Sempre gostei de receber pessoas em casa. Desde solteira quando morava na Conselheiro Furtado em Belém já reunia pessoas que normalmente iam saborear algum prato regional. Lembro de um aniversário meu onde, totalmente inexperiente em pelo menos compatibilizar pessoas x espaço x louças x comida x bebidas, convidei um montão de gente sem noção de como atendê-las. Até a Vera Castro, colunista querida do então O Estado do Pará compareceu e vivenciei um dos maiores vexames da minha vida: a Vera ao sentar no sofá ele simplesmente desabou. Justo a Vera tão chique, acostumada a freqüentar lugares tão sofisticados quase caiu no chão em minha casa !
Muitas outras vezes fizemos reuniões em casa. O cozidão, prato pesado feito com carne de segunda gorda como peito, rabo, com muitos legumes e verduras que vão do jerimum à macaxeira passando pela batata doce, quiabo e maxixe e que se tiver uma banana comprida fica mais gostoso ainda, ficou famoso entre os colegas jornalistas como o Ronaldo Brasiliense, Carlos Honorato e Orly Bezerra.
Depois, morando sozinha, mesmo no pequeno kitnet da avenida Governador José Malcher – o El Dourado- sempre tinha alguém (ou bem mais) em casa tomando uma cerveja, ouvindo música, papeando.
Quando passei para a casa maior na Roso Danin, em Canudos, encontrei o habitat perfeito para receber muita gente. Motivos não faltavam. Agora já vivendo com o Manoel, que também gostava dessas festas improvisadas à base de muita cerveja, peixe ou caranguejo, as reuniões eram quase semanais.
Há cerca de um ano esse clima mudou. Aconteceram até pequenas reuniões como o meu aniversário dia 21 de maio e a visita surpresa das velhas e queridas amigas do Colégio Visconde de Souza Franco ou o miniCírio em São Carlos, no segundo domingo de outubro, mas nada que lembrasse as anteriores. Já havia descoberto o câncer na mama e o Manoel estava hospitalizado e em outubro infelizmente morto.
Hoje, quando começo a perceber que o tempo de fato é o melhor remédio e que tudo na vida passa, mesmo contra a nossa vontade, ainda não me vejo internamente feliz, mas já sinto falta de momentos alegres. O prazer da música alta quando cantava junto com o Chico, João Bosco, Nara Leão, Maria Betânia, Milton ou os nossos cantores do Pará e as cervejas em quantidade maior a ponto de ser inevitável uma boa e demorada sesta após o almoço, ainda não aconteceu. A festa interior não foi externalizada e qualquer insistência seria forçada.
Mas este final de semana chegou perto.
Meu irmão Rulton, a cunhada Socorro, a sobrinha por afinidade Marcela e o queridíssimo e especialíssimo Leonardo, nos permitiram uma quase volta aos dias que ficaram pra trás. Morando em Leme, a convite do outro irmão Ruy, a proximidade nos permite ter mais contatos e amenizar a saudade que ainda maltrata.
A gastronomia baseada na culinária paraense incluiu pirarucu frito com feijão e vinagrete, pirarucu no leite de coco e batata, risoto de camarão salgado do Maranhão com legumes, farinha torrada de Belém, pimenta no molho de tucupi e creme de bacuri como sobremesa, teve agregado ainda as delícias dessa parte do País, principalmente as frutas como caqui, kiwi, ameixa fresca, figos. Na sala um DVD novo da Leila Pinheiro foi repetido inúmeras vezes.
As lembranças e muitos sorrisos surgiram naturalmente.
O Leonardo foi um capítulo à parte. Como sempre cativante, inteligente e carinhoso. Nem lembrava mais o quanto ele era doce e com um raciocínio tão rápido. Eu e a Anaterra (sempre a mais animada de todos) montamos uma agenda específica para ele. Uma ida à loja de brinquedos e a aquisição da nova motocicleta, um passeio à praça no centro de São Carlos, visita ao shopping onde percorreu a exposição da Vila Sésamo, sorvetes e muita, muita conversa.
Tudo muito espontâneo, natural e diferente. O frio das manhãs de São Carlos nos lembrava que Belém estava bem longe, mas rimos das nossas histórias de infância, deitamos na rede armada no pátio e resgatamos muito do que tínhamos deixado para trás. Muito do que ainda está obscurecido pela saudade, pela dor, pelas perdas, pelas mudanças.
Mas não são só as visitas presenciais que me encantam e me fazem companhia, que me permitem dividir uma solidão que ainda incomoda e deixa os dias mais longos. Felizmente tenho recebido diariamente a visita de pessoas amadas via a grande rede mundial de computadores. Não sei como sobreviveria hoje, neste meu mundo atual, sem a Net.
Renata Amoras (a amiga de décadas), Thaís (a sobrinha mais velha), Ana Laura (a amiga de Belém que agora está em Brasília), Ieda (amiga de Universidade e sempre muito presente), Dóris (a cunhada de Leme), Dulcivânia (a colega da Embrapa de Macapá), Kátia (da Embrapa Florestas), Carlos Honorato (amigo de anos que reencontrei há pouco tempo), Érika (a mamãe do ano), Levy (jornalista que a Internet me trouxe de volta), Marcelo Gabbay (que a distância me presentou como amigo), Chico Carlos, Sumara, Andrea, Toni, Carlos, Renata Caetano, Fernando Jares...e tantos e tantos que quando aparecem na tela transformam meu dia. Seja aqui, deixando seus recadinhos, seja no msn para me ouvir e me acarinhar, me dar colo, me fazer companhia.
Tem ainda os que me acompanham à distância, sem se identificar. Vejo pelo número de visitas ou pelas mensagens anônimas que lá estiveram, mas nem sempre é possível saber quem são, o que pensam sobre o que escrevo aqui. Um visitante bem emblemático, lacônico tem deixado mensagens que indicam ser uma pessoa que tem como língua mater o espanhol, manifestados pelas palavras e frases como sentí, reviví, optimista ou y me asusté.
Pela proximidade que tenho com o jornalista Osman, pessoa querida e que neste momento está silencioso como tantas outras vezes já se manteve, deduzo que essas visitas venham de lá, de outro País. Não tenho certeza, mas gostaria muito que fosse...
Ele, assim como todos os que me visitam (em casa ou na internet), deixam minha vida mais leve, mais alegre, com possibilidade de novos sonhos, de retomar caminhos interrompidos e de novo me permitir ser a Ruth que adora passear, caminhar pelas ruas cheias ou silenciosas, visitar lojas de artesanatos, comer peixe e viajar... viajar... viajar... seja para Leme ou para Belém, para Cuiabá ou Brasília, Pirinópolis ou Mosqueiro, São Paulo ou Santa Cruz !
Quem sou eu
- Ruth Rendeiro
- Belém/Ribeirão Preto, Brazil
- Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte
Aos que me visitam
Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.
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