Paciência nunca esteve entre as minhas poucas virtudes. Sempre fui apressada, agitada, ansiosa. Fazendo e querendo fazer mil coisas ao mesmo tempo. Talvez nunca tenha exercitado tanto o ser paciente como agora.
Depois de peregrinar pelos oncologistas clínicos em Belém e em São Paulo e ir me cadastrar no Hospital Ophir Loyola, nada mais me resta fazer a não ser esperar. Esperar pelo resultado da revisão histopatológica que está sendo feita em São Paulo, em um laboratório mais moderno (presume-se!) e por pessoas mais qualificadas (imagina-se!). O material retirado do nódulo já seguiu para Sampa. Confesso meu receio em receber essas informações em breve. E se elas não forem compatíveis com o que foi detectado pelo laboratório de Belém? E se ele apontar que terei que fazer quimioterapia em função de uma informação errada ? E se ... e se... e se....Tenho que esperar. Bem sei. De novo a ansiedade toma conta de mim.
Esperarei ainda até o dia 8 de abril para fazer a programação da radioterapia. Um procedimento que antecede as aplicações propriamente ditas. Pelo que me foi explicado e pelo que já pude ler sobre o assunto, vou nesse dia apenas ser marcada com uma tinha quase permanente (fica no corpo por anos) o local onde devo receber a irradiação. Após é que será definido o início das sessões. Quis saber o por que da demora, tantos dias para marcar a programação, certamente muitos outros para começar a radio e a explicação foi mais uma surpresa irritante, absurda e inaceitável. Terei que esperar porque não sou uma paciente grave.
Entendo que há outros pacientes mais urgentes, mas terei que esperar me tornar uma paciente grave para ter esse direito ? O que são para essas pessoas, que se habituaram ao sofrimento alheio, que enxergam com naturalidade aquele outro à sua frente esquálido, com fome e semimorto como parte do seu trabalho, um paciente grave ? Tenho que me tratar exatamente agora, enquanto tenho todas as chances de me curar. O pior é saber que não tenho escolha. Falta-me opção. Em Belém, esta cidade que os políticos insistem em rotular de “metrópole da Amazônia”, com cerca de um milhão e meio de habitantes e que anuncia que temos um hospital referência no tratamento do câncer, só possui esta alternativa para os que são portadores dessa traiçoeira doença. Nem mesmo o nosso governador médico, duas vezes à frente do Estado, mudou este cenário. Agora que a titular é arquiteta, acho que fica mais difícil ainda. Não há nenhuma clínica particular ou conveniada para dividir o número de pacientes que só cresce no Ophir Loyola, já que além do Pará, atende também pessoas carentes que chegam do Maranhão, Amapá, Tocantins ...
Ter conhecido as opções fora de Belém só aumenta a minha insatisfação. Vi, mais uma vez, agora sentindo na pele, especialmente em Campinas, a grande diferença que existe entre as regiões ditas pobres do Brasil e o “sul maravilha”. Clínica conveniada, inclusive com a Embrapa, localizada em um bonito bairro (Taquaral), limpa, moderna, com atendimento de primeira e com equipamento de radioterapia à disposição. Pacientes bem tratados, ninguém jogado no chão, exposto em macas pelo corredor ou indo e voltando por falta de documento.
Tenho a opção de ir fazer meu tratamento lá. Mas deixar Belém neste momento é muito complicado. Significa ficar mais de um mês fora e sozinha, além dos altos custos com hospedagem e alimentação. Acho que não agüentaria. Estou frágil, sensível demais e sei que um estado emocional ruim só alimenta essas células desobedientes que perambulam silenciosa e traiçoeiramente pelo meu corpo. Tentei identificar, pela Internet, pelo menos um curso na área de Comunicação, o que ocuparia meu tempo. Preciso me sentir viva, ocupada, útil, mas não encontrei nada.
Há outros motivos que prendem em Belém também. Preciso terminar a minha monografia antes de retornar à Embrapa. Algo que está me preocupando, mas que ainda não me dediquei de cabeça como deveria. Hoje tenho um encontro com a minha orientadora (a Ivana) e espero ter uma definição sobre o meu objeto de estudo. Tem meus alunos. Assumi, mesmo sabendo de minhas potenciais limitações, três disciplinas. Não tenho o direito de deixá-los no meio do caminho. E o Raul e a Anaterra ? E o Leonardo, que neste momento está hospitalizado com pneumonia?
E o mais importante de tudo isso: não vou fugir dessa realidade que é o meu Estado, a minha cidade. Como diz a minha amiga virtual Ana Maria, que mora no Rio, esse é o retrato de todos os hospitais públicos do nosso País. Estou classe média demais, burguesa demais, sensível demais, preocupada demais com os outros. Preciso encarar de frente que este é o meu mundo e não fugir e me abrigar entre paredes de mármore em São Paulo ou Campinas enquanto a minha Belém fede, apodrece e nossos políticos distribuem sorvete de tapioca na CPI dos cartões corporativos, em Brasília.
Força e resignação Ruth !!!
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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