Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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sábado, 14 de junho de 2008

Recomeçando aos 50

Uma nova aos 50 anos, quando já passamos do meio-dia, como diz um amigo virtual, parece tão difícil. Os temores são muitos, as responsabilidades têm uma dimensão exagerada se comparada com a visão simplista dos jovens que nada temem e em tudo acreditam. Porém, não tenho opção ou melhor: tenho o privilégio de trabalhar há quase 25 anos em uma Empresa que coloca na prática o que muitas utilizam apenas como marketing:”nossos recursos humanos são o nosso maior patrimônio”.Isso tem feito a diferença.

Incontestável a descoberta ingrata e frustrante de que a minha querida Belém não tem condições de tratar doenças mais complexas com dignidade e tecnologia. Lamentável ter que deixar tudo o que construímos em busca de mais alguns anos de vida com qualidade e acompanhamento médico digno. Felizmente, temos encontrado apoio onde já esperávamos, já sabíamos que existia, mas que nem por isso tem deixado de nos surpreender. É como se um batalhão de pessoas estivesse nos protegendo, nos guardando, nos trazendo o que de melhor existe para atenuar esse momento. Dos mais altos escalões, que envolvem pessoas da Sede da Embrapa em Brasília, ao mais humilde colega da Unidade de Belém as manifestações se multiplicam. Não são apenas palavras, mas gestos que incluem doações de novas milhagens para que essa despesa com passagens seja minimizada; informações sobre as Unidades sediadas em São Paulo, a compatibilidade com o meu perfil profissional e as necessidades da Empresa e convites para ir trabalhar em outras Unidades, o que me enche de alegria e aumenta a minha responsabilidade.

Sair de Belém, uma cidade que para muitos que moram no eixo Centro-Sul-Sudeste é quase o fim do mundo, e ser acolhida e reconhecida pelos colegas da Embrapa que estão sediadas no Estado mais rico e desenvolvido do País, é algo que nunca havia pensado em vivenciar. Os que me conhecem sabem o quanto a minha profissão, o meu trabalho representa em minha vida. Trabalho porque preciso, mas acima de tudo porque gosto, porque acredito que posso contribuir, de alguma forma mudar. Sinto-me sim envaidecida, embora tenha explicado aos que me convidaram e têm uma grande expectativa alicerçada no que desenvolvo na Embrapa de Belém há quase 25 anos, que é preciso analisar racionalmente a situação atual e àquela em que me encontrava quando estava no auge da minha produtividade. Durante anos dediquei muitas (a maioria para ser mais exata) horas do meu dia à Embrapa. Não tinha hora pra entrar nem para sair, apenas compromissos a serem cumpridos, metas a serem alcançadas, resultados a serem comemorados. Contudo é preciso analisar os momentos. Hoje não sou a mesma pessoa de dez, cinco anos atrás quando tinha uma infra-estrutura pessoal firme, sólida. Estava na minha terra, ao lado do meu marido saudável, com os filhos, mãe, irmãos, D. Lúcia me dando suporte, permitindo essa doação ao trabalho. Agora é diferente. Estou em outro momento. O cenário se alterou e já não serei a jornalista que fuça, que corre atrás, que briga pelas inserções, que acompanha e prepara os pesquisadores, que atende os colegas de Redação a qualquer hora do dia ou da noite, que escreve e escreve e escreve, que pensa e pensa e pensa.

Meu tempo é outro, meu mundo agora inclui e prioriza hospitais, médicos, exames, remédios e muita insegurança, muito medo.

Minhas necessidades são outras. É óbvio que não cogito parar de trabalhar, me aposentar, deixar de ser produtiva e atualizada e a Embrapa me permite isso, investe e nos dá a chance de estarmos à frente em nossa área, mas quero paz, quero tranqüilidade para me reorganizar, para recomeçar e São Carlos, a cerca de 250 km da capital tem tudo para se tornar o nosso porto seguro. Uma cidade pequena, população em torno de 200 mil habitantes e uma Unidade da Embrapa menor ainda. Enquanto na Embrapa de Belém meu universo incluiu cerca de 140 pesquisadores e mais de 500 empregados, a de Instrumentação Agropecuária em São Carlos reúne 60 profissionais no quadro geral. Serei transferida e novos colegas surgirão em minha vida.

Tudo tende a ser diferente, tudo tende a ser uma nova oportunidade.

O que visualizo é uma rotina de maior dedicação aos filhos, a mim, à saúde, ao marido e ao trabalho. Aos poucos tudo vai se encaixando, fazendo sentido. Ir para Campinas, a segunda opção, não é o que busco, pelo menos agora. É uma cidade grande como Belém com as vantagens e desvantagens de ter mais de um milhão de habitantes. Tentações intermináveis para um rapaz de quase 17 anos e uma pré-adolescente. Violência demais para uma mãe nervosa e frágil que ficará distante dos seus e de tudo o que significa segurança. Bem sei que lá encontraria uma diversidade maior profissional e alguns convites além-Embrapa já tinham sido feitos, possibilidades de uma capacitação mais direcionada às áreas que atuo e tenho mais familiaridade dentro da Comunicação, mas agora não.

Já estou conhecendo São Carlos pela Internet, contatos já foram mantidos e a receptividade tem sido boa demais. Um estímulo que faz a diferença. Uma cidade calma, “a capital da tecnologia” como ressalta o slogan e uma perspectiva de me encontrar e de estar mais perto do que há de mais atual para tratar a minha saúde e a do Manoel.

Tenho muito ainda a resolver, mas a solidariedade dos amigos e familiares tem permitido que a angústia e o cansaço sejam minimizados. O Rulton me ajuda na venda do carro, a Ruthlene leva a Anaterra na escola, a Ieda me telefona e me dá colo, a Vanessa e a Ana Helena me apanham em casa, a Gisele despacha material, a Dóris, incansável, sai de Leme para ficar com o Manoel em São Paulo, a Érika me escreve e me telefona sempre, os vizinhos que não param de perguntar pelo Manoel, o Sílvio Brienza, Jorge Yared e Giorgio me doam suas milhagens, o Xerfan colabora com a liberação de bagagens, pais, professores e freiras do Colégio Gentil se empenham em facilitar nossa vida, assim como a área de pedagogia do colégio Equipe. Tem ainda os dedicados amigos da Faz. Dirigentes, professores e alunos que têm feito tantas homenagens, orações. Tem tanta gente a nossa volta que tenho me perguntado se essa experiência trágica e dolorosa nos foi colocada principalmente para que tivéssemos essa oportunidade de saber que o que plantamos valeu a pena. Essas demonstrações de amizade e carinho, que incluem palavras de incentivo e compreensão do que se passa em nossas cabeças e corações é que me impulsionam a organizar o bazar (badaladíssimo, por sinal !), a me preparar para a partida. Se não fosse esse batalhão que nos acolhe com os sentimentos mais nobres que o homem pode ter, eu estaria agora em São Paulo, sem equilíbrio, sem rumo. Confesso que há horas em que tenho vontade de largar tudo e ir para perto do Manoel, como aconteceu ontem.

Dia 13 de junho será inesquecível nesse nosso sombrio calendário. Depois de analisar a compatibilidade de todos os irmãos, a boa notícia: a Dé (ou Ana Maria), é 100%compatível e no caso de transplante de medula será a doadora. Uma graça, mais esperança, mais uma batalha vencida. Mas ontem também foi um dia difícil. Pela primeira vez, desde que está em SP há mais de um mês, o Manoel passou mal. Cansaço, fraqueza nas pernas, indisposição generalizada e um forte abalo no humor, na esperança. Dormi preocupada e quando o sol ainda nem nascera já estava telefonando, querendo notícias. À noite imaginara comprar uma passagem e amanhã estar em São Paulo. Sim, porque só estou em Belém providenciando com calma e organização nossas vidas porque ele está bem. Felizmente acordou (eu o acordei!) bem disposto e já com outra voz, outra disposição. Tomou plaquetas na madrugada e uma nova medicação lhe deu uma nova arrancada nessa longa trajetória de subidas e descidas que o espera. Que nos espera ....

Sei apenas que quero estar ao lado dele com nossos filhos nos apoiando e com certeza e fé em Deus, recomeçando aos 50.

2 comentários:

Juarez de Almeida disse...

OI, meu nome é Juarez e li atentamente. Tenho hoje 46 anos e a 2 anos me separei da minha esposa com quem tenho uma linda menina de 13 anos que é a coisa mais importante da minha vida. Sei que pode parecer estranho ,mas quando me separei (vontade dela), perdi também o emprego pois trabalhava com ela em seu escritório de advocacia. Trabalhei durante todo o período de faculdade pois quando iniciei, fui trabalhar com ela imediatamente. Me forme em direito e tão logo conclui o curso, nos separamos. Daí então não tive mais cabeça para nada e não consegui a aprovação no exame de ordem que me habilita a trabalhar por três vezes. Desde então sou só depreção e baixa estima e não consigo trabalho pois no meu currículo tem uma lacuna de 6 anos fora do mercado de trabalho.
Sua história é genial mas não vejo como posso repeti-la. Sem trabalho fica difícil levantar e até mesmo alguém estender a mão.
Boa sorte pra você.
Bjs.

Juarez de Almeida disse...

Desculpe o erros principalmente o "depressão" que escrevi com "ç". Que burro. Desculpe.