Aos poucos a vida estava voltando à normalidade. As responsabilidades do Manoel foram divididas entre todos ou alteradas. Difícil ? bastante, mas íamos caminhando.Desde ontem, porém,sinto de novo aquela revolta por ser tão pequena diante da gigantesca incompetência, irresponsabilidade e falta de respeito que as autoridades, dirigentes e os demais que podem mudar a realidade têm com a saúde dos brasileiros. Talvez em cidades como Belém reine um pouco mais de descaso. O cenário seja ainda mais aterrorizante.
Depois de quatro aplicações de radio no Ophir Loyola, o único aparelho de acelerador linear que ainda atendia os pacientes pifou ontem. A primeira explicação foi sutil. Um lacônico e discreto aviso anunciava aos que ele entraria em manutenção das 7 às 10horas. Embora tenha ido ao hospital na véspera não recebi nenhum comunicado, o que os empregados asseguram ter sido feito. Os operadores da máquina, um casal simpático, também desconheciam a interrupção. Saí de lá chateada, mas acreditando que a paralisação seria só ontem.
Pior estava reservado para hoje pela manhã: o que seria uma manutenção se transformou (?) em pane generalizada. Já estava chegando ao hospital quando fui informada pelo celular que estava dispensada da sessão e sem previsão de retorno.
Não sei o que fazer, o que pensar. Sinto-me impotente, desanimada, desestruturada, sem saída. Estou cheia de dúvidas. O que significam cinco aplicações de radio seguidas de uma longa interrupção ? até onde isso inibirá a reprodução de possíveis células cancerígenas que possam ainda ter ficado em minha mama ? Posso interromper e continuar depois ? Posso prosseguir assim mesmo, com inúmeras e indefinidas interrupções, e depois fazer novas sessões ou o meu corpo não suportará tanta radiação ?
Sei que os riscos são pequenos, afinal tive um câncer que tem tudo para não ter recidiva, mas se ele voltar, a mama que agora está bonita, inteira, terá que ser amputada. E as metástases ? Nem quero pensar !!!
Queria ir embora daqui, lutar pela minha cura com outras armas, mas não posso.
Nem comentei essa situação com o Manoel. Ele está fragilizado, longe de tudo e de todos, enclausurado em um quarto de hospital e não quero que se sinta culpado por eu ter interrompido o tratamento em Campinas. Voltei por ele, é mais grave, necessita de mais cuidados; pelos filhos que não poderiam ficar sem os dois. Não os preparamos pra isso. Ainda são imaturos, dependentes e não ficaríamos tranqüilos deixando-os apenas com a mamãe.
Não sabemos ainda quanto tempo ele ficará internado, como será o tratamento daqui pra frente, quais as limitações que terá. Felizmente está reagindo bem, sem nenhuma reação, mas não tem perspectivas de voltar, não sabemos muito do que acontecerá a partir das quimios que tem feito, exames dolorosos que retiram material do osso, da coluna.
Tem recebido visitas que amenizam a saudade como a Sula, tia Jorgete, o colega Afonso, da Embrapa, a minha cunhada Doris e até uma amiga virtual, a Maria Célia, também portadora de câncer de mama que foi lá e tirou a foto que está aí ao lado. Além da visita, seu marido ainda doou sangue para o Manoel.
As duas comunidades que participo e que tratam do câncer de mama, no Orkut, têm se mostrado um excelente ambiente para tratar de questões inerentes à doença, emoções, esclarecimentos e apoio dos que sabem exatamente o que passamos. Lá abrimos o coração e todos entendem o que de fato significam os medos, as nóias, a esperança, a alegria por uma aparente bobagem. Ninguém é vítima, mas apenas um ser fragilizado.
Ali encontrei pessoas solidárias que têm se revelado amigas de verdade como a Renata, que mora em Suzano (SP) e a Rosanne que veio de Parauapebas, no Pará para retirar uma mama no mesmo dia em que teve o primeiro filho. Cito apenas duas, mas são dezenas de colos sempre dispostos a nos acalantar, nos ouvir, nos afagar a alma.
Amanhã a Rosanne e o lindo do Miguel, que agora está com cinco meses, virão conhecer a minha peixada de filhote.
Um domingo entre amigos e familiares para esquecer um pouco a frustração de hoje e a incerteza da segunda-feira. Continuarei ou não a radio ?
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
Arquivo do blog
- janeiro (7)
- outubro (1)
- julho (2)
- maio (1)
- abril (1)
- fevereiro (5)
- dezembro (1)
- outubro (2)
- setembro (1)
- maio (1)
- abril (1)
- março (3)
- fevereiro (1)
- janeiro (1)
- novembro (8)
- setembro (2)
- julho (1)
- junho (2)
- maio (2)
- abril (1)
- março (2)
- fevereiro (1)
- janeiro (3)
- dezembro (4)
- novembro (2)
- outubro (4)
- setembro (6)
- agosto (5)
- julho (6)
- junho (11)
- maio (10)
- abril (13)
- março (6)
- fevereiro (9)
- janeiro (14)
- dezembro (22)
- novembro (26)
- outubro (32)
- setembro (4)
2 comentários:
Ruth,
Vc é a verdadeira mãe/mulher coragem. Nunca vi uma pessoa com tanta força e coragem de enfrentar tantos obstáculos como posso ler aqui no seu blog.
Vc é uma benção abençoada por Deus e maior a benção de poder ter você como amiga, ensinando o que relamente vale nesta vida.
Puxa, eu não sei se vc está em São Paulo ou já voltou pro Pará. e nem pude te ajudar. Gostaria de pelo menos fazer algo que esteja a meu alcance aqui em São Paulo.
Um abraçãozãozãzão no coração!!!!
pra vc e seu companheiro, e os filhotes!
É claro que vai continuar! Se não pode ser em Belém, será em outro lugar. Creio que ir pra São Paulo (COM TODOS) é a decisão correta.
beijos enormes.
Ana Laura.
Postar um comentário