Já que estava a mais de 3 mil km de Belém, por que não aproveitar e ir visitar meu irmão que há sete anos mora em uma pequena e agradável cidade de Leme, à beira da rodovia Anhanguera ?Assim fizemos. Dormimos o sábado e passamos o domingo com eles. A sobrinha-afilhada Ana Júlia já mocinha, bonita, magrinha, elegante, bem diferente dos Rendeiro e a cunhada Dóris sempre cuidadosa com a casa, tudo arrumadinho, limpinho. Dá gosto sempre visitá-los.
Mas o que me deixou aflita foi ver meu irmão, mais jovem do que eu, ainda não ter percebido que chegamos a meio século, que o nosso corpo, essa máquina fantástica, também envelhece, se desgasta, se nega a continuar sendo agredida sem reclamar.
Não é porque descobri esse câncer que agora vou virar “natureba”, fazer discursos naturalistas ou ser a antitabagista ou antialcóolica xiita. Apenas acredito que chega um momento que é preciso parar para refletir, avaliar o que queremos da vida. O meu tumor me trouxe essa realidade com muito impacto e muitas lágrimas, mas gostaria muito que ele pudesse ser um aviso para outras pessoas também, como o querido Ruy que fuma, bebe e come tudo o que não deveria de forma impiedosa e abundante. Está visivelmente mal, mas nega-se a enxergar e ninguém, a não ser ele, pode mudar essa trajetória. Queria tanto que ele “acordasse” em tempo ! As agressões diárias só serão percebidas quando o pulmão for requisitado, quando o fígado precisar sintetizar altas doses de anestesia ou outros medicamentos. Agora estão silenciosos, mas será sempre assim ?
Mesmo assim voltei feliz. Revê-los, abraçá-los e saber que estão bem em uma cidade tranqüila, pacata, acolhedora, em uma casa confortável, é sempre revigorante.
Chegara a hora de mais uma consulta. Mais um médico e de novo a mesma história. Agora em Campinas, a pouco mais de 100 km de Leme. Fui recebida por um profissional que transpira seriedade e segurança e que não me decepcionou quando, ao final, emitiu sua opinião com firmeza: não há necessidade de quimioterapia. Os indicadores contidos no tumor levam a essa conclusão. Os efeitos colaterais e a relação custo\benefício não justificariam. Falou-me das pesquisas com mulheres que descobriram o câncer no meu estágio e que somente agora no Brasil começam a se tornar mais numerosas. Infelizmente a maioria só descobre em um estágio muito avançado e que o tratamento utilizado incluiu, indiscutivelmente, a mastectomia (retirada total da mama), esvaziamento de muitos lifonodos, que causa sérias limitações à vida da mulher, além de quimioterapia e radioterapia. Segundo ele, as dúvidas só existem porque ainda não há certezas sobre o que fazer com segurança, mas nada indica a quimio.
A firmeza, a experiência estampada nas palavras e a convicção nas recomendações levaram-me à decisão, muito difícil, mas necessária: não farei a quimio.
Agora é chegar em Belém é começar o tratamento.
Um outro capítulo ...
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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Um comentário:
Rutíssima,
O que é a falda de comunicação... E eu aqui em Campinas... E não nos vimos... E não conversamos!!!!!!!
Beijo grande!!!!!
E Feliz Páscoa!
Sumara
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