Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

Arquivo do blog

sábado, 18 de dezembro de 2010

CADÊ A PRAIA ?

As casas avarandadas, com largas janelas, cadeiras de vime ou de plástico no pátio e plantas bem cultivadas, já insinuam que o calor é o que predomina. Lá no alto é possível ver a chaminé das churrasqueiras. Vão das mais simples, quase um fogareiro, às mais sofisticadas com manivelas que assam as carnes no tempo preciso, com a brasa no calor exato. Quem entende de churrasco sempre garante: é a brasa e não a chama que faz a diferença.
As grandes áreas verdes públicas cuidadosamente ajardinadas com cara de praça e bancos de praça ou apenas um espaço acolhedor com árvores frutíferas, ipês roxos que encantam no início do segundo atraem bem-te-vis, rolinhas, sabiás, beija-flores e as barulhentas maritacas que passam em bando ao amanhecer ou entardecer. Alguns desses pássaros longe de seu habitat chegam sem cerimônia nas casas e mesmo sem ser serem convidados entram nas casas em busca de comida ou da ração dos animais domésticos. Vale a pena parar pra ver.
A cidade que tem uma temperatura média de 26ºC e que pode tranquilamente chegar aos 37,39º, quando percebida em seus detalhes nos causa dúvidas e perplexidades. Aquela rede na sacada é mesmo utilizada ? será a explícita origem nortista/nordestina de seus moradores ou apenas decoração ? Tanto faz... elas estão perfeitamente compatíveis com os projetos arquitetônicos que lembram as casas à beira mar tanto e se as paredes estiverem ornamentadas com peças artesanais de peixes, sereias, araras e tucanos a dúvida quase chega a desaparecer. A praia deve estar bem pertinho mesmo.
E se você encontrar tranquilamente caminhado pela rua jovens bronzeados de sunga ou shorts a exibir seus bíceps, barriga tanquinho ou uma bela jovem de seios siliconados e panturrilhas enrijecidas, certamente sentirá uma vontade quase incontrolável de perguntar: qual a praia mais próxima? Jovens ou nem tão jovens assim usam e abusam da roupa curta, sem mangas ou as de fitness bem marcantes. Shorts e calças coladas, tênis ou sandálias de dedo e um camiseta compõem o guarda-roupa da maioria dos que encontramos pelas ruas É de novo o clima se refletindo na população. O guarda-roupa tão tropical, quase praiano amenizando o sol escaldante que esturrica a pele e escancara o céu predominantemente azul que num devaneio nos conduz uma areia quente que em seguida nos dará o prazer de tocar a água morna, a molhar nossos pés. Ao olhar o horizonte quase podemos ouvir o barulho das ondas. As nuvens que parecem se encontrar, lá adiante com o mar...
Tem mais... muito mais a ser descoberto sem pressa. Reparem no nome de alguns bares e restaurantes, principalmente os localizados nas largas avenidas que se reinventam e acrescentam às cadeiras e mesas de madeira, ou as de plástico de cores fortes, cessão das marcas de cerveja, pequenos lagos com minitartarugas e peixes vivos que nadam solenemente como se estivessem em seus habitats. Os nomes, além de sugestivos, mais uma vez nos convidam para na volta do mergulho parar pra almoçar ou apenas tomar um chope gelado. Tem o Estrela do Mar, Bar Rio, Curva do Rio, Farol da Barra, Maré do Chopp, Peixe da 13, Na onda do Peixe e uma homenagem talvez aleatória aos amazônidas: o Pé de Açaí e o Porto Açaí.. Alguma dúvida que basta andar mais alguns metros para que o cheiro de maresia nos invada ?
Para os bem mais jovens ou que já não podem ou não apreciam um chope gelado, o calor também pode ser amenizado com os variados sabores de sorvete disponíveis em sorveterias que se espalham pelos shoppings, esquinas ou lanchonetes. Das delícias do Cerrado que oferecem aos curiosos degustadores o de umbu, cagaita, pequi ou araticum ou que dividem a fama com a Amazônia como os de mangaba, muruci (no Norte) e murici (no Cerrado e Nordeste) aos tradicionais de chocolate, flocos, ameixa,nozes ou creme. Quando a temperatura beira os 40ºC é comum as filas irem além dos comércios. Tudo em nome de uma casquinha.
Embelezando as ruas, em meio aos carros populares, estão os que apaixonam os homens e despertam a curiosidade das mulheres. São Ferrari, BMW, Audi, Porche de todas as cores e modelos, mas em geral conversíveis, teto solar. De novo a praia a nos chamar... Será que os encontraremos estacionados na beira mar ao anoitecer ? Fazendo par com as potências de quatro rodas, estão as motocicletas potentes e barulhentas ou ainda as bicicletas tipo mountain bike e seus condutores, quase sempre em grupos, com as indumentárias próprias, uma atração à parte..
O chope gelado na temperatura exata, irrepreensivelmente no ponto, é outra marca desta cidade. São muitas cervejarias e muitas marcas de cerveja para atender ao mais exigente consumidor. Que tal zoar um pouco e testar o garçon? – Cerpinha? –Temos!;  Liber? –Temos!;  Devassa? - Também temos – Caracu ? Temoooosss !!! O calor dá esse aval à cidade. Na tulipa ou na caneca, espumando, ela (ou um chope) vem nos colocar novamente frente à frente ao mar ou ao longe embriagados pela beleza do entardecer que carrega o sol para dentro d’água e o deixa mergulhado até amanhã de manhã.
Mas e a praia ? Onde fica a praia ? Cadê a praia ? Em nome dela, ou de sua ausência tão presente, só mesmo tomando mais um chope. Pode ser o Claro, Niger, Pingado, Fantástico, Ferrugem, Sexual, Shortinho e o Direto Pingüim bem ali, em uma das mais famosas choperias do Brasil: o Pinguim, inaugurada em 1936 e que é só mais um delicioso detalhe no cenário praiano de Ribeirão Preto!
Com todo esse cenário praiano jurava que existia uma praia aqui, pertinho, mas a mais próxima fica a cerca de 400 km e embora ostente vários títulos, que vão da Califórnia brasileira à Capital do Chope, nenhum se refere á praia que é apenas uma miragem alimentada pelo calor intenso, céu azul e o chope deliciosamente gelado.
Hoje sou mais uma entre os mais de 600 mil habitantes de Ribeirão Preto. Acabo de chegar à cidade que só passou a existir de fato depois da Independência do Brasil quando ainda se chamava Vila de São Sebastião do Ribeirão Preto. Sem praia, sem areia, sem mar, sem mesmo um rio que permitisse aos amazônidas amenizar a saudade da água, Ribeirão aos poucos vai se transformando em minha segunda casa. Uma relação que se estreita a partir de seus moradores e que se fortalece nas conquistas dos filhos, no vislumbrar de um futuro mais farto, mais seguro, mais feliz.
Ahh mas se tivesse uma praia ...
(Ruth Rendeiro, é jornalista)