Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Um Superavião cheio de novidades

Não sei se todos já entraram naqueles aviões enormes que percorrem longas distâncias como Guarulhos/Lisboa/Londres. Dez, doze horas sem uma paradinha. Eu nunca tinha entrado ! Tanto tempo a bordo é claro que eles tentam de tudo pra distrair os ansiosos passageiros presos nas poltronas apertadas (são um pouquinho mais folgadas do que a que estamos acostumados) e sem poder ver nada pela janelinha.

Eu já viajei demais, mesmo quando tinha muito medo (fui até tema do Retrato Falado com a Denise Fraga no Fantástico por causa disso), mas sempre vôos domésticos ou teço-tecos amazônicos (de Belém à Altamira é uma tortura !) ou mais recentemente nos da Embraer de São Paulo ou Brasília para Ribeirão Preto, mas esta foi a primeira vez que entrei naquele monstro que começa assustando desde o lado de fora. Imenso ...

Meia dúzia ou mais de tripulantes nos aguardava na entrada direcionando para onde devemos seguir até chegarmos a nossa poltrona Sim, porque é perfeitamente possível se perder ali dentro. Três cadeiras próximas à janela à esquerda; outras três à janela da direita e mais quatro no meio. E tome gente entrando. Não tenho certeza, mas acho que éramos em torno de 300 pessoas.

Começo a olhar tudo. Como um matuto que chega na cidade grande. Percebo que há mais botões acima de nossas cabeças que o normal, que a mesinha à frente não é igual a que estou acostumada e sinto-me como uma criança que quer descobrir cada um desses segredinhos.

Lembro-me com saudade da época que frequentava motel. Quanto mais sofisticado melhor, quanto mais misterioso mais atraente. Não pela maciez da cama, mas pelas descobertas que fazia. Luzes que acendiam no chão, água que caia do céu na piscina parecendo chuva, banheiras, espelhos. Um mundo fantástico que me encantava.

Certa vez estava com o Manoel em um desses e já tinha tomado algumas boas cervejas. Ao acabar de fazer xixi a descarga funcionou sozinha. Adorei a engenhoca e comentei com ele: a gente bem que podia instalar uma dessas em casa. Você e Raul nem precisariam se preocupar. Fariam o xixi e a água desceria logo em seguida. E ele com um ar meio sério meio debochado: bebeste demais mesmo ! desencosta do botão que a água para. Que mico ! Só restou rimos até não ter mais sentido continuar naquele ambiente.

Não cheguei a tanto no avião, mas adorei ter uma telinha só pra mim, bem à minha frente com uma programação melhor que a TV fechada. Um montão de filmes (assisti o Bem Amado inteirinho), musicais, documentários (vi sobre John Lennon e a história do samba. Ótimos!), jogos infantis e adultos, notícias (essas antigas demais). Nem parecia que estávamos a sei lá quantas milhas, a não sei quantos graus abaixo de zero.

A comida servida foi outra grande diferença. Nada de barrinhas de cereais ou Pepsi com gelo Tínhamos até opção: risoto acompanhado de um bom vinho tinto ou uma massa com suco de laranja, cerveja ou uma grande variedade de refrigerantes e ainda com direito a sobremesa. O estranho mesmo eram as comissárias. Duas ou três com idades bem além dos 50. Inevitável não pensar que estavam mais para “aerovelhas”. Mas bem maquiadas e gentis e como camelôs de luxo passavam com seus carrinhos vendendo vários produtos, sobretudo franceses, e sem taxa (como nos freeshop). Perfumes, maquiagem e até um relógio,exclusivo. Ou compra lá encima ou não se compra. A máquina facilitava a aquisição pelo cartão.

Acompanhar a viagem pela telinha foi de fato o que mais me encantou. Logo após a decolagem, que parece não terminar nunca com o estômago chegando à boca e mãos e pés suando, resolvo explorar o que havia naquela pequena TV à minha frente e o que vejo logo ao acessá- la: a distância a ser percorrida. Apenas 7.942km. Meu Deus isso até Lisboa, mas nós íamos para Londres. Sabe aquela sensação de não quero saber, mas vou saber? Passei a viagem inteira acompanhando a telinha. Ora via onde estávamos passando. A maior parte do tempo encima do Oceano Atlântico. Como não lembrar o acidente com a Air France há uns dois anos atrás ? Mas lá estava eu, meio masoquista voltando à telinha. Agora tinha a visão do piloto. Nada interessante, por sinal. E as milhas que nos separavam do chão, a temperatura lá fora, a velocidade..E o tempo não passava, se arrastava. Felizmente o lexotan fez efeito, as luzes se apagaram, o silêncio predominou e eu dormi. Talvez por duas horas, mas que parecera uma eternidade.

Faltando pouco mais de duas horas para chegarmos a Lisboa começa um movimento estranho em direção ao banheiro. Parece que todos estavam com diarréia. Perguntei à filha: estás com dor de barriga ? não ! Nem eu ! Filas pra entrar no minúsculo toalete , gente no corredor. Até que finalmente consigo entender a confusão: estava na hora de nos prepararmos para enfrentar o frio europeu e as pessoas iam ao banheiro pra colocar a calça térmica, a meia grossa, o blusão de lã, o cachecol, o sobretudo ou casaco supergrosso. As luvas e o gorro estavam nos bolsos. Achei um certo exagero, principalmente das mulheres que saiam uns dez kg mais gordas, mas quando a porta do avião se abriu em solo lusitano e eu desci a escada, entendi melhor a preocupação dos mais experientes. Eles tinham razão ! O vento parecia congelar, entrar pelo nariz e chegar ao pulmão, barriga, pernas. E tive uma só certeza: estava com pouca roupa.

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