Sair de São Carlos com destino a Belém não é tão simples como inicialmente pode parecer. A mais de 200 km da capital, a viagem começa no ônibus. Felizmente bons ônibus que circulam em boas estradas. Chegar ao aeroporto de Guarulhos é outra viagem. Tudo longe para os padrões de Belém. Por isso optamos em deixar São Carlos na véspera da viagem pela Tam. Eu, Raul, Anaterra e mamãe pernoitamos próximo do aeroporto e no dia seguinte prosseguimos com os trâmites para liberação das cinzas.
Muito cansaço, muito estresse, muita expectativa.
Antes de chegar a Belém havia, contudo,uma longa parada em Brasília. Desmembrar a passagem significava reduzir os custos, o que possibilitou um jantar com a amiga Ana Laura e o filho Vinicius. Um afago antes do desembarque na minha cidade natal.
Novo vôo e um atraso de mais de duas horas, finalmente pisamos de novo em solo paraense. No aeroporto Ieda, André e sua namorada nos aguardam com a caixinha com as cinzas. Tenho que pedir perdão à querida amiga pelo que fiz ela reviver, sentir. Justo ela que foi comigo, dia 10 de maio, levar o Manoel no aeroporto quando ele seguiu para o Hospital ACCamargo. Muito latente ainda para ela aquele adeus na ambulância quando apenas os exames laboratoriais indicavam a gravidade do quadro. Mas ele ainda era o mesmo menino grande, risonho, brincalhão, moleque. Seis meses depois ela carregava consigo o pó de um homem com quem tantas vezes tomou cerveja e comeu caranguejo. Perdão amiga!!!
Chegara o momento de chegar em casa e pela primeira vez não fora o Manoel que tinha ido nos apanhar no aeroporto. Avenida Júlio César, Almirante Barroso, Primeiro de Dezembro e finalmente o bairro de Canudos... felizmente o lexotan ainda estava fazendo efeito.
Em casa Rulton, Socorro, Marcela (dormindo) e o Leonardo (acordado por nós) e cada móvel, cada quadro, cada artesanato reluzindo o nosso passado.
Sempre soube que seria difícil, mas no dia seguinte, ao acordar e ter a exata e lúcida noção de que estava dormindo na mesma cama que dividi com o Manoel, que o banheiro ainda era o mesmo, que o Timão e a Dudinha (os cachorros), o Pretinho, gatinha e Floquinho permaneciam como antes, só o Manoel não existia mais, foi duro de maiss.
Felizmente a sensibilidade da minha cunhada Socorro e do Rulton diminuíram a nossa dor. Tudo o que tínhamos solicitado que fosse passado adiante não nos esperava mais. Havia pouco de pessoal do Manoel em nossa casa. Não precisamos arrumar o quarto de quem morreu, plagiando o Chico Buarque em Pedaço de Mim.
Se as lágrimas ficaram mais contidas nesse momento, caíram livremente quando abracei a dona Ernestina, vizinha amiga que ele tanto gostava. Outros abraços viriam, outras lágrimas seriam derramadas.
Além dos preparativos para a cerimônia da dispersão das cinzas, também precisava usar essa permanência em Belém para resolver assuntos pendentes como ir ao meu médico-guru, ter um encontro com a minha analista que há anos me acompanha, contatar com a corretora de imóvel para tentar vender a casa e assim apressar a compra de outra em São Carlos, passar na Embrapa...
Raul e Anaterra, mesmo saudosos do pai, reagiram de outra forma. A idade favoreceu que houvesse um misto de festa também nessa viagem. Eles estavam retornando a Belém e tendo a oportunidade de abraçar os amigos que deixaram tão apressadamente. A agenda deles ficou intensa. Mal paravam em casa. Mesmo incomodada, foi gratificante ratificar o quanto são queridos, o quanto têm amigos.
Eu também aproveitei a ocasião para rever pessoas queridas como os que acompanharam meu drama enquanto fazíamos a especialização na Unama, conversar com calma com a minha irmã Ruthlene e minha sobrinha Thaís.
Agora era nos preparar para ir a Mosqueiro.
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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Um comentário:
Querida, você sabe que mora no meu coração, não só você, mas toda a famíla. Tempo bom, quando o meu amigo Manoel me apanhava em casa, pra comer caranguejo e tomar umas geladas no mangueirão (a cozinha da sua casa). Beijos!!!!!!!!!!
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