Viajar sempre foi para mim uma dádiva, um santo milagre para quase todos os males. Mesmo quando tinha pânico de avião. Agora que convivo amigavelmente com o barulho das turbinas, com as turbulências e decolagens, conhecer ou rever lugares tornou-se bem mais prazeroso. É assim que me sinto hoje depois de seis dias no Paraná. Duas experiências profissionais únicas aliadas ao êxtase de conhecer um pouco do Sul do País.
Primeiro foi Maringá (dez horas de ônibus de São Carlos) onde fiz a palestra de abertura da XI SIECOM - Semana Integrada de Estudos da Comunicação falando sobre Jornalismo Ambiental. Não me considero uma especialista no assunto, mas argumentei, desde o primeiro contato essa deficiência aos organizadores, mas o professor Marcos Silva insistiu, disse que gostaria que eu fosse e assim aconteceu.
Sempre acreditei que jornalismo ambiental é muito mais do que escrever sobre meio ambiente, é uma escolha de vida, é olhar o mundo de uma forma diferente. É ainda se indignar. Os que têm sensibilidade, os que de fato se preocupam com os outros, com o planeta podem ter até a mesma pauta que outros jornalistas, mas jamais ela será desenvolvida do mesmo jeito.
Foi uma oportunidade rara de falar da Amazônia, de apresentar para aqueles jovens paranaenses um pouco do meu mundo paraense. Mas a ênfase maior eu dei ao trabalho do Lúcio Flávio Pinto, o jornalista que é conhecido e reconhecido em tantos outros países, mas que ainda é desconhecido por muitos colegas brasileiros e principalmente pelos futuros jornalistas. Comentei sobre a sua saga, perseguições, dificuldade para continuar vivendo do jornalismo e para o jornalismo, seu idealismo e senti que impactei os que estavam no auditório. Estava falando de alguém que conheço, admiro, que ainda vive e que talvez só se torne famoso após a sua morte.
Ali me senti em casa, independente do nervosismo inicial. Não dei aula, não trabalhei conceitos ou teses, apenas falei da minha experiência na Embrapa em Belém, do meu ponto de vista sobre o que está acontecendo na minha região e sobretudo sobre o incômodo de constatar que para nós, amazônidas, cruzar com velhos caminhões abarrotados de toras de árvores seculares ou encontrar na praia um boto sem olho já não nos abala. Estamos nos tornando cúmplices silenciosos.
Os olhares, as perguntas e o assédio após o bate-papo indicaram que o caminho que escolhi foi o mais adequado. Muita curiosidade entre os participantes e a deliciosa sensação de que pude, mesmo tão rápido e humildemente, provocar uma reflexão e, com certeza, aumentar as buscas no Google sobre o Lúcio Flávio, o Pará e as mazelas amazônicas.
Depois de Maringá outra longa viagem agora para Curitiba. Na rodoviária a gentil e carinhosa Kátia Pichelli, jornalista da Embrapa Florestas, responsável por toda essa articulação. De novo um público de pesquisadores se reúne para me ouvir, para discutir mais atentamente a relação pesquisa e comunicação.
Uma palestra similar àquela apresentada em outras regiões. Privilégio de já ter falado para os atuam na Amazônia (PA, RO e AC), no Sudeste (Rio de Janeiro e São Carlos) e agora, pela primeira vez, no Sul. Oportunidade única de conhecer Unidades da Embrapa tão diferentes, de ver in loco a grande diversidade, comparar cenários, infra-estrutura. Cresci mais um pouco como pessoa e como empregada da Embrapa.
Trabalho extenuante, sobretudo no período pré-evento, mas também uma boa dose de lazer. Ciceroneada pela Kátia, eu e a Anaterra (que me acompanhou) pudemos conhecer recantos lindos, sabores únicos, pessoas (como a sua família) que trouxeram de volta a vontade de viver, de ser feliz, de sorrir.
Um retrocesso nos sentimentos ruins que estavam me acompanhando mais recentemente. Ao mesmo tempo em que me defronto e me choco com pessoas insensíveis, perturbadas e egoístas, também vou descobrindo belezas visíveis e invisíveis que me equilibram e me dão novo ânimo.
Sinto-me cansada, mas feliz. Muito feliz.
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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quarta-feira, 29 de outubro de 2008
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
A dor do crescimento
Meu mundo parece estar girando com mais velocidade, intermináveis mudanças alteram meu dia-a-dia, alteram meu modo de ver a vida, mostram-me situações, reações, pessoas que não acredita pudessem existir. Além de estar aprendendo a conviver com a viuvez, a caminhar em uma cidade completamente desconhecida e a enfrentar as mudanças climáticas comuns nessa região do País, estou vivendo intensamente emoções, experiências pessoais até então inimagináveis.
Tenho, em muitas oportunidades, me desconhecido. Já não me reprimo tanto, já não sou tão generosa, já não me perturbo com pouco e creio que, mesmo com 51 anos, descubro que posso ser egoísta, que posso olhar mais pra mim, principalmente quando o outro me ignora, me agride, me faz mal.
Sempre fui condescendente com as pessoas, procurava entendê-las em todas as suas mais complexas e aparentemente absurdas manifestações. Era privilegiada. Tinha uma família equilibrada, próxima, querida; um emprego que me realiza, grandes amigos. Estava de bem comigo e a vida de bem comigo. Foi preciso que eu vivesse as tempestades, entrasse no olho do furacão para ter um outro olhar, para enxergar o que a minha felicidade e piedade encobriam.
Pessoas queridas, que faziam parte da minha história, não são exatamente como eu as imaginava. Certamente me preferiam risonha, com um copo na mão, dinheiro fácil, almoço farto. Não conseguem perceber que estou vivendo a fase do rescaldo, que junto os cacos e me reergo. Estou fragilizada, agressiva, introvertida, exigente, carente e algumas vezes até mesmo impiedosa. Não quero mais piedade, não preciso mais dela. Preciso de amigos fiéis, próximos (mesmo que estejam a mais de 3mil km de distância), que entendam minhas explosões e até a minha agressividade. Que me amem também nesta fase e não somente quando sou “perfeita”, feliz, generosa, alegre.
Certamente sou responsável por alimentar a retidão, o equilíbrio, a eterna compreensão. Sempre os outros em primeiro lugar. Agora estou me vendo, me conhecendo e reconhecendo o egoísmo nos outros.
Minha vida mudou, eu mudei e assustada constato que muitos que estão tão próximos (ou que eu acreditava ao meu lado) nunca estiveram de fato. Rostos conhecidos, nomes familiares, mas estranhos.
Tenho buscado explicações convincentes para entender-me, para entendê-los. Certamente não existem. Sei apenas que já não sou a mesma, que já não acredito tanto nas pessoas, que não me anularei nunca mais por ninguém, que minha vida, minha felicidade, têm que ser minha meta, minha prioridade.
Meu sofrimento é só meu. Minha nova vida depende de mim, minhas escolhas também.
Como dói crescer ...
Tenho, em muitas oportunidades, me desconhecido. Já não me reprimo tanto, já não sou tão generosa, já não me perturbo com pouco e creio que, mesmo com 51 anos, descubro que posso ser egoísta, que posso olhar mais pra mim, principalmente quando o outro me ignora, me agride, me faz mal.
Sempre fui condescendente com as pessoas, procurava entendê-las em todas as suas mais complexas e aparentemente absurdas manifestações. Era privilegiada. Tinha uma família equilibrada, próxima, querida; um emprego que me realiza, grandes amigos. Estava de bem comigo e a vida de bem comigo. Foi preciso que eu vivesse as tempestades, entrasse no olho do furacão para ter um outro olhar, para enxergar o que a minha felicidade e piedade encobriam.
Pessoas queridas, que faziam parte da minha história, não são exatamente como eu as imaginava. Certamente me preferiam risonha, com um copo na mão, dinheiro fácil, almoço farto. Não conseguem perceber que estou vivendo a fase do rescaldo, que junto os cacos e me reergo. Estou fragilizada, agressiva, introvertida, exigente, carente e algumas vezes até mesmo impiedosa. Não quero mais piedade, não preciso mais dela. Preciso de amigos fiéis, próximos (mesmo que estejam a mais de 3mil km de distância), que entendam minhas explosões e até a minha agressividade. Que me amem também nesta fase e não somente quando sou “perfeita”, feliz, generosa, alegre.
Certamente sou responsável por alimentar a retidão, o equilíbrio, a eterna compreensão. Sempre os outros em primeiro lugar. Agora estou me vendo, me conhecendo e reconhecendo o egoísmo nos outros.
Minha vida mudou, eu mudei e assustada constato que muitos que estão tão próximos (ou que eu acreditava ao meu lado) nunca estiveram de fato. Rostos conhecidos, nomes familiares, mas estranhos.
Tenho buscado explicações convincentes para entender-me, para entendê-los. Certamente não existem. Sei apenas que já não sou a mesma, que já não acredito tanto nas pessoas, que não me anularei nunca mais por ninguém, que minha vida, minha felicidade, têm que ser minha meta, minha prioridade.
Meu sofrimento é só meu. Minha nova vida depende de mim, minhas escolhas também.
Como dói crescer ...
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Escrita terapêutica
Esta semana a revista Isto É teve um sabor diferente pra mim. Há mais de um mês aguardava, ansiosamente, pela publicação de uma matéria que abordaria a escrita terapêutica, tendo como ganho este blog. Dei entrevistas, passei algumas horas sendo fotografada e pela primeira vez troquei o papel de articuladora de pauta para fonte, a entrevistada ansiosa que não quer reconhecer a ansiedade pela veiculação. Não sei quem indicou-me, como chegaram ao meu blog, mas como acredito que devemos usar todas as formas de nos fazer feliz e muitos podem descobrir essa que encontrei casualmente, concordei de imediato com a proposta.
Mas como a matéria demorou a entrar na edição ...Todos os últimos sábados certamente eu era uma das primeiras a comprar a revista em São Carlos e neste finalmente lá estava eu !.Texto pequeno, mas redondinho, cumprindo o que se propôs. Para mim fundamental. Permitiu que eu tivesse uma compreensão mais exata dessa necessidade de escrever, de compartilhar o que sinto principalmente as angústias, dúvidas, aflições. Percebo que ao agir dessa forma fico menos ansiosa, durmo mais facilmente porque não necessito ficar horas buscando explicações, identificando os gargalos de situações ou me organizando mentalmente.
Quando comecei a escrever aqui houve as mais diferentes reações dos amigos (e os nem tanto!). Alguns acharam que essa era a forma ideal de acompanhar a minha odisséia sem que eles necessitassem me visitar, telefonar. O pessoal da torcida fiel, mas silenciosa. Outros dizem com todas as letras que não gostam de ler porque se emocionam demais, porque sofrem comigo, choram. Aceito e respeito essa opção de não ver o problema como de fato ele é ou pelo menos do meu ponto de vista. Eu que estou no olho do furacão. Há, contudo, os que, mesmo sutilmente, avaliaram essa minha disposição e necessidade de escrever como um marketing pessoal, uma oportunidade para me fazer famosa, comentada... Respeito, mas não aceito e quando leio na matéria da IstoÉ a explicação do filólogo José Pereira da Silva de que “quando escreve, a pessoa precisa se fazer compreender” ou a avaliação do oncologista Daniel Herchenhorn da diferença entre tratar o assunto câncer com o médico e com pessoas que entendem o seu drama porque passaram (ou estão passando) por algo similar, constato que tenho encontrado na escrita de fato um terapia.
Arrumar meus pensamentos, organizar a minha cabeça, priorizar ações, ficam mais fáceis quando escrevo. Embora muitos afirmem que me expresso verbalmente bem, prefiro fazê-lo usando a palavra escrita. Gosto de sentir que consegui usar as palavras adequadas para transmitir o que queria, o que estou sentindo ou de redigir um texto tendo como base informações puramente técnicas que depois de burilado passa a ser inteligível a qualquer pessoa.
Dominar as palavras, montando o quebra-cabeça de substantivos, adjetivos, verbos,pronomes... e depois ter a exata dimensão que aquilo um dia poderá se transformar em um documento, registro de uma época, amplia a responsabilidade, dá mais credibilidade. Morrerei, mas deixarei meus escritos. Algo poético e antigo, mas que me enternece.
Não tenho dúvida de que devo e quero usar essa ferramenta como um elo entre eu e outras pessoas (conhecidas ou não). Por que deveria escrever sorrateiramente em um quarto ou para poucas pessoas quando essa minha experiência, de alguma forma, pode levar alguma contribuição a pessoas que ao enfrentarem essas adversidades da vida se entregam, se prostram e morrem antecipadamente ?
Eu tinha duas opções: desabar ou viver e eu escolhi viver.
Hoje à tarde vou me inserir, com mais ênfase e compromisso, na vida. Será um marco nessa nova etapa. Chegou o dia do seminário para os empregados da Embrapa Instrumentação Agropecuária que me receberam de braços abertos. Vou tentar mostrar aos colegas que fazer Comunicação dentro da Empresa é mais simples do que inicialmente pode parecer, mas é preciso o mínimo de sistematização. Vou tentar contagiá-los com a minha crença em que é possível mudar, contribuir, dar, receber, crescer e ter prazer até trabalhando.
Tomara que eu consiga !!
Mas como a matéria demorou a entrar na edição ...Todos os últimos sábados certamente eu era uma das primeiras a comprar a revista em São Carlos e neste finalmente lá estava eu !.Texto pequeno, mas redondinho, cumprindo o que se propôs. Para mim fundamental. Permitiu que eu tivesse uma compreensão mais exata dessa necessidade de escrever, de compartilhar o que sinto principalmente as angústias, dúvidas, aflições. Percebo que ao agir dessa forma fico menos ansiosa, durmo mais facilmente porque não necessito ficar horas buscando explicações, identificando os gargalos de situações ou me organizando mentalmente.
Quando comecei a escrever aqui houve as mais diferentes reações dos amigos (e os nem tanto!). Alguns acharam que essa era a forma ideal de acompanhar a minha odisséia sem que eles necessitassem me visitar, telefonar. O pessoal da torcida fiel, mas silenciosa. Outros dizem com todas as letras que não gostam de ler porque se emocionam demais, porque sofrem comigo, choram. Aceito e respeito essa opção de não ver o problema como de fato ele é ou pelo menos do meu ponto de vista. Eu que estou no olho do furacão. Há, contudo, os que, mesmo sutilmente, avaliaram essa minha disposição e necessidade de escrever como um marketing pessoal, uma oportunidade para me fazer famosa, comentada... Respeito, mas não aceito e quando leio na matéria da IstoÉ a explicação do filólogo José Pereira da Silva de que “quando escreve, a pessoa precisa se fazer compreender” ou a avaliação do oncologista Daniel Herchenhorn da diferença entre tratar o assunto câncer com o médico e com pessoas que entendem o seu drama porque passaram (ou estão passando) por algo similar, constato que tenho encontrado na escrita de fato um terapia.
Arrumar meus pensamentos, organizar a minha cabeça, priorizar ações, ficam mais fáceis quando escrevo. Embora muitos afirmem que me expresso verbalmente bem, prefiro fazê-lo usando a palavra escrita. Gosto de sentir que consegui usar as palavras adequadas para transmitir o que queria, o que estou sentindo ou de redigir um texto tendo como base informações puramente técnicas que depois de burilado passa a ser inteligível a qualquer pessoa.
Dominar as palavras, montando o quebra-cabeça de substantivos, adjetivos, verbos,pronomes... e depois ter a exata dimensão que aquilo um dia poderá se transformar em um documento, registro de uma época, amplia a responsabilidade, dá mais credibilidade. Morrerei, mas deixarei meus escritos. Algo poético e antigo, mas que me enternece.
Não tenho dúvida de que devo e quero usar essa ferramenta como um elo entre eu e outras pessoas (conhecidas ou não). Por que deveria escrever sorrateiramente em um quarto ou para poucas pessoas quando essa minha experiência, de alguma forma, pode levar alguma contribuição a pessoas que ao enfrentarem essas adversidades da vida se entregam, se prostram e morrem antecipadamente ?
Eu tinha duas opções: desabar ou viver e eu escolhi viver.
Hoje à tarde vou me inserir, com mais ênfase e compromisso, na vida. Será um marco nessa nova etapa. Chegou o dia do seminário para os empregados da Embrapa Instrumentação Agropecuária que me receberam de braços abertos. Vou tentar mostrar aos colegas que fazer Comunicação dentro da Empresa é mais simples do que inicialmente pode parecer, mas é preciso o mínimo de sistematização. Vou tentar contagiá-los com a minha crença em que é possível mudar, contribuir, dar, receber, crescer e ter prazer até trabalhando.
Tomara que eu consiga !!
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
O recomeço
Como um filme velho, retorno ao passado, vejo-me jovem, aos 27 anos, chegando na Embrapa Amazônia Oriental, o então CPATU. Levada pelas mãos do Furlan, então chefe técnico, fui apresentada a quase todos. Nervosa, assustada e cheia de dúvidas me deixei levar por aquele que aparentemente parecia uma fera, um ditador, mas que com o passar do tempo descobri ser um dos mais generosos da Unidade. Nem sabia exatamente o que faria naquele mundo completamente novo que se abria pra mim. Uma chegada casual, motivada principalmente pelo salário atraente, indicação do colega jornalista Raimundo José Pinto. Nunca imaginei que ficaria atrás daqueles muros, desvendando os segredos amazônicos por tanto tempo e muito menos o que me aguardava. Hoje sei que metade da minha vida ficaria atrelada àquele mundo. Além do Manoel me esperando pra ser tornar o pai dos meus filhos, fiz grandes amigos que agora, mesmo distantes, continuam participando ativamente da minha vida.
Neste momento revivo cada contato inicial como a apresentação ao Walterlino que me deixou ruborizada. Ele recordou que me conhecia desde criancinha quando eu ia pegar picolé quebrado na mercearia do “Seu” André que ficava na esquina da Conselheiro Furtado com a José Bonifácio. Ele era o balconista. Quis morrer...
Retornam tamb[em as primeiras grandes dificuldades que quase me levaram a desistir como a revisão do primeiro livro do pesquisador Cristo do Nascimento. Muita exigência, muita cobrança, muita insegurança.
Já não tenho mais 20 anos, mas a história se repete. Hoje oficialmente recomeço minha vida profissional. Com bem menos sonhos, mas com bem mais experiência. Esses seis dias que passei em Brasília de alguma forma fizeram parte desse novo momento. Fui pela primeira vez para a exposição Ciência para Vida como visitante, sem maiores compromissos. Estive na primeira edição, na segunda, terceira e nesta décima. Oportunidade única de rever amigos, colegas antigos e me permito ainda conhecer as novidades, ter o privilégio de ver a modernidade chegando na proposta quase infantil, meio Feira de Ciências escolar, de tantos anos atrás.
Abracei e fui abraçada, ri e fiz rir e chorei diante do espetáculo de fogos que marcou o encerramento. Inevitável a comparação com a Transladação do ano passado quando juntos assistimos a passagem da imagem de Nossa Senhora de Nazaré nas arquibancadas da praça Waldemar Henrique. Emoção latente, tinha descoberto há poucos dias o meu câncer e o Manoel fez sua prece silenciosa por mim. Um abraço apertado e os olhos úmidos denunciavam o que se passava em seu íntimo. Nunca poderia supor que eu, este ano estaria aqui, quase saudável e ele partiria na minha frente. Enquanto a Santa não chegava, tomava suas latinhas, comia o que queria, enquanto eu me resguardava para enfrentar o que viria pela frente. Ahhh como dói recordar...Chorei muito e tive como ombro amigo a Alethéa, colega do Sac e a pesquisadora Tatiana Sá, atualmente na diretoria. Elas compreenderam, quase sem eu falar nada, o que estava sentindo. Era a cultura misturada com a religiosidade e mescladas de muita saudade. A Tatiana disse, enquanto tentava me consolar, que ainda não conseguira ir à praça da República quando vai a Belém. Aquele lugar, segundo ela, é a “nossa cara” e ainda dói.
Além da Embrapa pude me realimentar no carinho explícito e algumas vezes apenas sutil, mas nem por isso menos intenso, da Ana Laura, Vinicius e Renata. Muita conversa, muitos risos e a permissão para viajar no passado, falar tudo e sobre tudo sem receio, sem repressão, sem medo. Pensar alto sobre o que a vida me reserva ainda, os temores pela proximidade com a morte, a preocupação com o futuro dos filhos que agora substitui o quase pânico que tinha em Belém com a violência. Mudei a forma de ver a vida deles. Estou menos ansiosa com a chegada e mais focada no que farão quando chegar o meu momento de ir. Troquei o presente pelo futuro. O Raul chegou a me perguntar claramente: mãe tu achas que vais morrer agora ? Talvez, inconscientemente acredite que sim e por isso tenho me concentrado em atualizar documentos, regularizar pendências, prepará-los para quando eu for também.
Brasília me propiciou ainda saídas que há meses não aconteciam, que não me permitia. Fui a um bar, tomei vários chopes em companhia do Marcus, um amigo de Belém. falei muito de mim e depois dos copos a mais, fiz confidências e no dia seguinte acordei de ressaca, preguiçosa. Uma doce e deliciosa desobediência médica.
Agora recomeço uma nova fase, em uma nova Unidade, reaprendendo quase tudo. Entrei de manhã cedo com o pé direito, vesti verde pra dá sorte e pedi a proteção de Nossa Senhora de Nazaré para que encontre a mesma realização e prazer que marcaram meus anos na Embrapa em Belém.
Nova Unidade... Nova vida ... A fila anda ...
Neste momento revivo cada contato inicial como a apresentação ao Walterlino que me deixou ruborizada. Ele recordou que me conhecia desde criancinha quando eu ia pegar picolé quebrado na mercearia do “Seu” André que ficava na esquina da Conselheiro Furtado com a José Bonifácio. Ele era o balconista. Quis morrer...
Retornam tamb[em as primeiras grandes dificuldades que quase me levaram a desistir como a revisão do primeiro livro do pesquisador Cristo do Nascimento. Muita exigência, muita cobrança, muita insegurança.
Já não tenho mais 20 anos, mas a história se repete. Hoje oficialmente recomeço minha vida profissional. Com bem menos sonhos, mas com bem mais experiência. Esses seis dias que passei em Brasília de alguma forma fizeram parte desse novo momento. Fui pela primeira vez para a exposição Ciência para Vida como visitante, sem maiores compromissos. Estive na primeira edição, na segunda, terceira e nesta décima. Oportunidade única de rever amigos, colegas antigos e me permito ainda conhecer as novidades, ter o privilégio de ver a modernidade chegando na proposta quase infantil, meio Feira de Ciências escolar, de tantos anos atrás.
Abracei e fui abraçada, ri e fiz rir e chorei diante do espetáculo de fogos que marcou o encerramento. Inevitável a comparação com a Transladação do ano passado quando juntos assistimos a passagem da imagem de Nossa Senhora de Nazaré nas arquibancadas da praça Waldemar Henrique. Emoção latente, tinha descoberto há poucos dias o meu câncer e o Manoel fez sua prece silenciosa por mim. Um abraço apertado e os olhos úmidos denunciavam o que se passava em seu íntimo. Nunca poderia supor que eu, este ano estaria aqui, quase saudável e ele partiria na minha frente. Enquanto a Santa não chegava, tomava suas latinhas, comia o que queria, enquanto eu me resguardava para enfrentar o que viria pela frente. Ahhh como dói recordar...Chorei muito e tive como ombro amigo a Alethéa, colega do Sac e a pesquisadora Tatiana Sá, atualmente na diretoria. Elas compreenderam, quase sem eu falar nada, o que estava sentindo. Era a cultura misturada com a religiosidade e mescladas de muita saudade. A Tatiana disse, enquanto tentava me consolar, que ainda não conseguira ir à praça da República quando vai a Belém. Aquele lugar, segundo ela, é a “nossa cara” e ainda dói.
Além da Embrapa pude me realimentar no carinho explícito e algumas vezes apenas sutil, mas nem por isso menos intenso, da Ana Laura, Vinicius e Renata. Muita conversa, muitos risos e a permissão para viajar no passado, falar tudo e sobre tudo sem receio, sem repressão, sem medo. Pensar alto sobre o que a vida me reserva ainda, os temores pela proximidade com a morte, a preocupação com o futuro dos filhos que agora substitui o quase pânico que tinha em Belém com a violência. Mudei a forma de ver a vida deles. Estou menos ansiosa com a chegada e mais focada no que farão quando chegar o meu momento de ir. Troquei o presente pelo futuro. O Raul chegou a me perguntar claramente: mãe tu achas que vais morrer agora ? Talvez, inconscientemente acredite que sim e por isso tenho me concentrado em atualizar documentos, regularizar pendências, prepará-los para quando eu for também.
Brasília me propiciou ainda saídas que há meses não aconteciam, que não me permitia. Fui a um bar, tomei vários chopes em companhia do Marcus, um amigo de Belém. falei muito de mim e depois dos copos a mais, fiz confidências e no dia seguinte acordei de ressaca, preguiçosa. Uma doce e deliciosa desobediência médica.
Agora recomeço uma nova fase, em uma nova Unidade, reaprendendo quase tudo. Entrei de manhã cedo com o pé direito, vesti verde pra dá sorte e pedi a proteção de Nossa Senhora de Nazaré para que encontre a mesma realização e prazer que marcaram meus anos na Embrapa em Belém.
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