Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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quarta-feira, 1 de julho de 2009

MINHA BIOGRAFIA

Ontem eu descobri, no divã do psiquiatra, que não são apenas as celebridades que tem biografia. Nós, pobres mortais, também temos a nossa. A diferença básica é que a Mídia não anda atrás das informações mais íntimas de nossa apática vida e nem existe ninguém querendo escrevê-la e torná-la um bestseller.
Tudo a ver com esse momento em que a Imprensa parece só ter um tema: a morte de Michael Jackson. O colegas teóricos de comunicação tem a Agenda Seeting pra explicar tudo isso muito bem ! Sumiram, como por encanto, as pautas sobre o escândalo dos atos secretos do Senado, o golpe em Honduras, a morte dos que estavam no vôo para Paris, o caos na saúde, tudo passou a ser secundário. Bom para quem está alinhavando a biografia do astro do pop, principalmente porque ela tem nuances e tantas entrelinhas que a publicação já é garantia de recorde nas vendas.
Mas eu também tenho a minha e o mais chocante foi saber que a maioria dela eu mesmo construí a partir de escolhas, valores, decisões, ousadia ou apatia.
Quando crianças ou muito jovens evidentemente ela está mais entregue ao acaso. Mesmo assim, o que recebemos dos pais, de como eles nos fazem ver o mundo, já interferem e vejo isso hoje com muita clareza. Por isso considero sempre tão importante a ajuda dos especialistas na nossa mente. Eles conseguem elaborar cientificamente o que apenas sentimos, fazemos quase sempre intuitivamente. Arrumam o quebra-cabeça das emoções, reações, atos com conhecimentos adquiridos na academia e simplificam e parecem mesmo desvendar o que parecia antes tão incompreensível. Sei, contudo, que é preciso estar acessível para receber e acatar o que nem sempre nos é favorável.
Quando, aos 28 anos resolvi sair de casa e dividir apartamento com a Sula (uma jornalista iniciante como eu) fiz com consciência de que não teria volta, de que este era o momento de eu ir viver sozinha, mesmo contrariando minha mãe, decepcionando minha avó, surpreendendo meus irmãos. Tinha conquistado esse privilégio tão ambicionado pelos jovens da minha época. Podia me sustentar e ainda ajudar em casa. E assim eu fui. Depois fiquei anos dividindo com a companheira de apartamento a responsabilidade de ser mão interina. Quando decidi ir morar totalmente só o fiz de novo com segurança. Era o que eu queria e não me arrependi.
Vivi muito e intensamente cada momento da minha solteirice. Namorei muito, viajei demais da Bahia ao Acre, bebi bastante (peguei porres homéricos. Nem é bom lembrar !), dancei freneticamente e aos 30 comecei a ser perseguida pela idéia de que tinha que ser mãe. Mas e o pai ? Não tinha muita importância esse “pequeno” detalhe. Insisti, embora sem o consentimento dos companheiros, mas aí, sem minha interferência direta, o “escolhido” foi o Manoel. O melhor pai que poderia ter encontrado para o Raul e Anaterra. Vivemos 18 anos juntos. Problemas ? Hummm muitos... muitos... Mas nada que me leve ao arrependimento. Cresci como pessoa, amadureci como profissional, fiquei melhor como ser humano.
Agora estou de novo só, mesmo que a presença dele ainda seja muito forte, mesmo que vez ou outra me pegue falando com ele, tentando ouvir o que acha da atitude deste ou daquele filho, mas de novo vejo minha biografia com várias linhas a serem escritas ainda. Páginas e mais páginas em branco, que com mais experiência, mais acertos do que erros pretendo escrever e não ter que apagar muitas vezes.
Uma compreensão que adveio do divã que me fez bem perceber. Sei agora porque sou tão exigente comigo, porque primo por comportamentos que embora liberais e às vezes até surpreendentes para que os enxergam os cinquentões como idosos que já não tem planos ou sonhos : preciso ser coerente com a minha biografia. Continuar gostando de mim e tentando ir adiante, seguir mesmo que de seis em seis meses precise de novos exames e passe por momentos de intensa ansiedade só de imaginar um novo tumor. Mesmo que as lágrimas sejam mais constantes do que antes ou que situações que aparentemente seriam facilmente administradas em outras circunstâncias sejam motivos para explosões.
Nem percebia que a minha biografia era tão importante pra mim e como, mesmo sem notar, luto para manter a coerência com tudo o que acredito e espero ainda viver que inclui muito do já vivido e o muito ainda a experimentar como esse novo desafio que ainda me parece impossível, mas que vou perseguir: dirigir meu próprio carro, mesmo que seja apenas nas calmas ruas de São Carlos.
Um novo amor ? quem sabe ! Cedo ainda pra ocupar o que ainda está ocupado. Nem sei se ele chegará, mas se vier terá que ser compatível com a minha biografia. Isso eu descobri e adorei a descoberta !! Que me respeite, me ame, que seja inteligente, humano, profissionalmente realizado, generoso e não me inspire apenas paixão. Uma relação adulta de cumplicidade, de querer bem e de torcida mútua.
As aventuras inconseqüentes eu vivi intensamente aos 20,30 anos. Sem medo de errar, hoje tenho pouco tempo pra consertar e talvez por isso esteja tão mais comedida, tão mais equilibrada e buscando acertar .
Minha biografia não deverá nunca ser publicada, mas constatar que ela existe foi bom demais ! Tentarei prosseguir preenchendo as páginas que ainda faltam com seriedade, respeito e acima de tudo por amor a mim !