Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Hora da decisão

Depois de meses e mais meses de indecisão, de idas e voltas, de surpresas, de interrupções, de muita espera e angústia, vejo que chegou a hora da decisão, de olhar pra frente e não medir muito os passos. Precisos, firmes, largos, mas seguros e com uma direção definida.
Os acontecimentos se interpõem e se digladiam; as idéias se confundem e os planos se misturam e se perdem. Preciso, contudo, de um rumo.
O Manoel não pode voltar a Belém. Aqui não há tratamento pra ele. Os nossos últimos governos priorizaram a construção de um belíssimo espaço para eventos (o Hangar), a recuperação do Forte onde foi fundada a cidade ou mesmo um ambiente confortável para as borboletas. A saúde ficou no final da lista e não houve tempo para reformular um cenário caótico há muito tempo. Não há como o Manoel ser tratado nesse caos. Os riscos de complicações estarão sempre presentes e o atendimento, nesses casos, tem que ser rápido. Uma longa conversa pelo telefone finalmente parece ter feito ele cair na realidade, ver o que nos espera nesses próximos anos e acreditar, como tenho acreditado, que estão nos sendo oferecidas as melhores oportunidades e não devemos desperdiçá-las. O tratamento no ACCarmargo tem sido irrepreensível. Hoje ele começa uma nova sessão de quimioterapia. Uma nova etapa, uma nova batalha. A primeira já foi vencida. Fez sete dias ininterruptos da droga forte e quase sem efeitos colaterais e tenho fé em Deus que assim será novamente.
Também preciso me tratar, dar continuidade à radioterapia, em seguida fazer os exames de avaliação e sei que aqui também não é o melhor lugar. Felizmente a clínica de Campinas me aceitou de volta. Enviei uma mensagem objetiva e emotiva para o médico responsável pela radioterapia e recebi a resposta ontem à noite. Poucas linhas, mas o suficiente para eu chorar de alegria: “Ruth, não se preocupe. Venha assim que puder e reprogramarei o seu tratamento”. Ainda bem que o médico do Ophir Loyola estava enganado ou quem sabe o universo limitado dele o tenha feito a acreditar que uma clínica tão renomada não me aceitaria de volta. Achou que agiriam como certamente eles agem aqui. Que bom que errou ...
Com tranqüilidade que uma decisão dessa permite, com seriedade e sobretudo pedindo sempre a Deus e a Nossa Senhora de Nazaré que me mostrem os caminhos menos pedregosos e mais iluminados, decidi deixar Belém de mala e cuia e como dizemos por aqui.
Ouvi pessoas lúcidas, amigas, aquelas que de fato desejam o meu bem, que nutrem por mim e pela minha família um carinho verdadeiro e todas foram unânimes em me aconselhar a partir.
Decisão tomada, agora é a hora de operacionalizar o mundo novo que se apresenta a mim. O excesso de responsabilidade está me sufocando. São muitas ações para tão pouco tempo e em áreas que não transito com muita intimidade como venda de carro, de eletrodomésticos, proposta de empresas de mudança. Esses são temas que eram do domínio do Manoel. De repente me vejo indo à oficina, providenciando bateria nova ou buscando a liquidação antecipada da dívida junto ao banco.
Já fui ao colégio dos meninos. Conversei com as orientadoras educacionais e saí de lá de novo com a certeza de que estamos tomando a decisão mais acertada. Sempre fomos pais presentes, embora nem sempre o tempo ajudasse. Mas na medida do possível estávamos lá: participando, indo às reuniões e eventos, conversando com os professores e diretores, sabendo sobre os colegas deles. Enfim, tentando conhecer mais de perto esse mundo que está além dos muros protetores de nossa casa. Isso facilitou muito o contato e a notícia do adeus. Lamentos sim, mas votos de boa sorte também.
Para o Raul parece ser um pouco mais difícil. Tem sua turma de anos, amigos que o acompanham há dez anos. Amizade que extrapolou a eles e que uniu nossas famílias. Tem ainda o fato de ele estar cursando o terceiro ano do ensino médio, cabeça voltada para o vestibular. Um vestibular que até uns dias atrás limitava-se a Belém e que agora se abre em sua frente. Está perturbado, mas me parece que ao mesmo tempo feliz com o novo desafio (maior, é bem verdade) e com a perspectiva de poder cursar o que não existe ainda por aqui. Uma janela com um belo sol acaba de lhe ser presenteada. A Anaterra é mais festiva. Quer saber se tem shopping, se poderá continuar suas aulas de dança. O MSN diminuirá essa distância e Belém não ficará tão longe assim. Algumas horas de vôo e de novo estaremos aqui tomando tacacá, açaí, pegando chuva, comprando peixe no Ver-o-Peso ou comendo camarão em Mosqueiro.
Não tenho medo da mudança. Acredito mesmo que isso estava reservado a nós. Nossos filhos merecem ter a oportunidade que nós não tivemos. Se eu consegui ser uma jornalista e o Manoel um engenheiro civil foi por insistência, por intuição, sorte. Eles, como todos dessa geração, têm consciência que precisam ir muito além. A graduação é só um início, uma fase básica. O mestrado e o doutorado os espera. Assim pensamos, assim planejamos, assim desejamos. Se não acontecer não será por falta de determinação, dedicação e agora oportunidade.
Ainda não sabemos exatamente qual a cidade que nos acolherá, aquela que se tornará nosso lar pelos próximos anos. Dependo da Embrapa. Irei para onde necessitam de mim. Sou um soldado da Empresa. Mas também não temo esse aspecto. Vejo como uma nova experiência. Vou ser testada profissionalmente aos 51 anos. Uma idade em que muitos estão se aposentando, pensando em parar, sentido-se ultrapassados profissionalmente. Terei que estudar muito, conhecer a realidade de um outro lugar, bem diferente da minha Amazônia. Certamente não escreverei mais sobre búfalos, floresta amazônica ou bacuri, mas vou me empenhar para aprender de novo e renascer.
Sei que ainda vou chorar muito de saudade antes de ir e quando estiver longe. Saudade de tudo e de todos. Dos vizinhos que mais do que nunca têm sido grandes amigos; dos amigos que não verei o rosto com tanta freqüência; dos parentes que ficarei sem abraçar; das ruas que conheço desde criança; da nossa comida; do calor abafado e de tudo que só o tempo me mostrará.
Será difícil partir, mas sei que este é o ÚNICO caminho. Quero viver mais, quero que o Manoel veja nossos meninos crescidos. Precisamos ainda deles e eles de nós e se isso depender de mim, assim será feito.
Gosto desse sabor de desafio, de novidade, de buscas. Vou atrás do que me pertence, vou brigar pela minha saúde, vou em busca de novos horizontes. Só preciso saber exatamente para onde.
Logo logo saberei ...

2 comentários:

Unknown disse...

Ruth,MINHA QUERIDA,sei que sera mais um desafio a vencer,um embate com um inimigo silencioso,que te tirou o chão duplamente,inimigo que te fez decidir por dar um tempo na casa desejada,no aconchego de amigos antigos e novos,no magisterio,nas gracinhas do pequeno LEO,na chuva morna da nossa querida terra,de sabores e cheiros inigualaveis,nas aguas escuras do nosso mosqueiro que pra nos que o amamos são claras e tão nossa...estaremos aqui,pro ABRAÇO PARAENSE,pra carregar nos ssssssssss,mesmo que nos confundam com cariocas rsrsrsr,pra esbanjar a beleza morena da ANATERRA,a beleza sedutora do RAUL.Serão novos tempos,tempos de cura,de aprendizado,de confirmar que uma nova vida pode sim começar depois dos 50 e com muita competencia e disposição pra ensinar e aprender.O choro,o friozinho na barriga,o pensamento no que vira,uma pontinha de medo,tudo isso faz parte deste momento,mais tem a certeza de que estas fazendo o melhor,estas dando a ti e a quem amas o melhor neste momento,alias,como sempre.Toca esse momento...teras muito tempo para planejar,antecipar,criar muitas e novas expectativas,so questão de tempo...então ta.Beijo.

Gabbay disse...

Ruth, sonhei contigo hoje, o Manoel também estava junto, tinha várias pessoas da Embrapa, mas vocês dois eram o motivo de uma festa, estavam bem, recuperados e tranquilos... Foi essa noite que eu sonhei, é um sinal muito muito positivo!
Vai, tomaste a decisão certa, mete a cara nessa mudança e depois tu voltas, com certeza!
Bjos,