É o meu olhar amazônico...é tudo tão delciosamente diferente !
Meu pé de taperebá
Ruth Rendeiro *
Quem desce a rua Antonio Uchoa Filho em direção à Portugal, no Jardim São Luiz,certamente já notou que naquela pequena praça há três enormes árvores que destoam das demais. Tem troncos grossos, galhos frondosos e uma elegância de superstar.
A mais próxima da rua cresceu muito - e desordenadamente- também para baixo. Suas enormes raízes, talvez por falta de espaço subterrâneo, estavam quase expostas. Garras de um felino tentando se defender. O calçamento fora danificado pela sua força e a cada dia ficava mais difícil caminhar por ali.
A primeira vez que me deparei com elas achei que era pura ilusão de ótica ou saudades delirantes do meu Pará. Nem comentei com ninguém. Poderiam achar que havia enlouquecido de vez. Esperei a safra. No chão os frutinhos pequenos e amarelos indicavam que eu estava no caminho certo. Coloquei um na boca e se alguém estivesse me observando iria notar a careta que fiz. Era azedo mesmo ! Era taperebá!
Não tinha mais dúvida: encontrara em Ribeirão Preto três taperebazeiros. Árvores que achei que tinha deixado pra trás quando saí de Belém há três anos. Cajá, como também é conhecido no Nordeste, é uma árvore que se destaca pelo tamanho e pela beleza de seu tronco. É madeira legítima.
Na infância, adolescência e maturidade, sempre fui uma contumaz consumidora de sucos e sorvetes de taperebá. Um sabor ácido, marcante e inconfundível e de repente ele estava ali, aos meus pés. Nem pensei duas vezes. Corri em casa, apanhei uma sacolinha plástica e fui juntando um a um os frutinhos. Até os mais danificados seriam usados no suco que já produzia saliva em abundância em minha boca.
Mas afinal quem teria plantado essas árvores típicas de regiões onde chove muito? Elas são exigentes demais em água. Como conseguiram se adaptar tão bem? Perguntei a alguns ribeirão-pretanos se conheciam o taperebá ou a fruta com outro nome. Nada. Era a única apreciadora e iria aproveitar.
A safra foi embora e fiquei muitos meses sem passar pelo lugar. Até que fui surpreendida com uma cena chocante: o taperebazeiro, que levantara a calçada com suas raízes, fora reduzido a algumas toras de madeira. Como gigantescas bolachas, estavam arrumadas uma sob a outra e aguardavam o carro coletor. Pelo bem da praça ele fora abatido.
Entendi os motivos, a necessidade de preservar os que passam por ali e podem cair, mas não pude evitar umas teimosas lágrimas ou vê-lo ali morto. Não mais produzirá frutos e talvez não tenha como ser substituído. Uma outra árvore será plantada em seu lugar, mas sem a sua beleza e imponência.
Felizmente ainda há outras duas outras árvores de taperebá na pracinha da Antonio Uchoa com a César Vergueiro. Agora é só esperar pela safra e novamente saborear um suco fresquinho e natural de cajá, taperebá...
Um comentário:
Oi, Ruth querida!
Como você, também sou jornalista, só que em Belém. Mas hoje sou também "micro-micro" empresário, com uma gráfica e editora de comunicação. Edito jornais, livros, revistas e tenho meu Blog (aqora é moda!), onde exercito palavras sobre cinema, liteartura, tolices, além de música e futebol, duas das minhas grandes paixões. Agora sou seguidor de seu Blog.Valeu?
Mas o motivos destas mal traçadas, é uma matéria belíssima que lí num jornal que editei aqui, que você fala sobre a divisão de nosso querido Estado num linguajar "PARAENSÊS". Lindo, lindo, lindo. Queria pedir sua permissão para republicar em meu Blog. O momento pede essa soma de esforços contra "eles".
Um forte abraço e parabéns pela sensibilidade à flor da pele belamente expressa em seus textos.
Marcos Moraes (Meu blog:
moraesdidascalia.blogspot.com.
meu email.
marcosdatunamoraes@hotmail.com.
Ah. Ia esquecendo: sou torcedor da Tuna, a minha querida Elite do Norte!
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