Aquele espaço com cheiro característico, amontoado de gente de diferentes origens, suadas, restos de frutas e verduras que viram lixo. A diversidade amazônica exposta, explicitamente arreganhada e que sempre me apaixonou.
Gosto de ir ao Ver-o-Peso, a feira cantada em verso e prosa pelos paraenses que chegam a afirmar que ela é a maior a céu aberto da América Latina.
Nem me importo se não é...
Tudo bem que temos que estar sempre alertas, ser assaltado é um risco constante e escorregar caindo no meio da sujeira também. Tem ainda os desonestos disfarçados que roubam no peso e na qualidade do produto. Mas o lugar é único.
Quase todos os sábados passo por lá. Vou, principalmente, comprar peixe. Agora só filhote, pescada amarela, pirarucu ou tambaqui. Antes, extrapolava : tamuatá para ser degustado no tucupi; pratiqueira para ser bem fritinha e servida acompanhada de feijão grosso. Tem ainda a gó, mapará, pescada branca, dourada, sarda...
A cada sábado descubro um novo lugar, vejo com um novo olhar o que há anos meus olhos já conhecem. O pu-pu-pu que passa sem pressa pela baía de Guajará levando os ribeirinhos de volta pra casa. Amanheceram na capital trazendo seus frutos e verduras. Ou encontro uma nova peça de artesanato em exposição. Linda, diferente, encantadora.
Nas compras, além de muito peixe, as frutas. Algumas que só encontramos na confusão organizada do Ver-O-Peso. Banana inajá (lembra Fernando Jares ?), jambo rosa, fruta-pão, abricó, mangaba fresca, jaca manteiga, cajarana, sapotilha, ingá.
Jambu em abundância, pimenta-de-cheiro, tucupi, cariru, macaxeira, plantas e mandingas que curam, que atraem bos fluidos e afastam mal-olhado. Aumentam a libido, arranjam emprego e até marido.
No alto, a voar livremente os urubus, que inutilmente tentam dar vencimento à enorme quantidade de lixo. Comida em abundância.
Os mesmos da música do Antonio Carlos Maranhão : "e os urubus famintos anjos negros, cansam do céu e vêm a lama descansar. E a noite vem em lua nova ou lua cheia e lá nos galhos das mangueiras, voam pra se agasalhar".
Tantos sabores, tantas cheiros, tantas cores...
Volto suada, melada e revitalizada pelas delícias adquiridas e pelo prazer de me redesrobrir paraense.
Uma papa-chibé autêntica, cara redonda, nariz de batata e orgulhosa dessa terra com todos os seus dissabores, escândalos e injustiças.
A Belém do Ver-o-Peso !
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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