Mais um ano que não participarei de teu aniversário, minha caliente Belém. Justo eu que durante anos fiz questão de comparecer às mais diferentes comemorações que marcam os dias 12 de janeiro. Pode acreditar: cheguei mesmo a comer um pedaço do bolo - de sei lá quantos metros- no prato de plástico numa grande algazarra bem pertinho do mercado de ferro do Ver-o-Peso.
Como uma filha desgarrada, que parte, mas nunca esquece da mãe, te busco um outro colo materno e aos poucos vou me sentindo confortável e acolhida. Ribeirão Preto tem o mesmo calor que já conhecia de ti. Se não usufruo mais das tuas mangas a caindo aos meus pés, com um pequeno esforço colho uma goiaba ou uma jabuticaba também das ruas. Se não tenho o tambaqui que muitas vezes foi a atração principal do almoço entre tantos amigos, sempre que posso asso um pacu e de novo me recordo de ti. Piqui não é piaquiá, mas eu gosto assim mesmo e se a farinha não é a baguda torrada abundante em tuas feiras, serve a d’água do Nordeste que passei a ser consumidora contumaz no mercado municipal onde ainda compro carne seca, queijos, camarão e até caranguejo.
Não é tristeza o que sinto. Apenas lamento não estar aí no teu aniversário e como uma filha saudosa te cobrir de beijos, ignorando teus incontáveis problemas, teu abandono pelos que deveriam cuidar de ti ou o sofrimento de outros filhos que padecem da carestia que vai da saúde à educação; do transporte à segurança. Como filha, te vejo fragilizada ao te transformares em manchete nacional de sequestros, prostituição infantil ou falcatruas que empobrecem mais e mais teu povo. Mereces ser destaque por outros (e bons !)motivos.
Sinta-se abraçada , porém, por essa filha que gosta de ver a chuva bordando a baía de Guajará com contas multicoloridas; de sentir o suor escorrendo pela testa enquanto saboreia um quentíssimo tacacá aos 35ºC ou que apenas conta os dias para outubro chegar e ir se banhar de fé.
Distante, mas presente e que como qualquer filha perdoa teus deslizes, teus representantes, teus exploradores, eu tenho a certeza de que em meu último suspiro hei de dizer: - Ahh como eu te amo muito, Mãe Belém!
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
Arquivo do blog
- janeiro (7)
- outubro (1)
- julho (2)
- maio (1)
- abril (1)
- fevereiro (5)
- dezembro (1)
- outubro (2)
- setembro (1)
- maio (1)
- abril (1)
- março (3)
- fevereiro (1)
- janeiro (1)
- novembro (8)
- setembro (2)
- julho (1)
- junho (2)
- maio (2)
- abril (1)
- março (2)
- fevereiro (1)
- janeiro (3)
- dezembro (4)
- novembro (2)
- outubro (4)
- setembro (6)
- agosto (5)
- julho (6)
- junho (11)
- maio (10)
- abril (13)
- março (6)
- fevereiro (9)
- janeiro (14)
- dezembro (22)
- novembro (26)
- outubro (32)
- setembro (4)
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Pensando na terceira idade
Em breve completarei 55 anos. Mais cinco e entro na "terceira idade". Os limites do meu corpo são inevitáveis, mas a minha juventude não está no meu joelho, mas no meu estado de espírito, na minha necessidade de ampliar meus horizontes e de aprender mais e mais. O meu limite são as estantes de livros, a internet. Meu enorme prazer é conhecer e desvendar culturas. Minha mocidade vai muito além dos anos que já vivi.
Este ano concluo mais uma pós e outros cursos já estão sendo planejados; viagens agendadas e amigos ao monte pra abraçar, beijar e assim comprovar que a minha existência foi muito além deste plano.
Um domingo de muitas atividades e de muitas gargalhadas a todos.
O meu será regado a suco de uva, peixinho frito e um feijão preto fresquinho.
Este ano concluo mais uma pós e outros cursos já estão sendo planejados; viagens agendadas e amigos ao monte pra abraçar, beijar e assim comprovar que a minha existência foi muito além deste plano.
Um domingo de muitas atividades e de muitas gargalhadas a todos.
O meu será regado a suco de uva, peixinho frito e um feijão preto fresquinho.
Minha cartinha a Papai Noel
É um pedido tão simples e ao mesmo tempo tão complexo. Por isso estou te mandando com bem antecedência pra não dizeres depois que foi em cima da hora.
Sabe o que eu quero, Papai Noel? Um homem!
Não... não... não quero marido. Eu que na adolescência e naqueles primeiros anos de adulta acreditava que nunca casaria, 18 anos já foram bom demais! Estou mais do que satisfeita.
Não quero namorado que telefona em busca de informações típicas do primeiro amor: onde estás? Com quem estás? A que horas chegarás?
Não quero um amante furtivo que só pode receber carinhos no motel ou naquele lugarzinho escuro na estrada para que a esposa não fique sabendo de mais essa pulada de cerca.
Não estou em busca de um pagador de contas. Felizmente trabalhei a vida inteira e hoje consigo bancar/rachar tudo o que necessito. Das despesas domésticas às minhas viagens.
Não sonho com o cara do carro esporte do ano ou que aos finais de semana saia em sua potente motocicleta cortando as rodovias, roncando alto o motor.
Não estou caçando aquele senhor sarado, barriga tanquinho, com tatuagens da moda, cabelos habilidosamente desarrumados, dentes perfeitos, cheirando a loção de barbear importado.
Eu quero tão pouco, Papai Noel...
Pode ser careca ou grisalho, barrigudo, gordo, ter um sorriso que nunca ocuparia os comerciais de pasta dental, sem conta bancária obesa, que use perfume do Boticário ou Natura, mas que tenha sensibilidade, se emocione com uma música, ache normal tomar banho de chuva, não se incomode que eu fale sem parar sobre o último livro que li ou sobre o último texto que escrevi; que ache encantador receber um cartão virtual no meio da manhã apenas porque deu vontade ou um torpedo dizendo simples assim: és especial demais na minha vida!
O homem que busco talvez esteja em falta, né Papai Noel?
Queria tanto poder abraçar apertado sem sentir que as mãos foram usadas mais pra medir a minha circunferência abdominal do que de fato pra me trazer pra bem juntinho. Acordar dengosa e fingir um mal estar só pra ser cuidada na cama. Passar o domingo entre o fogão, a geladeira, o DVD e a cama. Viajar... viajar para a cidadezinha de 50 mil habitantes ou à metrópole de 4 milhões. Tanto faz praia, montanha ou arranha-céus ...
Meu sonho de consumo tem que ser maduro pra ser responsável, mas jovem o suficiente pra usar o facebook ou o twitter e não achar que isso é “coisa de jovem”. Pode não ter mais a disposição sexual dos garotos de 30, mas tem que saber amar uma mulher sem se importar demais em exibir a sua performance. O antes e o depois, após os 50, é sempre mais importante que o durante.
Será que conseguirás. Papai Noel? ou eu vou passar 2012 de novo esperando pelo cara que iria me acompanhar ao show do Chico Buarque sem achar ridículo e ainda cantar junto comigo, entender a minha emoção e depois sair pra jantar, namorar, ver o sol nascer embalados ainda pela belíssima Sinhá, a música mais recente do Chico e João Bosco.
Ahhh te esforça aí Papai Noel!
Sabe o que eu quero, Papai Noel? Um homem!
Não... não... não quero marido. Eu que na adolescência e naqueles primeiros anos de adulta acreditava que nunca casaria, 18 anos já foram bom demais! Estou mais do que satisfeita.
Não quero namorado que telefona em busca de informações típicas do primeiro amor: onde estás? Com quem estás? A que horas chegarás?
Não quero um amante furtivo que só pode receber carinhos no motel ou naquele lugarzinho escuro na estrada para que a esposa não fique sabendo de mais essa pulada de cerca.
Não estou em busca de um pagador de contas. Felizmente trabalhei a vida inteira e hoje consigo bancar/rachar tudo o que necessito. Das despesas domésticas às minhas viagens.
Não sonho com o cara do carro esporte do ano ou que aos finais de semana saia em sua potente motocicleta cortando as rodovias, roncando alto o motor.
Não estou caçando aquele senhor sarado, barriga tanquinho, com tatuagens da moda, cabelos habilidosamente desarrumados, dentes perfeitos, cheirando a loção de barbear importado.
Eu quero tão pouco, Papai Noel...
Pode ser careca ou grisalho, barrigudo, gordo, ter um sorriso que nunca ocuparia os comerciais de pasta dental, sem conta bancária obesa, que use perfume do Boticário ou Natura, mas que tenha sensibilidade, se emocione com uma música, ache normal tomar banho de chuva, não se incomode que eu fale sem parar sobre o último livro que li ou sobre o último texto que escrevi; que ache encantador receber um cartão virtual no meio da manhã apenas porque deu vontade ou um torpedo dizendo simples assim: és especial demais na minha vida!
O homem que busco talvez esteja em falta, né Papai Noel?
Queria tanto poder abraçar apertado sem sentir que as mãos foram usadas mais pra medir a minha circunferência abdominal do que de fato pra me trazer pra bem juntinho. Acordar dengosa e fingir um mal estar só pra ser cuidada na cama. Passar o domingo entre o fogão, a geladeira, o DVD e a cama. Viajar... viajar para a cidadezinha de 50 mil habitantes ou à metrópole de 4 milhões. Tanto faz praia, montanha ou arranha-céus ...
Meu sonho de consumo tem que ser maduro pra ser responsável, mas jovem o suficiente pra usar o facebook ou o twitter e não achar que isso é “coisa de jovem”. Pode não ter mais a disposição sexual dos garotos de 30, mas tem que saber amar uma mulher sem se importar demais em exibir a sua performance. O antes e o depois, após os 50, é sempre mais importante que o durante.
Será que conseguirás. Papai Noel? ou eu vou passar 2012 de novo esperando pelo cara que iria me acompanhar ao show do Chico Buarque sem achar ridículo e ainda cantar junto comigo, entender a minha emoção e depois sair pra jantar, namorar, ver o sol nascer embalados ainda pela belíssima Sinhá, a música mais recente do Chico e João Bosco.
Ahhh te esforça aí Papai Noel!
Para os que querem dividir o meu Pará
(Agradecimento ao Raimundo Mário Sobral, que no seu dicionário Papachibé me ajudou a recordar muitas expressões e ao Mauro Magalhães que leu e incrementou mais o texto).
Sou da terra onde a Lobrás se chamava 4 e 4 e se ia lá pra comprar fechoeclair e trocar aquele que escangalhou na velha calça que fica no redengue. No rumo da Presidente Vargas uma parada para... a merenda no Jangadeiro:garapa e pastel eram os meus preferidos, mesmo que eu me sentisse depois empanturrada, com vontade de bardear dentro do ônibus Aero Clube. Às vezes o piriri era inevitável. Mal dava tempo de chegar em casa.
Ahh a minha casa... Morei anos e anos na Baixa da Conselheiro e um dos meus divertimentos preferidos era pegar água na cacimba da Gentil. Sempre fui meio alesada e deixava boa parte da água pelo caminho. O balde chegava quase sem nada, motivo pra ouvir da minha avó: não te brigo nem te falo, só te olho.
Na minha terra não se empina pipa, mas papagaio, curica e cangula, sempre olhando pra ver se eles não estão no leso e nunca deixando a linha emboletar. Depois do laço, a comemoração, maior ainda se cortou e aparou. Se perdeu a frase inevitável: laufoiele. Era um segurando o brinquedo artesanal feito de qualquer papel, enquanto o outro gritava de longe: larga ! E o empinador sai correndo. Não gostava dessa função, sempre me abostava e os meninos eram implacáveis: cheira lambão, a velha caiu no chão e depois ainda me arremedavam...
Peteca ou fura-fura eram mais compatíveis com a minha leseira. Um triângulo desenhado no chão e dentro dele as pequenas bolinhas de vidro. Tirou de lá, ganhou a que saiu ou quem conseguia o tel. No fura-fura era essencial amolar bem a ponta do arame e sair jogando, emendando um ponto a outro sem nunca deixar que o adversário nos cercasse.
Lá na minha terra peixe não fede, tem pitiú e quem não toma banho direito tem piché. Gostamos de ser chamados de papa-chibé, aquele que adora uma farinha e que faz miséria com ela. Manga com farinha, doce de cupuaçu com farinha, sopa com farinha, macarrão com farinha. Um caribé bem quente, ralinho serve pra dar sustança ao doente e um chibé é excelente com peixe fritinho. Farinha só é ruim quando dizem: ihhh ta mais aparpada que farinha de feira !
O pirão do açaí é quase um ritual... Pode-se usar farinha d’água baguda ou mesmo a fina amarela, mas nada melhor que uma farinha de tapioca bem torradinha. Depois de tomar uma cuia bem cheia (meio litro em diante), daquele um, tipo papa é inevitável deixar a mesa todo breado e empanturrado. A barriga por acolá de tão cheia. Hora de ir para rede reparadora. Uma hora de momó é suficiente pra curar aquele despombalecimento.
A gastronomia na minha terra é tudo de bom. Se não tem pão comemos tapioquinha com manteiga ou pupunha no café, quem sabe até um bolo de milho recém-saído do forno com uma manteiga por cima da fatia, derretendo. O pão pequeno é careca e o curau, canjica e a canjica, mingau de milho. Tem gente que não gosta e ficava encarnando que esses pratos não são típicos. Preferem uma unha com bem pimenta ou um beijo de moça bem torradinho.
Na minha infância o doce que mais consumíamos, em frente ao Grupo era o quebra-queixo. De amendoim ou de gergelim. O risco era ele cair na panela que sempre havia na boca da molecada. A dor era insuportável! Muitas vezes voltei pra casa correndo, debaixo de chuva pra colocar álcool no dente, adormecer até a panela parar de doer. – Vai na chuva mesmo? – Claro não sou beiju !
Nossa Senhora de Nazaré, pela intimidade que temos com Ela, pode ser chamada carinhosamente de Naza e a erisipela de izipla. Cabelos grossos e cortados curtos viram espeta caju e quem pede muito é pirangueiro, filho de pipira. É proibido malinar, andar fedorento, ser um pirento inconveniente, desses que arrancam o cascão.
Embora politicamente incorreto, adoro lembrar o “carro da phebo” passando e os lixeiros invocados tendo que ouvir esses gracejos.
Quantas vezes ouvi da minha avó, da minha mãe: - So te digo vai ! ou de uma amiga pedindo para que a gente se demorasse mais um pouco: - Espere o vinho de cupu. E o calendário paraense que além do ontem tem o dontonte e o tresontonte ?
Nos orgulhamos de falar tu e conjugá-lo corretamente, mas quem nunca ouviu essa frase? – Passasse por mim me olhasse, fizesse que nem me visse, nem falasse.
Esse é o meu Pará que querem dividir. Retalhar não só o território, mas as falas, as tradições, a cultura, a sua História. Minha terra correndo o risco de não ser esse colo materno único, ímpar, que acolhe, que abriga da chuva, que nos enche de orgulho de ser não apenas Belém, mas Alter do Chão, Bragança, Soure, Altamira, Conceição do Araguaia, Ourém, Alenquer, Curucá ...
Talvez os que acreditam que a divisão é o melhor tenham batido na mãe, comido manga com febre e não entendido a metade do que está escrito aqui !
Sou da terra onde a Lobrás se chamava 4 e 4 e se ia lá pra comprar fechoeclair e trocar aquele que escangalhou na velha calça que fica no redengue. No rumo da Presidente Vargas uma parada para... a merenda no Jangadeiro:garapa e pastel eram os meus preferidos, mesmo que eu me sentisse depois empanturrada, com vontade de bardear dentro do ônibus Aero Clube. Às vezes o piriri era inevitável. Mal dava tempo de chegar em casa.
Ahh a minha casa... Morei anos e anos na Baixa da Conselheiro e um dos meus divertimentos preferidos era pegar água na cacimba da Gentil. Sempre fui meio alesada e deixava boa parte da água pelo caminho. O balde chegava quase sem nada, motivo pra ouvir da minha avó: não te brigo nem te falo, só te olho.
Na minha terra não se empina pipa, mas papagaio, curica e cangula, sempre olhando pra ver se eles não estão no leso e nunca deixando a linha emboletar. Depois do laço, a comemoração, maior ainda se cortou e aparou. Se perdeu a frase inevitável: laufoiele. Era um segurando o brinquedo artesanal feito de qualquer papel, enquanto o outro gritava de longe: larga ! E o empinador sai correndo. Não gostava dessa função, sempre me abostava e os meninos eram implacáveis: cheira lambão, a velha caiu no chão e depois ainda me arremedavam...
Peteca ou fura-fura eram mais compatíveis com a minha leseira. Um triângulo desenhado no chão e dentro dele as pequenas bolinhas de vidro. Tirou de lá, ganhou a que saiu ou quem conseguia o tel. No fura-fura era essencial amolar bem a ponta do arame e sair jogando, emendando um ponto a outro sem nunca deixar que o adversário nos cercasse.
Lá na minha terra peixe não fede, tem pitiú e quem não toma banho direito tem piché. Gostamos de ser chamados de papa-chibé, aquele que adora uma farinha e que faz miséria com ela. Manga com farinha, doce de cupuaçu com farinha, sopa com farinha, macarrão com farinha. Um caribé bem quente, ralinho serve pra dar sustança ao doente e um chibé é excelente com peixe fritinho. Farinha só é ruim quando dizem: ihhh ta mais aparpada que farinha de feira !
O pirão do açaí é quase um ritual... Pode-se usar farinha d’água baguda ou mesmo a fina amarela, mas nada melhor que uma farinha de tapioca bem torradinha. Depois de tomar uma cuia bem cheia (meio litro em diante), daquele um, tipo papa é inevitável deixar a mesa todo breado e empanturrado. A barriga por acolá de tão cheia. Hora de ir para rede reparadora. Uma hora de momó é suficiente pra curar aquele despombalecimento.
A gastronomia na minha terra é tudo de bom. Se não tem pão comemos tapioquinha com manteiga ou pupunha no café, quem sabe até um bolo de milho recém-saído do forno com uma manteiga por cima da fatia, derretendo. O pão pequeno é careca e o curau, canjica e a canjica, mingau de milho. Tem gente que não gosta e ficava encarnando que esses pratos não são típicos. Preferem uma unha com bem pimenta ou um beijo de moça bem torradinho.
Na minha infância o doce que mais consumíamos, em frente ao Grupo era o quebra-queixo. De amendoim ou de gergelim. O risco era ele cair na panela que sempre havia na boca da molecada. A dor era insuportável! Muitas vezes voltei pra casa correndo, debaixo de chuva pra colocar álcool no dente, adormecer até a panela parar de doer. – Vai na chuva mesmo? – Claro não sou beiju !
Nossa Senhora de Nazaré, pela intimidade que temos com Ela, pode ser chamada carinhosamente de Naza e a erisipela de izipla. Cabelos grossos e cortados curtos viram espeta caju e quem pede muito é pirangueiro, filho de pipira. É proibido malinar, andar fedorento, ser um pirento inconveniente, desses que arrancam o cascão.
Embora politicamente incorreto, adoro lembrar o “carro da phebo” passando e os lixeiros invocados tendo que ouvir esses gracejos.
Quantas vezes ouvi da minha avó, da minha mãe: - So te digo vai ! ou de uma amiga pedindo para que a gente se demorasse mais um pouco: - Espere o vinho de cupu. E o calendário paraense que além do ontem tem o dontonte e o tresontonte ?
Nos orgulhamos de falar tu e conjugá-lo corretamente, mas quem nunca ouviu essa frase? – Passasse por mim me olhasse, fizesse que nem me visse, nem falasse.
Esse é o meu Pará que querem dividir. Retalhar não só o território, mas as falas, as tradições, a cultura, a sua História. Minha terra correndo o risco de não ser esse colo materno único, ímpar, que acolhe, que abriga da chuva, que nos enche de orgulho de ser não apenas Belém, mas Alter do Chão, Bragança, Soure, Altamira, Conceição do Araguaia, Ourém, Alenquer, Curucá ...
Talvez os que acreditam que a divisão é o melhor tenham batido na mãe, comido manga com febre e não entendido a metade do que está escrito aqui !
A morte já me visitou
Eu já estive sentada ao lado da morte. Primeiro um tumor que me fez conhecer seu rosto, a vê-la me levando pra longe sem que eu pudesse lutar. Logo em seguida se materializou em meu marido. Foi transformando seu rosto, seu corpo, seu olhar, seu sorriso. Ela é feia, amedronta, leva ao desespero, mas também é uma excelente professora. O meu mundo já não é tão pequeno, os valores mudaram e consigo ver acima do bem e do mal, priorizar o que de fato vale a pena e amar os que me fazem bem, me engrandecem, me acrescentam. A morte continua ali, à espreita, não tenho tempo a perder. Peço apenas a Deus que eu consiga terminar a minha missão por aqui. Não poderei consertar o mundo, mas posso enxergá-lo de uma outra forma.
Tim-tim Manoel !
Durante muitos anos, dia 15 de novembro tinha um roteiro imutável: nossa casa em Mosqueiro. Caranguejo, feijão fresquinho, vinagrete e farinha eram o prato principal. Muitos comemoraram conosco os aniversários do Manoel. Inevitável não lembrar, não chorar, não sentir saudade. Tento me conformar por ter tido o privilégio de ter, ao mesmo tempo e por tanto tempo: um companheirão, dois filhos, mãe,tia, irmãos, cunhadas, sobrinhos, muitos amigos, mas a dor dessa partida definitiva é inevitável. Uma latinha pra ti, meu velho!
AOS QUE ME ACOMPANHAM SÓ AQUI
A net tem sido mais do que uma companheira. Ela é o meu elo com o mundo. O mundo que deixei lá atrás em Belém, o que não consigo mais participar na Embrapa e de amigos distantes e de novos amigos que ela me traz. Sejam de muito longe ou daqui de perto.
Muitos deles só me acompanham aqui no blog e têm reclamado a minha ausência ou dedicação quase exclusiva ao Facebook.
A vocês, em especial ao Célio Melo, um pouco do que tenho feito, por onde tenho andado, como tenho vivido.
Não sei viver sem me compartilhar por inteira.
Muitos deles só me acompanham aqui no blog e têm reclamado a minha ausência ou dedicação quase exclusiva ao Facebook.
A vocês, em especial ao Célio Melo, um pouco do que tenho feito, por onde tenho andado, como tenho vivido.
Não sei viver sem me compartilhar por inteira.
Assinar:
Postagens (Atom)