Quem sou eu

Belém/Ribeirão Preto, Brazil
Amazônida jornalista, belemense papa-xibé. Mãe, filha, amiga... Que escreve sobre tudo e todos há décadas. Com lid ou sem lid e que insiste em aprender mais e mais... infinitamente... Até a morte

Aos que me visitam

Sintam-se em casa. Sentem no sofá, no chão ou nessa cadeira aí. Ouçam a música que quiser, comam o que tiver e bebam o que puderem.
Entrem...
Isso aqui está se transformando em um pedaço de mim que divido com cada um de vocês.
Antes de sair me dê um abraço, um afago e me permita um beijo.

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domingo, 20 de janeiro de 2008

Este mundo que é só meu

Sei que sou uma privilegiada. Tenho uma família muito presente, amigos que sei que são sinceros, leais, verdadeiros presentes de Deus, pessoas queridas que mesmo a milhares de km estão próximas de mim. Médicos dos mais competentes e condições financeiras (pelo menos até aqui) para custear tudo de mais estranho que tem sido a minha dieta e os diversos medicamentos que me acompanham o dia inteiro.
Tenho plena consciência de que há casos mais graves, mais complicados. Acabo, inclusive, de conhecer um que me abalou bastante. A jovem mãe que descobriu no final da gravidez (agora em dezembro) o câncer na mama e fez a mastectomia logo após a cesariana. Não pôde amamentar, carregar seu bebê, sequer curtir o quarto que montou com tanto carinho para ele, já que teve que deixar sua cidade em busca de tratamento na capital. E para completar, o marido dele trabalha em outro País.
Constato, contudo, que mesmo com todo este apoio, carinho, atenção, preocupação companheirismo, amor e solidariedade, este mundo que vivo hoje é só meu. Ninguém, por mais próximo ou sentimento forte que tenha por mim, compreende a dimensão de meus pensamentos.
Tudo é genuinamente meu.
A vida prossegue e nem me nota. Não percebe que definho, que estou triste, que choro, me estresso por nada. Não cobro nada de ninguém. Não... não é isso, não tenho esse direito, apenas constato o quanto é comum estar doente, o quanto é banal morrer. Faz parte da vida.
As angústias que me atormentam, por mais que milhares de vezes repetidas, serão sempre só minhas. As incertezas que me corroem não têm como serem repartidas. Todas as dúvidas só eu posso dirimi-las. Feridas que latejam, pulsam e me incomodam num turbilhão de dor imensuravelmente controláveis.
Este é o meu mundo...
Nada impedirá que os passarinhos que embelezam minhas manhãs venham à janela pedir suas frutas de todos os dias. A lua crescente em breve será cheia. A chuva insiste em deixar o dia preguiçoso, úmido. As crianças gritam lá fora enquanto brincam. Os vizinhos mais idosos conversam na calçada.
Tudo igual... Tudo irremediavelmente como sempre foi.
Ontem não foi diferente. O filho foi à festa. Antes fizera, durante o dia, uma em casa em homenagem a uma amiga que aniversariava. Está vivendo a explosão da sexualidade, a descoberta do prazer de encantar. Divertiu-se até tarde.Nem reparou em meu olhos vermelhos.
Marido e filha foram ao teatro. Preferi ficar em casa. Precisava concluir um trabalho e com sorte conversar na Internet com pessoas especiais. Mas elas estavam ocupadas demais para me ouvir, para me dar o que mais precisava: carinho.
A solidão não foi boa companhia. Fiquei triste, carente, sensível demais e meus fantasminhas viraram monstros que me torturaram e me deixaram frágil. Dormi cedo, molhei o travesseiro, revivi emoções e senti muito medo.
Felizmente, como em um pesadelo infantil, eles voltaram para o mundo encantado dos contos de fada.
Acordei sem fantasmas, sem monstros, só com uma chuva intermitente.
Só meu mundo ainda é real ...

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Ruth, tudo bem? Meu nome é Marina. Mais uma Bandeira.... A Simone me mandou teu texto por email. Adorei e vim aqui xeretar. Sou a caçula do Chembra. Passei boa parte da infância na Provincia brincando. Adorei você ter citado o Tio Jares! Tenho na minha casa um quadro do Bira Porto que ficava na sala dele. Um com um homem montando um quebra cabeça da sua própria cabeça, não sei se você lembra... Enfim. Obrigada pelas palavras gentis à minha família. Adorei (re)lembrar da onde vim. Beijos.
Marina

Ruth Rendeiro disse...

Oi Marina !!
Lembro sim do quadro, com uma nitidez impressionante e lembro também de você, criancinha, assim como os filhos do Emanuel Ó de Almeida que sempre iam por lá, subiam e desciam as velhas escadas de A Província.
Que bom que gostou....
De fato vocês fazem parte da minha história !!
Abração e tudo de bom !!
Ruth