Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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quarta-feira, 5 de março de 2008

Deve ser a profissão ...

A dúvida sempre foi o principal objeto de qualquer jornalista. Duvidar não significa não acreditar, mas ir em busca, incessantemente, da verdade maior. Compreender o que se ouve, vê, lê e interpretar coerentemente é outra lição do jornalismo. Durante anos exercitei esse lado da dúvida e o máximo da compreensão, mesmo quando o assunto parecia complexo demais para o leigo. Precisava ter um nível de entendimento de temáticas exageradamente técnicas que incluem jargões, nomenclaturas, metodologias e estratégias complexas e inatingíveis fora do mundo científico. Linguagem inacessível à sociedade. Sempre buscando ao final redigir um texto claro, conciso, objetivo e acima de tudo compreensível a qualquer cidadão alfabetizado. Essa prática também se inseriu em minha vida. Não posso ser duas pessoas. Uma que duvida no trabalho, que busca explicações convincentes para compor uma matéria e outra, na vida pessoal, apática, que tudo consente e aceita sem questionar. Preciso ter o quebra-cabeça completo, princípio, meio e fim com as peças encaixadas, fazendo sentido. Tudo pode ser explicado, mesmo que de forma inconclusiva, atemporal, mutável. A verdade de hoje pode não ser a mesma de amanhã, mas hoje ela é a verdade compreensível e palpável; evidente e explícita; objetiva e latente. E é ela que estou buscando incansavelmente.
Eu não poderia ser diferente neste momento da minha vida. Preciso entender o que acontece em meu corpo, porque produzi essas células cancerígenas, qual a melhor forma de me prevenir para que elas não se alojem em outros órgãos, qual o tratamento que a medicina dispõe, qual o recomendado para o meu caso. A compreensão, evidentemente, não perpassa pelos conhecimentos médicos (nunca estudei Biologia, química e essas disciplinas inerentes à área. Sou do tempo do CH rsss). Cada câncer tem uma especificidade, as informações contidas no tumor variam de paciente para paciente, além de outras peculiaridades inerentes ao momento atual do paciente e que levam à decisão sobre o tratamento indicado. Ter câncer de mama não é linear, há características que fazem cada um ser cada um. Porém é preciso uniformidade, coerência e acima de tudo segurança sobre como tratar, prevenir e dar uma melhor qualidade de vida ao portador da doença. E é isso que mais almejo: preciso me convencer de que o recomendado é o melhor para mim. É a minha a saúde em jogo, é a minha vida sendo decidida.
Depois dos sustos com o fígado, cirurgias, pós-operatório, chegara a hora de definir o que chamam de protocolo das quimioterapias. Ou seja : qual a combinação medicamentosa que irei tomar, como se fosse um soro, para combater as células cancerígenas que porventura tenham escapado da área da mama e estejam percorrendo minha corrente sangüínea ou já alojadas em um outro órgão.
É aí que começa a minha odisséia.
Primeiro ouvi, embora informalmente, de um médico que faria uma quimio da branca (a mais leve) e tecnicamente denominada de CMF (Ciclo fosdamida Metrotrexate e Fluoracil). Em seguida fui ao especialista que de fato seria o responsável pelo protocolo. Após analisar detalhadamente os exames, ouvi a notícia que mais queria na vida: não precisava fazer nenhum tipo de quimio.Uma informação maravilhosa, mas incompatível com tudo o que eu já havia lido e conversado com pessoas que também têm câncer de mama. Ainda menstruo normalmente e isso é um motivo para mudanças no protocolo. Meu câncer é do tipo invasivo, ou seja, pode ter entrado na corrente sangüínea. Comemorei, fiquei QUASE FELIZ, mas cheia de dúvidas. Perguntas sem respostas e angustiantes.
Fui em busca de outro parecer. Mais um especialista. Depois de muita conversa e análise dos resultados dos exames, sobretudo o histoquímico, a notícia que não queria ouvir: como tive um escore HER-2 +1, a interpretação deste profissional é que eu necessitava de quimio e das mais fortes, a chamada FAC (a branca junto com a vermelha) com o agravante que ainda não sou menopausada. As explicações, por mais detalhadas que tenham sido não me convenceram de novo. Como podia dois especialistas renomados, que tratam de tantos portadores de câncer terem opiniões tão antagônicas ? Eu tinha que optar pelos extremos: não fazer a quimio e ser surpreendida dentro de alguns anos com um novo câncer ou me submeter a um tratamento agressivo e que até então não tinha sido cogitado por ninguém.
Fiquei arrasada, revoltada, sentindo-me traída pela dúvida e inconsistência dos pareceres médicos. E aí a minha necessidade de sai rem busca de mais explicações só fez crescer.
Uma contato com uma amiga que também vivencia a mesma doença, trouxe-me uma nova informação ainda mais chocante segundo a Sociedade Americana de Oncologia Clínica e o Colégio Americano de Patologistas, que norteia o escore de HER-2e que é seguido pelos laboratórios de referência, ovmeu escore de 1+ é classificado como NEGATIVO (padrão da membrana fraca e incompleta). O escore 2+ é duvidoso e somente o 3+ é considerado positivo. Como então, um oncologista clínico renomado, afirma que 1+ é positivo? Apenas pelo sinal de +? Uma interpretação lógica para um leigo, mas nunca para um especialista. Não posso acreditar que ele desconheça essa convenção internacional de análise do HER-2 que vem explicitada em muitos exames como informação adicional ao próprio paciente.
Estou mais confusa e mais enfurecida ainda. Preciso de uma terceira opinião. Alguém que de fato me convença de que a quimio é necessária ou desnecessária, que meu diagnóstico é este, que meu tumor tinha estas e estas características. Informações que tenho o direito de exigir de quem estudou, de quem se especializou, de quem se dedica, pelo menos teoricamente, a salvar vidas e a fazer o melhor.
Começo a me preparar para viajar a São Paulo. Quero ser convencida de que farei o tratamento mais indicado, de que o protocolo é o que rege todos os tipos de câncer como o meu, em todo o mundo, que não vou ser agredida desnecessariamente ou que deixarei de fazer a profilaxia, mas alicerçada na certeza de que ela é dispensável. Não vou sossegar enquanto não acabar de montar este quebra-cabeça. Tenho pouco tempo, as quimios já deveriam ter começado, mas preciso antes saber qual a fazer.
Os médicos parecem precisar de ajuda ...

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