Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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quarta-feira, 14 de maio de 2008

Pequenas vitórias

Acredito que o que acontecia comigo acontece com qualquer pessoa. Quando via uma pessoa passando por uma tragédia, por momentos muito difíceis como doenças graves, morte, perdas de modo geral, ficava imaginando que se fosse eu não agüentaria, não resistiria a tanta dor, tanto sofrimento.
Agora me vejo assim meio perdida, ainda tentando entender o que está acontecendo com a minha vida. Até setembro do ano passado era tudo tão arrumadinho, tão bem encaixado e agora setembro parece tão distante. Nossas preocupações limitavam-se às contas, às crianças, à margarina que tinha acabado ou o peixe que não deu tempo de ser comprado.
Há exatamente um ano estávamos organizando a bela festa dos meus 50 anos. Eu preocupada com o chope que o Manoel não conseguia contratar, com a distribuição dos convites. Ele e a Anaterra acertando os detalhes com o Alexandre Souza, o mais perfeito cantor paraense da obra do Chico Buarque.Transformamos nossa casa em um barzinho com música ao vivo e chope à vontade da década de 80. Ficamos até o amanhecer brindando a chegada de outra década.
Hoje minha realidade, minha agenda só inclui médicos, hospitais, exames. Meus e dele. Procurei durante esse tempo em que descobri que tinha câncer na mama, ler tudo sobre o assunto, participar de comunidades na Internet (maravilhosas, por sinal!) e entender, decidir sobre o meu corpo, sobre o meu tratamento. Agora busco informações sobre leucemia. Novo aprendizado, novos medos, mais angústia.
O que me tranqüiliza é que sei que tomamos a decisão acertada ao enviá-lo para São Paulo, para um bom hospital. Enquanto decidia, mobilizava os amigos, providenciava ambulância muitas dúvidas me atormentavam. Eu era a principal incentivadora, mas tinha medo do afastamento, temia pela distância. Mas agora eu sei: as viagens que fiz antes para São Paulo, quando trilhei os caminhos da burocracia, dos hospitais não eram para minha cura, eram todas para o Manoel. Fui apenas um instrumento de Deus para ir na frente desvendar, saber com antecedência para onde ele deveria ir em busca da sua saúde. O que leva em torno de um mês, conseguimos providenciar em cinco dias. Meu coração está tranqüilo agora. Ele está no melhor lugar e é lá que ficará bom. Voltará para continuar criando seus filhos.
Ontem ele comemorou a sua primeira pequena/grande vitória: saiu do isolamento, já pode deixar o quarto, conhecer o hospital, conversar com outros pacientes. Em breve estará cheio de amigos, falando de Nelson Rodrigues, Belém, dos filhos, cachorros e Embrapa. Estava visivelmente feliz ao telefone.
Enquanto isso tento manter a rotina aqui. Meninos na escola, balé, natação, academia, inglês; idas ao supermercado, feiras; visitas ao Leonardo e até mesmo uma participação ontem na primeira discussão para criação de uma Rede de Comunicação e Ciência. Revi pessoas queridas, conversei sobre tudo isso e saí mais aliviada.
Meu tratamento também começa a se materializar, mesmo com tantas dificuldades. Na quinta-feira fiz as marcações, mas até hoje não tinha nenhuma informação sobre quando começaria a radio. A médica garantiu que seria no início dessa semana. Não viajei com o Manoel por isso e hoje, quarta-feira, nenhuma notícia. Fui me mobilizando, articulando, conversando com um e com outro e tentando rastrear onde estava meu prontuário, quais os impedimentos e finalmente, há alguns minutos, a boa notícia: amanhã vou ao Ophir Loyola iniciar a radioterapia e assim me prevenir mais ainda de uma recidiva ou mesmo um outro tumor.
Só espero que a displasia diagnosticada ontem pelo mastologista não seja impeditivo para que o tratamento aconteça. As dores que têm me acompanhado há uma semana na mama esquerda, é, segundo ele, uma reação do organismo ao estresse desses últimos dias e talvez a antecipação da menopausa também esteja influenciando. Estou tomando a medicação recomendada por ele e me sentindo melhor.
Agora é esperar pelos próximos episódios, rezar para que nada mais aconteça e nos surpreenda e arrumar uma mala para em breve ir a SP ver o Manoel.
Fará bem para mim, para ele e para a Anaterra que irá junto.

2 comentários:

Vânia Torres disse...

Ruth!
Só agora tomei conhecimento da sua dupla jornada de enfrentamento do câncer. Fico emocionada de ver a maneira bonita como você conta suas estórias e reparte com a gente suas dores, avanços e descobertas. Que sirva de exemplo!
Um beijo bem grande no teu coração
Vânia Torres

Nayyara disse...

Sua luta, sua garra, sua força, seu empenho e sua dedicação tem me ensinado que devemos lutar sem perder a fé, o amor e a esperança.
Tudo vai dar certo.
Bjs.
Nayyara