelhos. Um mundo fantástico que me encantava.

Certa vez estava com o Manoel em um desses e já tinha tomado algumas boas cervejas. Ao acabar de fazer xixi a descarga funcionou sozinha. Adorei a engenhoca e comentei com ele: a gente bem que podia instalar uma dessas em casa. Você e Raul nem precisariam se preocupar. Fariam o xixi e a água desceria logo em seguida. E ele com um ar meio sério meio debochado: bebeste demais mesmo ! desencosta do botão que a água para. Que mico ! Só restou rimos até não ter mais sentido continuar naquele ambiente.

Não cheguei a tanto no avião, mas adorei ter uma telinha só pra mim, bem à minha frente com uma programação melhor que a TV fechada. Um montão de filmes (assisti o Bem Amado inteirinho), musicais, documentários (vi sobre John Lennon e a história do samba. Ótimos!), jogos infantis e adultos, notícias (essas antigas demais). Nem parecia que estávamos a sei lá quantas milhas, a não sei quantos graus abaixo de zero.

A comida servida foi outra grande diferença. Nada de barrinhas de cereais ou Pepsi com gelo Tínhamos até opção: risoto acompanhado de um bom vinho tinto ou uma massa com suco de laranja, cerveja ou uma grande variedade de refrigerantes e ainda com direito a sobremesa. O estranho mesmo eram as comissárias. Duas ou três com idades bem além dos 50. Inevitável não pensar que estavam mais para “aerovelhas”. Mas bem maquiadas e gentis e como camelôs de luxo passavam com seus carrinhos vendendo vários produtos, sobretudo franceses, e sem taxa (como nos freeshop). Perfumes, maquiagem e até um relógio,exclusivo. Ou compra lá encima ou não se compra. A máquina facilitava a aquisição pelo cartão.

Acompanhar a viagem pela telinha foi de fato o que mais me encantou. Logo após a decolagem, que parece não terminar nunca com o estômago chegando à boca e mãos e pés suando, resolvo explorar o que havia naquela pequena TV à minha frente e o que vejo logo ao acessá- la: a distância a ser percorrida. Apenas 7.942km. Meu Deus isso até Lisboa, mas nós íamos para Londres. Sabe aquela sensação de não quero saber, mas vou saber? Passei a viagem inteira acompanhando a telinha. Ora via onde estávamos passando. A maior parte do tempo encima do Oceano Atlântico. Como não lembrar o acidente com a Air France há uns dois anos atrás ? Mas lá estava eu, meio masoquista voltando à telinha. Agora tinha a visão do piloto. Nada interessante, por sinal. E as milhas que nos separavam do chão, a temperatura lá fora, a velocidade..E o tempo não passava, se arrastava. Felizmente o lexotan fez efeito, as luzes se apagaram, o silêncio predominou e eu dormi. Talvez por duas horas, mas que parecera uma eternidade.

Faltando pouco mais de duas horas para chegarmos a Lisboa começa um movimento estranho em direção ao banheiro. Parece que todos estavam com diarréia. Perguntei à filha: estás com dor de barriga ? não ! Nem eu ! Filas pra entrar no minúsculo toalete , gente no corredor. Até que finalmente consigo entender a confusão: estava na hora de nos prepararmos para enfrentar o frio europeu e as pessoas iam ao banheiro pra colocar a calça térmica, a meia grossa, o blusão de lã, o cachecol, o sobretudo ou casaco supergrosso. As luvas e o gorro estavam nos bolsos. Achei um certo exagero, principalmente das mulheres que saiam uns dez kg mais gordas, mas quando a porta do avião se abriu em solo lusitano e eu desci a escada, entendi melhor a preocupação dos mais experientes. Eles tinham razão ! O vento parecia congelar, entrar pelo nariz e chegar ao pulmão, barriga, pernas. E tive uma só certeza: estava com pouca roupa.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

La dame charmante et belle jeune

Os parisienses dizem que a Torre Eiffel tem duas personalidades bem distintas. De dia é uma senhora que não consegue ocultar sua idade. Basta olhar com mais atenção pra perceber suas rugas, ranhuras, pés de galinha e oxidações, mas que mesmo assim a todos encanta e seduz. Ela realmente é de tirar o fôlego Foi assim que fiquei: sem voz, pálida e com as lágrimas escorrendo pelo rosto. Explodi, para a surpresa e preocupação dos companheiros de excursão e não conseguia conter nem mesmo os soluços. Pode parecer exagero, mas eu tinha certeza que seria assim. Se esse dia se materializasse, seria exatamente assim. E foi !



A vi primeiro como uma nobre senhora, séria, imponente e não tão bela como imaginara. Mas nem por isso menos sedutora. La dame vieux, mais super élégant !,


Voltei à noite e lá estava la belle dame como se ostentasse todas as jóias do mundo, reluzente, brilhante, ofuscante. Se a luz do dia não consegue disfarçar seus mais de cem anos, à noite é apenas beleza, jovialidade, encantamento.Remoça quando o sol se vai.


O que tanto me atraia nessa torre de 300 metros de altura que mais a antena chega a 320,75 (estava escrito no folheto que entregaram na entrada!)?. Fomos só até a primeira plataforma, a mais baixinha. Muito frio (0 grau!), muito vento e por segurança ninguém podia ir mais além. Nem acredito que algum corajoso topasse ir mais adiante. Mal conseguíamos ficar na sacada onde é possível ver Paris lindamente iluminada aos nossos pés. Confesso que o medo tirou um pouco do brilho.


De fato a Torre Eiffel tem um significado todo especial para mim, Ainda muito jovem, aos 13, 14 anos eu me apaixonei pela língua francesa, pela França. Estudava no Colégio Estadual Visconde de Souza Franco e enquanto meu professor de inglês era um senhor idoso, ranzinza, em fim de carreira, que me levou a abominar o inglês até hoje, meu primeiro professor de francês era um jovem padre francês que acabara de chegar ao Brasil e que tinha o maior orgulho de sua pátria. Monsieur Paul falava arrastado, o R na garganta, o biquinho no u e me apresentou o merci, revoir, bonjour. Depois dele tive o privilégio de ter a doce e meiga professora Risoleta Bandeira (mãe do Chembra, do Walter, da Lúcia.). como a segunda professora de francês. Fiquei mais apaixonada ainda ao ouvir suas histórias e ambos sempre falando da Torre. Essa mesma que vi ao vivo.


Durante três, quatro anos cursei, ora com bolsista ora com a vovó Alzira bancando, a Aliança Francesa. Uma casa de franceses que queriam nos fazer nos apaixonar pela França e nem precisaram se esforçar muito no meu caso, pelo menos. Lembro até hoje a primeira lição ainda naqueles eslaides gastos com um rolo com a gravação que às vezes não conversavam entre si. – Ahhh voilá um taxi ! Taxi !! taxi !! e o moço saia correndo para apanhá-lo. Cheguei à conversação, entendia bem. Mas lá se foram mais de 40 anos e o idioma francês se perdeu entre tantas coisas que ficaram pelo caminho.


Consegui, mesmo com grande dificuldade, me comunicar com os nativos. Percebe-se seu orgulho quando usamos o francês. Não tentam nos consertar e se esforçar por nos entender.


- À quel moment ferme ce restaurant ? (a que horas fecha este restaurante?)


- Où puis-je trouver un public internet ? (Onde posso encontrar uma interne pública ?)


Mas voltando à Torre Eiffel. Eu a vi dezenas, centenas de vezes naquelas imagens quase apagadas pelo tempo no audiovisual da Aliança. A construção que há mais de cem anos foi considerada revolucionária para a época e até hoje é um dos mais importantes monumentos de Paris, da Europa, freqüentou meus sonhos adolescentes, mas mesmo com a maior criatividade que pudesse ter, nunca conseguiria de fato imaginá-la como ela é.


Sabia que iria me emocionar. Paris entrou no roteiro de nossa viagem por insistência minha. Minha filha queria apenas Londres, resultado que se assemelha à minha paixão pela França, afinal ela cursa há seis a Cultura Inglesa. Mas não imaginara que fosse perder o controle e sem nenhum motivo aparente para os que estavam a nossa volta. Todos descem do ônibus, superempacotados protegendo-se do frio, olham para cima e eu olho para baixo. Na verdade olho para a filha como que pedindo socorro. Estava pagando um mico, um king kong e não conseguia me controlar. Não lagrimava, soluçava. As lágrimas corriam livremente e na minha cabeça um filminho passava rapidamente.


Eu estava aos pés da belle jeune !! Eu já a conhecia tão bem, mas nunca a vira. Impossível não chorar, não recordar a dura infância e adolescência quase sem perspectiva e agora, ao lado da jovem filha, aquele gigante de ferro torna-se quase um bibelô frágil, intocável, mas real.


Eu vi, subi, toquei, fotografei e chorei aos pés da Torre Eiffel !! Emoção para poucos. Compreensão para menos ainda. Mas a vida me ensinou que a intensidade da emoção é algo só seu. Há os que se encantam com o desabrochar de uma flor e outros nem percebem que o botão abriu. Realizei um dos maiores sonhos de minha vida. A Torre Eiffel é ainda mais linda do que nos filmes, nos livros e nas minhas lições de francês de tantos anos atrás.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Picanha com feijão em Londres

Quantas vezes já passei semanas sem comer feijão e meses sem uma picanha? Perdi a conta. Mas foi só sair do Brasil pra saudade bater antes mesmo de completar uma semana. O provável estímulo deve ter sido o que comi nos quatro primeiro dias no País da Rainha: macarrão com um molho estranho e aguado de mostarda; hambúrguer com batata frita e pão e risoto de molho indecifrável.


Jantar ? nem pensar ! O preço impeditivo em libras nos conduzia a uma mistura de minimercado com cafeteria, padaria que oferecia sanduíches e um café duplo por cinco libras, ou seja, “apenas” 15 reais, bem em frente ao hotel.


No quarto dia perguntamos a um italiano que tentou nos empurrar todos os produtos que vendia em um quiosque no meio de uma galeria, talvez percebendo nossa origem sulamericana, para eles quase seres de outros planetas e certamente desprovidos de inteligência mínima, onde comer uma carne. Brasileira? Quis saber ? claro !! claro !! respondemos eufóricas eu e minha filha. É só andar duas quadras, dobrar a direita e verão a bandeira do Brasil pendurada na entrada. A nossa bandeira ? que emoção !! Deu uma vontade de beijá-la e explicar aos pedestres apressados que aquilo ali era um pedacinho do meu País.


De fato lá estava ela. Linda, tremulando ao vento gelado londrino. O restaurante era simples, mas acolhedor. Dez mesas, não mais do que isso. No ar o cheiro de churrasco e no bufê feijão preto, feijão carioquinha, farofa, pimenta baiana, maionese de batata, arroz branco, batata frita e carnes à vontade no rodízio. Não podia acreditar! Alcatra, sobrecoxa de frango, calabresa, carneiro e a suculenta picanha com a gordura tostada ao ponto. Por alguns minutos achei que estava em Ribeirão Preto onde existem churrascarias fantásticas.


O proprietário era um ex-guia que diante de tanta curiosidade de minha parte, contou que o lugar era freqüentado basicamente por turistas brasileiros ou ingleses que um dia conheceram o Brasil e se apaixonaram pelo nosso churrasco. “Os que vivem aqui não aparecem. Preferem se achar londrinos”, fez questão de comentar com certo ar de desprezo. A carne vem da Austrália e às vezes do Brasil. “O boi daqui não produz carne pra churrasco”, garantiu.


Em uma mesa dois jovens brasileiros que começavam uma amizade com um terceiro bem mais jovem que falava para todos ouvirem que estava em Londres pra estudar. Orgulho explícito e latente. Na mesa em frente uma grande família que pela conversa e depois que me aproximei confirmei, morava em Rondônia. Falavam em JiParaná, Vilhena, Ouro Preto D!Oeste cidades que conheci quando trabalhei na Embrapa. Estavam passeando e fizeram o percurso inverso ao nosso. Primeiro foram a Portugal e Paris e estavam terminando por Londres.


Comemos tanto que mal podia respirar. O fôlego só veio mesmo quando chegou a conta. Cada refeição custava18 libras, ou seja, algo em torno de 55 Reais por pessoa e eu que achava que uma das melhores churrascarias de Ribeirão era cara. Lá o casal paga 50 com direito a sobremesa e uma variedade enorme de carne que vão do cupim ao coração de frango; da maminha à costela de porco ou da costela bovina à capivara.


Sabe qual a principal diferença? Estávamos a alguns passos da chiquérrrrima Oxford Street !

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ninguém fala Português ...

Interessante como o Português, mesmo sendo considerado o quarto idioma mais falado no mundo ou, como chegam alguns a afirmar, o segundo se for considerado aquele falado por nativos, é quase ignorado na Europa.


Tudo bem que lá apenas Portugal e seus dez milhões e meio de habitantes fazem uso do nosso idioma, mas precisam nos humilhar perguntando em Londres ou Paris: se hablamos espanhol? Sim, porque quase todos falam inglês, italiano, francês e obviamente espanhol. Mas o pior mesmo é acharem que português e espanhol são exatamente a mesma coisa. Falou espanhol fala português e vice-versa!


Os guias falavam das “mais grandes ventanas” dos palácios como se todos os brasileiros que os ouvia soubessem exatamente o que estavam dizendo. Não entendiam e ainda pensavam, certamente, que ele acabara de cometer um erro gramatical terrível. E no dia de seu “feliz cumpleaños“ o imperador etc etc.. Como ? indagava com o olhar o brasileiro com traços tão nipônicos que todos juravam que ele nascera em Tóquio ou Kyoto. Feliz o quê?


Hora de visitar mais um museu, conhecer um pouco mais da história que só sabíamos pelos livros escolares e um aviso que novamente leva os brasileiros (grande maioria na excursão, por sinal !) a indagar com o olhar o que o guia deseja que fizéssemos:? tiene sencillo? E ele, sorridente aguardava a resposta, acreditando que trocado em português era exatamente a mesma coisa que em espanhol. Pagamos com sencillo ou não e ficamos sem entender de novo !


Yo hablo un poquito, pero no muy bien. Uma feliz conseqüência de contatos com pessoas que vivem em países de língua espanhola, sobretudo um com quem me relacionei por muitos anos e que vive na Bolívia. Abençoada experiência. Graças a ele e a minha persistência em tentar entendê-lo conseguia saber que calle é rua; ou algo mais sofisticado como dónde puedo cambiar dinero? Ou decidir por um cerdo assado e jamón no lugar de uma mantequilla.


Mas, mesmo convivendo e lendo anos e anos, quase diariamente textos em espanhol, ainda apanhei muito, entendi muita coisa errada e devo ter feito os atendentes rirem às minhas costas. Comprei ou pedi raras vezes em Pirinópolis, Brasília, Manaus ou Cuiabá plátanos e quando me ofereceram em Paris, disse que não queria. Justo eu que adoro bananas !!! Não me arrisquei a optar pelos galletas e os amanteigados ou recheados franceses são ótimos !


Somos cerca de 250 milhões de pessoas falando português, mas ao viajar pela primeira vez à Europa constatei que isso é pouco. Muito pouco ! Talvez na África onde o Português está em Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Timor Leste, Macau São Tomé e Príncipe, seja mais fácil a comunicação. E aí sim, hablar como nosotros que vivimos en Brasil!

sábado, 18 de dezembro de 2010

CADÊ A PRAIA ?

As casas avarandadas, com largas janelas, cadeiras de vime ou de plástico no pátio e plantas bem cultivadas, já insinuam que o calor é o que predomina. Lá no alto é possível ver a chaminé das churrasqueiras. Vão das mais simples, quase um fogareiro, às mais sofisticadas com manivelas que assam as carnes no tempo preciso, com a brasa no calor exato. Quem entende de churrasco sempre garante: é a brasa e não a chama que faz a diferença.
As grandes áreas verdes públicas cuidadosamente ajardinadas com cara de praça e bancos de praça ou apenas um espaço acolhedor com árvores frutíferas, ipês roxos que encantam no início do segundo atraem bem-te-vis, rolinhas, sabiás, beija-flores e as barulhentas maritacas que passam em bando ao amanhecer ou entardecer. Alguns desses pássaros longe de seu habitat chegam sem cerimônia nas casas e mesmo sem ser serem convidados entram nas casas em busca de comida ou da ração dos animais domésticos. Vale a pena parar pra ver.
A cidade que tem uma temperatura média de 26ºC e que pode tranquilamente chegar aos 37,39º, quando percebida em seus detalhes nos causa dúvidas e perplexidades. Aquela rede na sacada é mesmo utilizada ? será a explícita origem nortista/nordestina de seus moradores ou apenas decoração ? Tanto faz... elas estão perfeitamente compatíveis com os projetos arquitetônicos que lembram as casas à beira mar tanto e se as paredes estiverem ornamentadas com peças artesanais de peixes, sereias, araras e tucanos a dúvida quase chega a desaparecer. A praia deve estar bem pertinho mesmo.
E se você encontrar tranquilamente caminhado pela rua jovens bronzeados de sunga ou shorts a exibir seus bíceps, barriga tanquinho ou uma bela jovem de seios siliconados e panturrilhas enrijecidas, certamente sentirá uma vontade quase incontrolável de perguntar: qual a praia mais próxima? Jovens ou nem tão jovens assim usam e abusam da roupa curta, sem mangas ou as de fitness bem marcantes. Shorts e calças coladas, tênis ou sandálias de dedo e um camiseta compõem o guarda-roupa da maioria dos que encontramos pelas ruas É de novo o clima se refletindo na população. O guarda-roupa tão tropical, quase praiano amenizando o sol escaldante que esturrica a pele e escancara o céu predominantemente azul que num devaneio nos conduz uma areia quente que em seguida nos dará o prazer de tocar a água morna, a molhar nossos pés. Ao olhar o horizonte quase podemos ouvir o barulho das ondas. As nuvens que parecem se encontrar, lá adiante com o mar...
Tem mais... muito mais a ser descoberto sem pressa. Reparem no nome de alguns bares e restaurantes, principalmente os localizados nas largas avenidas que se reinventam e acrescentam às cadeiras e mesas de madeira, ou as de plástico de cores fortes, cessão das marcas de cerveja, pequenos lagos com minitartarugas e peixes vivos que nadam solenemente como se estivessem em seus habitats. Os nomes, além de sugestivos, mais uma vez nos convidam para na volta do mergulho parar pra almoçar ou apenas tomar um chope gelado. Tem o Estrela do Mar, Bar Rio, Curva do Rio, Farol da Barra, Maré do Chopp, Peixe da 13, Na onda do Peixe e uma homenagem talvez aleatória aos amazônidas: o Pé de Açaí e o Porto Açaí.. Alguma dúvida que basta andar mais alguns metros para que o cheiro de maresia nos invada ?
Para os bem mais jovens ou que já não podem ou não apreciam um chope gelado, o calor também pode ser amenizado com os variados sabores de sorvete disponíveis em sorveterias que se espalham pelos shoppings, esquinas ou lanchonetes. Das delícias do Cerrado que oferecem aos curiosos degustadores o de umbu, cagaita, pequi ou araticum ou que dividem a fama com a Amazônia como os de mangaba, muruci (no Norte) e murici (no Cerrado e Nordeste) aos tradicionais de chocolate, flocos, ameixa,nozes ou creme. Quando a temperatura beira os 40ºC é comum as filas irem além dos comércios. Tudo em nome de uma casquinha.
Embelezando as ruas, em meio aos carros populares, estão os que apaixonam os homens e despertam a curiosidade das mulheres. São Ferrari, BMW, Audi, Porche de todas as cores e modelos, mas em geral conversíveis, teto solar. De novo a praia a nos chamar... Será que os encontraremos estacionados na beira mar ao anoitecer ? Fazendo par com as potências de quatro rodas, estão as motocicletas potentes e barulhentas ou ainda as bicicletas tipo mountain bike e seus condutores, quase sempre em grupos, com as indumentárias próprias, uma atração à parte..
O chope gelado na temperatura exata, irrepreensivelmente no ponto, é outra marca desta cidade. São muitas cervejarias e muitas marcas de cerveja para atender ao mais exigente consumidor. Que tal zoar um pouco e testar o garçon? – Cerpinha? –Temos!;  Liber? –Temos!;  Devassa? - Também temos – Caracu ? Temoooosss !!! O calor dá esse aval à cidade. Na tulipa ou na caneca, espumando, ela (ou um chope) vem nos colocar novamente frente à frente ao mar ou ao longe embriagados pela beleza do entardecer que carrega o sol para dentro d’água e o deixa mergulhado até amanhã de manhã.
Mas e a praia ? Onde fica a praia ? Cadê a praia ? Em nome dela, ou de sua ausência tão presente, só mesmo tomando mais um chope. Pode ser o Claro, Niger, Pingado, Fantástico, Ferrugem, Sexual, Shortinho e o Direto Pingüim bem ali, em uma das mais famosas choperias do Brasil: o Pinguim, inaugurada em 1936 e que é só mais um delicioso detalhe no cenário praiano de Ribeirão Preto!
Com todo esse cenário praiano jurava que existia uma praia aqui, pertinho, mas a mais próxima fica a cerca de 400 km e embora ostente vários títulos, que vão da Califórnia brasileira à Capital do Chope, nenhum se refere á praia que é apenas uma miragem alimentada pelo calor intenso, céu azul e o chope deliciosamente gelado.
Hoje sou mais uma entre os mais de 600 mil habitantes de Ribeirão Preto. Acabo de chegar à cidade que só passou a existir de fato depois da Independência do Brasil quando ainda se chamava Vila de São Sebastião do Ribeirão Preto. Sem praia, sem areia, sem mar, sem mesmo um rio que permitisse aos amazônidas amenizar a saudade da água, Ribeirão aos poucos vai se transformando em minha segunda casa. Uma relação que se estreita a partir de seus moradores e que se fortalece nas conquistas dos filhos, no vislumbrar de um futuro mais farto, mais seguro, mais feliz.
Ahh mas se tivesse uma praia ...
(Ruth Rendeiro, é jornalista)

domingo, 17 de outubro de 2010

DR. ALMIR

Acabo de chegar de Belém. Foram dez dias intensos. Muitos encontros, algum trabalho, muitos abraços e a constatação de que pouco mudou desde que deixei a terrinha há mais de dois anos. Entre tudo o que mais me impressionou foi ver a cena que marcou o apoio do DR.ALMIR à candidata ao Governo do Pará, Ana Júlia Carepa.

Sempre simpatizei com o PT. Nada de carteirinha ou voto de cabresto. Votei no Lula todas as vezes em que foi candidato, no Edmilson Rodrigues, Paulo Rocha... Mas sempre tive um carinho além-política por aquele que alguns da minha geração aprendemos a chamar de DR.ALMIR.

A primeira vez que ouvi falar dele deveria ter 12,13 anos. Foi o médico ousado que encarou uma cirurgia delicadíssima no esôfago de minha tia, quando ninguém queria realizá-la. São mais de 40 anos e ela está aí pra contar a história. Todos o elogiavam pela competência como cirurgião torácico no Hospital Barros Barreto.

Anos mais tarde ele ingressa na política como Secretário de Saúde Pública do Estado do Pará.

No final da década de 70 fui levada pelas mãos do jornalista (e meu primeiro chefe) Rubens Silva para a então Assessoria Especial da Prefeitura Municipal de Belém. Época da histórica rixa entre Alacid Nunes e Jarbas Passarinho. Cheguei na gestão de Felipe Santana, um militar da Aeronáutica (Brigadeiro, eu creio) em seguida substituído por Loriwal Reis de Magalhães, da Cosanpa. Depois veio Said Xerfan. Emanoel Ó de Almeida, à época presidente da Câmara Municipal, ficou interinamente até a posse de Almir Gabriel. Trabalhei pouco tempo com ele. Recebi o convite para ser revisora gramatical da Embrapa Amazônia Oriental e ele me incentivou a ir. Disse-me que ali teria mais futuro e fui. Mas nunca o perdi de vista.

Inquestionável o que fez por Belém. Irrepreensível sua liderança mesmo que na equipe estivessem profissionais renomados e que potencialmente poderiam não segui-lo. Forte, enérgico, sério, dedicado e muito inteligente. Este é o DR. ALMIR que ainda habitava no meu imaginário. Obviamente acompanhei as mudanças, a morte dos sem-terra em Eldorado dos carajás, a eleição de Simão Jatene, a ruptura, A sua ida para o Estado de São Paulo etc etc...

O que me surpreende e me choca neste momento é a mudança radical em nome do ódio ou da dificuldade em assimilar mudanças, recuar e abrir espaços para os que acabam de chegar. Nada justifica essa a aproximação de pessoas que até bem pouco tempo se tratavam de assassinos pra cima, que se ofenderam e que levaram muitos dos seus seguidores fiéis a se declararem inimigos mortais. Muitas relações, em nome dessa hoje aparente divergência política, foram rompidas. Como ficam os que sempre idolatraram o DR.ALMIR ? Do dia pra noite ele deixa de ser o líder, o comandante pra se tornar um “velho caduco” ? A coisa funciona assim ?

Mais do que o gesto dele me agride as mudanças de sentimentos. As de palanques já estamos acostumados a ver. Ele era de fato apenas um político que defendia interesses de grupos e de determinadas pessoas ou um homem que os seus seguidores admiravam ? É difícil demais pra mim, talvez por não vivenciar a política em sua plenitude, entender que da noite pro dia o DR. ALMIR, referência de hombridade, honestidade, competência, liderança, gestor especialmente para seu seleto grupo de admiradores, se transforme em um ser abominável que agora todos chutam como um cachorro morto.