Hoje é dia de remexer o baú das lembranças, desarrumar emoções, eviscerar momentos já distantes e outros nem tanto. O meu menino está fazendo 17 anos. Um pequeno-grande-homem, o meu único homem atualmente!
Ávida está fazendo dele um precoce chefe de família, levando-o a assumir responsabilidades que pensávamos estivessem ainda muito distante.
Sempre acreditei que teria filhos. Sempre quis tê-los. Próximo dos 30 anos nem levava mais em consideração o pai, queria apenas engravidar. Treinei a maternidade com o Ivan (hoje com 23anos) e com a Thaís (22). Não era a tia que apenas levava pra passear no Museu Emílio Goeldi aos domingos, mas a que limpava coco e passava horas acordadas vigiando a febre que não cedia.
Aos 32 anos, mais insistente do que nunca no desejo de gerar um filho, amamentá-lo e vê-lo ir se tornando um cidadão, felizmente apareceu na minha vida o Manoel. Mesma idade e sem filhos. Perfeito !! A gravidez não foi planejada, mas foi muito comemorada. Fiz tudo o que o médico (o primo e amigo Allan) recomendava e continuei seguindo à risca o que os pediatras determinavam. Cresceu saudável, mesmo com um susto aos 11 anos quando teve que operar o quadril. Mas nunca foi hospitalizado por doenças infantis como os que acometem muitas crianças do tipo intestinais ou respiratórias. Ou mesmo decorrente de acidentes domésticos. Uma mãe exageradamente cuidadosa, segundo os amigos mais próximos. Pode ser...
Hoje, no primeiro aniversário sem o Manoel, abracei um homem alto, forte bonito, mas acima de tudo um quase homem determinado, seguro, consciente e acima de tudo maduro pra idade, uma idade que todos diziam ser difícil, mas quase nunca lembro ser um adolescente com crises existenciais, dúvidas e humores em eternas mutações. Via de regra é tranqüilo, amoroso, atencioso e não apenas comigo, mas com todos com quem se relaciona. Mas se não gosta não esconde. Diz que não sabe fingir. Não faz nenhum esforço para esconder e manifestar a insatisfação com monossílabos e cara fechada.
Exigente, gosta de tudo o que é bom. Roupas, comida, sapatos e todos os acessórios masculinos. Um lado de seu perfil que tento controlar, minimizar, mas que ao mesmo tempo não vejo como problema, mas apenas característica. Como sempre mereceu o que lhe é dado, não há problema nessa troca. Conquista pessoas e o que quer, sem alarde.
Mal chegou em São Carlos e já tem um círculo grande de amigos , da escola ou da academia onde treina karatê. Há sempre elogios dos professores, dos coordenadores e até da senhora que cuida da disciplina. Educado e atencioso, sempre !!
Hoje nos emocionamos muito no abraço matinal. Faltava alguém naquele grupo. Nunca pensamos que, tão cedo, passaríamos um aniversário sem que o pai o beijasse e dissesse o tradicional: eu te amo muito, meu filho !. Eu e o Manoel conversávamos muito sobre como eles agiriam em nossa velhice. Mais impaciente e egoísta do que a Anaterra, sempre o recriminávamos pela individualidade exacerbada. Temíamos não tê-lo como um companheiro quando nossas pernas estivessem fracas, nossa audição limitada e o corpo demente. O Manoel não esperou pra saber...
Que reviravolta em nossas vidas ! O pequeno-grande-homem agora é quem vai ver se as portas estão fechadas à noite, quem carrega os pesos mais pesados, a pessoa indicada por mim para me atender em caso de um acidente. A inversão dos papéis tornando-se evidente !
2008 marcante para todos nós. Um ano atípico. Deixou amigos de muitos anos pra trás, namoradinhas que inundam seu orkut com declarações de amor, de saudade. A sua história em Belém que embora curta já é intensa. Perdeu o pai. Acompanhou a doença, viu seu sofrimento, se despediu com muitas lágrimas no CTI, ajudou a colocá-lo no caixão, foi comigo buscar as cinzas, mas não desabou. Cheguei a me preparar para o impacto no colégio, na relação com as pessoas e de alguma forma tentar ajudá-lo. Não.. ele é que tem me ajudado. Basta me ver chorando ou um pouco mais triste pra tentar me consolar dizendo que o Manoel agora está melhor, sem dor.
O dia de hoje está sendo muito especial, diferente dos aniversários anteriores, marcante. Será de poucas comemorações. Iremos a uma pizzaria (eu, mamãe, ele e a Anaterra) e lá, sem que ele saiba, estará nos esperando um pequeno grupo de amigos que já fez por aqui. A comemoração é íntima, simbólica. O que mais importa não está visível, fica guardado a sete chave em nossos corações. Estou me sentindo plena, serena com a descoberta de que a criança que pari há 17 anos está se tornando um homem de bem. Sempre pautamos a educação deles no estímulo. Educação a melhor que podemos oferecer, acesso à informação, bons livros, bons passeios, boas conversas, muito diálogo, limites, imposições, regras, castigos, mas muitos beijos antes de dormir, muitas explicações diante das decisões que para eles podem parecer absurdas, no respeito ao outro, na visão de que o mundo é heterogêneo, as pessoas diferentes entre si e por mais difícil que possa ser entendê-las e nos entender, temos que pelo menos exercitar pra não sofrer e não fazer sofrer. Viver bem com a diversidade é uma arte e os que conseguem são sempre mais felizes que os limitados, o que não cresceram como pessoas, os que se mantêm com o olhar fixo em um ponto sem se permitir sonhar, experimentar, renascer.
Tento penetrar em seu mundo, massei que nunca conseguirei. O mundo dele é dele. Só dele ! Mas o que olho pela fresta me dá alegria, tranqüilidade. Além da dedicação, para mim exagerada às atividades físicas e alimentação controlada, ele está olhando pra frente e tentando aproveitar a oportunidade que a vida nos ofereceu de estarmos em um centro mais desenvolvido, com universidades mais qualificadas. Ontem eu ganhei o presente: decidiu, além do curso tradicional, freqüentar à noite o intensivão do Objetivo. Um dos mais conceituados da cidade. Será puxado. As aulas se estendem até às 23 horas, mas ele quer encarar o desafio, quer ir mais seguro para o vestibular. E se depender de mim, irá !!
Este é o meu bebê que quase não cabe mais na minha cama, vive admirando seus músculos no espelho, cuida da aparência, mas tem uma beleza maior do que a que os olhos nos permitem ver: interiormente está em formação um homem de bem . Os mais sensíveis, os menos preconceituosos, os mais evoluídos como espécie humana conseguem vê-lo nitidamente.
Espero que a vida continue me presenteando desse jeito e que muitos e muitos anos possa ainda dizer, dia 23 de setembro ou todos os dias, o quanto o amo e o quanto eu tenho orgulho de ser sua mãe.
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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4 comentários:
QUE LINDA DECLARAÇÃO DE AMOR.E ELE MERECE.MEIGO,EDUCADO,COMPANHEIRO,BRINCALHÃO,NA DELE,INTELIGENTE,ESPERTO,MIMADO,DENGOSO,NEN PRECISAVA SER BONITO,ABUSOUUUUU...QUE COM AS BENÇÃOS DO PAI MANOEL ELE SEJA UM HOMEN DE BEM E DO BEM.MESMO SO AGORA EU TENTANDO FAZER ALGUNS MIMOS CULINARIOS PRA ELE,QUERO AINDA ELE POR PERTO DA GENTE,NA CASA DA TIA,QUE E DELE TAMBEM SEMPRE QUE VIER.O ABRAÇO VIRA NO DOMINGO.ABRAÇOSSSSSSS
Oi Ruth!
Sabe, por esses dias está ocorrendo a Feira do Livro aqui em Belém. Ainda ñ sei se irei este ano, provavelmente ñ. Mas só de falar, lembro do ano passado, da última feira do livro...Sei que ñ deveria escrever sobre isso, lembrar disso (e até peço desculpas por isso, já que ñ deveria relembrá-la, mas foi inevitável pra mim.), mas é que simplesmente ñ consigo esquecer. Até a hora de vc chegar, ñ conseguia acreditar no que outros já haviam me adiantado. Enfim, ao passar pela frente hoje, me ocorreu a lembrança. Perdi o sinal por isso. Fiquei com o carro parado, com o olhar distante, quase cega, mas a cabeça borbulhando de lembranças. E desde então um filme se formou na minha mente. A sucessão de acontecimentos logo após aquela última feira. Um curta com fatos da feira até o agosto desse ano, incluindo o momento em que li o texto que vc enviou p/ nossa formatura (acho que nem preciso dizer que nesse momento, as maquiagens precisaram ser retocadas!). Depois de "acordar" desse filme, pensei: "Nossa, já se passou 1 ano..."
E dei uma passadinha aqui no teu blog p/ saber como vc está, como tem passado e dizer que estou com saudades!
Bjos
Carol Saboia
Oi
comadre.
Não esqueci o niver do Raul. Nossos momentos aki tem sido meio dificeis. A Vó continuava hospitalizada e já se iam 2 meses de rotinas hostipalares, entre cidade nova e porto dias.. Diz pro raul que desejo toda felicidade do mundo , que ele encontre em S. carlos a realização de seus sonhos. Assim que puder irei visitá-los. Quanto a Vó ,enfim ontem(26/09) ela descansou. 93 anos de convivência que vão deixar saudades, afinal aprendemos a conviver com ela desde que existimos. Foi doloroso com é todo enterro , mas temos certeza de que ela tá melhor que aki. Tenho lido sempre seus recados. Obrigado pelo convite do H5. Todo sucesso pra vc. Saúde, muita saúde, beijos na Janete.EFico por aki envolvido com politica e torcendo para meu candidato ser eleito , poi eu tambem preciso trabalhar, rsrsrsrs
Beijo especial em vc. Tô carente de amizade. Tô com saudades de vc.
Beijo. GUI
Oi Ruth,
É bom ver os filhos crescendo e mais importante se tornando homens de bem. É isso que peço sempre a Deus para que Ele me ajude nessa empreitada que pra mim é a mais importante.
Parabéns pro Raul, um abraço nele (que não me conhece com certeza-rs) e pra vc. Cuide-se!
bjs no coração!
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