Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Os artistas que não subiram ao palco

Obviamente que o foco da FLIP está na tenda dos autores, um grande espaço onde se pode acompanhar ao vivo e a cores, os grandes astros convidados para deleitar ou decepcionar o público exigente dessa Festa. Outros, contudo, também fazem a Flip. Muitos sonham em um dia subirem ao palco: posam de intelectuais, vestem-se meio à francesa (chapéu estilo boina, cachecol quadriculado e calças de cortes elegantes), discutem nas mesas (não as oficiais, as dos diversos bares espalhados pela cidade) o que cada celebridade falou, suas incoerências, absurdos ou se esbaldam e babam com uma simples frase do ídolo. Ação típica do fã imparcial e apaixonado.


Adoro, porém, os bastidores. O clima extraoficialidade sempre me fascinou. Na Flip os termômetros também sobem além das tendas. Os anônimos, que ao final dos quatro dias já não são tão anônimos assim, procuram chamar a atenção do jeito que podem. Não têm seus nomes impressos em nenhuma programação (nem mesmo nas paralelas), mas são tão artistas quanto os que se aborrecem com o assédio ou se extasiam com os jornalistas, editores e leitores.

Conheci de perto alguns. Não conseguia resistir àqueles pedidos chorosos pra aumentar o peso das minhas sacolas com os seus livros, embora, via de regra, sejam bem fininhos. A 10 ou no máximo 20 reais era possível adquirir um livro de poesia (para mim de qualidade ultraduvidosa) ou outros de cordel (estes sempre engraçados e que muito me agradam). Um casal da Paraíba caricaturado como autênticos nordestinos do sertão devem ter sido os recordistas. Ela, lenço na cabeça, óculos escuros, batom vermelho intenso propositalmente borrado, indo muito além dos lábios, muitos colares multicoloridos e escrito à mão em um pedaço de papelão como um cordão: Autora. Ele, cabelos, barba e bigodes borrados com um produto não identificado que os deixaram grisalhos. Gravata colorida com um amarrado que tentava ser um nó e as obras nordestinas espalhadas em um grande tabuleiro pendurado no pescoço. Falavam alto, usam expressões típicas do Nordeste – Ô fia linda ! Eta muié ! – paravam pra tirar fotos com os transeuntes (eu fui um deles) e no domingo já nos cumprimentavam com intimidade. Devem ter faturado bem alto.

Fiquei “íntima” também de um poeta mineiro que sempre que eu passava ao seu lado lamentava que “o pessoal gasta um dinheirão na livraria, mas não quer ficar com os nossos livros que custam 10 reais. Depois dizem que são democratas, intelectuais”. Havia jovens, senhores, predominantemente homens, aproveitando a rara oportunidade de colocar à venda seus produtos.

Outros artistas, não das letras, fizeram a Flip 2011 mais festiva ainda. Uma boneca manipulada por uma jovem fechou uma das principais ruas de Paraty. Dançando “Um dois três quatro. Dobre a perna e dou um salto... “ cativou a todos. Lembrou-me a primeira apresentação da Anaterra no balé do Colégio Gentil no Teatro da Paz. Lindo e particularmente emocionante pra mim. Algumas estátuas, dessas que a gente encontra no centro das grandes cidades também embelezaram as ruas antigas. Uma em especial agradava as crianças. Uma bela sereia, muda, apenas jogava beijinhos após receber uma moeda. Tinha ainda um estranho e solitário Capitão Gancho e muita música. Um casal cantando MPB, uma jovem com um acordeão diferente sentada na porta da igreja e muitos índios. Guaranis talvez ou seriam bolivianos?

No dia que chegamos o primeiro ser estranho com quem cruzamos foi homem borboleta. Não... ele não voa, pelo menos literalmente. Vende broches de cabelo em desenhos de borboletas. Variadas forma, variadas cores, mas principalmente muito brilho. Douradas, prateadas, pequenas, maiores e como marketing enfeita sua barba, bigode e os longos cabelos com os acessórios. Fica algo inominável..Pergunta sempre a origem dos clientes (pra variar comprei uma pra ajudar!) e quando respondi Belém quis saber se de Belém mesmo ou de Ananindeua, Marituba ou Icoaraci. Conhece a terra. Falou do Museu Emílio Goeldi, daquele lindo mercado na beira do rio e durante os demais dias ganhei sempre um bom dia ou boa noite do homem que já esteve no Jô Soares e que tem blog para quem quiser conhecê-lo um pouco mais.

Outra atração das ruas de Paraty eram os enormes carros de mão carregados de guloseimas. Feitos artesanalmente reuniam vários tabuleiros,milimetricamente planejados e bem encaixados, com cocadas, quebra-queixo, tortas de limão, bolo de macaxeira (ou aipim como anunciavam), de tapioca (algo que para nós paraenses lembra uma tapioca de coco bem molhada), brigadeiros enormes com um morango gigante dentro... Uma festa gastronômica exageradamente calórica !

Vi ainda uma procissão típica de cidades do interior em homenagem a Santa Rita. Que não deve ser a mesma cultuada na Igreja de Queluz, no bairro de Canudos, homenageada dia 22 de maio. Pra encerrar com muita emoção, beleza e som forte dos grandes tambores e taróis,uma apresentação de maracatu encheu as ruas estreitas de pedras da bela Paraty. Um som que me remeteu ao Arraial do Pavulagem às vésperas do Círio nas igualmente antigas ruas da Cidade Velha.

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