Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Jornalismo o quê mesmo ?

Nunca concordei com os rótulos, essas coisas carimbadas que parecem imutáveis, sem a menor probabilidade de crescer ou decrescer. Apenas permanecer estático.


No jornalismo os rótulos também sempre me incomodaram. Jornalismo Econômico, Jornalismo Esportivo, Jornalismo Político. Muitos não conseguem fugir dessa embalagem que nos agrupa e eu obviamente também fiz parte de alguns deles.

Participei ativamente durante anos da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental e até hoje a acompanho por tudo o que representa em informações bem fundamentadas, críticas profundas e pessoas totalmente envolvidas com a causa.

Depois de trabalhar 25 anos na Embrapa Amazônia Oriental não tive como fugir de outro rótulo: jornalista científica, embora, nas diversas oportunidades que tive, tenha ressaltado que era uma autodidata que o destino colocou atrás daqueles altos muros brancos em Belém. Fuçando laboratórios, viajando para o campo pra conhecer experimentos. Aos poucos fui entendendo dos processos básicos de quem faz ciência e como não poderia apenas ser um papagaio que abria e fechava aspas, lia atentamente o que os pesquisadores escreviam, os resultados que alcançavam e tentava, de alguma forma, facilitar para o leitor/ouvinte/telespectador que entendia daquilo menos do que eu, pudesse saborear as conquistas, visualizar que o investimento valera a pena, acreditar que o futuro seria melhor.

Uma área apaixonante... Cada vez que conseguia entender uma pesquisa, principalmente aquelas bem complexas que exigem o mínimo conhecimento de química, física ou biologia, justamente tudo que eu não domino e depois de escrever, reescrever sei lá quantas vezes e saia como eu queria, como eu imagina o leitor lendo e compreendendo tanto investimento, tanta dedicação, ficava livre, feliz. Mas jornalista científica ? acho que nunca fui. Mesmo participando por duas gestões da diretoria da Associação Brasileira de Jornalismo Científico.

Acredito que somos apenas jornalistas que por algum motivo- opção ou oportunidade –nos dedicamos mais a um tema do que a outros, mas seremos sempre aquele que com uma boa pauta na mão escreveremos até sobre prospecção de petróleo ou nanotecnologia ou sobre o incêndio no galpão na esquina de casa. Obviamente que conhecer bem o assunto, ter boas fontes só facilita essa “especialização” que às vezes torna-se até formal. Os cursos de pós-graduação estão aí e cada dia mais demandados.

Eu estou começando outro (fiz o primeiro em Comunicação Institucional na Amazônia, na Unama, em Belém). De novo o nome pomposo, o rótulo que surge. Tudo bem que é preciso diferenciar um curso de jornalismo cultural de um em jornalismo investigativo, mas não da forma amarrada como muitos defendem, como muitos até precisam para justificar que “só sabem escrever sobre esse determinado tema”.

JORNALISMO LITERÁRIO

Há cerca de dois meses estou participando, em São Paulo (capital) de uma pós lato sensu em Jornalismo Literário, promoção da Academia Brasileira de Jornalismo Literário. A cada 15 dias viajo cinco horas pra ir e cinco pra voltar completamente exausta. Sexta-feira à noite e o sábado inteiro nos deleitamos em discutir, conhecer, trocar experiências e fortalecer a crença em um jornalismo diferenciado. Um aprimoramento no que me dá mais prazer na vida hoje: escrever.

Alguns amigos brincaram que iria só gastar dinheiro (“já escreves tão bem...”), outros que apenas estava buscando algo pra me ocupar depois da aposentadoria ou que queria mesmo era ir pra capital bater perna.

Fui...

A cada final de semana ratifico que tomei a decisão acertada. O jornalismo literário está nas veias de muitos jornalistas que conheço, é latente, apaixonante, o que nos falta é só rotulá-lo como tal. Bem difícil principalmente para os que vivem na Amazônia e mal conseguem fazer o jornalismo diário, o tradicional, com lide e sublide. Mas quantas vezes já lemos textos onde as histórias valem mais do que os acontecimentos ?

Há outros rótulos talvez menos pomposos: jornalismo narrativo, literatura da realidade, literatura de não-ficção... O que importa mesmo é o que é ressaltado pelos professores: JL é mergulhar, se colocar no lugar do outro (imersão), é o prazer em conversar, descobrir. É humanizar os textos. Valorizar o homem e não o fato, ser criativo, responsável, ter estilo...

Tenho me identificado muito com essa abordagem de fazer jornalismo. Um jornalismo com profundidade que nos permite adjetivar, sentir, se emocionar, mas nunca fugir da verdade. Ficção não entra !

Descubro, por outro lado, uma farta bibliografia sobre o assunto. Alguns livros e filmes bem conhecidos, outros nem tanto, mas um grupo grande que faz (ou tenta fazer) um jornalismo mais humanizado, que exige mais do repórter, que vai além, muito além do que todos estão vendo.

Um exemplo bem recente e que coloquei em debate na sala de aula, aconteceu no velório do ex-presidente José de Alencar. Um militar que fazia parte da guarda de repente desmaia. Procurei insistentemente na internet, assisti os telejornais e não encontrei nada além de algumas poucas linhas ou o vídeo com a cena e com títulos como O Tombo. Como leitora/telespectadora gostaria de saber mais, de ir mais profundamente, saber de fato o que houve para que aquele homem alto, jovem, de repente sucumbisse na frente de todos, quase batendo no caixão.

Os exercícios e a teoria que o curso de JL estão me fazendo aflorar desejos já sentidos, mas pouco exercitados, me levaram a idealizar uma ampla matéria que responderia algumas das perguntas que me perturbaram ao ver a cena. Quem seria aquele militar ? O que de fato ele teve ? Será que não gostava de enterro ou de repente teria perdido o pai há pouco tempo ? Fizera alguma refeição antes de ir para o salão nobre ? O que o emocionara tanto a ponto de desmaiar ? E o que aconteceu com ele no quartel ? Foi tratado ou punido, ridicularizado por seus superiores e colegas ? Ahhh a matéria não feita quase torna-se um texto de ficção ...

O curso tem propiciado remexer lembranças, expor emoções, liberar lágrimas e conseguir, ao mesmo tempo, arrumá-las em palavras. Não deixar escapar a criatividade, mas alicerçada na realidade, mesmo que seja uma lembrança que estava adormecida, quase enterrada, deixar vir à tona com os métodos empregados pelos que ministram o curso.

Prometo (para os amigos que me seguem e têm me cobrado a atualização mais freqüente do blog) descrever com detalhes e aos poucos ir disponibilizando os poucos e ainda amadores textos de JL que escrevi.

O importante é que estou gostando.

Preciso sempre estar apaixonada ou não consigo produzir...









































Um comentário:

webeatriz disse...

Ruth! também me debato com tantos rótulos: jornalismo cientifico, jornalismo ambiental; comuicação Institucional, comunicação organizacional; jornalismo Literário, jornalismo cultural etc e tal... , é tudo junto, tudo misturado!
Eu não sabia a distinção , mas acho que gosto desse jornalismo humanizado, que vai além do fato , do momentaneo, do instantaneo!
Na Faculdade tive oportunidade de fazer umas matérias que me levaram muito longe e eu adorei fazer ( só me frustrei porque a revista da fac. nunca foi publicada!) e um dos generais que entrevistei morreu sem ver a matéria publicada.
Vc. está fazendo falta na nossa Embrapa, agora mesmo elaboro um projeto de Div. Cientifica , que tu te encaxarias bem na parceria.
mas já que vc. mudou de caixinha , apaixone-se e solte o verbo! Bjs