Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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quinta-feira, 19 de junho de 2008

O começo da mudança

O começo da mudança
Aproveito as três horas e meia de vôo de Belém para São Paulo para escrever, arrumar a cabeça, pensar um pouco. Tenho tido pouco tempo pra isso. Estou no vôo JJ 3639 da TAM. Ao meu lado a Anaterra dormindo. Bem que gostaria de imitá-la, nas não consigo. Já consigo ficar menos tensa a tantos mil pés, mas não o suficiente para adormecer. Mesmo assim é uma rara oportunidade para rever emoções, arrumar idéias, reavaliar planos, pesar as decisões muitas vezes tomadas quase impulsivamente.
Preciso compreender com maior exatidão e com todas as implicações que isso significa, que estou mudando minha vida literalmente. Não estou apenas deixando Belém, estou abrindo mão de muitas conquistas, de muitos amigos, dos parentes próximos, do conforto de uma casa grande e que foi montada, em cada centímetro principalmente por mim. Agora ela é apenas em parte minha. Logo logo terá a “cara” da Socorro e do Rulton. Aos poucos perderá nossos traços.
Ver o Manoel e cuidar de mim, contudo, é o que prioritário neste momento. De nada adiantará o que conseguimos gerar materialmente se não estivermos vivos e bem para usufruir. Amanhã conseguiremos tudo de volta. Ou não, Mas de novo tentaremos ser felizes.
Tentei preparar a Anaterra para o encontro que acontecerá dentro de algumas horas. Não sei, porém, se eu estou preparada para encontrar aquele homem forte, gordo, risonho já abatido pela doença, pálido e com dificuldade para se locomover e até mesmo falar. Preciso acreditar que estamos investindo pesadamente no combate de um mal cruel e que dizima sem piedade um corpo que até recentemente era aparentemente tão saudável. As incontáveis latinhas de cerveja solenemente saboreadas nos finais de semana em nenhum momento podiam insinuar que algo de muito grave acontecia em seu sangue. As comidas pesadas que sempre foram as suas preferidas (feijoada, maniçoba, caranguejo, carne seca, bolinhos...) nem de longe acusavam que seus leucócitos e plaquetas estavam no fim. Hoje ele tenta renascer.
Simbolicamente ele é hoje uma árvore que um dia foi frondosa, viçosa, sadia, mas que foi podada quase integralmente numa tentativa de rebrotar, se reerguer. Está recebendo fertilizantes fortes e de última geração, Luiz, água com a precisão que só a Ciência permite e com a crença de todos nós que aos poucos novos folíolos surgirão que em seguida se transformarão em folhas, em galhos e em um caule vigoroso novamente. Uma nova árvore rebrotará.
Vencer cada uma dessas etapas, sabemos, será doloroso e muito difícil. A medula dele deixará quase de existir e em seu lugar a da irmã tentará produzir novos glóbulos brancos e vermelhos e plaquetas. Tenho consciência que encontrar uma doadora compatível em tão pouco tempo é a maior de todas as vitórias nessa fase. Porém, receber a medula não é a cura imediata. Muitos dias, meses e talvez anos ainda serão necessários para que ela volte a se comportar como uma parte de seu corpo. Outros órgãos reagirão, vão se revoltar ao acreditar que a medula da Dé é um corpo estranho e tudo farão para expulsá-la. Muitas idas e voltas nos esperam. Muito sofrimento também ao vê-lo sofrer tanto para continuar vivendo. Independente de saber de tudo isso, estou confiante. Acredito nos médicos e no tratamento que está sendo ministrado em São Paulo. A decisão quase intuitiva de encaminhá-lo ao A C Camargo foi a primeira grande vitória. Agora é pedir a Deus que continue nos mostrando os caminhos certos, protegendo nossas decisões e abençoando os médicos que estão a sua volta.
Sei que ficarei dividida. O Raul não estará conosco ainda. Serão 15 dias de espera e muita ansiedade, preocupação. Onde estará, com quem estará, o que estará fazendo ? Fiz mil recomendações e ele prometeu cumprir todas. Mas sei, de antemão, que não será assim. Ele é jovem e como todos – um dia já tão longínqüo eu também já fui – quer vencer limites, experimentar, se testar e testar os outros. Mais do que nunca a minha versão telemãe e a agora mãe cibernética entrará em ação.
Não sei como serão meus próximos dias. Sei apenas que ficarei um hotel próximo ao hospital durante os próximos cinco dias. De São Paulo marcarei o meu retorno na clínica de Campinas onde farei a radioterapia e em função desse calendário decidirei o restante. Uma ida a Leme, à casa do meu irmão, é essencial. É lá que ficará grande parte da enorme bagagem que levamos conosco nesse vôo. Felizmente amizades facilitaram a liberação. Os amigos, nesta história quase surrealista têm sido um capítulo à parte, Incansáveis e de todas as formas nos ajudando, têm amenizado a dor e os afazeres que parecem não terminar nunca.
Preciso também me programar para ir a São Carlos, minha próxima morada. Embora só comece a trabalhar oficialmente em outubro, as articulações para a minha transferência já estão acontecendo. Novamente entram em cena os amigos, dessa vez os da Embrapa. Esses que durante duas décadas e meia aprendi a respeitar e com quem tanto aprendi e não apenas profissionalmente. Os contatos, em diferentes níveis, têm indicado que poderei fazer um bom trabalho nessa nova casa. Sei que os desafios serão enormes, Ao contrário da Renata, Ana Laura, Vanessa, Célia, Kátia e Izabel (as profissionais de Comunicação de Belém) encontrarei pessoas que não conheço que terei que desvendar e aprender a conviver no dia-a-dia. Nada que me assuste, contudo. Comunicação Interna, relacionamento com a Mídia, Media Training ou qualquer outro segmento da comunicação institucional vai me dar prazer em atuar. Trabalhar é me sentir viva, é estar ativa, é não envelhecer mentalmente.
Ainda falta mais de uma hora para o avião pousar em Guarulhos. Muito pouco, porém, diante da distância que há algumas horas nos separava do Manoel. Sei que ele ficará feliz com a nossa presença, sei que se animará em ver a Anaterra e isso é imprescindível para seu estado geral. Precisa ficar animado, acreditar, querer vencer essa luta que nunca imaginamos nos abateria duplamente.
São Paulo; nos aguarde !

2 comentários:

Ana Cláudia Pinheiro disse...

Oi querida, quase não acreditei quando li agora seu blog, e eu queria ainda ter tempo para lhe dar um gostoso e afetuoso abraço, porém com a correria da entrega do TCC e da defesa (que por sinal é hoje) não pude fazer isso. Contudo segue agora uma enorme abraço, do meu tamanho é claro, e saiba que estarei rezando sempre por essas vitórias que nos estamos almejando, "SAÚDE". E hoje na minha vitória particular irei lhe dedicar com todo o meu carinho, aprendi muito com você, e nunca irei esquecer o que sempre me falou, " as inquietações fazem a diferença do aprendizado", e você despetou em mim as inquietações do saber.
Obrigada por tudo e conte sempre comigo.
Mil bjokasssssssssss
Cláudia

RENATA disse...

Querida amiga..toda vez que leio seu blog..nw resisto e acabo deixando um recadinho...seja bem vinda minha querida a São Paulo..esta cidade te recebe de braços abertos..tenha fe..que tudo dara certo no final..afinal vc 'e uma guerreira..bjs