5.2 ! Uma idade que quando eu era jovem (l[a pelos 20, 25) achava que seria uma velha, que arrastaria os p[es e andaria de robe do Ceará durante o dia inteiro. Sentada em uma cadeira de balanço bordando ou fazendo crochê ou no máximo uma palavras cruzadas ou lendo um bom livro!
Preciso de um espelho pra contar as rugas, olhar com um olhar crítico as mãos já cheias de dobrinhas e machas senis ou, depois de trabalhar e ir ao supermercado, me sentir muito cansada para ter a certeza de que o tempo correu, de que de fato estou envelhecendo.
Envelhecendo, mas como ? estou cheias de planos, olhando para o futuro e isso é envelhecer ? Quero desafios para produzir adrenalina, como dirigir em São Carlos. A colega Mônica, da Embrapa, até comprou um livro tentando me ajudar (Vença o medo de dirigir). Estou confiante !! Quero produzir muitos textos ainda, dar palestras, realizar, fazer, vibra. Ficar velha é isso ?
Ontem revivi com muita intensidade diversas passagens da minha vida. Os aniversários são sempre meio deprê, principalmente esse. Há dois anos estava atarefadíssima organizando a deliciosa festa dos meus 50 anos com o Chico Buarque. Tudo perfeito: amigos chope à vontade e muita música do Chico com o Alexandre Souza. Não havia nenhuma indicação de câncer de mama ou leucemia. Só planos ...
No ano passado já não havia tanta alegria. Eu me refazia de duas cirurgias e o Manoel já estava no A C Camargo. Mas havia esperança, acreditávamos na cura.
E agora estou aqui. Não estou triste, mas apenas saudosa. Uma cidade diferente, ainda com tantos lugares desconhecidos e surpreendentes; colegas que tornaram meu dia ontem especial, se esmerando em carinhos e atenções. A Jaqueline trouxe uma cesta de lindas flores; a Mônica o livro, o Valentim e a esposa Socorro uma planta linda que não conhecia: a flor de maio que deverá ser plantada em um vaso grande e crescer... crescer... como me adiantaram.
A Anaterra também quis me homenagear de forma especial. Comprou (certamente com o meu dinheiro !) um belo buquê de rosas brancas e mandou entregá-lo na Embrapa com uma cartão carinhoso e cheio de amor.
Tem ainda os telefonemas (os irmãos, a Ieda, Consuelo, Célio Melo...), as mensagens (não correrei o risco de enumerá-las) e à noite, ao deitar tão cedo, a certeza de que estou viva e que mesmo com tantos atropelos, a vida é linda e tem que ser comemorada a cada minuto, a cada dia antes que se vá.
Não ter o Raul do meu lado também doeu. Ou talvez é o que tenha doído mais. Foi a primeira vez, desde que ele nasceu que não acordamos e dormimos juntos dia 21 de maio, embora eu soubesse que isso mais cedo ou mais aconteceria. Como disse meu analista: ele já está terceirizado. Falo com ele diariamente, é doce, meigo e todo final de semana está em casa. Poderia ser pior se fosse mais distante. Ao mesmo tempo em que sinto falta dele, do único homem hoje em minha vida, fico orgulhosa e tranqüila ao constatar que ele já sobreviverá, sem grandes problemas, na minha ausência. Queria que o tempo corresse e isso tudo se repetisse com a Anaterra.
Sim.. porque nesse emaranhado de emoções às vezes paradoxais, volta o medo da recidiva, da metástase. Tenho sentido, desde que cheguei de Belém, fortes dores na mama onde havia o nódulo. Arde, dá pontada e incomoda. Preciso ir ver o que é. Voltar a Campinas e antecipar os exames marcados para julho. Tenho que ser forte, não pensar demais, mas não pensar é impossível.
Mas isso é só na próxima semana. Agora estou me preparando mesmo para tomar um cerveja à noite com algumas pessoas especiais que encontrei aqui. Irão degustar (alguns pela primeira vez), cariru, pernil no tucupi, arroz de marisco com caranguejo de Belém e de sobremesa creme de bacuri. Quero ouvir música, rir, conversar com a Fabiana, Jaqueline, Mônica, Beth, Sandra, Valentim, Socorro, Clayton, Thaís e os colegas da Anaterra e quem sabe até do Raul que podem vir de Ribeirão esta noite. A probabilidade da colega de longa data, da Embrapa de Manaus, Sumara também vir de Campinas onde faz mestrado, especialmente para esse encontro, está me deixando mais ansiosa ainda...
Há de ser um momento bom, mesmo com tanta saudade do que já tive e não tenho mais e do que tenho, mas está tão distante.
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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sexta-feira, 22 de maio de 2009
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Rio... Belém..Brasília ... São Carlos ...
Tanto tempo sem vir aqui escrever, sem registrar esse novo mundo que se mostra novo a cada dia novo. Muitos amigos, principalmente os que mantenho contato apenas pela Net, sempre cobram as novidades, as notícias, mas não está sendo fácil parar. O que para mim é um bom sinal.
Os últimos 20 dias foram muito intensos. Exatamente do jeito que eu gosto, do jeito que eu sou, mesmo que me sinta muito cansada ao anoitecer. Deve ser a idade, a saúde, a disposição que aos poucos vai se esvaindo.
No feriado de 21 de abril fomos ao Rio de Janeiro. Há muito tempo queria “apresentar” aquela cidade linda aos meus filhos. Sinto uma energia diferente quando chego lá. É como se lá fosse meu chão também. O jeito de ser do carioca me apaixona. Pessoas que desfilam pelos calçadões sem preconceitos, sem tentar esconder o corpo obeso, repleto de celulite, envelhecidos ou com a barriga de chope tão pronunciada. Todos parecem se sentir belos, felizes, bem resolvidos.
É claro que estou me referindo aos cariocas da zona Sul, classe média, que vivem entre a Barra e o Flamengo, já que paralelamente à beleza incomparável do Pão de Açúcar, da Urca ou do Arpoador, tem as favelas, os crimes, os assaltos, as balas perdidas.
Raul, Anaterra e a sobrinha-afilhada Ana Júlia com todo o entusiasmo da juventude me proporcionaram a oportunidade de ver o Rio de uma maneira que há muito não conseguia: a beleza aliada à modernidade; a natureza esbanjando charme e os homens sarados ou não e as mulheres nem tão lindas lhe homenageando com o belo bronzeado, com as poucas roupas.
A mamãe foi um capítulo à parte. Levá-la ao Rio de Janeiro era um desejo pessoal antigo. Quase uma obrigação. Queria que ela voltasse àquele ambiente que um dia foi obrigada a abandonar quase como retirante há mais de 40 anos e com três filhos pequenos. Um dos desastres mais marcantes do fim de seu casamento. O retorno foi de fato triunfal. Mesmo com suas poucas palavras, era perceptível a alegria de ali estar em uma outra situação. Dignamente em um hotelzinho no Flamengo, passeando como turista no bondinho do Pão de Açúcar ou no calçadão de Copacabana. Sua noção de localização a deixou superior a todos nós e teve a oportunidade de falar para os netos sobre algo que ela sabe bem mais do que eles.
Passeamos, rimos, descobrimos uma casa que vendia um tacacá maravilhoso e um açaí puro e fresco e matamos ainda a saudade de nossa terra. Fui ainda me emocionar, junto com a Anaterra e Ana Júlia, no teatro Leblon vendo “Caro Amigos”, uma homenagem ao Chico Buarque de Holanda. Uma peça que poderia ter sido escrita por mim, se tivesse esse dom: uma cinquentona que teve grande parte da sua vida dividida com o Chico mesmo que ele nunca tenha tomado conhecimento. Uma apaixonada pela sua obra, mas também pelos seus olhos. Uma desvairada pelo gênio da MPB.
Voltei renovada para São Carlos e com aquela certeza deliciosa de que agora estou bem mais perto do Rio de Janeiro, de Curitiba, de Belo Horizonte e de tantas outras belas cidades. Algumas (ou mesmo muitas) horas me separam desses lugares em ônibus confortáveis, seguros, em estradas sem buracos e com poucas possibilidades de assalto. Inevitavelmente comparo com Belém, o Pará e a Amazônia em geral. Ao mesmo tempo em que sinto saudade do meu povo de pele morena e sotaque carregado nos sss, fico indignada com tanta diferença, com tanto descaso com aquela região. É preciso abandoná-la pra entendê-la.
BELÉM
Uma semana em São Carlos e de novo arrumar malas. Agora para bem longe, me olhar no espelho das recordações, reencontrar o meu mais íntimo ser, sorrir, chorar, me emocionar.
São Carlos – Belém representa um grande e cansativo deslocamento. Primeiro é preciso chegar a Campinas (duas horas de ônibus), depois mais 1h 20 min de avião de Campinas a Brasília. Em seguida mais 2h 20min de Brasília a Belém e finalmente o aeroporto de Val-de-Cans e amiga Ieda Jucá em companhia do queridíssimo Neiro me aguardando. Optei por ficar lá com ela. Gosto de conversar com a Ieda. É objetiva, amiga, clara, doce quando tem que ser, rígida quando necessário e o filho André, com seu ar de lord herdado do pai me parecia o ambiente ideal para ficar frente à frente com tanta coisa que sabia apenas adormecida.
Vários motivos me levaram a essa viagem: finalização da monografia do curso de pós em Comunicação na Unama que nunca chegava ao fim; obtenção do documento que comprove o período que trabalhei na assessoria de imprensa do Prefeito de Belém e dessa forma agilizar a minha aposentadoria; participar da cerimônia em comemoração aos 70 anos da presença da pesquisa agropecuária na Amazônia e acima de tudo me abastecer de amigos, de carinho, de abraços apertados, de bons papos.
Consegui fazer tudo, inclusive comer piquiá com farinha torradinha na casa da Ieda; almoçar caranguejo toc-toc com a minha irmã Ruthlene, minha tia Jorgete, a sobrinha Thaís, o sobrinho Filipe, o sobrinho-neto Thomas e o sobrinho-torto Rafael. Caranguejo com molho de tucupi, pimenta de cheiro e farinha... Tudo de bom...
Rever esses parentes que deixamos lá atrás sempre nos faz relembrar momentos, repensar nas mudanças radicais que a vida nos impôs, avaliar sentimentos e acreditar que nada acontece por acaso. Em algum lugar estava escrito que teria que ser assim. A Ruthlene é a mais fragilizada. Sentiu mais a ausência de todos nós, mas tem os filhos, o neto e a vida anda, prossegue, se reestrutura mesmo contra a nossa vontade.
Ir à Embrapa Amazônia Oriental e lá permanecer por dois dias consecutivos foi uma prova de fogo. Ao mesmo tempo que revi pessoas queridas e que foram tão importantes na minha vida, afinal fiquei ali por mais de 24 anos, remontei cenários, momentos que variaram da juventude inconseqüente ao namoro, casamento, nascimento e infância dos filhos. Percebi/senti o Manoel em diversos momentos, mas sobretudo no auditório intimamente chamado de “Ferradura” onde ele circulava muito, sempre atento às necessidades dos chefes. Inevitável as lágrimas, incontrolável a saudade. Ainda é muito complicado pra mim aceitar que tudo permanece aparentemente igual, mas ele não está mais entre nós, não ocupará mais a sua sala, não atenderá com aquela voz raivosa de quem não suporta ser interrompido.
Estive rapidamente em Canudos. “Nossa” casa está lá, suja, com ar de abandono, mas com o mesmo pinheiro na frente. Que sensações absurdas ...
Um encontro organizado pela querida e sempre fiel Consuelo, reuniu um grande número de amigos na Estação da Doca. Não vou nominá-los com receio de esquecer algum, o que seria imperdoável, afinal me permitiram rir, relembrar, esquecer algumas situações que prefiro não lembrar.
Os abraços apertados continuaram se multiplicando nos encontros com a Márcia, Sérgio e Brena no Pátio Shopping Belém – que para todos na cidade continua sendo o Iguatemi ; na casa do Célio Melo e Lúcia, sempre tão amáveis e amigos; no encontro inusitado no meio da rua com a Bia e a filha Thaís que depois me mandou um belíssimo e exclusivo presente: uma blusa de seda com um desenho delicado do Ver-O-Peso. Linda !! Linda !! Linda !!
Uma parada de algumas horas no aeroporto de Brasília e sou de novo presenteada: agora com papos gostosos, alegres e muito íntimos com a Renata Menezes. No carrinho a mala e os 40 kg de excesso: açaí (muitos litros!), jambu, camarão, tucupi, polpa de cupuaçu, de bacuri, sorvete de uxi (pedido da Anaterra), 100 bombons de castanha e cupuaçu, pupunha, farinha (muitos litros!) e mais um monte de outras coisas tipicamente belemenses...
A volta foi demorada e cansativa e confesso, com uma certa dose de estar traindo a mim mesma, que já estava sentindo falta da calma de São Carlos, das ruas limpas, da ausência de nossa “gente humilde” que pede, caminha cabisbaixa com a cara sofrida ou rouba. Em Belém a “sensação de insegurança” é enorme. Todos abraçam suas bolsas, evitam andar com as janelas dos carros abertos, nas entradas dos edifícios segurança dobrada e temem a aproximação de alguém quando caminham pelas ruas. Bem diferente do que presenciamos em São Carlos...
Sinto muita saudade, mas muita revolta também que ficou mais aguda quando, da sacada do apartamento da amiga Ieda, via todas as manhãs as enormes filas de doentes ou seus parentes, na chuva ou no sol, buscando uma consulta no Hospital Ophir Loyola...
Bem... mas isso merece uma inserção específica, um relato maior que já enviei ao Lúcio Flávio Pinto.
Os últimos 20 dias foram muito intensos. Exatamente do jeito que eu gosto, do jeito que eu sou, mesmo que me sinta muito cansada ao anoitecer. Deve ser a idade, a saúde, a disposição que aos poucos vai se esvaindo.
No feriado de 21 de abril fomos ao Rio de Janeiro. Há muito tempo queria “apresentar” aquela cidade linda aos meus filhos. Sinto uma energia diferente quando chego lá. É como se lá fosse meu chão também. O jeito de ser do carioca me apaixona. Pessoas que desfilam pelos calçadões sem preconceitos, sem tentar esconder o corpo obeso, repleto de celulite, envelhecidos ou com a barriga de chope tão pronunciada. Todos parecem se sentir belos, felizes, bem resolvidos.
É claro que estou me referindo aos cariocas da zona Sul, classe média, que vivem entre a Barra e o Flamengo, já que paralelamente à beleza incomparável do Pão de Açúcar, da Urca ou do Arpoador, tem as favelas, os crimes, os assaltos, as balas perdidas.
Raul, Anaterra e a sobrinha-afilhada Ana Júlia com todo o entusiasmo da juventude me proporcionaram a oportunidade de ver o Rio de uma maneira que há muito não conseguia: a beleza aliada à modernidade; a natureza esbanjando charme e os homens sarados ou não e as mulheres nem tão lindas lhe homenageando com o belo bronzeado, com as poucas roupas.
A mamãe foi um capítulo à parte. Levá-la ao Rio de Janeiro era um desejo pessoal antigo. Quase uma obrigação. Queria que ela voltasse àquele ambiente que um dia foi obrigada a abandonar quase como retirante há mais de 40 anos e com três filhos pequenos. Um dos desastres mais marcantes do fim de seu casamento. O retorno foi de fato triunfal. Mesmo com suas poucas palavras, era perceptível a alegria de ali estar em uma outra situação. Dignamente em um hotelzinho no Flamengo, passeando como turista no bondinho do Pão de Açúcar ou no calçadão de Copacabana. Sua noção de localização a deixou superior a todos nós e teve a oportunidade de falar para os netos sobre algo que ela sabe bem mais do que eles.
Passeamos, rimos, descobrimos uma casa que vendia um tacacá maravilhoso e um açaí puro e fresco e matamos ainda a saudade de nossa terra. Fui ainda me emocionar, junto com a Anaterra e Ana Júlia, no teatro Leblon vendo “Caro Amigos”, uma homenagem ao Chico Buarque de Holanda. Uma peça que poderia ter sido escrita por mim, se tivesse esse dom: uma cinquentona que teve grande parte da sua vida dividida com o Chico mesmo que ele nunca tenha tomado conhecimento. Uma apaixonada pela sua obra, mas também pelos seus olhos. Uma desvairada pelo gênio da MPB.
Voltei renovada para São Carlos e com aquela certeza deliciosa de que agora estou bem mais perto do Rio de Janeiro, de Curitiba, de Belo Horizonte e de tantas outras belas cidades. Algumas (ou mesmo muitas) horas me separam desses lugares em ônibus confortáveis, seguros, em estradas sem buracos e com poucas possibilidades de assalto. Inevitavelmente comparo com Belém, o Pará e a Amazônia em geral. Ao mesmo tempo em que sinto saudade do meu povo de pele morena e sotaque carregado nos sss, fico indignada com tanta diferença, com tanto descaso com aquela região. É preciso abandoná-la pra entendê-la.
BELÉM
Uma semana em São Carlos e de novo arrumar malas. Agora para bem longe, me olhar no espelho das recordações, reencontrar o meu mais íntimo ser, sorrir, chorar, me emocionar.
São Carlos – Belém representa um grande e cansativo deslocamento. Primeiro é preciso chegar a Campinas (duas horas de ônibus), depois mais 1h 20 min de avião de Campinas a Brasília. Em seguida mais 2h 20min de Brasília a Belém e finalmente o aeroporto de Val-de-Cans e amiga Ieda Jucá em companhia do queridíssimo Neiro me aguardando. Optei por ficar lá com ela. Gosto de conversar com a Ieda. É objetiva, amiga, clara, doce quando tem que ser, rígida quando necessário e o filho André, com seu ar de lord herdado do pai me parecia o ambiente ideal para ficar frente à frente com tanta coisa que sabia apenas adormecida.
Vários motivos me levaram a essa viagem: finalização da monografia do curso de pós em Comunicação na Unama que nunca chegava ao fim; obtenção do documento que comprove o período que trabalhei na assessoria de imprensa do Prefeito de Belém e dessa forma agilizar a minha aposentadoria; participar da cerimônia em comemoração aos 70 anos da presença da pesquisa agropecuária na Amazônia e acima de tudo me abastecer de amigos, de carinho, de abraços apertados, de bons papos.
Consegui fazer tudo, inclusive comer piquiá com farinha torradinha na casa da Ieda; almoçar caranguejo toc-toc com a minha irmã Ruthlene, minha tia Jorgete, a sobrinha Thaís, o sobrinho Filipe, o sobrinho-neto Thomas e o sobrinho-torto Rafael. Caranguejo com molho de tucupi, pimenta de cheiro e farinha... Tudo de bom...
Rever esses parentes que deixamos lá atrás sempre nos faz relembrar momentos, repensar nas mudanças radicais que a vida nos impôs, avaliar sentimentos e acreditar que nada acontece por acaso. Em algum lugar estava escrito que teria que ser assim. A Ruthlene é a mais fragilizada. Sentiu mais a ausência de todos nós, mas tem os filhos, o neto e a vida anda, prossegue, se reestrutura mesmo contra a nossa vontade.
Ir à Embrapa Amazônia Oriental e lá permanecer por dois dias consecutivos foi uma prova de fogo. Ao mesmo tempo que revi pessoas queridas e que foram tão importantes na minha vida, afinal fiquei ali por mais de 24 anos, remontei cenários, momentos que variaram da juventude inconseqüente ao namoro, casamento, nascimento e infância dos filhos. Percebi/senti o Manoel em diversos momentos, mas sobretudo no auditório intimamente chamado de “Ferradura” onde ele circulava muito, sempre atento às necessidades dos chefes. Inevitável as lágrimas, incontrolável a saudade. Ainda é muito complicado pra mim aceitar que tudo permanece aparentemente igual, mas ele não está mais entre nós, não ocupará mais a sua sala, não atenderá com aquela voz raivosa de quem não suporta ser interrompido.
Estive rapidamente em Canudos. “Nossa” casa está lá, suja, com ar de abandono, mas com o mesmo pinheiro na frente. Que sensações absurdas ...
Um encontro organizado pela querida e sempre fiel Consuelo, reuniu um grande número de amigos na Estação da Doca. Não vou nominá-los com receio de esquecer algum, o que seria imperdoável, afinal me permitiram rir, relembrar, esquecer algumas situações que prefiro não lembrar.
Os abraços apertados continuaram se multiplicando nos encontros com a Márcia, Sérgio e Brena no Pátio Shopping Belém – que para todos na cidade continua sendo o Iguatemi ; na casa do Célio Melo e Lúcia, sempre tão amáveis e amigos; no encontro inusitado no meio da rua com a Bia e a filha Thaís que depois me mandou um belíssimo e exclusivo presente: uma blusa de seda com um desenho delicado do Ver-O-Peso. Linda !! Linda !! Linda !!
Uma parada de algumas horas no aeroporto de Brasília e sou de novo presenteada: agora com papos gostosos, alegres e muito íntimos com a Renata Menezes. No carrinho a mala e os 40 kg de excesso: açaí (muitos litros!), jambu, camarão, tucupi, polpa de cupuaçu, de bacuri, sorvete de uxi (pedido da Anaterra), 100 bombons de castanha e cupuaçu, pupunha, farinha (muitos litros!) e mais um monte de outras coisas tipicamente belemenses...
A volta foi demorada e cansativa e confesso, com uma certa dose de estar traindo a mim mesma, que já estava sentindo falta da calma de São Carlos, das ruas limpas, da ausência de nossa “gente humilde” que pede, caminha cabisbaixa com a cara sofrida ou rouba. Em Belém a “sensação de insegurança” é enorme. Todos abraçam suas bolsas, evitam andar com as janelas dos carros abertos, nas entradas dos edifícios segurança dobrada e temem a aproximação de alguém quando caminham pelas ruas. Bem diferente do que presenciamos em São Carlos...
Sinto muita saudade, mas muita revolta também que ficou mais aguda quando, da sacada do apartamento da amiga Ieda, via todas as manhãs as enormes filas de doentes ou seus parentes, na chuva ou no sol, buscando uma consulta no Hospital Ophir Loyola...
Bem... mas isso merece uma inserção específica, um relato maior que já enviei ao Lúcio Flávio Pinto.
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